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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Depois...

Obrigada a todas pelos comentários carinhosos no meu relato! Gosaia de passar para agradecer pessoalmente a cada uma, mas o ritmo por aqui anda apertado.

Aproveitando que filhota foi passear e o filhotinho está dormindo, vou tentar encerrar o relato com o depois e algumas considerações.

DEPOIS...

Aconteceu o que eu sempre quis! Pedro ficou no meu colo, aquecido, nos olhamos e eu reconheci nele os olhos da Ísis de quase 3 anos antes. "Ele é parecido com a Ísis quando nasceu", eu disse. Marido e filha estavam ali, ao meu lado. A equipe se afastou um pouco e nos deixou nesse momento íntimo por alguns minutos.

A placenta saiu pouco depois, questão de minutos também e foi muito prazeroso parí-la. Não cheguei a olhar, mas marido viu e disse que era diferente da placenta da Ísis. Mentalmente eu agradeci àquele organismo por ter servido de meio de alimentação ao meu bebê por mais de 41 semanas. Agora era comigo!

Não houve pressa para cortar o cordão. Eu havia pedido que ele só fosse cortado após a saída da placenta, e a Zeza numa das reuniões já havia me dito que esse era o procedimento adotado por eles, porque, segundo evidências, não cortar o cordão enquanto a placenta não sai reduz os riscos de retenção placentária. Eu me lembro de ter pensado que isso era o óbvio, afinal, o bebê só está apto a ser desligado dela quando já está respirando e adaptado ao mundo exterior, portanto ela só sairia quando já não tivesse mais serventia.

Aplicaram uma injeção de ocitocina no meu braço para ajudar nas contrações uterinas e diminuir o risco de hemorragia pós parto.

Depois disso papai cortou o cordão. Estávamos desligados afinal. Ao menos do cordão material... A Ísis adorou a cena de cortar o cordão umbilical e ficou dias falando no assunto (ainda hoje fala!) e brincou muito de cortar o cordão umbilical das suas bonecas e ursos.

Retiraram o sangue do cordão umbilical para sabermos se o Pedro tinha sangue O positivo, e neste caso eu teria que receber a vacina nas próximas 72 horas, mas ele era O negativo. O engraçado é que essa foi a única "intuição" que eu tive durante toda a gestação, sobre o tipo de sangue que ele teria!

Avaliação do períneo: eu sabia que havia lacerado, afinal minha posição ao parir não havia sido verticalizada e eu não havia segurado nada: quando a contração veio eu fiz toda a força que pude e o Pedro saiu de uma vez! O resultado foram 3 pontos internos e 3 externos e a única dor que senti com eles foi a da picada da agulha da anestesia local. Bem diferente da episio de 3 anos atrás, quando levei muitos pontos e tive que usar medicamentos (antiinflamatório e analgésico) durante vários dias. Isso só prova que a episio de rotina é realmente muito pior que a laceração natural. E eu nem fiz nenhuma preparação para o períneo; eu tentei, mas não levei a fundo, salvo contrair e soltar em algumas idas ao banheiro :)

Durante todos esses procedimentos Pedro não saiu do meu colo, bem como filha e marido permaneceram ali conosco. O recém chegado não estava muito a fim de mamar, deu umas lambidas, mas estava cansado e queria dormir. A Zeza pesou (3,290kg) e mediu (51cm) e ele chorou a plenos pulmões, um choro forte e bem agudo. Eu ainda brinquei que ele estava imitando a mãe dele :)

No meu colo ele se acalmou e recebeu a vitamina K via oral. Precisaríamos repetir a dose aos 7 e aos 21 dias e foram deixadas conosco as ampolas para administração.

A Fabi pegou uma roupinha e a Zeza vestiu o filhote. Tudo simples, feito ali do meu lado. Depois disso ele voltou para o meu colo e dormiu profundamente.

Eu aproveitei para jantar (macarronada e sorvete de sobremesa!), dar atenção para a Ísis, que já estava caindo de sono deitada ao lado do irmão, e comigo fazendo carinho em suas pernas ela dormiu.

O parto aconteceu às 22:30h e a equipe se despediu à 01:30h. Depois disso ligamos para a família, mas conseguimos avisar apenas uma irmã minha e um irmão do Daniel. Só no dia seguinte foi que todos receberam a notícia do nascimento.

No dia seguinte o Dr. Ricardo e a Zeza fizeram uma visita e fui informada de que o Pedro havia nascido na posição invertida - occipto sacra, ao invés de occipto púbica - ou seja, ele girou ao contrário ao sair do útero, saiu olhando para frente, e esse foi um dos motivos pelos quais eu sentia muita dor nas costas no expulsivo. Fui informada de que isso acontece em 1% dos nascimentos e que hoje é indicativo de cesariana (obviamente que não necessária em todos os casos, fui a prova de que crianças nessa posição nascem de parto normal), devido ao expulsivo ser mais demorado. Eu me lembro de ter pensado que, ainda bem, eu não havia sabido disso antes!

A Zeza me perguntou se eu havia ficado com uma lembrança muito dolorida do meu parto e eu sinceramente respondi que não, dolorida não, mas assustadora no expulsivo sim.

Eu estava muito preparada para a fase de dilatação, eu havia passado por ela no primeiro parto, ao menos a maior parte, e ainda que estivesse anestasiada após os 7-8cm, eu me lembrava das contrações. Comentei que no TP em casa não havia sentido nem um décimo da dor que senti no hospital antes da anestesia, tanto que cheguei aos 10 cm sem nem me dar conta! Eu realmente aceitei a contração da dilatação, não tive medo, me entreguei e tudo foi muito tanquilo!

Já o expulsivo era novo para mim e eu me assustei com aquilo tudo, entrando no famoso ciclo medo-tensão-dor, que o Dr. Ricardo cita bastante em seu livro. Apavorei, desconcentrei e as contrações foram muito mais difíceis para mim. Mas ainda assim, suportáveis. Posso garantir que não foi a pior dor que senti na vida (a pior foi de cólica menstrual,que me fez desmaiar de tão insuportável).

Foi o Dr. Ricardo quem melhor definiu a segunda parte do meu parto: selvagem! A palavra era essa mesma, eu adorei!

Em nenhum momento eu pensei em analgesia ou quis estar num hospital, ao contrário, durante todo o processo eu agradecia mentalmente por poder estar em casa, livre, bem acolhida por uma equipe que valoriza o protagonismo da mulher.

No dia seguinte ao parto, conversando com marido, eu afirmei com toda sinceridade que preferia mil vezes meu parto em casa, natural, do que aquele primeiro no hospital com analgesia, ainda que aquele tenha sido mais civilizado.

A sensação de empoderamento que a gente sente depois é indescritível! Eu pari, eu fiz meu caminho, eu posso tudo!

Enfim, encerro aqui uma parte importante da minha vida, que me trouxes muitas alegrias, me fez ser mais quetionadora e me fez acreditar - ainda mais - na minha capacidade, como pessoa,mas principalmente como mulher!

Mais uma vez obrigada a todas por todo o apoio recebido. Vamos em frente, que a maternidade de dois está só começando! O TP fica fácil minha gente, muito fácil!

:)



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Relato de parto e nascimento do Pedro

ANTES...

Acho importante relembrar alguns acontecimentos que antecederam o nascimento do Pedro, porque por incrível que pareça – eu ao menos nunca havia acreditado naquele papo de que no parto você se encontra com sentimentos seus, escondidos, seus medos, seus fantasmas, mas para mim foi a mais pura verdade! - eles ditaram o andamento do meu trabalho de parto.

Escrevi sobre a escolha por um parto humanizado e domiciliar aqui e aqui.

Escrevi algumas coisas sobre o nascimento da Ísis aqui. Eu nunca fiquei “traumatizada” com o nascimento dela, ao contrário, apesar de todas as intervenções sofridas por mim sem necessidade, eu encarei o fato de que eu queria um parto normal, não tinha conhecimento suficiente para desejar e bancar – psicologicamente falando – um parto natural; então tudo o que aconteceu comigo foi aceito como um mal necessário. Mas, e sempre tem um mas, todas as intervenções que ela sofreu no hospital deixaram uma marca, deixaram alguma coisa piscando dentro de mim, um alerta. E a partir daí, do que ela passou, eu senti necessidade de buscar mais informação. Quando a minha doula perguntou se eu havia feito tudo o que eu fiz para ter um parto domiciliar por mim ou pelo bebê, eu respondi que com certeza pelo bebê. Claro que foi por ambos, mas eu poderia ter o meu parto humanizado dentro de um hospital em POA; porém o meu filho não teria um acolhimento respeitoso nas primeiras horas de vida dentro de uma unidade hospitalar. Foi então que começou a minha saga de querer um parto extra hospitalar, como bem disse meu obstetra.

Outro fator importante nessa trajetória é que ela foi solitária. Eu busquei as informações, eu decidi pelo parto domiciliar, e mesmo quando, no início, meu marido demonstrou ser contra o nascimento fora do hospital, eu decidi e comuniquei a ele que faria com ou sem sua ajuda. O parto era meu, era parte importante do meu papel de mulher e queria vivê-lo plenamente. Não queria sensações roubadas, não queria estar anestesiada, não queria tratamentos desrespeitosos para mim e para meu filho. A partir de então – e talvez porque ele não tivesse outra saída – ele me apoiou, apesar de nunca ter lido nada sobre parto natural. A única coisa que ele leu sobre o assunto foi um texto da Dra. Melania Amorim sobre as estatística que comprovavam a segurança do parto domiciliar frente ao parto normal hospitalar e a cesariana. O restante do conhecimento dele sobre o assunto veio das nossas conversas.

Eu também não segui as orientações da maioria das famílias que optaram por um parto domiciliar dentro da nossa cultura cesarista atual: ao contrário do que recomendavam essas famílias, eu contei para a minha sobre o desejo e a realização do parto fora do hospital. Hoje, se pudesse voltar no tempo, eu não teria contado antes do nascimento do Pedro, pois percebi que levei preocupação a eles. A preocupação sem a informação necessária – não porque eu não quisesse falar sobre parto, mas porque não houve interesse em conhecer mais sobre o assunto – associados a outros fatores alheios a isso, fez com que minha família não pudesse estar presente nesse momento. A presença familiar foi desejada por mim, no início, mas com o passar do tempo eu percebi que não haveria esta possibilidade e não ter contado nada a eles teria sido melhor.

Os motivos acima fizeram com que meu marido também não pudesse estar totalmente envolvido no dia do parto, pois ele precisava estar com nossa filha. A presença dele fez muita falta a mim na segunda parte do trabalho de parto, o expulsivo, que foi quando eu mais precisei de apoio, de força. Felizmente ele e a Ísis foram chamados no momento exato do nascimento e puderam presenciar este momento, que muitos consideram um horror de ver (panos verdes não havia lá!), mas que eu considero o mais lindo de todos!

Ultrapassar o marco das 40 semanas me deixou nervosa e foi aí que tudo que eu havia lido sobre o parto teve que se fazer presente. Incrível como nossa mente é condicionada a pensar que nosso bebê pode estar em perigo iminente apenas por ultrapassar uma data aleatória dentro de um período possível relativamente grande para o nascimento . Foi nesse momento também que eu tive certeza de que a equipe que estava comigo era humanizada de verdade: ninguém se desesperou, continuamos com nossas consultas semanais. Uma ultrassonografia com 41 semanas e 2 dias mostrou um bebê totalmente saudável, seguro.

A gravidez do Pedro foi saudável e tranquila do ponto de vista físico – apenas alguns sustinhos, como suspeita de diabetes gestacional e exame positivo para strepto no finalzinho (para o qual fiz um tratamento com alho, que negativou o segundo exame). Mas não foi um mar de rosas do ponto de vista psicológico. Eu estive sempre muito arredia, muito voltada para mim mesma, pensativa. Na minha busca por um parto humanizado eu acabei encontrando outras coisas, acabei repensando muitos acontecimentos da minha vida.

O tempo que passamos no apartamento de POA, esperando pelo Pedro, foi muito bom. Ficamos os três por muitos dias juntos, fazendo coisas do cotidiano e transformando aquele local, no início impessoal, no nosso lar, nossa casa de “Potalegre”, como dizia a Ísis. Esse tempo foi muito bom também para que eu criasse um vínculo com a equipe que me atenderia, principalmente com a Zeza e o Dr. Ricardo. No dia do parto, esse vínculo com a Zeza seria primordial para mim.

DURANTE...

Eu e Zeza, numa cena que se repetiu muito durante o expulsivo.

Eu já havia tido dois momentos de trabalho de parto falsos desde que havia chegado em POA. Até de suspeita de perda de líquido aminiótico, que me rendeu um exame super dolorido, afe! No último TP falso havia até mesmo avisado a Fabi, minha doula, a Zeza e o Dr. Ricardo de que poderia acontecer naquele dia, e então tudo parou!

Tudo tão diferente do nascimento da Ísis! No dela eu não me lembro de ter achado que era trabalho de parto com tanta certeza e não ser. A bolsa estourou, as contrações vieram fortes, não havia dúvidas de que eu deveria ir para o hospital.

O que me animava era que na última consulta, no dia 07/02, constatamos colo já bem apagado e 3 cm de dilatação. De grão em grão, eu pensava, logo chegaria aos 10cm!

Eram 10:00 horas da manhã do dia 09/02/2012. Como em todos os outros dias daquele último mês em Porto Alegre, nós tomávamos café da manhã. Após o café eu e a Ísis íamos lavar a louça em meio a brincadeiras de fantasia onde eu era a Vovozinha e ela a Chapeuzinho Vermelho que me trazia uma cesta cheia de doces (uma garrafa de 5lt de água mineral vazia), ou ela era a cozinheira filha fazendo um delicioso bolo de uva (com as cascas das uvas do café da manhã). Em meio a essas brincadeiras eu comecei a sentir contrações leves, e mesmo já perdendo o tampão desde o dia anterior, não dei bola. Continuei a fazer tudo normalmente, não falei nada para o marido.

Pouco tempo depois eu percebi uma certa regularidade nas contrações e resolvi contar o tempo entre elas: 2 contrações a cada 10 minutos. Pode não ser TP, eu pensei, melhor esperar. Fiquei assim até às 13:30, quando resolvi avisar a Fabi, a Zeza e o Dr. Ricardo. Vai que é hoje? Mandei mensagem para todos, mas os tranquilizei, estava muito tranquila e poderia não ser trabalho de parto ativo.

Almoçamos, arrumei a cozinha, limpamos a casa e eu resolvi limpar bem a banheira e a piscina inflável, porque se fosse hoje o dia do nascimento eu poderia querer relaxar na água. Nesse momento as contrações já estavam vindo a cada 4 minutos, mas eu estava muito tranquila, sem dor, só com um desconforto nas costas e uma pressão no colo do útero. Nos intervalos não sentia nada e na contração eu parava o que estava fazendo, me apoiava em alguma coisa e fazia movimentos com o quadril aprendidos nas aulas de dança do ventre (que saudade!): oitos e batidas laterais associados com respiração calma e profunda.

Meu marido queria que eu ligasse para a Fabi, mas só fiz isso depois que recebi uma mensagem do Dr. Ricardo perguntando como estavam as coisas e se eu já havia chamado a doula. Eram 16:30h quando liguei para a Fabi, expliquei sobre as contrações e disse a ela que poderia vir, sem pressa, porque deveria estar bem no começo ainda, eu estava tranquila. Mandei mensagem para a Zeza e o Dr. Ricardo, eles já estavam de prontidão.

Resolvi tomar um banho antes da Fabi chegar, estava um dia muito quente e a água foi muito bem vinda! Liguei a música no computador: Loreena! Fui para o chuveiro e continuava a respirar e rebolar agachada a cada contração. Não era à toa que sempre havia lido sobre o poder relaxante de um chuveiro. Quando as coisas engrenassem, pensei, seria muito bom poder ficar na banheira!

Eu continuava pensando que estava bem no começo, porque fora o espaçamento entre as contrações estar menor, eu estava super bem! Eu me lembro de ter pensado na minha amiga, que havia parido em casa um mês antes: o trabalho de parto dela havia durado 24 horas! Esse meu segundo parto também deveria ser demorado! Será que o Pedro nasceria somente no dia 10?


Quando a Fabi chegou, por volta das 18:00h, eu ainda estava no banho. Saí, me arrumei e ela me achou muito tranquila, iria observar um pouco. Intimamente eu lembro de ter pensado que poderia não ser trabalho de parto, que droga! Eu realmente estava muito tranquila!

Meu marido e minha filha saíram para passear na Praça da Incol e ficamos eu e a Fabi em casa. No intervalo entre as contrações conversávamos um pouco. Não havíamos nos encontrado muitas vezes antes desse dia. Ela me ensinou a ficar de cócoras quando viesse uma contração, para ajudar a acelerar o trabalho de parto. Mal sabíamos nós que já estava tudo bem encaminhado!

Pouco depois da Fabi chegar, a Zeza ligou. Conversei com ela, mas passei o telefone para a Fabi, porque, apesar da existência das contrações, eu estava tranquila demais. Reboladas, agachadas e respiração eram suficientes para relaxar. Eu praticamente não sentia dor, apenas desconforto nas costas e sensação de pressão lá embaixo, creio que no colo do útero. A Zeza, então, pediu que eu fosse para o chuveiro por uma hora e que a Fabi contasse as contrações nesse período e ligasse para ela no final. No chuveiro percebi que as contrações estavam bem menos espaçadas e em determinado momento a Fabi saiu para ligar para a Zeza. Eles poderiam vir porque, sim, eu estava em trabalho de parto! Depois do nascimento do Pedro a Fabi comentou que teve receio dele nascer ali, antes da Zeza e o Dr. Ricardo chegarem, pois as contrações estavam vindo a cada 2 minutos aproximadamente.

Nesses momentos em que fiquei sozinha no chuveiro, já sabendo que estava em trabalho de parto, eu fiquei muito emocionada e chorei de felicidade! Estava acontecendo, meu filho estava chegando e eu estava ali, fora do hospital para recebê-lo!


Por volta das 20:00h chegaram todos: marido, filha, Dadá (doula que havia pedido para assistir ao parto, pois trabalharia com a Fabi), Zeza e Dr. Ricardo. Um pouco antes desse momento eu me lembro de ter percebido uma mudança no padrão das contrações: agora havia dor nas costas, cólica leve e uma pressão maior na região do colo. Nesse momento eu pensei estar chegando na famosa fase de transição, entre 7-10cm. Eu tinha um pouco de receio dessa fase, porque foi nesse momento que eu fiz uso de analgesia no meu primeiro parto. Agora seria o momento em que eu precisaria de ajuda, pensei. Tratei de me concentrar nos hormônios que aliviam a dor para poder aguentar e fiquei firme.
Senti minha pressão cair um pouco devido aos vapores do chuveiro e a falta de ventilação do banheiro. A Zeza me pediu para sair e pegar um ar, pois o Dr. Ricardo queria fazer um exame de toque e saber a quantas andava a dilatação. Eu lembro de ter reclamado um pouco e de ouvir ele me garantindo que não doeria. De fato, o exame não doeu nada, apenas a posição havia sido desconfortável demais, e ao final deste exame de toque a frase do Dr. Ricardo que transformaria o meu trabalho de parto de passeio de trenzinho infantil em montanha russa desgovernada: Janine, eu não sei o que você estava fazendo até agora, mas continue assim que você já está com dilatação total!

O quê? Como assim? Então, caraca, eu já estou no expulsivo! Isso explicava a mudança no padrão das contrações que eu havia percebido. Após essa constatação, veio o medo, aquele mesmo medo que eu havia receado durante toda a gestação: medo do expulsivo, dessa fase do trabalho de parto que eu não havia vivido na primeira vez devido à analgesia. Não há comparação entre a força de uma contração natural, que empurra seu bebê para fora de você e uma contração artificial, por ocitocina sintética associada à analgesia! A contração natural era impossível de controlar, ela vinha numa onda gigantesca, um tsunami, invadindo tudo, empurrando tudo, forçando o bebê para fora do útero, e essa força me assustou, muito!

Em algum momento, não lembro qual, o Dr. Ricardo fez outro exame de toque do qual mal tomei consciência, salvo pelo alívio que senti quando a bolsa estourou. Foi uma sensação bem prazerosa até! Aliviou muito a pressão que eu estava sentindo, mas ela continuva ali, poderosa!

Eu sentia muita dor nas costas e a pressão causada pela contração, associada pela descida do bebê, mais o meu medo, me fizeram perder o rumo. Eu me descontrolei e passei a tentar evitar a contração – o que era impossível obviamente – e tudo isso junto fez com que eu ficasse muito tensa, não conseguia relaxar entre as contrações e quando ela vinha eu gastava toda minha energia tentando evitá-la.

Passamos para a cadeira de parto, e eu não conseguia ficar direito nela, porque me doía demais as costas e a cada contração eu me jogava para frente, numa tentativa de diminuir a dor. Ficamos assim um bom tempo. A Zeza sentada a minha frente, me apoiando, falando comigo, a Fabi ao meu lado, ou atrás de mim. O Dr. Ricardo ali, realmente o homem de vidro, presente, mas quase imperceptível.

Minhas pernas começaram a tremer devido à tensão, meus ombros e pescoço doíam de tão tensos e eu ainda estava fugindo da contração, o que fazia com que ela me parecesse ainda mais dolorosa.

Alguém sugeriu que eu fosse para o chuveiro. Não quis, porque não queria ficar lá sozinha, mas a Zeza disse que iria comigo, então eu fui. No chuveiro, sentada na cadeira de parto, eu relaxei um pouco, mas ainda não conseguia me livrar da dor nas costas. Tiramos a cadeira, a Zeza apertou meus quadris e eu comecei a fazer força, a ajudar a contração, mas nesse momento eu já estava bem cansada e minhas pernas tremiam (de cansaço e medo associados).

Eu acho que a Zeza me perguntou sobre a dor, não sei o que respondi, mas ela me retornou dizendo que o Pedro ainda não estava forçando meu períneo. E eu lembro de ter dito que, então, quando isso acontecesse, eu iria morrer, não iria aguentar – dramática! Eu me lembro de a Zeza me olhar bem nos olhos, eu fixar bem nos olhos dela - e ela tem olhos claros lindos, que me acalmavam – e ouvir ela me dizendo firme: Não vai não! Você tem que deixar o seu filho nascer. Respira, relaxa. Ela ainda fez algumas manobras, sugeriu posições, mas quando a contração vinha eu só conseguia agachar. Pouco depois saímos do chuveiro e eu me lembo de sentir muito frio.

Em determinado momento do expulsivo, quando eu já estava cansada, eu me dei conta, em meio ao meu transe, que eu estava parindo de acordo com a minha jornada: sozinha, com meu marido não totalmente presente, mas ainda assim ali, comigo (eles estavam no andar de baixo, porque como perdi o prumo no exulsivo, não quis que minha filha acompanhasse tudo), contando com o apoio de pessoas quase estranhas - se é que se pode chamar de estranhos aqueles que acompanharam momento tão íntimo para mim. Quando eu me dei conta disso eu lembro de ter pensado que empoderamento também era isso, ou melhor, era exatamente isso: escolher o caminho e bancar as consequências das escolhas feitas. Esse era o parto que eu havia buscado e se eu havia tido forças para fazer as escolhas necessárias durante todo o processo praticamente sozinha, não seria agora que ele estava ali, se realizando diante de mim que eu me amedrontaria. O Pedro estava ali, precisava nascer e eu haveria de conseguir!

A melhor posição para mim era pendurada na Zeza – tadinha! - e nesse momento a força do marido fez falta. Alguém sugeriu que eu me deitasse para o lado esquerdo, o que aceitei prontamente. Deitei de lado na cama, com a Fabi segurando a minha mão e a Zeza segurando minhas pernas, numa posição que eu jamais me imaginaria parindo: posição de Siemens, como me explicou o Dr. Ricardo mais tarde. Nessa posição eu consegui colocar efetividade nas contrações ajudando com minha força, logo o Pedro coroou, coloquei a mão e senti a cabecinha dele ali, seguro apenas pela resistência do meu períneo. Ganhei forças para empurrar mais e senti o famoso – e temível para mim – círculo de fogo.

Eu tenho 3 lembranças de dor do meu parto, todas do expulsivo: a primeira quando a Zeza pressionou as minhas costas durante uma contração. Gritei muito de dor! Parecia que minha coluna iria quebrar! A segunda, quando estava na cadeira de parto, me jogando para frente e a Fabi me segurou e puxou para trás. Eu novamente gritei muito de dor nas costas e esse momento aparece bem no vídeo que o Dr. Ricardo fez. E o terceiro, o círculo de fogo, essa ardência que muitas não sentem, mas que eu senti com tudo!

Escutei o Dr. Ricardo dizendo que eu continuasse a fazer força, que meu filho estava ali e iria nascer. Então, entre gritos e gemidos senti a cabeça romper para fora do períneo e aquela sensação maravilhosa de ter o seu filho saindo de dentro de você se fez presente; o grito de dor se transformou em gemido de prazer, eu me virei e encontrei o meu bebê misterioso, ao mesmo tempo em que encontrava também a presença do meu marido e da minha filha. Momento mágico, indescritível, que fez tudo, absolutamente tudo valer a pena!

Família reunida e Pedro descansando no colo da mamãe, após sua longa jornada



sábado, 18 de fevereiro de 2012

Atualização rápida entre as mamadas!

Antes de mais nada, gostaria de deixar aqui registrado meu carinho e meu agradecimento pessoal por todos os comentários e visitas carinhosas (porque a maioria não comenta, que pena!) que recebi nesses últimos dias! Estou passando em cada um para agradecer a visita, aos poucos! Fiquei conectada neste último mês apenas pelo celular, li tudo, mas raramente comentei, porque o teclado do celular é algo que me deixa nervosa!

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O relato de parto já está sendo escrito, mas vou contar uma coisa: é muito difícil traduzir em palavras o que a gente vive e sente nesse momento tão mágico! Mesmo as sensações físicas são difíceis de descrever em palavras. Só posso ir adiantando que foi lindo, foi transformador, foi assustador em alguns momentos, e foi muito recompensador no final! Ah! E a Ísis assistiu ao finalzinho do parto, quando o Pedro estava saindo. Ela e o pai acompanharam apenas os "sons" do trabalho de parto, mas foram chamados no momento em que o Pedro estava saindo! Muito legal! A parte que ela mais gostou foi do cordão umbilical! Até hoje ela fala do momento em que foi cortado e fica descrevendo o fato em parar! E seus bichinhos todos "ganharam" cordão umbilical para papar dentro da barriga da mamãe deles e depois serem cortados aqui fora! Fofa demais!

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No primeiro filho, o mais difícil para mim foram os cuidados com o RN. Até eu me firmar nas minhas convicções e maternar da maneira que achava melhor para mim e para a Ísis e não como os outros esperavam, eu e ela penamos! Já com o segundo nos braços, o mais difícil tem sido dar conta de me dividir entre as necessidades dela, que ainda é minha filhotinha de 2a9m, e os cuidados necessários e tempo exclusivo com ele. É difícil ouvir seus 2 filhos chorando por você e ter que optar (quando a necessidade do Pedro não é mamar, claro!) qual dos dois você vai atender. Já deixei o Pedro chorando em outros colos, enquanto nunca fiz isso com a Ísis, com o coração em frangalhos, para ficar com ela; e já deixei a Ísis chorando magoada porque queria o meu colinho num momento em que isso era impossível. Não é fácil e o coração da mãe sofre! Mães de mais de um filho, se tiverem dicas e aquele apoio moral, é só deixarem nos comentários, desde que a dica não seja cuidar mais de um do que de outro, óbvio!

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Uma das maravilhosas vantagens de ser, hoje, adepta da livre demanda, foi não ter sofrido com a apojadura. Peitos sempre sugados, menos volume acumulado, menos desconforto entre as mamadas, menos risco de ter mastite! A natureza é sábia, a gente é que insiste em pensar - e tentar provar em vão - que não!

Outra vantagem é que o Pedro chora menos que a Ísis. Com ela eu tinha até uma folha onde anotava o horário das mamadas e mesmo com ela chorando, se não havia passado ao menos 2,5 horas da última mamada, ficava insistindo em distraí-la com outra coisa, quando na verdade ela só queria peito, seja por fome ou não. O Pedro eu nem sei a que horas e de quanto em quanto tempo mama! Fez boquinha, lambeu os beiços, chupou o dedinho, é peito!

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Outra coisa que mudou foi o colo. Nos primeiros 3 ou 4 meses da Ísis, além de ficar regulando nas mamadas, eu regulava no colo! Balançar então! Pecado mortal! Depois eu relaxei e ela teve todo o colo que quis, mas no começo, foi bem difícil. O Pedro só fica fora do colo quando necessário. O bom é que agora temos mais colos disponíveis para ele, ainda que ele receba menos colo meu.

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Uma coisa não muda: dormir quando o bebê dorme é quase impossível, salvo se os dois filhos dormem juntos! Se com a Ísis eu tinha as atividades domésticas para fazer, com o Pedro eu tenho a Ísis, esperando para brincar, contar histórias ou ficar no colinho.

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Outra coisa não mudou: cama compartilhada e dar de mamar deitada! Faço somente se necessário...

...

O blog, claro, vai mudar de nome. Mas isso ainda vai demorar um pouco, pois o tempo anda escasso! Também vou guardar minhas impressões e palavras mais pessoais diretamente para meus filhos, sem colocar aqui, pois ao longo do tempo fui sentindo necessidade de falar/escrever coisas que não poderiam/deveriam ficar disponíveis para todos lerem. Continuarei com a maternagem por aqui, corujando os filhotes, afinal sou mãe de dois, fofuras em dobro! Mas terei outra forma de registrar sentimentos e impressões mais pessoais, no bom e velho caderno (inspirada por Toquinho, talvez, que ouvi muito num DVD da Ísis em POA): um para a Minha Pequena Ísis, e outro para o Meu Pequeno Pedro!

Assim que der, eu volto!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Frases dela

Os adultos são legais! Eles iluminam a zente!* Mamãe, você tá feliz? Eu tô feliz aqui com você!* Mamãe, você é um pesunto e o papai é um queijo! E eu sou o pãozinho de vocês!* Mãe, eu vou abrir esse ovo pro Predo sair, tá bem? (diz isso e bate na barriga com uma colher, como se estivesse quebrando um ovo, totalmente influenciada por um desenho do Pingu)*Assim que viu o nascimento do Pedro ela veio para o meu lado e disse: O irmãozinho nasceu! Ele saiu da pepeca da mamãe! Ele tem dente?* Eu naquela situação glamourosa do dia seguinte ao parto e ela acaba comigo: Mamãe, tem outro bebezinho aí na sua barriga?

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Pedro nasceu!

Pedro nasceu no dia 09/02 às 22:30h, com 41 semanas e 4 dias, através de um fantástico, rápido, forte, assustador e tão sonhado parto natural humanizado domiciliar. Estamos muito bem e gostaríamos de agradecer todo o carinho recebido nesses últimos dias. Tenho certeza de que toda essa vibração recebida me deu força para prosseguir nos momentos mais difíceis. Logo que possível eu escrevo e posto o relato de parto.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

41 semanas 2 dias

Mais uma semana! Como que para testar as minhas convicções de que o útero materno só se abre no momento em que o bebê está apto para vir ao mundo, ultrapassamos a marca de 41 semanas! Pedro está ótimo, seguro, crescendo e se movimentando bem. Na consulta de hoje constatamos colo 60% apagado, dilatação de 3cm e bebê baixo. Eu passei por 2 dias de ansiedade, medo, dúvida, mas já passou!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Não nasceu ainda!

Viramos o mês! Nunca pensei que ainda estaria grávida em fevereiro, mas cá estamos nós, ultrapassando a marca das 40 semanas! Pedro, meu bebê misterioso, está gostando do ninho. A expectativa maior é por não estarmos em nossa cidade, mas estamos bem!
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