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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Educação Proibida 1

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 Eu sou filha de pedagoga, sou neta, sobrinha e prima de professoras e pedagogas. Falar sobre educação, de educação, pensar educação deveria ser algo a que eu estivesse acostumada. Só que não.

Minha mãe tem livros de Piaget, Vigotsky, Paulo Freire. Um dia desses eu perguntei a ela sobre um pedagogo chamado Célestin Freinert e ela me respondeu que não estudavam esse cara aqui no sul. Minha mãe  é servidora pública. Deu aulas para crianças em fase de alfabetização durante muitos e muitos anos. Foi minha querida professora da primeira série, aquela que me ensinou o beabá. Como mãe ela deixou seu legado me incentivando à leitura desde cedo e a me mandando sair da frente da televisão mais do que gostaria de ouvir. E criticando duramente qualquer programa assistido por mim, o que incluía telenovelas e filmes. Enfim, resumindo, não me culpem. Se hoje eu sou cri cri, a culpa vocês já sabem de quem é, né? :)

O resultado é que eu sou uma eterna questionadora, para mim não existem verdades absolutas para a grande maioria das coisas, salvo se essas verdades são leis da natureza. E mesmo assim só até que me provem o contrário.

Mais recentemente, depois que duas crianças passaram a fazer parte da minha vida, eu comecei a pensar educação, só que eu não sabia que estava pensando educação, entendem? Eu achava, na minha inocência e ignorância, que estava pensando maternidade. Claro que estava também, mas vamos dizer que maternidade é o conjunto e educação é um subconjunto (ou seria o contrário?). Lembram das aulinhas de matemática? :) E claro que esse conjunto e subconjunto fazem parte de uma colmeia de conjuntos e seus subconjuntos em que minha vida está compartimentada.

Já escrevi algumas vezes sobre escolinha e como fiquei desencantada com esse tipo de cuidado para um bebê. Já dei algumas razões e provavelmente não tornei públicas algumas outras. Há muitos brios, há muitos ofendidos, há muitos pensando que ao expor uma opinião queremos ditar regras de vivência.

Engraçado é que certos assuntos geram essa comoção, esse estranhamento, esse sentir-me menos, sentir-se ofendido. Todos buscamos aceitação. E eu achei que esse era um privilégio dos blogs sobre maternidade, até que me deparei com discussões mil em blogs de decoração. Uma moça resolveu dizer que casas com porcelanato pareciam, para ela, banheiros - e eu concordo - ou hall de entrada de edifício - concordo também. Todos que haviam colocado porcelanatos em suas casas se sentiram ofendidos. Alguns que não haviam colocado porcelanato se solidarizaram, sabe a turma do deixa disso? Então... Tudo a mesma coisa.

Sabendo dessa sensibilidade - e alguns assuntos são extremamente sensíveis, até o porcelanato é! - e eu sendo filha, neta, sobrinha, prima de professoras e pedagogas, nunca me atrevi a aprofundar a discussão sobre educação por aqui. Só que eu preciso de outros ouvidos (olhos) para ouvir (ler) o que eu tenho a dizer (escrever), que não apenas os do marido.

Ao lerem os textos, se quiserem, tragam mais informação, tragam suas vivências, seus desejos, frustrações, vontades. Não quero com meus estudos e opiniões ofender ninguém, não é uma crítica aos professores, mas sim ao sistema de ensino onde (quase) todos estamos inseridos.

E claro, como escrevi acima, é uma questão particular também. Passado o periodo do berçário, ano passado minha primogênita frequentou a escola por quatro meses. Bem, na verdade três, considerando que um mês ela ficou em casa porque ficou muito doente. E em três meses, sinto dizer, eu e o pai só constatamos regressões de comportamento, juizos de valor totalmente equivocados e nada condizentes com a teoria. Aliás, vi muita propaganda, muito marketing, mas pouca prática, pouca coerência entre o discurso e a atividade. Vi poucas chances de minha filha aprender a ser uma cidadã responsável, ética, que respeitará as diferenças e que não propagará preconceitos mil e ideias machistas e misóginas na vida adulta. Fiquei pasma!

Peço licença aos que vão dizer que essa é uma tarefa dos pais. Certo. Concordo. Mas é também uma tarefa da escola, ainda mais quando esta escola está acolhendo crianças cada vez mais novas e passando com elas cada vez mais horas do dia. Ainda mais quando as escolas usam em benefício próprio a ideia da socialização infantil. Só que não.

Nesses três meses eu li algumas coisas e entrei em contato com um assunto com o qual eu já flertava a muito sem saber: a desescolarização. Não a desescolarização ligada apenas aos não-escolarizados (unschooling), mas à desescolarização dos processos de vida, de vivência. Isso vem muito de encontro ao mundo que eu passei a enxergar após o nascimento de meus dois filhos. E com certeza veio para ficar e para estar comigo durante essa fase da minha vida que eu considero de mudança.

Quase tudo o que li sobre desescolarizar vem de encontro as ideias e ideais que trago e tento colocar em prática todos os dias.

Mesmo vindo de família ligada à educação eu nunca me interessei pelo assunto, porque escola foi sempre um lugar onde eu deveria estar, deveria decorar, tirar acima de sete nas provas, passar "direto" para ter férias maiores e com o valioso diploma na mão dar o passo seguinte - ir para a universidade, decorar mais um tanto de coisas, tirar acima de seis nas provas, passar "direto" para ter férias maiores e conseguir o tão esperado diploma para dar o passo seguinte - conseguir um emprego, com ele ter um salário que seja suficiente para a subsistência e o conforto. Ponto?


(*)

Eu sempre tive fama de boa aluna, e era mesmo. Para os padrões escolares atuais e da época eu era um gênio! Mal prestava atenção nas aulas, estava sempre viajando - como costumavam dizer meus professores a minha mãe - lia a matéria no dia anterior e tirava notas muito boas. Mas a verdade é que eu queria estar sempre fazendo outra coisa. Como meu corpo não podia sair da sala de aula, minha mente fazia isso por mim.


(*)

Fiquei em recuperação apenas duas vezes. A primeira por não conseguir entender patavina do que tentaram me explicar os 4 ou 5 professores substitutos que tive no primeiro ano do ensino médio nas matérias de química, física e matemática. Eu realmente não conseguia entender como ou por quê, mas durante dias meu mantra era 1s2, 2s2, 3p6... Ou então: E=mc2. E claro, Teorema de Aristóteles (nem lembro mais como era)! Alguém? Na segunda vez o professor perdeu meu trabalho de filosofia, não admitiu e preferiu dizer que eu não havia entregado. O que fazer? Recuperação.

Então hoje eu estou deixando o link de um documentário que fala sobre tudo o que eu escrevi aqui -  e muito mais. Chama-se Educação Proibida. Deixem as atualizações dos amigos no facebook de lado e por 2 horas assistam a esse documentário. Depois, se quiserem, venham aqui conversar comigo!

(*) Todas as imagens são do documentário Educação Proibida.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Fora da escolarização há salvação!


Muitos estudantes percebem intuitivamente o que a escola faz por eles. Ela os escolariza para confundir processo com substância. Alcançando isto, uma nova lógica entra em jogo: quanto mais longa a escolaridade, melhores os resultados; ou, então, a graduação leva ao sucesso. O aluno é desse modo, “escolarizado” a confundir ensino com aprendizagem, obtenção de graus com educação, diploma com competência, fluência no falar com capacidade de dizer algo novo. Sua imaginação é “escolarizada” a aceitar serviço em vez de valor. Identifica erroneamente cuidar de saúde com tratamento médico, melhoria da vida comunitária com assistência social, segurança com proteção policial, segurança nacional com aparato militar, trabalho produtivo com concorrência desleal. (Ivan Illich)

E eu arrisco parafrasear Ivan Illich:

O aluno também é escolarizado a confundir:

- violência obstétrica com medicina de ponta;
- cirurgia cesariana com parto;
- parto normal/vaginal/natural/fisiológico com evento raro/anormal/de risco absoluto;
- amamentação de recém nascido com tortura;
- amamentação após um ao de vida com exibicionismo;
- amamentação após dois anos de vida com pouca vergonha;
- amamentação após três anos de vida com tara sexual;
- sexualidade com sexualismo;
- paleta de cores com gênero sexual;
- ancas curvas, peitos flácidos e ventre produtivo com relaxo pessoal;
- alimentação saudável com produtos industrializados;
- brincar com brinquedos;
- desenvolvimento psico motor com fisher price;
- socialização com berçário/creche/escolinha;
- educação com cantinho da disciplina;
- limite com agressões verbais/físicas;
- escola com empresa;
- orgânico, natural e sem agrotóxicos com comida de gente doida;
- açúcar com veneno;
- carboidrato com vilão;
- gordura saturada com filhote de cruz credo;
- proteína com boa forma;
- vitaminas e minerais com centrum;
- envelhecer com decadência;
- amadurecer com pagar a língua;
- rugas com bicho geográfico;
- conhecimento com nota dez em prova de múltipla escolha;
- beleza com manicure/pedicure/tintura/hidratação/dieta da Ivete Sangalo/musculação;
- caráter com chatice;
- paternidade com comida na mesa;
- maternidade com vida vazia;
- filhos com animais de estimação;
- animais de estimação com filhos;
- facebook com vida real.

E eu poderia seguir escrevendo, mas vou deixar essa para vocês. O que mais está escolarizado em nossas vidas?

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Fim do Minha Pequena Ísis!

Imagem: arquivo pessoal

Hoje é um dia de despedidas.
O blog como eu iniciei há três anos atrás já não refletia mais o momento que estou atravessando hoje.
A minha Ísis, antes tão pequena, minha pequena, não é mais o meu bebê. As divagações deste blog já não tinham mais a ver diretamente (só com) ela. 
Por outro lado não gostaria de fechar este canal. Tentei incursionar pelo facebook nestes dias, mas cedo percebi que aquele ali não é meu ambiente. A conta recém aberta será cancelada.
Todos os registros permanecerão. Eu não mudarei minha forma de escrever, mas sinto que agora o blog tem mais a ver com as minhas divagações atuais.
E como gosto de dizer, este blog se transformou numa grande sessão de terapia para mim, de maternoterapia, na verdade, pois quase tudo foi impulsionado pelo nascimento de minha primogênita.
A vida segue, a gente se encontra logo ali no próximo post!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Um passeio pela desescolarização

Faz tempinho que flerto com isso...desescolarizar...inundei os ouvidos do marido com essa ladainha por dias, depois acalmei, e agora estou de volta com isso martelando em minha cabeça. Nas minhas andanças por aí, conheci a Ana Thomaz numa entrevista ao Mauricio Curi, disponível na internet. Apaixonei, sabem? Sempre precisamos de musas inspiradoras...


Faz algum tempo que passei a acompanhar o trabalho da Ana Thomaz. Já assisti alguns videos seus. Estou longe de entender tudo que ela diz, mas ela me inspira, principalmente quando fala em desescolarização para a vida e educação para a potência. Com uma filha de 3 anos no auge de suas catarses emocionais eu me vi perdida, sem saber como lidar com aquilo...castigar? brigar? dar lição de moral? nada parece fazer bem a nós, mas sempre faz mais mal a mim pq não vejo eficiência nessas atitudes. Entender o ser humano e o desenvolvimento de potencialidades desde o nascimento tem me ajudado neste momento com minha mais velha, e com certeza ajudará com meu mais novo e nas minhas relações com os demais. Entender que meus filhos não estão ali para meu deleite ou para comprovar teorias minhas, que são seres únicos com todas suas potencialidades e dificuldades e aprender a receber com amor suas dificuldades e a orientar com respeito suas potencialidades é um objetivo meu. E pq? Porque desde que me tornei mãe acredito profundamente na minha responsabilidade diante da construção de um mundo melhor e acredito que a convivência diária com as crianças é oportunidade única para me levar ao meu próprio autoconhecimento e meu melhoramento enquanto ser humano. Espero que gostem da leitura!


...


a maior dificuldade de não ter os filhos na escola é não ter a quem culpar!
porque filhos que não frequentam escola também fazem coisas terríveis.
aprendem musicas e danças de gosto discutível.
deixam escapar palavras de baixo calão.
pegam piolho.
se rebelam!
onde aprendem tudo isso? e o pior é não ter uma escola para jogar a culpa.
crianças que vivem sem escola não estão isoladas do mundo, captam tudo no ar, estão ligadissimas.
assim são as crianças!
porem mais importante do que "o que aprendem", é como lidar com a criança e suas aventuras.
criança precisa de acolhimento, de amor incondicional, de respeito, mesmo quando elas apresentam atitudes difíceis de serem aceitas.
a moda passa, e logo a criança deixa de lado a musiquinha irritante ou a dancinha provocadora, mas o que fica é o acolhimento, a certeza de que o amor e a confiança nela não se abala por conta de suas experimentações.
não se ama uma criança pelo seu comportamento, ou por suas habilidades.
ama-se uma criança por sua existência.
pela confiança que se tem em sua existência.
e para confiar em uma criança, é necessário confiar em si mesmo.
confiar na própria existência.
não por seus sucessos ou reconhecimentos ou capacidade de ganhar dinheiro...
mas por sua existência.
amor incondicional.
não se espera um comportamento impecável das crianças que não frequentam a escola.
espera-se um mergulho dos pais em sua capacidade de confiar na vida, de confiar em si mesmo e sem duvida, confiar na criança.
assim da para viver sem uma escola para culpar!

Texto de Ana Thomaz, daqui.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Valparaíso - fui, não vi e me perdi!


Demorei, né? Desculpas mil! Mas a inspiração aqui voou para algum lugar em Santa Catarina, onde minha vida vai dar novo rumo logo, logo!

Para recomeçar a escrita vou falar hoje de nossa NÃO visita a Valparaíso!

Eu estava tão ansiosa com nossa ida para o litoral do Chile! Sabe aquela coisa? Colocar os pés no oceano pacífico! Queria muito! Não sei o que eu pensei que sentiria, mas me imaginar naquele ponto extremo ocidental do continente e sentir as águas que banham outro oceano, ai, gente, besteira, eu sei, mas queria muito!

Sobre Valparaíso peguei muitas diquinhas aqui e ali. Fiquei apaixonada por muitas fotos na internet. Peguei recomendação de restaurante de comida italiana, agendei visita na casa do Neruda, La Sebastiana. Queria ver artesanato e as construções que deram a esse local o título de Patrimônio da Unesco. Só que...

Só que não deu! Vários foram os motivos:

1 - Alugamos um carro, tínhamos GPS, mas nosso GPS não reconhecia nenhuma rua dos Cerros de Valparaíso, logo, não conseguíamos nos localizar naqueles morros. 

2 - O trânsito estava meio caótico, não sei se era a chuva ou se é sempre assim, mas não conseguíamos nos localizar, não encontramos o restaurante e nem a casa do Neruda.

3 - Você leu chuva ali no item 2. Choveu. D-E-M-A-I-S! Devia ser proibido chover nas suas férias! Você deveria andar com um clima portátil sobre você: dias de sol no meu climateitor, por favor!

4 - Nos enroscamos naqueles cerros. A vista era linda e a beleza aumentava exponencialmente com o nosso medo. Tipo: morro no Rio de Janeiro. Nunca fui, mas me senti assim. O medo foi tanto que não tiramos nenhuma foto. Estávamos perdidos, tentávamos descer, mas as ruas são confusas. Marido decidiu seguir um táxi, sem saber que ele estava indo para a penitenciária local. Momento férias frustradas total!

5 - E teve briga no carro: PQP, que lugarzinho você escolheu para a gente visitar, em? Detalhe: decidimos a visita juntos, mas no calor do momento, já sabem, né? A culpa é da mãe..da mãe dos filhos dele, há!

6 - Muita fome, muita chuva, muito estresse. Paramos o carro defronte a uma plaquinha que dizia "Tsunami, rota de evacuação". Tive que rir. Conversamos e decidimos que tchau, Valparaíso! Vamos para Viña del Mar!

E foi isso! Prometo que volto até sexta para falar do pouco que vimos em Viña. A chuva deu uma trégua, a Ísis teve uma experiência inédita e um caso de amor. E eu? Será que consegui sentir as águas do oceano pacífico?

Aguardem cenas...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Santiago - ya, ya!

Viajar com crianças! Um desafio, sem dúvida! Requer muita vontade, alguma preparação, muito jogo de cintura, paciência e resignação. Mas depois de tudo ficam as lembranças, nossas e das crianças, os aprendizados, as experiências.

Em Santiago a Ísis aprendeu a andar de metrô - aquele trem que anda embaixo da terra - e descobriu o que era um táxi e para quê servia. Em Santiago ela aprendeu a dizer muchas gracias, que saía assim um muitas gácias, todo fofinho! Quando agradeci a ela, já no Brasil, desta maneira, ela me corrigiu: não mamãe, aqui não se fala assim, aqui é muito obrigada, só no Chile se fala assim!

Em Santiago meus dois filhos tomaram suco de chirimóia e comeram/tomaram o doce tradicional mote con huesillos (super recomendo, uma delícia!), lá no Cerro Santa Lucia. Adoraram o peixe rosa tradicional e delicioso do país.

Em Santiago a Ísis viu uma carruagem de verdade no Museu Histórico Nacional do Chile e ficou encantada, porque era igual à carruagem da Cinderela. Nesse mundo de princesas e rainhas ela se encantou com os trajes do baile à fantasia da capital nos anos 20. Quis sentar em todos os bancos e cadeiras antigos do museu, quis tocar o piano, quis colocar as pulseiras de prata dos índios Mapuche. Num enorme quadro a óleo ela identificou um bebê de colo e disse a uma chilena que aquele era igual ao seu irmão.

Em Santiago ela se encantou com todos os Moai possíveis e identificou que havia alguns com olhinhos e outros sem. Após a viagem, num desenho do Tuty/Puddle, onde um deles (nunca sei quem é quem) foi até a Ilha de Páscoa, ela gritou feliz: olha mamãe, os Moais iguais aos do Chile! Como não viajar com crianças?

Em Santiago ela aprendeu que existem muitos outros tipos de brinquedos nas praças públicas, que não apenas aquelas casinhas de madeira com escorregador e balanço, tão tradicionais por aqui. Por sinal, balanços não vi em nenhuma pracinha de lá, mas havia muitos diferentes e encantadores brinquedos que desafiavam a coordenação, o equilíbrio e até mesmo a coragem da criança! Adoramos!

Em Santiago, na Concha y Toro (super recomendo com crianças!) ela conheceu a lenda do Casillero del Diablo e durante muitos dias após a visita (e ainda hoje) ela e o pai brincaram de Casilleros, fiéis guardadores de vinhos. Lá ela descobriu o que era um tonel e constatou que tonéis só havia em vinícolas, não em nossas casas. Já em casa, num desenho, ela identificou tonéis de vinho (em desenhos antigos, como Dumbo, pois nos modernos jamais apareceria um, hehe) e disse: são tonéis, né mãe? Igual ao da vinícola! Como não levar uma criança num tour de vinho?

E em Santiago ela experimentou seu primeiro Pisco Sour! E da maneira mais legal: totalmente roubado sem que os pais percebessem...creio que pensou que era suco de limão azedo. Não deu barato, mas ela capotou no trajeto restaurante-apartamento...

E o que eu descobri em Santiago?

- que antes de qualquer viagem em família eu preciso malhar muito para aguentar o tranco;

- que a Cordilheira é sim magnífica, mas voar sobre ela me dava um siricotico, e eu só conseguia pensar no filme Vivos;

- que vinho é muito mais que uma bebida, é uma cultura; e que não existe vinho ruim, apenas mal servido ou mal harmonizado;

- que com a globalização todas as grandes cidades acabam sendo muito parecidas, o que é uma droga, e o que diferencia um lugar do outro é sua história e sua cultura local, esta última cada vez mais esparsa e engolida por artigos made in china;

- que cobre e lapislazule são símbolos do Chile e ficam lindos juntos;

- que houve uma ganhadora chilena do Prêmio Nobel de Literatura, em 1945, portanto anterior ao Neruda, mas não há o mesmo reconhecimento a sua figura ou aos seus escritos. O nome dela é Gabriela Mistral e há um museu em Santiago que leva o seu nome;

- que eu não gosto de empanadas chilenas, pois tem forte gosto de milho e coentro, mas sim das empanadas uruguaias e argentinas;

- que eu prefiro a comida chilena à comida uruguaia, pois é mais bem temperada;

- que eu amei mote con huesillos e que a torta tres leches me fez lembrar dos bolos da minha avó materna e do tempo em que a gente sempre comia suas tortas nos cafés da tarde das reuniões em família;

- que os chilenos são muito educados, mas ainda precisam ser um pouco mais prestativos - deve ser herança das grandes cidades.

- que os chilenos falam um espanhol muito rápido e usam o ya, ya para quase tudo;

- que papinha de peixe industrializada para o Pedro, nunca mais! Ô coisa mais fedida!

Para a programação da viagem considerei que seriam 7 noites seguidas e planejamos apenas uma atividade/local de visita por dia, com uma refeição fora de casa, sempre o almoço. Nem cogitamos sair para jantar com as crianças e fizemos certo, pois após os passeios estávamos todos cansados.

Ao invés de ficarmos num hotel tradicional, optamos por um apartamento no centro de Santiago, considerando que com crianças pequenas fazer todas as refeições fora de casa seria inviável, com isso, celebramos o tempo de férias e não tínhamos horário para dormir ou acordar, tomávamos nosso café da manhã com tranquilidade, brincávamos um pouco e após o sono do Pedro saíamos para passear, por volta das 10:30 da manhã. Voltávamos para casa no final do dia, mas sempre antes de escurecer.

Levei um carrinho pequeno para a Ísis, destes que fecham em guarda chuva, e um sling de argolas para o Pedro. Santiago é uma cidade muito boa para andar com os carrinhos e não tivemos problemas nos metrôs, nas calçadas, nos táxis. Tudo muito tranquilo.

Conseguimos ver quase tudo o que foi programado para Santiago. A exceção ficou por conta do Cerro San Cristóbal, que estava programado para o primeiro dia, mas devido ao cansaço das crianças (pois estávamos chegando de nossa estadia em Mendoza) acabou ficando para o último. Ao chegarmos lá nos deparamos com os funiculares em manutenção, ou seja, teríamos que subir tudo a pé. Eu e marido nos entreolhamos, demos meia volta e seguimos para o Patio Bellavista para encerrarmos nossa estadia adquirindo nossos regalos de viagem, sem remorços.

O maior perrengue da viagem aconteceu num dia de chuva, de forte inversão térmica que nos levou a temperaturas invernais em pleno dezembro, quando voltávamos de Viña del Mar. Tínhamos alugado um carro e ao chegarmos em Santiago tivemos - assim como todos os santiaguinos -  a ideia de irmos ao Parque Arauco, o que não estava previsto na nossa programação. Ficamos completamente parados num engarrafamento colossal no bairro Las Condes com duas crianças cansadas, entediadas e com fome, já imaginaram o estresse? Discute daqui e dali consegui convencer o marido a devolvermos o carro e seguirmos para o hotel de táxi. Depois dizem que são as mulheres que fazem de tudo por um shopping...

Incrivelmente, os melhores passeios em nossa estadia em Mendoza, Santiago e Viña del Mar foram as vinícolas! Recomendo muito a Concha y Toro e a Casas del Bosque, assim como seus restaurantes. Os dois restaurantes somados ao Mestizo foram os melhores de nossa viagem, mas o melhor custo/benefício foi o da Concha y Toro: comida excelente, porção satisfatória, preço honesto. E toda a pompa e circunstância de ter um sommelier atencioso (e que não te constrange) a sua disposição!

Optamos por não fazer nenhum passeio desses com empresas especializadas: os preços estavam absurdos, teríamos hora para ir e voltar e com crianças pequenas é um tiquito mais complicado ter um cronograma muito apertado. Usamos metrô na maioria das vezes, táxi e ônibus municipal. Só para ter uma ideia, para visitarmos a Concha y Toro chegamos facilmente usando metrô e táxi, pagamos nosso tour e almoçamos super bem (2 adultos, 2 crianças, com sucos, águas, vinhos e sobremesa deliciosa acompanhada de uma maravilhosa cocecha tardia) por menos que um simples tour pela vinícola (sem almoço) organizado por uma empresa especializada. O mesmo para a Casas del Bosque. O passeio estava saindo R$ 200,00 por pessoa, ou seja, seriam R$ 400,00 o casal! Chegamos lá, almoçamos e pagamos R$ 200,00 com direito a uma garrafa de vinho e chocolate de regalo.

A exceção foi nossa esticada até Viña del Mar e Valparaíso por uma noite, quando alugamos um carro, mas ao final, nos arrependemos de ter feito isso. Falo mais no outro post.

E como foram nossos dias por lá?

DIA 1: Cerro Santa Lucia, Barrio Lastarria (jantamos ali, num daqueles infindáveis botequinhos com mesas e cadeiras nas calçadas), Basílica La Merced

Basílica La Merced

Cerro Santa Lucia: foi difícil tirá-los dali para continuarmos o passeio

Mirante Cerro Santa Lucia: Cordilheira ao fundo

DIA 2: Descanso no apartamento, compras no mercado, papai e Ísis deram uma voltinha na Plaza de Armas

Passeio com papai na Plaza de Armas

DIA 3: Visita à Concha y Toro. Almoçamos por lá. Retorno, descanso no apartamento. Passeio pelo centro: Igreja San Francisco, Barrio Paris-Londres, Universidade, Teatro Municipal, La Moneda

Concha y Toro

Concha y Toro: juro que ele não bebeu!

Teatro Municipal: lá está ela na fonte!




DIA 4: Parque Bicentenário. Almoço no Mestizo. Não conhecemos todo o parque, porque ele é enorme, mas conhecemos bem os arredores do restaurante, cheio de lagos, parquinhos para as crianças, cadeiras e guarda sóis nos gramados. Como o parque é novo ainda há poucas árvores frondosas e quase não tem sombra.


DIA 5: Valparaíso     DIA 6: Viña del Mar
Falo sobre esses dois dias depois

DIA 7: Plaza de Armas, Museu Nacional. Almoço no Mercado Central. Tentativa de irmos ao Cerro San Cristóbal, mas desistimos porque os funiculares estavam em manutenção. Patio Bellavista: descanso e compras.


 Plaza de Armas


 Mercado Central: as crianças (cof, cof) amaram a Cazuela de Vacuno, gosto de sopinha de avó!

Patio Bellavista: ela molhou pés e pernas naquela fonte ali atrás...

DIA 8: Retorno

Se alguém quiser alguma informação mais específica sobre o roteiro, ou dicas, ou qualquer outra coisa, é só mandar email: ninescheffer@hotmail.com.

Semana que vem tem Valparaíso, a visita mais frustrante da viagem, e Viña del Mar, uma delícia de balneário quando não chove, não venta e não faz temperatura invernal em pleno dezembro!

Perrengues de viagem? Ya, ya!

:)






quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Mendoza: um deserto onde eu quero estar, rodeada de bons Malbec e azeitonas argentinas!

Calma, não sou nenhuma fanática, não! E nem gostava muito dessa uva, mas me rendi ao seu sabor tomando um maravilhoso Malbec da Terrazas de los Andes acompanhado de verdejantes, suculentas e gordas azeitonas argentinas.

Mendoza foi nosso primeiro destino nas férias e decidimos chegar até lá de avião, a partir de Santiago, para evitar 8 horas de viagem de ônibus com duas crianças. O voo é tenso para quem, como eu, ainda acha que é muito antinatural estar voando! Para mim foi horrível sobrevoar os Andes, passar pelas turbulências e ouvir a cada minuto a comissaria de bordo avisar que não poderíamos desatar o cintos, levantar e tals. Medo total! Para compensar, é lindo! :)

Não planejamos muito o que fazer por lá, porque achávamos que a cidade era pequena e que os pontos  a serem visitados era todos próximos, só que não. Dei uma olhada nos pontos turísticos da cidade, que esperava vencer em dois dias; e reservamos um dia para passeio pelas vinícolas e um dia para passear num parque de água termal de lá. Só que eu não contava com o clima árido, que acabou deixando a Ísis muito indisposta para passeios durante o dia.

O clima de Mendoza é um desafio a parte, lembra muito o clima de Brasília, com seu ar pesado, seco. Eu e marido até que gostamos, mas as crianças sentiram bastante. A Ísis ficou muito mal humorada e sem vontade de fazer nada, mal caminhava durante o dia só curtindo mesmo passear a noite e o dia em que fomos para o parque de águas termais.

Uma dica: em Mendoza, no verão, faça como os mendozinos: tire uma siesta das 13:00 às 17:00 horas e fique abrigado do sol, tomando muito líquido (que pode ser um bom vinho da região), comendo sorvete e alfajor gelado! Não caia na besteira de fazer como nós que queríamos conhecer os parques e plazas nesses horários. A gente não percebe porque não sua, mas o calor é forte!

Mendoza foi uma grata surpresa, confesso que trocaria fácil dois dias de Santiago por mais dois dias em Mendoza, mas passamos um total de quatro dias por lá e dividimos nosso tempo assim:

DIA 1: visitamos as Plazas: San Martin, Independência, Peatonal Sarmiento; reservamos nosso passeio para as Termas Cacheuta e nosso tour por vinícolas e olivícolas locais. Como o comércio fecha das 13:00 às 17:00 horas ainda conseguimos dar uma voltinha a noite pelas largas calçadas do centro.

Plaza San Martin


Plaza Independencia

Plaza Independencia: ela sempre correndo em direção à água

Plaza Independencia: ensinando o mano a "curtir a paisagem"




Peatonal Sarmiento: parada para um refresco


DIA 2: visitamos o Parque General San Martin, ou melhor, parte dele, pois é enorme! Fomos até o topo do Cerro da Gloria, onde avistamos o lindo monumento em homenagem ao Exército dos Andes, descemos e paramos no lago do Rosedal, pois o calor era sufocante, o ar estava muito seco e só perto da água foi que nos sentimos melhores. Uma dica aqui é que o parque fica longe do centro e para chegar ao topo você vai precisar de muita disposição, pois é uma subida longa. Com crianças, sugiro que faça como nós: pegue um táxi e combine com o motorista para que ele aguarde no topo de 5 a 10 minutos, tempo suficiente para dar uma olhada no monumento e na paisagem, para depois descerem com o taxista. Tentamos almoçar num restaurante, mas a Ísis não se sentiu bem e voltamos para o hotel. Depois de um descanso no hotel visitamos a Plaza España. À noite caminhamos pelo centro, tomamos muito sorvete e compramos nossos regalos de viagem.

Parque General San Martin: Cerro da Gloria e Monumento ao Exército dos Andes

Parque General San Martin: Lago do Rosedal, um oásis em meio ao deserto!

Parque General San Martin

DIA 3: Tour pelas vinícolas e olivícolas da região. Optamos pelo tour de meio dia, pois ficamos receosos de um de dia inteiro com as crianças, então não incluía almoço, apenas degustação de vinhos e azeites. Eu não consegui visitar as vinícolas que gostaria, pois os passeios são divididos por dia da semana e naquele dia não havia reservas para as que eu queria nas duas empresas que consultamos. Poderíamos fazer o passeio privado, mas era muito caro e em dois deles as crianças não eram permitidas neste tipo de passeio (privado com harmonização de vinhos e almoço). Nos passeios comuns, o Pedro não pagou, mas a Ísis pagou meio tour. Pagamos R$ 100,00 por este passeio (2 vinícolas com degustação, 1 olivícola com degustação, 2 adultos, 1 criança).

Plaza España

Plaza España

Plaza España: e desde então eu penso e digo "já dizia o Martins Fierro: os irmãos tem que ser unidos!"

Sede do Governo de Mendoza, chafariz e anjo







DIA 4: Termas Cacheuta! Super recomendo! Quer fazer uma farofa com estilo na sua viagem? Vá a esse parque de águas termais encravado na cordilheira. É lindo, é barato e o parque possui serviço de transporte que te pega e te deixa no hotel. Se você for com criança então, é o programa perfeito!




Minhas impressões da cidade é que é uma cidade muito turística, onde fomos sempre muito bem atendidos, onde há ótimos restaurantes (que não fomos) e bares noturnos (que não frequentamos). Há inúmeros passeios para se fazer por lagos e trilhas em meio à Cordilheira, cavalgadas, vilarejos para visitar. Há inúmeras vinícolas, uma ao lado da outra, uma mais linda que a outra e boa parte delas é classificada como bodegas boutique, ou seja, seus vinhos são para venda local ou para exportação, não se encontra no mercado local.

Enfim, apesar do que li blogs a fora, achei que quatro dias na cidade não foram suficientes e saímos de lá com gostinho de quero mais! Não conseguimos visitar algumas plazas, nem o aquário e o zoo, muito menos a Calle Aristides e a Peatonal Alameda. Restaurantes legais ficarão para uma próxima vez, mas recomendo as empanadas do Mercado Central! :)

Eu adorei conhecer uma fábrica de azeite de oliva e adorei comer as empanadas argentinas no Mercado Central da cidade. O passeio pelas termas foi o ponto alto da viagem, além das caminhadas pelas ruas lindas e largas da cidade.

Claro que houve momentos perrengues...que viagem em família não tem? Dois deles envolveram a Ísis, tadinha, que não ficou bem naquele clima árido e fez o maior chororô num restaurante e no início de nosso tour pelas vinícolas. O ponto alto para ela foi o passeio pela Termas Cacheuta, sem dúvida! E passear a noite, quando o clima estava mais amigável, mesmo depois das lojas fecharem ela não queria ir embora, queria continuar passeando!

Semana que vem teremos Santiago, yaya!
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