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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Um tapa na bunda...

Escrevi o texto anterior numa semana difícil, poucos dias após o fato ter ocorrido. Foi uma semana de muito choro, de muita sensação de impotência, de isolamento, de sentir-se só em meio à multidão. Vocês já se sentiram assim? Pois é.

Então, todos os comentários que recebi foram muito bem vindos, foram sopros de alento no meu coração, porque mais uma vez o blog e as mamães que o acompanham me ajudam nessa sensação maravilhosa de pertencer, de não estar sozinha.

E houve também os emails recebidos, de amigas reais, que ao lerem o blog mandaram mensagens carinhosas. Incrível como podemos mesmo receber carinhos em bits de 0 e 1. Meu eterno agradecimento aos nerds de todo o planeta!
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Eu não costumo escrever muito sobre momentos como esses, eu não gosto de valorizá-los demais, e também não gosto muito da idéia de expor minha filha: uma coisa é eu expor as gracinhas dela, a parte fofa, linda e maravilhosa da maternidade; outra bem diferente é eu expor momentos ruins, fraquezas nossas que podem cair no computador de pessoas não tão compreensivas e não tão amorosas assim.

E por quê eu o fiz, então? Porque a causa do não ao tapa na bunda foi mais uma que eu resolvi abraçar depois do nascimento da Ísis. E foi depois do nascimento mesmo, porque antes, mesmo na gravidez, eu ainda achava normal os pais recorrerem a um tapinha no bumbum - que está recheado de fraldas mesmo, a criança nem sente nada, né? - como medida corretiva a desobediências recorrentes.

Depois de segurar minha filha nos braços e me desconstruir inteira como pessoa durante os intensos meses de licença maternidade eu percebi o quanto eu estava errada! Mas perceber isso não é suficiente, na realidade é até fácil ter esta percepção e essa ideologia quando estamos diante de um bebezico de poucos meses, que mal se sustenta na própria coluna e que tudo que faz é chorar, mamar, dormir, transbordar as fraldas...

O difícil começa a acontecer quando aquele serzinho diminuto, do nada, irradia vontades, valores, opiniões. O seu bichinho, antes tão cordato, agora te responde que não vai fazer tal coisa, que não quer ir para tal lugar, que não está com sono, que não quer trocar as fraldas. Não vai comer, nem tomar banho. Recusa o jantar, quer amendoim. Não quer colocar as calças porque gosta de ficar pelada; mesmo no frio tira as meias sempre que você as coloca, não adianta, e você que se vire depois com as crises de bronquite!

Antes, o seu filhote ficava bastante tempo no seu colo, é verdade, mas dormia bastante também, por mais que você pensasse que não! Agora, uma soneca após o almoço e as baterias já estão carregadas! E haja energia e disposição para brincar, correr, pular, jogar bola, conversar com os dedinhos, fazer bichinhos de massa de modelar; nos intervalos, a alimentação, a troca caótica de fraldas. Antes ela chorava, agora ela argumenta, e sai correndo!
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Eu e meu marido divergimos um pouco no assunto sobre o tapa na bunda. Apesar de conversarmos bastante, eu percebo que ele não consegue perceber as nuances que eu percebo, os detalhes que eu pesquiso. Isso tem uma causa: nós dois vivemos infâncias diferentes, temos experiências de vida, de vivências familiares totalmente díspares, apesar de termos parecidos os mesmos valores.

A experiência prévia, essa força que vem do passado, da minha própria infância e adolescência, foi o grande motivador, além do imenso amor que tenho pela minha filha, em querer mudar, fazer diferente. Nessa fase, das primeiras convicções quebradas, eu não conhecia bons autores que viessem de encontro aos meus anseios, mas que tivessem embasamento, sabe? Não aquela coisa do achismo nosso de todo dia.

Com os blogs eu redescobri Janusz Korczak, o livro Como Amar uma Criança ainda está na minha cabeceira, é uma espécie de conselheiro nos momentos difíceis. Descobri Carloz Gonzalez, Laura Gutman. Eles me ajudam a realinhar minha órbita quando esmoreço.
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Pode parecer dramático demais tudo isso. Tanta polêmica por causa de um tapa na bunda! Mas eu digo e afirmo que o tapa na bunda é só o começo do fim, que já começou no grito. E que mesmo ele, esse tapinha, pode ser tão prejudicial quanto as piores surras.

Se há alguns anos eu fui aquela que apanhou e que reverberou esse comportamento violento na irmã mais nova, hoje eu luto contra essa vontade quando minha filha surge como um desafio à minha capacidade de educar. E eu não preciso apenas lutar contra mim mesma, apesar dessa luta sempre ser a mais difícil; eu preciso lutar contra toda uma sociedade acostumada a enxergar os filhos como propriedade, a enxergar os pequenos como seres vazios de sentimentos e vontades, como inimigos até!

Eu sei as marcas que as surras que eu levei me deixaram, e quando eu digo surra não importa se foi um tapa na bunca, na boca, um beliscão no braço, uma cintada nas pernas. Todas deixam marcas, não físicas, essas vão embora. Eu não quero essas marcas nos meus filhos.

Se eu continuo firme no propósito de não bater, o mesmo não posso dizer quanto a não gritar. Esse é o próximo passo.
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Por tudo isso eu decidi falar desse dia difícil, desse sábado que já passou, mas que já se repetiu algumas vezes nos últimos meses. Eu resolvi vencer o medo de expor a minha filha e a mim mesma por um bem maior: falarmos sobre educação sem violência, seja ela física, seja ela verbal, ou emocional.

Um dia minha filha vai ser mãe, e não vai ser mais fácil ou mais difícil do que está sendo para mim. No tempo dela, haverá nuances diferenciadas. Mas eu quero que ela saiba que, se um dia ela puder afirmar que a mãe dela sempre a tratou com respeito, que nunca bateu nela, nem a agrediu verbal ou emocionalmente, esse caminho não foi um caminho florido, mas que foi sim uma estrada árdua, escolhida voluntariamente, em nome do muito amor que eu sinto.
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Adendo: ontem, conversando com minha massagista, ela me contou de uma cena que presenciou em frente à escola do sobrinho: um pai batendo no filho na saída da escola. Não foi uma surra, ela disse, foi um tapa. A opinião geral entre os ali presentes é que esse pai estava certíssimo em agir assim, afinal, o menino em questão (que não devia ter 6 anos) já havia batido em outros coleguinhas, as mães e pais das crianças agredidas não sabiam mais o que fazer! Ao que parece, todos gostaram da demonstração de violência. A massagista também aprovou, afinal, agora, o menino saberia quem manda, teria limites e aprenderia a respeitar os outros! Com os meus botões eu só consegui pensar que estava tudo errado! Ninguém sabia da realidade familiar do menino...e ainda que ele tivesse índole violenta mesmo, sem que a família nada tivesse que ver com isso, eles pretendem ensinar o respeito ao próximo batendo, humilhando a criança na frente de todos? "O mundo está ao contrário e ninguém reparou?"

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Rupturas


Era sábado. Eu estava muito cansada depois de uma semana sem conseguir dormir bem. Naquele dia, eu acordei com uma dor de cabeça chata, estava com uma azia que não passava, dores lombares e no púbis, sempre que me levantava. A minha única vontade era deitar na penumbra e só acordar no ano seguinte.

Mas ela estava elétrica, como sempre, acordou cheia de disposição para brincar e me queria ao lado dela e com ela a todo momento. Consequência de uma semana corrida e cheia de indisposições de minha parte. Para chamar minha atenção fazia tudo o que eu sempre peço para não fazer, fazia coisas que normalmente não me irritam, mas que naquele dia estavam me tirando do sério...pulou em mim, pulou na barriga, subiu nas minhas costas, puxou meus cabelos, agarrou minhas bochechas, mordeu-as. Derrubou suco no chão, cuspiu cascas de uva no sofá, molhou-se toda com água do regador de plantas. E a cada troca de fraldas, o caos!

Claro que entre uma coisa e outra houve momentos de brincadeiras, DVD...

Lá pelas tantas, durante uma troca de fraldas, eu surtei! Gritei, dedo em riste, ela gritou de volta e me apontou o dedo, eu gritei mais, falei que estava triste, que estava cansada, que ela parasse com aquilo, ela gritou de volta repetindo as minhas palavras. Numa fração de segundos eu pensei em bater na mão dela e no tempo que durou esse pensamento ela lavantou a mão para mim e me bateu.

O que dizer? O que fazer? Tantas cenas me passaram pela cabeça, tanta fúria, tanto desespero desembocaram na certeza de que eu não poderia seguir com aquilo. Então eu chorei, a peguei no colo, ela ainda gritando, esperneando, tentando me bater. Eu a beijei, pedi desculpas pelos meus gritos e ficamos as duas, ela quietinha aconchegada no meu colo, eu chorando a minha incapacidade de lidar com aquela situação. E a minha fraqueza.

Ainda hoje eu choro quando me lembro daquele dia. Porque é muito difícil romper com comportamentos enraizados na nossa memória, é muito difícil se manter calma e paciente a todo instante, é muito difícil escolher enxergar a sua filha de 2 anos como alguém que é exatamente como você, cheia de bons e maus momentos, com suas necessidades, sua incapacidade de expressar sentimentos, sua carência, enfim, escolher olhá-la como alguém complexo e não um bichinho (apesar de eu carionhosamente a chamar assim) que precisa de adestramento.

É difícil romper com a idéia de educar com o tapa na bunda, o beliscão, o castigo, e passar a ensinar com base no diálogo, no exemplo. É uma luta constante contra você mesma, que carrega a força do que viveu na infância e até mesmo contra as pessoas a seu redor, que pensam que você não está educando, não está dando limites.

Eu continuo firme, tenho meus maus momentos, que me envergonham sempre, mas eu retomo de onde parei, reforço em mim mesma as minhas convicções e conto com pessoas que pensam como eu e que, felizmente, escrevem sobre o assunto.

E sempre que eu caio, me levanto. E sempre que erro, eu peço deculpas.


terça-feira, 25 de outubro de 2011

A roda do engenho

Eu recebi esses dias um email muito carinhoso de uma amiga real - que por força da distância tem sido uma amiga virtual nos últimos meses - muito especial. Ela está grávida de seu primeiro filho e é uma das únicas (se não a única) pessoas da minha vida real com quem consigo conversar abertamente sobre as minhas escolhas em relação ao nascimento do Pedro.

Eu me lembro da primeira vez que tocamos no assunto, por mensagem instantânea, e ela me contou que estava pensando em agendar uma cesárea, pois sua DPP não era muito favorável (semana entre natal e ano novo) e sua até então obstetra já havia sinalizado a possibilidade de não estar presente.

Eu, que ainda não estava grávida do Pedro, mas já pensando em engravidar novamente, e, principalmente, já totalmente inserida nesse mundo dos partos com amor, senti uma vontade imensa de gritar nãããão, não faça isso! Eu não sei bem o que eu disse, não fui assim tão enfática, pois nunca fui do tipo militante, mas eu devo ter comentado alguma coisa sobre o parto, acho que fiquei insistindo com ela que não ficasse preocupada com a DPP, porque poderia atrasar e o filhote nascer apenas em janeiro, quando a médica já estaria de volta.

Acho que ficamos nessa por algumas mensagens ainda, ela me perguntou sobre como havia sido meu primeiro parto, eu contei como havia sido emocionante, lindo mesmo, nada falei sobre minhas atuais reflexões, mas de tanto falarmos no assunto, acabamos enveredando para o parto natural, depois o domiciliar, assim, naturalmente :)

Ela escreveu um dia numa mensagem que "depois de estudar o parto não poderia escolher voluntariamente uma cesariana, a escolha pelo parto normal/natural seria a escolha mais lógica". E como ela é uma moça letrada em lógica, esse foi o caminho escolhido. Dali para o parto domiciliar também deve ter sido uma escolha lógica, baseada em leituras e evidências, livre de preconceitos, de visões deturpadas e terrorismos que em nada nos ajudam.

Eu sempre enfatizei que a apoiaria na decisão que tomasse, como boa amiga que sou, mas que ela era uma mulher de sorte por estar em Santa Catarina, onde existem bons profissionais da área, onde partos domiciliares ganham até um Instituto e onde doulas e suas doulandas escrevem abertamente sobre o assunto.

Ao contrário dela, eu não havia sido apresentada a esse mundo quando ainda morava lá, e agora teria que mover mundos e fundos para conseguir o básico num Estado que é primordialmente cesarista, apesar de abrigar um dos profissionais humanizados mais reconhecidos do país. Isso sem contar as distâncias e o descaso com a saúde em minha atual cidade. Para quem assistiu aos telejornais ontem, Santa Vitória do Palmar é onde resido atualmente.

Mas eis que essa minha amiga foi a uma palestra com a autora do livro Parto com Amor. Imagino que a palestra deva ter sido muito boa, pois suas palavras dirigidas a mim e a minha suposta coragem e determinação de oportunizar uma experiência de nascimento para mim e Pedro diferente me emocionaram profundamente.

Na minha emoção eu só conseguia enxergar uma menininha linda e sorridente, a verdadeira heroína desta história, a roda que move o engenho da minha maternidade, que aceitou o encargo de vir ao mundo primeiro e caminhar comigo esses primeiros anos de aprendizado, de desconstrução de pensamentos enraizados por repetição, de muita dúvida, de muitos erros, de muitos choros e dualidades de sua inexperiente mãe.

Amor. Só essa palavra é capaz de explicar tudo. É ele que me invade e que me faz agir assim.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Primeira Gravidez X Segunda Gravidez

Uhuuuu! Completados os primeiros seis meses e já caminhando na primeira semaninha do sétimo mês é hora de fazer uma avaliação (sabe avaliação semestral?) sobre as nuances da primeira gravidez e desta segunda. Vamos lá?

0 a 6 semanas

ÍSIS
Nós não planejamos a primeira gravidez (sim, gravidezes surpresas ainda acontecem no século XXI), mas eu havia parado de tomar meu anticoncepcional injetável dois anos antes, impulsionada por uma greve da Anvisa, que deixou minha dose mensal de esterilidade presa na alfândega (valeu, Dona Anvisa!) seguida de uma libido aumentada sem a dose de hormônios e uma vontade louca de "desintoxicar" meu organismo, deixar ele trabalhando sozinho. A solução encontrada por mim e marido foi aquela tabelinha meia boca, sabe? Camisinha nos dias férteis, tudo liberado antes e depois. O que a gente não previa é que a natureza tem caminhos escusos para garantir a procriação da espécie e naquele mês de agosto de 2008 eu ovulei duas vezes...E aconteceu uma coisa muito legal: sabe aquelas cenas de filmes em que a mulher chora após transar com o parceiro dizendo "amor, nosso filho foi concebido hoje?". Pois é, aconteceu comigo. Marido não acreditou, afinal não estávamos no período fértil, mas...Ísis está aí para não me deixar mentir. Fiz um exame de urina com uma semana de atraso que deu tão, mas tão positivo que nem precisei confirmar com o de sangue. Era um domingo pela manhã, estávamos em Balneário Camboriu/SC e nossos sentimentos foram de surpresa (mentira, eu já sabia!), felicidade, emoção e medo. Tiramos uma foto do resultado do exame e eu coloquei a foto no meu finado orkut. O exame real está guardado dentro do álbum de fotos dela.

PEDRO
Sempre disse que engravidaria novamente, a depender da experiência com o primeiro filho, que logicamente foi muito boa; e gostaria de engravidar 2 anos após o nascimento do primeiro, então, ao contrário da Ísis, a gravidez do Pedro foi muito planejada. Ísis completou 2 anos em abril e nós engravidamos em maio. Mais uma vez eu soube que havia engravidado antes mesmo de fazer o exame, de urina novamente, com 4 dias de atraso. Era uma segunda feira, estávamos em casa no nosso intervalo de almoço e nossos sentimentos foram de felicidade, fertilidade, emoção e medo. Tirei uma foto do resultado do exame e publiquei aqui no blog. O exame real ainda está dentro da minha bolsa...

7 - 16 semanas

ÍSIS
Aqui começou meu inferno astral. Um mal estar inicial que foi gradualmente sendo substituído por um enjoo comparável apenas a minha pior ressaca de vinho, mas era uma ressaca 24x7, intolerável. E um gosto na boca que...credo, enjoo só de lembrar. Paladar alterado também aconteceu muito...ao colocar o alimento na boca aquilo parecia tudo, menos o que eu estava comendo. Um horror!

O que é isso? Vou morrer? O bebê está fazendo isso? Ele vai morrer? Isso não pode ser normal...O quê? Não tem remédio que dê jeito nesse enjoo? E o que eu faço? E os vômitos? Vomitar 6 vezes ao dia é normal? Como assim? Eu vou morrer? Essa placenta demora muito para se formar? O quê? Tenho 10 semanas ainda nesse inferno? Nunca mais quero engravidar na vida...O quê? Tem grávida que passa mal os 9 meses? Nunca mais quero engravidar na vida...

Sério, eu detestei esse início. Eu parecia um zumbi, eu tirei férias para vomitar, ao faltei ao trabalho para vomitar, e cheguei atrasada para poder vomitar em paz em casa. E tive enjoos de várias coisas insanas como: propagandas de TV (eu sentia ânsia só de ver uma de uma atriz, Lavínia não sei o quê, grávida), sites da internet (eu sempre gostei de ver blogs de tricô, mas só de ver uma lã e uma agulha corria para o banheiro), cidades (incrivelmente eu passei a sentir ânsia sempre que pensava em Balneário Camboriu), cheiros antes amados (eu amava lavanda, tinha um desses odorizadores em casa e hoje ainda não posso sentir esse cheiro), comidas e bebidas antes amadas (passei a detestar peixe, feijão, café, doces, ensopados, lazanhas).

Passava as horas vagas, entre uma vomitada e outra, deitada, conversando com o BB e explicando que aquilo tudo de ruim que eu estava pensando, falando, não tinha nada a ver com ele, mas sim com essa natureza ingrata que ainda não havia evoluído o suficiente para que eu pudesse engravidar sem passar mal.

O resultado foram 3 quilos a menos.

Tive infecção urinária.

PEDRO
Copiar e colar tudo o que eu descrevi acima, com algumas diferenças: eu sentia que comendo, mastigando algo, ficava mais fácil tolerar os enjoos; e que quando ficava de estômago vazio, a coisa toda ficava insana. Eu enjoei do cheiro da minha cozinha, eu enjoei dos livros, do tricô, feijão, ensopados, café, doces, pão, queijos, sucos, frutas (salvo maçã) e saladas cruas. Não enjoei de cheiros, salvo lavanda.

Por conta das mastigadas constantes eu vomitei menos, mas a sensação era de que eu passava mais tempo no auge do enjoo. Apesar disso, psicologicamente, eu me senti melhor, porque já não era novidade para mim e havia sido um risco calculado na fase de preparação para a segunda gravidez. Eu engravidei sabendo o que poderia passar nos meses iniciais.

O resultado foram 3 quilos a mais.

Tive infecção urinária.

17 a 24 semanas

ÍSIS
Nas primeiras semanas fui deixando de vomitar, passando a um leve enjoo, depois mais 15 dias de azia forte, para em seguida...nada! Passei a curtir, enfim, a gravidez, a barriga começou a aparecer bem redonda, alta. Comecei a fazer hidroginástica para gestantes, drenagem linfática, pensar na decoração do quarto, que queria que estivesse pronto até o sétimo mês, comprar as roupinhas, acessórios. Marido e cunhados pintaram o quartinho de lilás e decoramos com o tema "fundo do mar", baseados num quebra cabeças da Grow, que eu e marido montamos especialmente para o quarto dela.

Não tive grandes alterações de humor e descansava bastante. As dores na lombar que começaram a aparecer por volta do quinto mês, foram embora com a hidro. Não tive grandes desejos alimentares, salvo frango à passarinho!

O nome foi escolhido no dia do ultrassom em que saberíamos o sexo. Até aquele dia eu pensava que a Ísis era um menino, mas, incrivelmente, não conseguia chamar o bebê de Pedro, nome escolhido desde sempre. Ísis nunca foi um nome previamente pensado por nós como possibilidade para filhas meninas, mas marido sonhou com esse nome, me contou naquela manhã e eu senti que era Ísis o nome da nossa pequena assim que ouvi.

Ganhei 9 quilos desde o início da gestação (3 perdidos no início + 6 quilos).

PEDRO
Eu já não vomitava muito, então a transição não foi bem sentida nessa segunda gravidez. Com 18 semanas eu ainda enjoava, mas já não tinha tanta necessidade de mastigar para ficar melhor. Passei a aceitar os alimentos antes recusados, principalmente as frutas cítricas (teve uma tarde que comi 3 laranjas seguidas!) e as saladas. Leite e queijo ainda são um probleminha, mas eu como todos os dias, assim como o feijão e os doces. Ainda sinto muita azia, sofro horrores com gases, não tolero muito líquido e, devido ao frio que faz aqui e a necessidade de usar muitas roupas e sapatos fechados, sofro mais com inchaços.

Não consigo me exercitar regularmente, tento caminhar de vez em quando, fazer alguns exercicios de yoga para gestantes, mas só consigo manter a drenagem, desta vez 2 vezes por semana. É o que me salva. A consequência são muitas dores nas costas.

Eu tenho mais alterações de humor. Passo da euforia à raiva, desta à tristeza profunda para dali a pouco ficar eufórica novamente. Tive - e ainda tenho - vários desejos alimentares não saciados. Será que o Pedro vai nascer com cara de supermercado? O-O

A barriga veio crescendo diferente, mais para frente, mais baixa, num formato totalmente diferente da primeira...será que é verdade isso de que barriga de menina é redonda e barriga de menino é pontuda? Não sei se tem fundamento, mas minhas barrigas foram diferentes...

Eu sinto muito mal estar após as refeições e muito mais fome que no mesmo período da primeira gravidez. Incrivelmente, o resultado até o momento foram 6 quilos a mais, talvez porque eu não tenha perdido nada nas primeiras semanas.

Eu não descanso como deveria/gostaria, não passo hidratante no corpo e barriga com a mesma regularidade, não tenho tempo de ficar horas filosofando com a barriga debaixo do chuveiro, não tiro sonecas.

Não conseguia me decidir por nomes de meninas, antes de saber o sexo, mas já pensava firmemente em Pedro desde o início. Desta vez não tive palpites ou intuições furadas...salvo a incompetência por me decidir por um nome feminino, o descobrimento do sexo do nosso segundo filho foi realmente uma surpresa.

O quartinho dele ainda não está pronto, salvo os móveis que eram da Ísis, e que serão dele agora. Ele ainda não ganhou roupinhas, acessórios, decoração. Já bolei tudo na minha cabeça, mas já não tenho mais o mesmo tempo disponível da primeira gravidez para arrumar tudo. Espero conseguir deixar o quarto pronto antes do nascimento!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Eu adoro...

... quando você acorda pela manhã e com aquela vozinha sonolenta chama por mim: a maaa-mãe!
... ver você tomando seu leite com uma mão, enquanto com a outra você mexe na mantinha.
... quando depois de tomar todo o seu téti de iaiate você me chama, mostra a mamadeira vazia e diz, como eu: hum, tomou tudo! Depois arruma os cabelos, pega a mantinha e diz: vamos tomar um cafezinho?
... quando você me chama para sentar ao seu lado durante as refeições, no canto alemão, dizendo: tem um cantinho prá mamãe!
... quando você me convida para tomar um capuccino e ao receber a sua porção na xícara faz questão de tomar com uma mão só, me imitando em todos o gestos!
... quando você tira os tênis, as meias e me dá os pezinhos de chulé, perguntando: qué cherá o pé?
... quando você me convida para brincar conjunto e ao pegarmos os brinquedos você me diz: vamos cunveiçá?
... quando você canta! E amo ainda mais quando você inventa suas próprias musiquinhas. Eu lembro de mim, quando você nasceu...uma cantante enlouquecida pela casa!
... quando você é o meu bebê velho! Na pracinha, orienta as crianças (mesmo as mais velhas) usando as nossas advertências! E por vezes fica ranzinza, reclamona e olhando para tudo com um ar de enfado! Adoro!
... quando você quer fazer tudo sozinha! Amo essa sua independência e essa sua vontade de se superar, que vem desde os primeiros dias de vida. Ouvir você exclamando eu conseguiu! quando finalmente consegue fazer algo difícil, ou eu consegue, consegue sim, durante o processo, me deixa orgulhosa!
... quando você percebe que precisará de ajuda e cede, me chamando: me ajude, mamãe, me ajude!
... quando estou saindo e você diz: não mamãe, não vai, a Ísis quer cuidar da mamãe! Dá uma vontade de ficar ali, filha, e ser deliciosamente cuidada por você!
... quando você me esmaga, me afofa, me beija, me abraça!
... quando você me mostra o seu bumbum e pergunta: qué mordê o bumbum? E sai com ele balançando pela casa entre gargalhadas!
... quando saio do banho e você me pergunta: cê tá cheirosa?
... quando você me vê de cabelo molhado e fala: cê tá de cabelos molhados? E nós sempre cantamos a música do Nego Blue!
... quando chove e você canta comigo: chove chuva, chove sem parar!
... quando você me pede para fazer uma estrela de mantinha e quando eu termino você a pega como se fosse o bebezinho mais delicado e diz: ai, que bonitinha, tão pixixinha!
... quando você pega os bebês e bonecas no colo e as coloca no peito para mamar, porque elas estão com fome, e fica embalando e dando tapinhas, uma fofura!
... quando tomamos banho juntas e você lava meus cabelos e minha barrigonta!
... quando você sossega uns cinco minutos depois do banho para eu poder fazer uma massagem bem gostosa! Mas também amo quando você não se aguenta ali deitada e já levanta para pular na minha cama entre gargalhadas e gritinhos de eu tô pulando pilada! Shantala calmante não acontece aqui em casa...
... quando você me dá beijinho de esquimó e beijinho de borboletinha (boletinha).
... quando você faz biquinho e me pede para fazer boca de peixinho conjunto com você.
... quando você me dá comida na boca e diz: cê gostou do papazinho, mamãe? Cê comeu bem?
... quando você segura as minhas bochechas entre as suas mãozinhas gorduchas e diz que vai cuidar de mim!
... quando nos segundos que antecedem o sono, enquanto estamos deitadas juntinhas, você faz carinho no meu rosto e adormece assim.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

As novas novidades


Você é meu carrapatinho, mas também adora sua liberdade!

Estava pesquisando os textos anteriores e descrobri que faz mais de um mês que não falo nada especificamente para você, filhota. Perdoa a mamãe! Não é que não estejam acontecendo mil coisas na nossa vidinha que mereçam relato: todas merecem! Você está cada vez mais fofa, mas falante, mais cheia de gracinhas e artimanhas que me derretem, me encantam, me apaixonam.

E também não é que a nossa vida seja um comercial de margarina: longe disso. Acontecem os probleminhas, os cansaços, os choros, as noites mal dormidas. Mas isso...ah, isso prefiro deixar meio de lado, sabe? Porque nós temos uma tendência a super valorizar um momento ruim, e eu não fujo disso, enquanto que momentos felizes acontecem todo o tempo e acabam esquecidos diante da primeira adversidade.

Os últimos textos você vai demorar para compreender, mas eles vão ficar guardados, porque todos esses pensamentos, toda essa troca de ideias que você vai poder ler nos comentários, também fazem parte da sua vida. Na verdade, eles apenas existem por causa de você, a mola propulsora da minha maternidade.

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Das palavrinhas mais amadas!

- cucurar: procurar
- conjunto: fazer alguma coisa junto. Amo essa! Nem te corrijo, até porque faz todo sentido, quando você diz: quero passear conjunto com a mamãe, ou vamos bincar conjunto?
- cutador: computador, que pode ser o cutador da Ísis (DVD player) ou o cutador do papai (note book).
- cunveiçá: conversar, que é sua brincadeira preferida! E tudo conversa! De galhos secos de árvores, passando pelos tradicionais bonecos, dedinhos, até as pás da batedeira! E agora você contextualiza: mamãe, papai e neném, ou os amigos/as amigas, ou os irmãozinhos.
- diculpa: desculpa, que você usa tanto no conceito correto, quanto faz algo que não devia, como no equivocado, quando você está pulando, correndo, encostando em algo gelado, mexendo com água...fruto das nossas advertências a você.

Você fala muito bem os plurais das palavras e eu babo mesmo quando você usa todos os esses! E as conjugações verbais, apesar de equivocadas, são um charme do seu palavreado!

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Do irmãozinho:

Nós percebemos que você tem muita noção agora de que o irmãozinho, que você já chama de Pledo, ou Pedlo, é um bebezinho, que vai nascer da barriga da mamãe quando estiver maior. E já notamos que você sabe que a dinâmica vai mudar: já te alertei que os bebês choram muito, que precisam de muito colinho e que mamam bastante no peito da mamãe, até aprenderem a comer o papá.

Noite dessas, durante a massagem que eu estava fazendo em você, você coloca os pés da minha barriga e diz que o irmãozinho da Ísis está na barriga da mamãe. Eu aproveito sua espontaneidade e reforço o discurso sobre o nascimento, o choro, o colo as mamadas e sempre dizendo que você também fez tudo isso quando era um bebê bem pixixinho. Quando eu termino você se levanta encosta a boca no meu peito e diz que quer mamar. Eu deixo e você fica uns bons minutos ali, quietinha no meu colo, com o rosto sobre o meu peito...tão bom se pudéssemos voltar no tempo às vezes, né filha? Depois você se levanta e diz que a Ísis é um bebezinho e quer colinho da mamãe. Eu dou, claro, compreendendo a mensagem que você quer me passar.

Nunca ressaltamos que você é grande e o Pedro bebê, então entendo que essas atitudes suas são uma maneira de reforçar que você também é o bebê da mamãe e quer colinho, cuidados e afago, como o irmãozinho. E terás, filha querida, sempre que possível.

...

Carrapatinho da mamãe:

Faz algum tempo você ficou ainda mais grudada comigo: tudo é a mamãe, salvo se eu não estiver disponível. E também sempre ganho os lugares do seu lado: você me dá um cantinho na mesa, no sofá, na cama para que eu fique bem juntinho de você. Quando você acorda, me chama; e quando vai dormir e é a vez do seu pai te colocar na cama, briga com ele porque quer que seja eu. Pobre papai!

Confesso que nesses momentos fico numa mistura entre felicidade e medo do que virá...

...

Bicho querido!

Já te contei que te chamamos de bicho desde que você era recém nascida, né? Fica magoada não, meu bicho, é uma maneira super carinhosa de te chamar que eu e o seu pai temos.

Mais fofo ainda é quando você se refere a você mesma como bicho! Tenho vontade de esmagar até não poder mais!

Esta noite você me chamou de madrugada e como estou lenta para levantar da cama gritei lá do quarto que já estava indo. Como demorei para aparecer você me avisou: tô aqui na caminha do bicho! Não tem mal humor que resista a tanta gostosisse!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Maternidade e carreira: a angústia das escolhas e suas consequências

Voltei, ou melhor, voltamos. Gostaria de agradecer imensamente todos os comentários carinhosos! Muito legal voltar e receber esse carinho! Aos poucos vou colocando minhas visitas em dia!

Depois de 5 dias envolvida com Oficinas sobre Planejamento, Orçamento e Gestão na Administração Pública, somados a mais dois dias na capital para consulta com meu obstetra, cá estou eu novamente na minha rotininha.

Uma semana antes da viagem colegas me ligaram para saber se eu gostaria de dividir o quarto da pousada em Bento Gonçalves para que nossos custos com estadia fossem menores (já que a diária recebida mal paga a hospedagem, afe!), mas eu recusei a oferta avisando que estaria num quarto com meu marido e minha filha, eles iriam junto comigo. Diante das perguntas eu usei de toda artimanha de mulher grávida justificando que, bem, não seria bom passar tantos dias tão longe e sozinha, que eu estava muito sensível, que se acontecesse alguma coisa eu estaria numa cidade estranha, blábláblá. Todos concordaram prontamente.

Mas e se eu tivesse dito a verdade (como de fato disse para uma colega de curso): eu não aguento todos esses dias longe do marido e da filha de 2 anos? Não, eu não gosto de ficar longe deles, me dói, eu me sinto incompleta, eu morro de saudades, eu me sinto perdendo parte importante da minha própria vida. Creio que boa parte das pessoas diriam que eu preciso de um psicólogo, para me ajudar a "desapegar".

Tá, não é que eu não aguento, eu aguento sim, já fiquei em dois momentos longe deles e foi nesses dois momentos que percebi que não quero isso e evitarei o máximo possível. Do marido até aguento (fica chateado não, tá? Te amo!), mas da filha, não dá.

Durante o curso encontrei uma colega do mesmo órgão que havia deixado o bebê dela de 1 ano com o marido e a babá em casa, na boa, sem grandes problemas, apesar da saudade. Já eu confidenciei que só fiz os cursos porque marido e filha estavam lá comigo. Ela riu.

Quando voltei esta semana soube que minha colega de sessão teve que ir a um treinamento específio sobre sua área de trabalho às pressas, deixando o marido e os dois filhos pequenos aqui, 500km de distância. Senti um aperto no coração por ela, porque apesar de não termos as mesmas opiniões sobre vários assuntos, compartilhamos dessa não-vontade de nos afastar dos filhos por tanto tempo.

Imagino que boa parte das pessoas não considera isso saudável e posso sentir todos os pseudo psicólogos já formulando teorias e mais teorias sobre isso, sobre as causas e futuras consequências desastrosas para o bem estar emocional dos meus filhos (há, agora falo no plural, te mete!). Quiçá da minha própria.

Já pensei muito nisso da primeira vez que fiquei sem marido e filha por uma semana em casa. Eu achei que ia adorar ter uma folga, um tempo só para mim (que eu estava precisando), mas quando eles se foram, meus dias ficaram cinzas, nada do que eu havia planejado fazer me agradava e eu me afundei em panelas de brigadeiro e filmes na TV. Quando os vi no aeroporto chorei copiosamente de tanta saudade e conversei sobre esse meu sentimento com meu marido naquela época: por vezes eu desejava tanto ter um tempo só para mim, e esse desejo por vezes tomava proporções absurdas, me fazendo ficar até mal humorada; porém naquela semana eu pude perceber o que realmente importa na minha vida, e todo o resto, apesar de ser imensamente bom, não é o que me faz feliz. Filosofei que por vezes perdemos um tempo precioso em busca de felicidades que, de fato, não existem, e nos esquecemos de olhar a nossa volta com cuidado, para percebermos que a nossa felicidade está bem ali, no meu caso, minha felicidade está na minha família.

Depois dessa primeira separação precisei fazer um curso de 2 dias em Porto Alegre. Deixei marido e filha, babá e empregada em casa e saí no último ônibus, passei a noite viajando, dormi uma noite fora de casa e retornei na noite seguinte. Foi tranquilo dessa vez, apesar de morrer de saudades.

Concluí que períodos longos são críticos, não só para mim, mas principalmente para minha filha, que sente a minha falta e não entende muito bem minha ausência prolongada, e decidi não me afastar por longos períodos (acima de 1 noite fora de casa) até que ela cresça mais e passe a compreender mais esses acontecimentos.

Isso significa que minha carreira está de molho, continuo trabalhando todos os dias, mas não me especializo como gostaria, não atuo tão produtivamente quando meu chefe gostaria, não estou tão disponível como todos esperam. Já recusei cursos, treinamentos, experiências de trabalho que seriam super interesssantes. Não vislumbro qualquer alteração nos próximos anos. E estou bem, estou tranquila.

Contribui para essa minha tranquilidade o fato de ser servidora pública estável, estatus alcançado após ser aprovada em um concurso público e passar pelo estágio probatório.

Nesse meu arranjo atual só viajo por longos períodos se o marido for comigo e ficar com a pequena. No caso em questão, ele pegou 5 dias de férias porque sabia que eu precisava fazer os cursos, mas não conseguiria ir sem a Ísis e que ela não ficaria bem tanto tempo longe de mim. Nessa parte vai ter gente pensando, nossa, que pai legal, né? O máximo! Aham, concordo, porque ele é meu marido, mas não porque ele tirou férias para me acompanhar, afinal, somos os dois responsáveis pelo bem estar da nossa filha, ambos temos que fazer concessões para que nossa parceria dê certo.

Eu acredito que quando um filho nasce, existe uma espécie de cordão umbilical imaginário muito forte nos ligando a ele. Essa ligação faz com que não sintamos vontade alguma de nos separar de nossos filhos, nos sentindo mal mesmo se isso acontece. Com o passar do tempo e o crescimento deles, esse cordão vai afinando, sem nunca deixar de existir, porém vai ficando mais delgado, menos perceptível, apesar de sempre presente.

Esse adelgamento da ligação é o que nos faz aceitar bem o filho sair de casa para estudar, trabalhar, casar, enfim, passar longos períodos longe da gente.

Mas o meu cordão ainda é tenro...

 
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