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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Um tapa na bunda...

Escrevi o texto anterior numa semana difícil, poucos dias após o fato ter ocorrido. Foi uma semana de muito choro, de muita sensação de impotência, de isolamento, de sentir-se só em meio à multidão. Vocês já se sentiram assim? Pois é.

Então, todos os comentários que recebi foram muito bem vindos, foram sopros de alento no meu coração, porque mais uma vez o blog e as mamães que o acompanham me ajudam nessa sensação maravilhosa de pertencer, de não estar sozinha.

E houve também os emails recebidos, de amigas reais, que ao lerem o blog mandaram mensagens carinhosas. Incrível como podemos mesmo receber carinhos em bits de 0 e 1. Meu eterno agradecimento aos nerds de todo o planeta!
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Eu não costumo escrever muito sobre momentos como esses, eu não gosto de valorizá-los demais, e também não gosto muito da idéia de expor minha filha: uma coisa é eu expor as gracinhas dela, a parte fofa, linda e maravilhosa da maternidade; outra bem diferente é eu expor momentos ruins, fraquezas nossas que podem cair no computador de pessoas não tão compreensivas e não tão amorosas assim.

E por quê eu o fiz, então? Porque a causa do não ao tapa na bunda foi mais uma que eu resolvi abraçar depois do nascimento da Ísis. E foi depois do nascimento mesmo, porque antes, mesmo na gravidez, eu ainda achava normal os pais recorrerem a um tapinha no bumbum - que está recheado de fraldas mesmo, a criança nem sente nada, né? - como medida corretiva a desobediências recorrentes.

Depois de segurar minha filha nos braços e me desconstruir inteira como pessoa durante os intensos meses de licença maternidade eu percebi o quanto eu estava errada! Mas perceber isso não é suficiente, na realidade é até fácil ter esta percepção e essa ideologia quando estamos diante de um bebezico de poucos meses, que mal se sustenta na própria coluna e que tudo que faz é chorar, mamar, dormir, transbordar as fraldas...

O difícil começa a acontecer quando aquele serzinho diminuto, do nada, irradia vontades, valores, opiniões. O seu bichinho, antes tão cordato, agora te responde que não vai fazer tal coisa, que não quer ir para tal lugar, que não está com sono, que não quer trocar as fraldas. Não vai comer, nem tomar banho. Recusa o jantar, quer amendoim. Não quer colocar as calças porque gosta de ficar pelada; mesmo no frio tira as meias sempre que você as coloca, não adianta, e você que se vire depois com as crises de bronquite!

Antes, o seu filhote ficava bastante tempo no seu colo, é verdade, mas dormia bastante também, por mais que você pensasse que não! Agora, uma soneca após o almoço e as baterias já estão carregadas! E haja energia e disposição para brincar, correr, pular, jogar bola, conversar com os dedinhos, fazer bichinhos de massa de modelar; nos intervalos, a alimentação, a troca caótica de fraldas. Antes ela chorava, agora ela argumenta, e sai correndo!
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Eu e meu marido divergimos um pouco no assunto sobre o tapa na bunda. Apesar de conversarmos bastante, eu percebo que ele não consegue perceber as nuances que eu percebo, os detalhes que eu pesquiso. Isso tem uma causa: nós dois vivemos infâncias diferentes, temos experiências de vida, de vivências familiares totalmente díspares, apesar de termos parecidos os mesmos valores.

A experiência prévia, essa força que vem do passado, da minha própria infância e adolescência, foi o grande motivador, além do imenso amor que tenho pela minha filha, em querer mudar, fazer diferente. Nessa fase, das primeiras convicções quebradas, eu não conhecia bons autores que viessem de encontro aos meus anseios, mas que tivessem embasamento, sabe? Não aquela coisa do achismo nosso de todo dia.

Com os blogs eu redescobri Janusz Korczak, o livro Como Amar uma Criança ainda está na minha cabeceira, é uma espécie de conselheiro nos momentos difíceis. Descobri Carloz Gonzalez, Laura Gutman. Eles me ajudam a realinhar minha órbita quando esmoreço.
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Pode parecer dramático demais tudo isso. Tanta polêmica por causa de um tapa na bunda! Mas eu digo e afirmo que o tapa na bunda é só o começo do fim, que já começou no grito. E que mesmo ele, esse tapinha, pode ser tão prejudicial quanto as piores surras.

Se há alguns anos eu fui aquela que apanhou e que reverberou esse comportamento violento na irmã mais nova, hoje eu luto contra essa vontade quando minha filha surge como um desafio à minha capacidade de educar. E eu não preciso apenas lutar contra mim mesma, apesar dessa luta sempre ser a mais difícil; eu preciso lutar contra toda uma sociedade acostumada a enxergar os filhos como propriedade, a enxergar os pequenos como seres vazios de sentimentos e vontades, como inimigos até!

Eu sei as marcas que as surras que eu levei me deixaram, e quando eu digo surra não importa se foi um tapa na bunca, na boca, um beliscão no braço, uma cintada nas pernas. Todas deixam marcas, não físicas, essas vão embora. Eu não quero essas marcas nos meus filhos.

Se eu continuo firme no propósito de não bater, o mesmo não posso dizer quanto a não gritar. Esse é o próximo passo.
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Por tudo isso eu decidi falar desse dia difícil, desse sábado que já passou, mas que já se repetiu algumas vezes nos últimos meses. Eu resolvi vencer o medo de expor a minha filha e a mim mesma por um bem maior: falarmos sobre educação sem violência, seja ela física, seja ela verbal, ou emocional.

Um dia minha filha vai ser mãe, e não vai ser mais fácil ou mais difícil do que está sendo para mim. No tempo dela, haverá nuances diferenciadas. Mas eu quero que ela saiba que, se um dia ela puder afirmar que a mãe dela sempre a tratou com respeito, que nunca bateu nela, nem a agrediu verbal ou emocionalmente, esse caminho não foi um caminho florido, mas que foi sim uma estrada árdua, escolhida voluntariamente, em nome do muito amor que eu sinto.
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Adendo: ontem, conversando com minha massagista, ela me contou de uma cena que presenciou em frente à escola do sobrinho: um pai batendo no filho na saída da escola. Não foi uma surra, ela disse, foi um tapa. A opinião geral entre os ali presentes é que esse pai estava certíssimo em agir assim, afinal, o menino em questão (que não devia ter 6 anos) já havia batido em outros coleguinhas, as mães e pais das crianças agredidas não sabiam mais o que fazer! Ao que parece, todos gostaram da demonstração de violência. A massagista também aprovou, afinal, agora, o menino saberia quem manda, teria limites e aprenderia a respeitar os outros! Com os meus botões eu só consegui pensar que estava tudo errado! Ninguém sabia da realidade familiar do menino...e ainda que ele tivesse índole violenta mesmo, sem que a família nada tivesse que ver com isso, eles pretendem ensinar o respeito ao próximo batendo, humilhando a criança na frente de todos? "O mundo está ao contrário e ninguém reparou?"

7 comentários:

  1. Nine muito lindo o seu post, e concordo com o que vc diz, ak em casa não batemos, meu marido deu uns tapas no Adrian uma vez e depois ficou chorando, então decidimos q ele jamais bateria de novo, ak a eduação é na base da conversa e se não funciona o castigo, tipo não ver o desenho que quer, não ir em tal passeio, eu escrevi num post chamado mediação, como resolvi um conflito entre os meninos, não sei te dizer como é educar só um , pois Adrian nunca me deu trabalho, só depois de uns 3 anos, mais dai já tinha o Bjk então amiga, força, não é facil , mais é possivel, e se precisar desabafar, vc não está sozinha sei como é o sentimento de sozinho no meio da multidão, fazem 4 anos que vivo somente em função das crianças, as vezes me sinto muito só tb por isso que fiz o blog, um beijão e bom feriado.

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  2. Nine.. vi seu outro post.. e fiquei pensando nas escolhas que fazemos na vida.
    Eu fiz as minhas mas as vezes, em casa, sinto que fiz sozinha.. mas to tentando seguir a educação de Laís da forma que acredito.
    Somos humanas e nem sempre vamos conseguir ter o controle dessas situações que nos fazem explodir. Eu, inconscientemente, criei algumas táticas para driblar esse momentos que explosão.. e ela estão dando certo até agora.
    estou entendendo que maternar e aprender e fazer escolhas todos os dias!
    Bjnhos em vcs, viu!! fique bem!

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  3. Nine Querida,
    Nossa..usei esta mesma frase em um comentário lá no blog da Jú...puxa também acho que o mundo está ao contrário e ninguém reparou! É difícil seguir com nossas escolhas e valores quando a sociedade nos vê como mães superprotetoras e exageradas!
    Parabéns, você é uma mãe maravilhosa e muito dedicada! Um beijão, com carinho!

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  4. Atira a primeira pedra uma mãe que nunca saiu dos eixos e que teve vontade de sair correndo pelada pela rua?
    Aprendemos é assim mesmo. Com erros e acertos.
    E a net nos proporciona saber que não somos diferentes, nem sozinhas :)
    Beijos!

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  5. Nine, eu concordo totalmente com vc, Alice está com 14 meses, e sei que teremos dias difíceis daqui pra frente, peço muito ao marido pra me dizer se estou gritando, falando com raiva, para me dizer, muito bom esse sua exposição, pois é muito bom encontrar pessoas que pensam da mesma forma, para dar força uma pra outra,
    Eu tenho as minhas observaçoes de parquinho, é um convívio com muitas mães e crianças, e sabe, as crianças que gritam ou batem aprenderam "geralmente" com os pais. Tem uma mãe super estressada que vive falando que não sabe mais o que faz com o filho de 1 ano e meio que não para de bater. Outro dia eu vi, ela batendo nem e falando: "Inferno, agora vai ser esse choro o dia inteiro na minha cabeça."
    Eu sei que temos um longo caminho na educação das nossas pequenas pela frente, que vai nos colocar a prova todos os dias, mas nossas convicções vão prevalecer e vamos exercitando a nossa paciência,
    bjs

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  6. li num post da kalu sobre este mesmo tema que precisamos nos re-educar para educar e é isso mesmo: precisamos de novas estratégias e abordagens para colocar os necessários limites e civilizar nossos filhos. também não superei o grito. hoje grito pouco, mas ainda grito. mas bater, ah, nem um só tapa! no máximo uma contenção quando a coisa descamba para o perigo.
    também abraço esta causa, e vem post por aí...
    beijoca

    mari

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  7. Oi Isis, é um assunto delicado e acho que você abordou de uma maneira muito bacana, muito tranquila, bem resolvida. Acho que muitas de nós já levamos alguns petelecos ou até tapas e muitas de nós não o repetiriamos com nossos filhos. Acho que o grande segredo da vida e da educação é o bom senso, ele vale para absolutamente todas as questões. E ele é o mais dificil de achar...

    Qto ao menino, acho bem complciado, talvez ele só esteja justamente repetindo um comportamento que vê em casa!

    beijos

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