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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Eu não bato no meu filho. Dou o exemplo.


Eu escolhi educar sem bater nos meus filhos.

Quando eu escrevo a frase acima, não estou julgando quem bate nos seus filhos, estou apenas afirmando que bater ou não bater é uma escolha. 

Um tempo atrás, antes de ser a mãe da Ísis, eu acreditava nas tais palmadas educativas. Como adulta e egoísta que era, detestava criança mal educada, manhosa, desobediente. Uns tapinhas...nada de mais!

Então veio o fenômeno de colocar no cantinho da disciplina e eu achei super legal! Uma alternativa aos tapas! Mas eu ainda não era mãe, era apenas tia.

Depois do nascimento da minha filha a ideia de bater nela era inconcebível! Nunca, jamais conseguiria! Claro que eu tinha um bebê em casa e bebês são seres mágicos, que nos hipnotizam, nos fazem babar por eles, fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para satisfazer seus desejos e ganharmos aqueles sorrisinhos cheios de ternura! Eles não sabem, não entendem e são tão...fofos! O mesmo já não acontece quando nossos filhos perdem essa aura mágica e passam dos 3 anos...

O tempo passou, eu engravidei novamente e foi então que eu tive que começar a testar minhas convicções. O mal estar generalizado que eu senti durante toda a gravidez do Pedro fazia com que a minha paciência estivesse bem limitada. E a Ísis já não era mais aquele bebezinho. Era uma menininha cheia de energia, de vontades, de palavreados.

Senti vontade de bater nela algumas vezes antes do nascimento do Pedro, mas consegui respirar fundo e me segurar. Conversando sobre isso com uma amiga virtual ela me recomendou que lesse o livro da Laura Gutman: A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra. A questão não seria se segurar para não bater, mas sim caminhar rumo a não sentir vontade de bater. Aquilo me pareceu, na época, algo praticamente impossível!

O tempo continuou passando, o Pedro nasceu, os desafios do dia a dia aumentaram, a falta de sono fazia com que a paciência diminuísse. Mas eu seguia firme e forte sem bater, conversando, explicando, me afastando dela quando a coisa ficava por um triz. Algumas vezes, nos momentos de exaustão, eu gritei com ela. Gritei para me arrepender pouco depois.

O tempo da licença maternidade foi intenso, foi difícil, mas foi muito rico em aprendizados. Foi ali que a vontade de bater na Ísis quando ela fazia repetidamente algo errado se esvaiu. Eu internalizei de uma maneira tão drástica, fiquei tão conectada com a criança, a irmã mais velha que um dia eu havia sido e que recebera uma irmã, que eu simplesmente perdi a vontade de bater nela. Esse processo, de retroceder, relembrar a criança que eu havia sido e entender muitos dos comportamentos inadequados da minha mais velha, foi muito difícil psicologicamente. Eu estive cara a cara com as minhas piores sombras (Laura Gutman já havia virado livro de cabeceira), mas estava saindo vencedora deste embate, com um enorme ganho para mim enquanto pessoa, pois que passei a me reconhecer melhor e a trazer para mim, ainda mais, a responsabilidade pelas consequências dos meus atos.

A partir de então não era mais ela quem me irritava, mas sim EU quem estava cansada e com pouca disposição para seus arroubos infantis. Eu percebi que não era ela, a minha filha de 3 anos, a culpada pela minha falta de paciência. Não era ela quem estava me irritando, me provocando ao extremo. Era EU quem não estava em condições físicas e/ou emocionais para lidar com as situações difíceis que se apresentavam. E me dar conta disso, por mais óbvio que possa parecer, foi como um clic! Foi libertador! Reconhecer a minha incapacidade de lidar com algumas situações foi o primeiro passo para consolidar uma educação sem violência física na minha casa.

Não estou dizendo que não perco a paciência, que não tenho meus dias de fúria, de sombras, onde qualquer coisa me tira da linha, mas fui desenvolvendo maneiras de lidar com esses dias, com esses momentos, e as crises vão espaçando. Elas retornam sempre que EU estou cansada, com fome, com sono, frustrada.

E eu gostaria de poder dizer que a partir de então todos se entenderam e foram felizes para sempre, mas...isso não é um conto de fadas, é a vida de verdade e ela vem sempre cheia de muitos e muitos desafios. O dia a dia é muito corrido, o relógio é sempre um inimigo à espreita e as crianças não foram feitas para a pressa, a correria, os dias agitados. A culpa não é delas.

Eu perco a paciência com a Ísis muitas vezes, mais do que gostaria, com certeza. Quem tem filhos acima dos 3 anos sabe bem como é conviver com estas cápsulas ambulantes de energia, curiosidade e desafio! Não é fácil e se torna ainda mais difícil devido ao pouquíssimo tempo que temos para estar com eles, nossos filhos. Mas cada vez mais eu consigo controlar meus arroubos, meus momentos de grito, que podem até não ser violência física, mas é violência verbal e eu também quero deixá-los para trás.

Eu e marido conversamos muito sobre isso e traçamos algumas regras, dentre as quais a mais importante é a de que quando um de nós está muito cansado, o outro assume a questão para evitar cenas desnecessárias. Funciona sempre? Claro que não! Até porque em muitos momentos estamos sozinhos com as crianças e não há a quem recorrer. 

Outra regra de ouro é se afastar quando a crise já avança sem que pareça ter fim próximo. Pode parecer ridículo de dizer, mas nós adultos, por vezes, queremos medir forças com as crianças! Eu e marido por vezes ficamos num toma lá dá cá com a Ísis, que além de ser ridículo, é infrutífero! Não temos que ter a última palavra e temos que permitir que as crianças expressem seus sentimentos com segurança. O controle desses sentimentos virá com o tempo e a necessidade. O adulto da relação somos nós.

E a educação sem surras está sendo extremamente válida nesta fase em que a Ísis iniciou a escola. Quem tem filhos na escola sabe que sempre rolam uns empurrões, uns tapas e até mordidas devido a competições por brinquedos ou pela atenção da professora. Como não batemos nela fica mais fácil exemplificar como esse comportamento é errado, mas se fizéssemos uso dos tapas, como dizer a ela que ela não pode bater nos colegas da escola? Ou no irmão? Como dizer que isso é errado?

Infelizmente ainda há pessoas que confundem educação sem violência física com educação sem regras e limites, sem penalidades quando essas regras são quebradas. Como toda família, nós também temos nossas regras de convívio, mais ou menos elásticas dependendo da situação. A Ísis conhece as regras e quebra-as constantemente! Normal, ela é uma criança de 3 anos! Tem muito adulto que não segue as regras de convivência, as leis vigentes e não apanha por isso...

Não raras vezes eu ouço ao dizer que não bato nos meus filhos, que uma palmadinha de vez em quando não faz mal, ou que quando as crianças passam dos limites só uma palmada resolve. Pode resolver no momento, ou por algum tempo, mas crianças são crianças, apanhando ou não. Todas vão aprender a conviver em sociedade, a respeitar os outros, a seguir as regras vigentes mais cedo ou mais tarde, cada uma a seu tempo.  

A diferença entre uma criança que apanhou e uma que não apanhou pode não ser visível no mundo adulto, mas ela existe com toda certeza. A diferença de relacionamento entre pais e filhos de famílias que fazem ou não usam de violência pode não ser visível em primeiro plano, mas ela existe com certeza. A escolha sobre que tipo de família e filhos queremos é de nossa única responsabilidade.

Outros textos da campanha:

Chezlesbeaup




11 comentários:

  1. Pois eu vou ser sincera: eu julgo sim quem bate nos filhos! Acho errado, inconcebível. Criança nenhuma merece apanhar nunca. Nem a minha, nem a de ninguém. Isso pra mim ê violação dos direitos humanos. Direito delas de errar, de explorar, de testar limites. Porque nao, né?

    E por incrível que pareça, nunca tive vontade de bater. Fico furiosa às vezes e grito. Tenho que trabalhar isso, pois gritar também nao é legal. Mas bater, nunca. Já meu marido faz o estilo calmissimo, só que gente calma demais explode, ne? entao vez ou outra eu tenho que intervir pra ele nao dar umas palmadas no Nic -- que sabe como ser teimoso.

    Mas nem por isso merece apanhar.

    Otima campanha!

    Beijos!

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  2. Nine;
    Eu apanhei quando criança, lembro bastante delas, não lembro o motivo. Mas a dor das cintadas, o medo, as explosões de raiva da minha mãe ou do meu pai eu lembro.
    Então muito antes de ser mãe eu pensava não vou bater nos meus filhos. PONTO.
    O Eduardo nasceu e não precisou nem completar 2 anos para se tornar um bebê/criança cheio de personalidade, energia.
    Quando ele esta cansado, com sono o tapa rola solto. Da parte dele, ele me bate.
    Isso mexe comigo de uma maneira, em segundos me vejo brigando e me magoando com ele como se nos tivessemos a mesma idade.
    Me acalmo, converso, coloco pra pensar, saio de perto.
    Mas olha não é fácil... é uma coisa que mexe muito comigo, me frusta, por segundo eu sinto raiva do meu proprio filho!
    Eu vejo que pelo fato do Eduardo ter muitas referencias, eu a mãe, a avó que é uma segunda mãe, o avô que mima e o pai e toda rotina na outra casa, a escola, acaba confundindo ele, pq não conseguimos ser coerentes uma hora um deixa outra não.
    Semana passada chamei o pai dele e conversamos de forma tentar estipular regras claras iguais nas duas casas, também conversei com meus pais... Complicado.
    Engraçado é que minha mãe diz eu eu fazia exatamente como o Eduardo nessa idade.
    Beijos

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  3. Oi Nine..puxa ,quanto tempo!! :D
    olha,eu tb n tenho coragem..sei q é um asunto polemico e tals...e corto um dobrado com o Enzo as vezes,mas n conseguiria bater na pessoa q mais amo no mundo... mas como vc mesma falou,é uma opção nossa...e existe sim diferença entre palmadas( embora nem essa eu tenha coragem)e de uma surra..essa sim ao meu ver é horrivel,desmoralizante, assustadora e inconcebivel..enfim,espero uma conscientização cada vez maiores dos pais!! beijos pra vcs,e uma otima semana Nine!! :*

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  4. ai Nine, ando doida para escrever sobre esse assunto, mas ando preguiçosa tambem... Gostei da forma realista com que vc abordou tudo (como sempre). Eu apanhei quando criança, e pensava diferente até ter o meu filho e começar a "pensar de verdade" e definir meus conceitos a respeito. Nunca bati nele, e pretendo seguir assim, mas dizer que é fácil seria mentira, obrigada por abordar o assunto, me fez refletir muito e ver mais uma vez que estamos no caminho certo. beijos :)
    Ah, e não esqueci do meu doce de leite, aquela naninha dorme com o Arthur toda a noite só para me lembrar :)

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  5. Oi, Lu! Interessante vc dizer isso, sobre julgamento. Eu tb julgo, claro, julgo ser algo terrível para a criança e para os pais que educam assim. Porque eles sofrerão as consequências da violência nos filhos mais cedo ou mais tarde. Mas eu não julgo a pessoa que bate como alguém ruim, mau de todo modo. É fácil não julgar? Não...é um exercício constante, assim como não educar com violência. Beijos! Nine

    Oi, Ju! Também apanhei, mas na adolescência do que quando criança, e era claro o descontrole da minha mãe. Essa fase de estapear e agredir é normal, mas vou te mandar um email para conversarmos mekhor! Beijos!

    Oi, Ana! Obrigada querida! Eu vejo que o problema de dizermos que existe diferença entre palmada e surra para as crianças é a mesma diferença entre uma tapa na cara da esposa e uma surra de bofetadas nela...Claro que a segunda machuca mais, mas a primeira não deixou de ser violência. Beijos!

    Oi, Bia! Fácil não é, né? Como tudo na vida exige esforço, dedicação...mas vai valer a pena, tenho certeza! Beijos!

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  6. Oi, Nine. Eu não sou contra uma palmadinha educativa. ... Julgamentos... Ovos... Tomates podres... Vaias... Ok! MAS... O que eu acredito que seja a palmadinha educativa acho quase impraticável. É quando você, sem raiva, sem exaltação, sem gritaria, explicando o motivo (um BOM motivo) com calma e paciência, dá uma chineladinha no bumbum, sem muita força. É isso! Mas tem que ser por algo muuuuito sério, algo que você já explicou que não pode, e, mesmo assim, ele insiste em fazer. O Arthur tem 4 anos e posso contar nos dedos as vezes em que dei uma chinelada no bumbum dele. O Daniel está com 1 ano e 6 meses e nunca precisou. Mas acho QUASE inviável esse método porque na maioria das vezes é usado com raiva e muita frequência, substituindo uma conversa que, na maioria dos casos, resolveria. Eu confesso que, em quase todas as vezes que bati no Arthur, foi porque estava exausta, cansada, fora do meu eixo, com TPM, etc. Mas também conheço muita gente séria que conseguiu usar o método de forma educativa, como expliquei no começo, e criaram filhos exemplares, famílias onde há muito amor e respeito entre pais e filhos.

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  7. Oi, Mariana! Muito bom ver uma opinião discordante. Acho interessante o modo como vc descreveu a palmada educativa para logo abaixo admitir que é difícil agir assim. Obrigada por participar! Beijos! Nine

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  8. Ei Nine... assunto que para muitas pessoas é difícil.. mas q eu não tenho muitos questionamentos...
    Sou humana, perco a paciência, vivo cansada, os dias tem mais coisas a fazer que horas... e o cansaço aumenta e a paciência diminui. As vezes eu grito... e tenho tentado muito me controlar nisso, pq Laís grita muito.. (todos falam alto na família) mas nunca tive a vontade de bater, nunca senti q isso pudesse conter o problema, diminuir o estresse, melhorar o meu ou o cansaço dela. Falo sem falsa demagogia, até pq não acho preciso. mesmo nos momentos mais difíceis... eu não consigo entender ou enxergar que dar um tapa vá diminuir a choradeira ou pirraça... só vejo isso aumentar... e mais, propagar o que tanto ensino que é errado.
    Achei seu texto ótimo (mandei pro marido), leve, sincero... e quem sabe ele não ajuda mais alguem a se libertar desse fantasma.!!!
    Bj enorme em vcs!

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  9. Nine, só pude ler esse texto hoje, que bacana! Que bacana!

    Eu adoro a forma como vc escreve, adoro, adoro, adoro. Acho tão lúcida, clara, transparente como água, coerente, as suas palavras se conectam umas às outras, sabe? Faz aquela corrente de entendimento e compreensão, acho bárbaros os seus textos e este não seria exceção.

    Eu apanhei quando criança. Muito pouco, mas apanhei. Não gostei, senti muito medo, mas aprendi, na força, na marra, aprendi o que tinha que aprender. Acho que antigamente as crianças respeitavam muito mais os adultos, os pais/avós, no geral. E credito a isso o fato de terem medo de apanhar, de terem "respeito" pelos mais velhos pq sabiam que só de olhar para a mãe ou pai vc percebia que estava fazendo algo errado. E este algo errado, se continuasse, resultaria em uma palmada boa depois. Hoje em dia as crianças não respeitam os adultos e nem têm medo dos adultos. Não é bacana ter medo, não é este o meu objetivo com a Laura, de forma alguma, nem muito menos planejo dar cintada nela, ou bater no seu bumbum, não. Não quero que ela tema a minha presença, mas quero que ela tema o meu olhar, que ela tenha medo da minha feição, que ela tenha medo do meu "não, Laura!" sem eu ter que gritar. Para ser honesta, eu acho tão horroroso gritar quanto bater.
    Acho que os dois fazem muito mal para a criança, em qualquer situação. Se acho repugnante o pai que bate com cinto e machuca uma criança, acho repugnante o pai que grita com a criança e a assusta também, a fere no seu direito mais simples de errar, como disse a Lu. E palavras ditas não voltam atrás (não é este o ditado?), então, antes de gritar, eu penso muito, assim como penso muito antes de bater tbm.
    E já gritei e já dei tapa na mãozinha dela. Ambos me doeram demais.

    Acho que o importante é a gente tentar educar de uma forma que não machuque a nós mesmos, a nossa forma de conduzir os problemas, o imprevisto e o cansaço.

    Beijos grandes, adorei o seu texto e a sua reflexão!

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  10. Oi, Martha! Obrigada! Pois é, eu demorei um pouquinho para perder a vontade de bater, não que eu achasse que fosse resolver alguma coisa, mas o exemplo que eu havia tido era esse, se desvincular disso não é fácil, por mais que a gente ache errado. Gritar tb acho horroroso e essa é minha próxima meta. Apesar de poder contar nos dedos de uma mão as vezes em que fiz isso (todas quando o Pedro nasceu e estava tudo o caos), me arrependo de cada uma delas e não quero repetí-las. Beijos!

    Dani, obrigada! Sabe, eu apanhei tb e tinha muito medo da minha mãe quando era criança. Ela tb tinha aquele olhar ameaçador...não gostava disso e não quero que minha filha tenha medo de mim, do meu olhar ou do que for. Eu quero que ela me respeite, assim como quero que ela respeite aos demais. Não quero que ela seja educada por medo da minha reação, mas pq ser educada faz parte dela, do seu dia a dia. Eu tb acho o grito tão horroroso quanto bater, estou caminhando para me livrar dele tb! Beijos!

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  11. Eu também fiz um post sobre o dia mundial contra a violência infantil. Fiz também a escolha de não bater, até porque como apanhei, tenho péssimas lembranças desse tempo e não quero que meu filho guarde essa mágoa de mim! Conheço muitas mães que pensam que uma palmada não faz mal algum, mas, continuo achando um ato de covardia. Não estou dizendo que é fácil, é preciso contar até 100, talvez até 1.000, mas, acho que vale à pena. Afinal, educar nunca foi fácil e jamais será, não é?

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