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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Cenas

Ela corre até a casinha com escorregador, depois do balanço, seu brinquedo preferido. Um bolinho de crianças se divide entre a escada e a prancha. Ela espera sua vez de subir e eu observo de longe, do banco, e não ao lado dela como antes. Ela já sabe subir, eu penso, já sabe. Não preciso ficar ali ao lado.

Lá de cima da casinha um menino de boné cospe nela. Ai, ela diz, isso é baba!, constata. Não pode babar!, avisa. O menino não obedece e cospe novamente. Ela não se abala, limpa a manga da blusa de lã e segue subindo. Ao passar por ele na casinha faz cara feia, mas não diz nada e se dirige para o escorregador. Senta faceira e escorrega sorridente, levantando os braços.

Observo com o coração na mão, mas me controlo. O pai não. Levanta e fica lá ao lado da casinha, não diz nada, mas sua presença anima outros pais que também ficam por ali. O menino de boné, intimidado pelos adultos em volta, para de cuspir.
...

Ela espera sua vez de subir as escadas. Sobe devagar, com cuidado, como eu ensinei. Lá de cima uma menina ruiva grita: Tú não pode subir! Desce! Ela grita de volta: Pode subir sim! É de todo mundo, tem que dividir! E segue subindo.

Não posso deixar de sorrir com orgulho.

Ela passa pela menina ruiva e sorri. Sem mágoas. A menina responde com uma cara feia, ela se dirige ao escorregador e senta. A menina grita com ela: anda logo! Ela olha para trás e não se intimida, escorrega quando se sente segura.

Lá embaixo espera a menina ruiva descer também. Sorri para ela e grita: vamos, vamos denovo! E sai correndo atrás da menina ruiva que nem um sorriso deu para ela. Deixa a menina subir na sua frente na escada. Lá de cima, a menina ruiva não grita mais que ela não pode subir.
...

Sentamos com os baldes e pazinhas num pedaço de sol na areia da pracinha. Vejo um menino olhando. Incentivo para que ela convide o menino para brincar. Ela faz a dança da aproximação, depois de alguns minutos convida. O menino não responde. A mãe dele reclama, diz que ele é um bicho do mato.

Ela volta para onde estou sentada e brinca mais um pouco. O menino segue olhando. Deve ser a minha presença, penso. Digo a ela que leve as pazinhas para perto do amiguinho, para brincar com ele. Ela vai, animada. O menino olha, mas continua mudo e quieto. Ele não quer brincar, ela me diz.

Olho para o menino e lembro de mim. Eu também precisava de tempo para me habituar aos lugares, às pessoas. Mas os adultos tem pressa. Ele vai brincar quando se sentir à vontade, filha.

Alguns minutos depois eles estão correndo e pulando. Jogam bola. As pazinhas ficaram esquecidas no canto. Não era a brincadeira certa.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Uma vez que teve filhos, eles são sua maior responsabilidade!

Lia Miranda, mulher que admiro muito pela firmeza de suas convicções e com quem sempre aprendo. Hoje ela nos brindou com uma frase fantástica, na verdade um texto inteiro cheio de muita verdade, de muito sentimento e de muita coerência, mas quero deixar registrado aqui para a posteridade a frase que mais me marcou, porque é assim que eu sinto com toda minha alma:

"Filhos são uma dádiva. Não caiamos na armadilha de achar que qualquer coisa vale mais do que eles. O conflito entre nós e eles é um mito criado para vender brinquedos eletrônicos, papinhas industrializadas, DVDs, roupinhas caras e artigos de decoração. Nossos filhos são nossos parceiros, e jogar na lixeira essa oportunidade única de nos redescobrirmos é um enorme desperdício."

Um dia, questionada sobre um assunto, interpelada pela frase: mas e você? Não respondi, levei essa pergunta comigo e pensei, repensei, analisei, visitei o fundo da minha alma e devolvi para mim mesma: eu tive/tenho filhos, nada pode ser mais importante do que eles. Absolutamente nada. E não é. Simples assim. Abrangendo tudo isso vem a família, célula mater do desenvolvimento humano. Eu e o pai dos meus filhos somos parceiros, buscamos sim o equilíbrio, mas a prioridade nessa fase da vida são os filhos.

É uma decisão que me afasta de muitas pessoas, mas não me importo. Afasta dez, aproxima uma que de fato vai trazer força e cor ao meu dia a dia. Day, essa frase é para você, minha amiga.

O problema de afirmar pensamentos desse tipo é que as pessoas confundem com sacrifício, não aquele oferecido de coração aberto, na certeza de seu aproveitamento para o futuro, mas um sacrifício besta, que não leva a lugar algum, uma tonteria.

Aplaudimos e chamamos de herói aquele que se sacrifica por um estranho num momento de perigo, mas chamamos de tola, retrógrada, superprotetora, irresponsável (?), radical o pai e a mãe que colocam seus filhos acima de seus interesses pessoais. 

Desculpem-me. Eu penso assim. Eu penso.

Desculpem-me. Eu não sou uma fortaleza. Eu fraquejo. Eu tenho dúvidas. Mas eu tenho um norte. Na minha fraqueza eu preciso de apoio, de colo, de silêncio para me reerguer e recomeçar.

Depois disso, não preciso dizer mais nada, apenas: filhos queridos, é assim que eu os vejo nos melhores e, principalmente, nos piores momentos: vocês são um presente, um instrumento, um caminho, são escolhas e renúncias e nas nossas diferenças e semelhanças trilhamos uma vida mais cheia de cor.

Marido querido, meu norte, minha fortaleza, obrigada por me dar forças e apoiar minha maternagem, mesmo quando não concordas, mesmo quando não compreendes.




domingo, 23 de setembro de 2012

É dos carecas que elas gostam mais!


Pedro é carequinha, quase tão careca quanto quando nasceu. E isso exerce um fascínio...não há quem o veja que não diga: que lindo, tão carequinha! E passam a mão na cabecinha dele.

A mana adora! Está sempre passando a mão nos cabelinhos pixixinhos dele.

O pai, corintiano, começou a chamá-lo de Sheik, para desespero da mamãe aqui.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Crianças que chiam, que vão à escola, que tem viroses e infecções

Estamos na terceira semana macabra aqui em casa.

Tudo começou na semana que antecedeu minha volta ao trabalho. Na terça feira a Ísis caiu e bateu a cabeça no piso. Engraçado que na noite anterior ela me disse que havia batido a cabeça na escola. Eu perguntei para a professora, que negou. Quando cheguei para buscá-la a professora comentou que eu estava "adivinhado" que ela bateria a cabeça. Levei um susto quando vi, mas brinquei com ela que o galo cantaria naquela madrugada. Ela achou graça, mas se queixou de dor de cabeça. Fiquei alerta. Na manhã seguinte ela me contou, decepcionada, que o galo não havia cantado. :)

Percebi no dia seguinte à queda que a boca dela estava bem avermelhada e um pouco inchada no lábio superior, mas como aqui venta demais, associado ao fato de ela não apresentar maiores alterações, imaginei que a boca estivesse apenas queimada pelo frio e vento. Passei uma pomada.

No outro dia, durante o banho, percebi umas manchas vermelhas no pescoço, nas costas e nos pés, uma espécie de alergia. As bochechas dela ficaram inchadas, a boca idem e a pele ficou pintadinha, mas não havia outras alterações, salvo que ela estava muito mal humorada e parecia cansada. Imaginei que fosse alguma alergia alimentar por conta dos lanches na escola - no primeiro mês nós compramos o "bandejão" da escola para ela, porque houve uma propaganda enganosa de que o cardápio era feito por uma nutricionista sendo saudável e equilibrado; em alguns dias percebemos o embuste, mas como já estava pago, mantivemos o lanche dela assim até a virada do mês. No tal cardápio o cereal era aquele redondo todo colorido, mais artificial impossível, o suco natural era de caixinha, o sanduiche natural tinha maionese e nada de salada, os salgados eram fritos e as frutas vinham picadas, sem casca e quase sempre era maçã ou bergamota. Hoje ela leva lanche de casa, mas acaba comendo o dos colegas (e eles o dela).

Nesta mesma noite em que percebi as pintinhas, o Pedro teve febre e imaginei que fosse algum resfriado devido às amplitudes térmicas que estávamos vivendo por aqui. Foram 3 dias de febre até que no sábado ele amanheceu todo pintadinho, como a irmã. Primeira virose do Infante e descobrimos que a Ísis também estava com virose e não alergia alimentar.

Na segunda, dia do meu retorno ao trabalho, a Ísis já estava bem, mas o Pedro, apesar de não estar mais com a pele manchada, fez febre de 39,5 graus na madrugada e eu fiquei preocupada porque fugiu do padrão das viroses. Levamos ao pediatra mais uma vez, que não detectou nenhum problema na garganta ou no ouvido, locais que pareciam estar sensíveis ao toque.

Na terça ele não comeu, nem mamou e estava bem encomodado. Faltei ao trabalho pela manhã, liguei para o pediatra, mas nada foi detectado por ele. Na quarta não houve melhora, ele continuava com febre e o pediatra não estava na cidade. Recomendou não levarmos no pronto atendimento, pois lá ele apenas seria medicado com antitérmicos e analgésicos e o plantonista recomendaria a procura do pediatra. Na quinta levamos novamente ao pediatra e aí sim ele verificou a razão da febre e da encomodação para comer e mamar: otite média. Dez dias de antibiótico. Naquela noite saiu muita secreção do ouvido dele, tadinho, mas depois disso ele melhorou bastante e a febre passou.

A essa altura eu e marido já somávamos quase duas semanas sem dormir, pois ou o Pedro, ou a Ísis, acordavam de madrugada. O Pedro não conseguia dormir, apenas cochilava no colo e nós montamos uma escala para as madrugadas: cada um de nós ficaria 2 horas com ele no colo para o outro descansar.

Nesse meio tempo claro que eu e marido ficamos doentes também. Dores de garganta e no corpo e mal estar geral devido às noites mal dormidas.

Quando tudo parecia tomar rumo, a Ísis teve sua primeira crise respiratória do ano. Tossiu por 3 horas seguidas na madrugada, ficou com os olhos arroxeados, a boca pálida e passamos aos medicamentos alopatas (broncodilatador e corticóide) conjuntamente com os homeopáticos que estávamos dando desde fevereiro.

Lendo este texto da Lia eu revi tudo que já passei com ela. Ver um filho não conseguir respirar é de uma aflição sem tamanho, e agora que ela está maior é pior ainda porque ela se desespera, tosse ainda mais, chora, não deixa fazer inalação, usar soro no nariz, muitas vezes temos que usar à força, o que gera mais choro, mais tosse, mais falta de ar. Imagina o nosso nervosismo com essa situação, somado ao cansaço de várias noites sem dormir... Felizmente fazem duas noites que ela dorme melhor. A bronquite dela também era um fator importante para eu adiar o inicio de sua vida escolar. Assunto que eu vou ter que repensar para o ano que vem. :(

Laura Gutman fala muito sobre as doenças respiratórias e os fatores emocionais que podem desencadeá-la e creio que ela tem muita propriedade ao afirmar isso. Fatores físicos (virose, alterações bruscas de temperatura) associados a fatores emocionais (doença do irmão, mudança brusca na rotina, meu retorno ao trabalho) são uma bomba relógio.

Eu estou na fase da Lia: não espero mais curar a bronquite, mas gostaria de conviver com ela com maior tranquilidade. Confesso que não consigo. Eu tento, mas não consigo. Dia desses fiquei sabendo de uma moça de 31 anos que morreu devido a uma crise de bronquite. Isso não é bom saber quando se tem um filho com o mesmo problema. Eleva à décima potência a preocupação que sentimos.

Já escrevi sobre isso aqui, quando ainda não tinha muita noção da gravidade e tudo que ainda estava por vir. E aqui, quando eu já estava calejada de tanto médico, hospital, medicamentos e noites em claro!

E nesse caos todo eu só consigo pensar na música que a Anne postou...preciso de um CD do Osvaldo, minha gente...cantar e bater o pé no chão para ver se sai essa perebada toda daqui de casa!

(...)

Como, sem licença, o sol

Rompe a barra da noite
Sem pedir perdão!
Hoje quem não cantaria
Grita a poesia
E bate o pé no chão!

E hoje quem não cantaria
Grita a poesia
E bate o pé no chão!

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Escola

Eu não queria que a Ísis iniciasse sua vida escolar ainda. Por minha vontade ela iria apenas aos 5 anos, como eu mesma fui. Infelizmente não foi possível concretizar esta vontade por uma série de fatores e cá me encontrei com uma decisão não muito bem aceita por mim mesma. Já escrevi sobre isso aqui.

E só pensava na adaptação, respirava adaptação, adaptação, adaptação. E foi difícil, não nos primeiros dias, quando tudo ainda era novidade e ela, a minha pequena, que hoje ouso chamar de minha mais velha, achava que a escola era um lugar legal para ir, se divertir, brincar no parque, dançar com os amiguinhos, recortar, colar, enfim...uma extensão de nossa própria rotina em casa, só que mais legal, pois que incluía outras crianças.

Quando ela se deu conta de que a escola seria o lugar onde ela estaria sem mim, porque eu retornaria ao trabalho, o mundo caiu. Choros nervosos, raiva, frustração. Na tentativa de enganar a vida ela me dizia para ficar "só mais 3 minutinhos" na sala com ela. E esses 3 minutinhos viravam 6, 9, 12... Teve um dia que ela saiu correndo tão desesperada de dentro da sala, quando me viu saindo depois do "tchau, a mamãe vai trabalhar", que bateu na porta, caiu no chão, na frente de uma turminha do quinto ano, que, claro, riram. E ela chorava, e eu segurava as lágrimas.

E conversei com a pedagoga, uma, duas, três vezes. O que eu ouvi? Ladainha. Na boca da pedagoga a Ísis me testava e eu não podia ceder, porque se eu cedesse, ah...ela venceria e aí, adeus escola. A escola foi apresentada como um mundo de perfeição, onde as crianças eram "estimuladas" (estimular é o novo preto) e por isso seriam mais desenvolvidas. Melhor que ficar o dia todo em frente à televisão, ela me disse. Só que a Ísis nunca ficou o dia todo em frente à televisão.

E eu fiquei com raiva, frustrada, porque não estava segura daquela decisão, ou melhor, eu sabia que não queria aquela decisão. Havia outra forma? Não, nenhuma que me satisfizesse. A escola era dos males o menor.

O que acontece é que eu tinha uma babá muito boa, gosto muito dela, mas a menina tinha um problema de saúde que a fazia faltar todos os meses de 3 a 5 dias seguidos para realizar consultas médicas, que acontecem em Porto Alegre, já que aqui na fronteira a rede médica é praticamente nula. Quando só tinha a Ísis, tudo bem, eu dava um jeitinho aqui, outro ali; mas agora com os dois ficaria inviável esta situação. Como não entramos num acordo, tive que dispensá-la à contragosto. Foi aí que a escola entrou, porque nao consegui outra babá no mesmo nivel dela e se fosse para ter alguém que a deixaria o dia todo em frente à televisão, sim, melhor ir para a escola.
Então vamos erguer a cabeça, deixar o ideal de lado e trabalhar com o possível no momento. Vieram conversas, explicações, pedidos reiterados na escola para que, ao menos neste momento, ela tivesse uma atenção especial, que facilitasse a separação. Um belo dia marido, que estava cansado de me ver chorar depois de deixá-la na sala de aula, resolveu deixá-la ele mesmo. E eu me lembrei de Laura Gutman. Os pais tem esse papel importante, de separador, de motivador da ampliação do círculo de segurança de nossos filhos. Porque a mãe, a mãe não separa, ela fusiona (na maoria das vezes).

E nosso esquema agora funciona assim: o papai leva para a escola e a mamãe busca. Teve choro? Teve. Ela grudou nas pernas do pai um dia. Ele ficou nervoso, nunca que ela havia feito isso. Ficou preocupado, me pediu para ficar por ali olhando. Cena de filme de comédia, mas não era engraçado. Mas o tempo, ah, esse amigo, ele soluciona tudo para nós, porque como já diz o ditado "quando não há remédio, remediado está". Meu bebê velho, como ela passou a se chamar, entendeu bem que não havia mais nada a fazer e a escola era necessária neste momento.

Então a adaptação é um "não há mais nada que eu possa fazer, a realizade é essa, vamos em frente". Crescer dói, mas é necessário. Separar dói, mas faz parte da vida como um todo.

Depois disso ela se abriu, se permitiu conhecer, brincar, relaxar. E eu me conformei. Ainda tem choro? Tem, e a mantinha levada todos os dias ameniza os momentos de saudade de casa. E ela se apegou em uma professora, então, em comum acordo com a escola, esta professora está sempre lá na sala de aula para recebê-la. Não sei até quando, mas por enquanto está sendo assim.

Na vida dela, de bom, o que mudou foi a hora do sono. Ela dorme mais cedo. Mas de resto, ou não mudou nada, ou piorou, como o estresse, por exemplo. Quando ela chega da escola no final da tarde, é o caos. Ela está cansada, saudosa, com fome. Estamos todos. Ainda não conseguimos arrumar este momento.

E vou te falar, viu? É um tal de levar potinho, folhinha, fotinho, recortes, tarefas (!), que não acaba mais! Fora os dias de...esta semana tem o dia dos avós! Um evento! Daí a minha, que vê os avós uma vez por ano, não vai para a escola porque não posso permitir que ela fique lá, largada às traças sem os avós, né? E toma arrumar daqui, esticar dali.

Dia desses fui reclamar com a pedagoga sobre as tarefas dela. Sério...tem necessidade de crianças de 3 anos terem tarefas para fazer em casa? O que essas escolas estão pensando? Falei que não havia condição de receber a tarefa no final da segunda e entregar na terça! A que horas nós faríamos se eu trabalho o dia todo? E se não é para nós, os pais, fazermos com ela, então prá quê a tarefa?

Enfim, completamos o primeiro mês de aula. E eu já sou a mãe chata do grupo III. (:



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