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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Por quê? - parte IV



Imagens maravilhosas de nascimento daqui: http://amandagreavette.blogspot.com/



Acho que essa é a parte mais dolorida para mim, mas é a que mais me motiva em querer um parto para mim e nascimento para meu segundo filho mais humano, menos intervencionista, mais cheio de amor e carinho, menos cheio de procedimentos totalmente dispensáveis.

Acho importante ressaltar que minhas crenças pessoais (pré existência da alma e vidas múltiplas) e minha ligação com a Ísis me fizeram ir em busca de uma maneira mais amorosa de criar e educar, mais voltada para o respeito ao pequeno indivíduo que se lançou aos meus cuidados confiando que eu seria uma boa mãe para ele.

Essa ligação não veio durante a gravidez. Eu e a gravidez não nos entendemos muito bem desde o início. Eu não fui daquelas mulheres que amaram estar grávidas e achavam tudo uma maravilha. Eu sempre conversava com a Ísis sobre isso, que ela me perdoasse por alguns momentos de mal humor; meu amor a ela, minha filha, estava ali sempre, mas foi só quando ela nasceu e nos olhamos pela primeira vez que eu me liguei a ela, me apaixonei por ela e assim sigo até hoje.

Quando retornei para casa fui olhar as fotos que o meu marido havia feito durante o trabalho de parto e parto. A maioria depois que a Ísis nasceu, porque eu não quis fotos antes nem durante. Todas as fotos em que a Ísis aparece nos seus primeiros minutos de vida ela está chorando à plenos pulmões: na balança, na cama para medir, no banho na torneira, na aplicação do colírio - esta me marcou demais, me doeu o coração ver os olhos dela vermelhos e ela chorando desesperada, e eu ainda nem sabia que ela estava sentindo dor desnecessariamente - na colocação da roupa. E eu não vi nada disso na hora, eu estava tão voltada para mim mesma, tão satisfeita por ter parido, que não percebi os procedimentos desnecessários feitos nela. Eu não havia me interessado sobre a parte que lhe cabia, por mais espiritualista que eu seja, eu confiei que aqueles procedimentos todos eram necessários para o bem estar dela.

A Ísis só se acalmou depois que veio para o meu colo e dali não saiu mais. Eu não havia visto as fotos ainda, mas meu coração, que já estava ligado ao dela, não me permitia deixá-la longe de mim. O bercinho estava ali, ao lado da minha cama, as enfermeiras me diziam para colocá-la ali para que pudesse descansar, mas me doía fazer isso. Senti uma empatia muito grande com a minha filha desde o início, e eu, me colocando no lugar dela, soube que em nenhum lugar ela estaria melhor do que nos meus braços. Assim passei as duas noites no hospital, ela dormiu no meu colo o tempo todo e só saí de perto dela quando meu marido chegou e eu fui obrigada a participar de uma oficina sobre amamentação.

Em casa eu fui deixando cair por terra todos os meus pré-conceitos de não mãe. Não foi fácil, pois eu pouco sabia sobre isso, e meu lado mais racional ficava me soprando sempre que ela ficaria mal acostumada, mimada, que ela precisava aprender a ficar sozinha, dormir sozinha, que eu precisava de descanso. E eu sofri muito nos primeiros meses dela por conta disso. Era uma luta interna desesperadora entre aquela que eu havia sido e aquela mãe que estava nascendo.

Eu segui com minha filha ouvindo meu coração, não sem me questionar inúmeras vezes e ouvir conselhos de todos os tipos. Agi contrariamente à minha vontade em muitas ocasiões e sofri com isso. Mas eu na época não tinha acesso a novas (ou antigas) formas de pensar e recebia pouco apoio nas minhas dúvidas, era bem difícil conseguir explicar aquele sentimento que me inundava.

Hoje eu acho que passei a me enxergar na minha filha recém nascida. Isso me enlouquecia às vezes! Era como seu eu transferisse para ela sentimentos meus -  de onde eles vinham? da minha alma? do meu inconsciente? eu estava relembrando sentimentos meus quando recém nascida?

A vida foi retomando seu curso, a licença maternidade estava acabando e eu precisava fazer a adaptação da Ísis na escolinha. Posso dizer que aquele foi o pior mês da minha vida! Sinceramente, essa separação brusca que sofremos quando precisei voltar a trabalhar ainda me dói e eu comecei a me questionar na volta ao trabalho: será que eu não deveria abandonar tudo? Ali começaram os meus dilemas maternidade x carreira, que só muito tempo depois foram resolvidos.

Na volta ao trabalho, passava 10 horas longe da minha filha de 7 meses. 10 horas! Eu sofria sempre que a deixava, eu sofria quando aparecia de surpresa e a via sentada num canto, apática, olhando o nada, quando a encontrava dormindo no meio de tantas outras crianças e de tanto barulho e luz.

Um dia ela se rendeu ao leite artificial, me desmamou e assim surgiu o blog. Eu fui conhecendo outras mães, outras maneiras de pensar, recomendações até então totalmente desconhecidas, novos autores, novas idéias; e tudo isso foi encontrando eco no meu coração! Finalmente eu encontrava pessoas que pensavam como eu! E melhor: conseguiam colocar em palavras sentimentos meus até então sem explicação.

Dali para as leituras de livros e a curiosidade de voltar ao dia do meu parto, agora com outro olhar, foi muito rápido. Foi então que eu li o livro Nascer Sorrindo e eu chorei, chorei muito lembrando de tudo que a Ísis havia passado após seu nascimento, eu consegui entender finalmente a angústia que senti (e sinto até hoje) ao olhar as fotos dela chorando, eu entendi que sim, quando ela nasceu eu relembrei minha própria angústia nos primeiros momentos fora do ventre de minha mãe.

Eu tive certeza que o nascer não deveria ser assim: a dor de se ver sem ar de uma hora para outra por ter o cordão umbilical cortado antes de parar de pulsar, a dor de ter seu pequeno corpo invadido por cânulas (o som daquele momento ficou gravado em mim) sem a menor necessidade, a angústia de ser colocada sobre uma balança, de costas, numa sala iluminada demais a ferir olhos que nunca antes viram uma luz tão forte, a dor de ter seu pequeno corpo, antes sempre curvado, esticado até a ponta dos dedos apenas para conhecermos sua altura, a ardência e a cegueira causada por um colírio totalmente desnecessário, a solidão dos minutos longe daquela que havia sido até então seu lar, seu porto seguro. E depois de ficar uns minutos com a mãe, minutos calmos, serenos - ela está aqui, não me abandonou, eu a reconheço, estou segura - ser levada para uma pia e esfregada para ficar "limpa", quando na verdade ela viera do lugar mais limpo onde estará por toda a vida, a dor da injeção de vitamina K, que poderia ser ministrada oralmente, a dor de uma vacina desnecessária naquele momento, uma vez que protege contra uma doença sexualmente transmissível.

Essa dor dela ficou gravada em mim, provavelmente porque também a vivi, assim como a vivem milhares de bebês recém nascidos ao redor do mundo.

O nascimento de um filho é um momento especial. Alguém se lançou na aventura de mais uma existência na Terra e está para ser despejado para fora do ventre de sua mãe, ele sente medo, claro, a vida que começa é uma surpresa, é desconhecida, ele está frágil, reduzido ao corpo de um bebê pequenino que para tudo depende de outra pessoa.

Ao chegar aqui ele deveria ser recebido com amor, com aconchego, com colo e peito de mãe, palavras doces, suaves, penumbra para que seus frágeis olhos não sejam feridos, pouca manipulação, respeito. Ser recebido assim fará com que ele seja mais otimista diante da vida que começa, mais seguro da escolha que fez, a esperança de bem realizar o que se propôs se enraizará nele, pois sente que se foi recebido com todo amor e respeito por seus pais, terá o apoio necessário na sua jornada.

Eu não entendia até bem pouco tempo atrás porque eu sempre chorava assistindo aos vídeos de partos domiciliares, naquela cena em que o bebê sai do ventre diretamente para o colo de sua mãe e é acolhido com todo amor e respeito, todo aconhego e carinho daqueles que serão seus pais. Eu gostaria de ter nascido assim. Eu gostaria que minha filha tivesse nascido assim. Eu quero que meu segundo filho tenha a chance de nascer assim.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Por quê? - parte III

Às 14:30h a bolsa rompeu, estávamos eu e meu marido tirando um cochilo após o almoço. Eu o acordei e avisei que a bolsa havia rompido. Nos levantamos e enquanto ele se arrumava e terminava a mala da Ísis eu fui tomar um banho, pois não pretendia ir tão rapidamente para o hospital. Havia lido que quanto mais cedo chegamos, maiores as chances de cesariana desnecessária.

Tomei um banho demorado e ali mesmo senti as contrações ficarem mais fortes e mais frequêntes. Tive várias contrações, algumas mais longas, outras mais curtas e outras ainda que pareciam juntar-se, sem que a onda tivesse realmente passado. Resolvi acelerar o banho.

Eu estava muito tranquila, até eu me admirei com a minha calma e serenidade. Sempre havia ficado apreensiva de na hora das contrações ter tanto medo ou dor e apavorar, sabem? Mas não foi isso que aconteceu, uma calma enorme tomou conta de mim.

Chegamos ao hospital da Unimed às 15:30h, avisei na recepção que minha bolsa havia estourado, fui para a triagem ainda na recepção: pressão normal. Depois me ofereceram a cadeira de rodas, que eu recusei. Durante o tempo de espera tive mais algumas contrações, não conseguia ficar sentada e andava de um lado para o outro como um bicho acuado.

Fomos, eu e marido, para a maternidade acompanhados de uma enfermeira. No elevador mais uma contração, dessa vez mais forte. Segurei com força o braço do marido, alguém fez um comentário sobre a dor e eu disse que era uma dor boa, uma dor bem vinda, afinal era sinal de que minha filha estava nascendo. Essa frase foi o tom de todo o meu trabalho de parto até a analgesia. Eu me mantive muito concentrada o tempo todo e acho que esse é o maior dos segredos de um parto tranquilo: a preparação mental.

Depois que iniciei as minhas leituras, uma colega de trabalho me presenteou com um livro sobre a dor do parto e eu me interessava muito sobre isso, obviamente. Em todos os textos a explicação de que as dores das contrações se assemelhavam a cólicas menstruais, que surgiam e desapareciam em ondas e que nos intervalos entre elas não se sentia nada.

Eu sofri muito com cólicas menstruais na adolescência e no início da idade adulta. As minhas cólicas eram terríveis me fazendo até mesmo desmaiar de dor. Mas elas não me davam tréguas, não vinham em ondas, não desapareciam por completo por longos minutos. Foi então que eu achei que eu enfrentaria bem essa parte.

Quando chegamos à maternidade eu fui para a triagem e meu marido foi encaminhado para realizar a internação. A enfermeira me mandou deitar na maca. Deitar, ficar deitada, juntamente com os exames de toque (que foram vááários) foram das piores coisas durante o TP, muito pior que as contrações que sentia.

Enquanto estive deitada a enfermeira fez o exame: 4 cm. Ligou para minha GO, falou sobre a dilatação e como a minha médica estaria de plantão ali a partir das 19:00h disse que eu poderia já ficar internada. Nesses minutos eu tive algumas contrações, com pouquíssimo intervalo entre elas, queria me levantar, mas a enfermeira logo chegou com o enema. É meio desconfortável, mas nada de horrível, eu pensei na hora. Poucos minutos depois eu somava às contrações as cólicas intestinais e aí ficou bem ruim!

Fiquei longos minutos no banheiro e esses foram de longe os piores! Duas dores diferentes e uma diarréia...nada agradável. Depois eu tomei um banho (o chuveiro é realmente uma bênção!) e as contrações continuavam. Quando saí do banheiro a enfermeira não estava e eu fiquei curvada sobre a cama rebolando com o quadril, instintivamente, pois era muito relaxante durante uma contração. Instintivamente eu também comecei a gemer com a boca aberta e isso aliviava demais a tensão durante a contração! Não sei onde tiraram que as mulheres não podem gemer, gritar, o que for!

Quando a enfermeira retornou a cena era uma parturiente pelada (aquela camisola horrorosa já tinha caído) curvada sobre a cama, rebolando e gemendo...num hospital com mais de 90% de cesarianas isso devia ser um espetáculo! Escutei ela ligando para o anestesista. Fui encaminhada ao quarto de trabalho de parto e parto.

Ali a enfermeira fez mais um toque: 6-7 cm. E eu tive que ficar deitada! Um horror! A melhor posição era de lado. Algum tempo depois meu marido finalmente chegou e viu minha primeira contração com gemido e tudo! Há! No intervalo disse a ele que estava tudo bem, que doía mesmo, mas era suportável e que logo o anestesista chegaria.

Mais algum tempo, várias contrações depois, novo toque (8cm) e chega o anestesista. Esse foi o segundo momento ruim: ficar imóvel para que ele realizasse o procedimento! Quase quebrei os dedos da enfermeira, coitada!

A anestesia pegou, eu fui lentamente deixando de sentir as contrações até que não senti mais nada. Segui conversando com meu marido (que ficou visivelmente mais tranquilo quando percebeu que eu não sentia mais dor), liguei para minha mãe, minha sogra.

Eu me lembro de ter pensado que, sim as contrações eram doloridas, muito mais doloridas na posição deitada e quando eu não gemia com a boca aberta (quando a enfermeira entrava na sala eu me controlava, afinal já havia ouvido histórias terríveis sobre "frases" ditas por elas nesses momentos), mas elas eram suportáveis, elas vinham e iam e no intervalo eu até conseguia rir!

Eu estava mais receosa era com a fase II do parto: o expulsivo. Como seria? Nos relatos essa era sempre a parte mais nebulosa da história (depois eu entendi o motivo) e eu não havia conseguido um conceito sobre ele, se doía muito ou não...eu e o meu medo da dor...

Mais um tempo e eu comecei a sentir uma pressão diferente. Falei com a enfermeira e com o último toque ela constatou a dilatação total. "Posso empurrar?" perguntei. Ela me disse que "não, pelo amor de Deus que a tua médica ainda não chegou!" Ela ligou para a médica que avisou que já estava chegando e pediu que me transferissem para sala onde são feitas as cesarianas.

Chegando lá, outro clima! Olhei para o relógio: 19:00h. Havia perdido totalmente a noção do tempo. Colocaram a ocitocina e eu não questionei. Era para ajudar a aumentar as contrações, a enfermeira me disse. Eu abstraí, que fosse!

Cinco minutos depois minha médica chega paramentada e sou autorizada a fazer força. Obaaa! Fiquei numa escada encostada na cama e quando a vontade vinha eu ficava meio acocorada segurando numa barra lateral, empurrando, empurrando, empurrando. Empurrando totalmente sem noção, hoje eu sei, mas resolveu, porque 1 hora depois eu senti uma pressão muito grande na minha vagina e me assustei! Eu não estava preparada para aquilo, mas sabia o que estava acontecendo: a Ísis havia descido e já estava à postos!

Dali para frente eu perdi totalmente a noção de tudo, de tempo, de pessoas. Eu lembro das coisas em flashs somente e depois fiz meu marido contar os detalhes que minha consciência havia perdido.

A médica examinou e passou a me orientar nas forças, mas eu tive que me deitar na cama. Horrível! À cada contração eu instintivamente queria me levantar, mas um enfermeira me segurava pelo peito e mandava ficar sobre os cotovelos e empurrar com foooooorçaaaaa. Meu marido ali, me ajudando, mas eu perdi a noção, tratei de mei concentrar e empurraaaaaar!

Mas é óbvio que naquela posição eu não fazia uma força muito efetiva e a médica me avisou que "teria que fazer a episiotomia porque a cabeça dela está acinclítica e eu vou ter que mexer um pouco". Eu me lembro de acenar com a cabeça, ela aplicou a anestesia local. Senti ela mexendo um pouco.

Mais um tempo e chega um outro médico pedindo para acelerar a coisa que ele tinha uma cesariana para fazer! Afe! Eu lembro que quis xingá-lo! E não sei como uma enfermeira montou na minha barriga! E apertava, apertava e eu tentava tirar ela dali de cima, loucura total! Cadê a serenidade? A tranquilidade? O hospital amigo do parto normal?

E de repente eu sinto minha filha escorregando suavemente. É uma sensação indescritível e que me emociona até hoje! Sentir a Ísis nascendo de dentro de mim é uma das melhores coisas que viverei na vida, tenho certeza!

Depois da aspiração (lembro dos barulhos e ruídos até hoje),  e durante a pesagem e medição ela chorou à plenos pulmões! Eu me levantei na cama, mas não consegui vê-la. Meu marido foi para perto dela e dali alguns minutos me trouxe a Ísis (ela parou de chorar assim que o pai a pegou no colo). Ela deitou no meu peito e eu me apaixonei por ela naquele instante. Ficamos longos minutos nos olhando, falei algumas coisas e ela ficava levantando o pescoço e me olhando. Eu estava em êxtase! Numa felicidade sem tamanho! Eu não conseguia tirar os olhos dela e estava tão bem e eufórica que poderia me levantar e dançar ali mesmo!

Mas...a placenta foi extraída, períneo teve que ser costurado. Essa parte foi bem chata, levei muitos pontos. Quando a médica terminou disse que "ia conferir se estava tudo certinho" e enfiou o dedo lá! Ali eu tive certeza que meu corte havia sido gigantesco! Se os profissionais fosse mais bem preparados, eu poderia ter tido um parto sem sofrer episio. Mas...

Fui levada para a observação, enquanto o marido acompanhava nossa filha no banho, troca de roupa. Lá, depois eu soube, eles aplicaram vitamina K, colírio, lavaram a Ísis numa torneira e colocaram a roupinha dela. Eu fiquei deitada, me sentindo extremamente realizada por ter conseguido, por ter tido um trabalho de parto rápido, tranquilo.

Lembro que eu era a única de que havia feito parto normal naquela noite. Uma senhora que devia estar acompanhando a filha veio me perguntar se eu era a moça do parto normal, repondi que sim, e ela "tadinha, não deu tempo de fazer cesariana?" e eu respondi "Deus me livre, eu escolhi ter parto normal". Depois disso, ela saiu e ninguém mais me aporrinhou. Comi sopa e pude ficar com minha filha durante todo o tempo, por ter feito parto normal, as outras, com cesariana, não podiam estar com seus bebês, que foram deixados no berçário. Agradeci pelo parto por isso.

Naquela noite, depois que já estava no quarto, eu agradeci mais algumas vezes por ter tido um parto. As outras com quem dividi o quarto estavam meio chapadas, com dores, mal conseguiam se sentar na cama, quanto mais cuidar de seus bebês recém nascidos (o alojamento era conjunto mãe e bebê). Enquanto eu podeia me levantar livremente, ainda que sentisse alguma dor com os pontos da episio, nada me impedia de ninar minha filha, amamentá-la, trocar suas fraldas, tomar banho. As outras ficavam na cama, precisavam sempre do auxílio das enfermeiras e não conseguiam acudir seus filhos quando estes choravam. Eu me lembro que na segunda noite (como a Ísis nasceu a noite eu passei mais uma no hospital), dividi o quarto com uma moça e sua filhinha chorava demais no bercinho e a moça chorava na cama por não conseguir pegá-la, um horror. Eu me levantei, e como a Ísis estava dormindo, fiquei com a filha dela alguns minutos no colo, até ela se acalmar. A moça me agradeceu e eu agradeci novamente pelo parto que tive.

Não há como explicar em palavras as sensações, a experiência de nascimento, eu só posso relatar que, apesar das intervenções sofridas (eu estava preparada para elas) viver o nascimento de um filho da forma normal, fisiológica é de uma magia, de uma beleza!

Se me perguntam se dói o parto normal, eu respondo que sim, que dói, mas é uma dor suportável e até mesmo boa. A cesariana também dói e muitas vezes não dói apenas no corpo, mas na alma. A dor no parto é algo tão diferente de uma dor ruim, que ela é o que menos importa! Se me disserem: "ah, mas você usou analgesia!", sim eu usei porque tinha pavor da dor de parto, afinal, ela conhecida como a pior dor que existe! Mas depois de passar por ela eu percebi que não é o fim do mundo e não deveria ser usada como única justificativa para se optar por uma cirurgia. E você sempre poderá recorrer à analgesia!

Existem centenas de relatos de parto na internet, e todos eles me emocionam, ainda mais depois que passei por um. Você sentir o seu corpo trabalhando para que seu filho nasça é de uma beleza sem tamanho! Quantas mulheres que optaram pelo parto normal ou natural se arrependeram depois? Eu não conheço nenhuma...

...

No prósimo texto quero falar um pouco sobre um aspecto do nascimento que eu não havia pensado da primeira vez: e o bebê? Como ele fica nisso tudo? Por quê desta vez eu desejo um parto domiciliar?



terça-feira, 26 de julho de 2011

Por quê? - parte II

Antes de continuar com o assunto escolha pelo parto normal, acho importante salientar que tudo o que eu estou escrevendo é a minha opinião, baseada em experiências e informações adquiridas nesses últimos anos.

De maneira nenhuma eu gostaria que alguém se sentisse ofendido com o que eu escrevo e gostaria de salientar que não critico, não desprezo e não acho menos mãe (para fazer uso de uma expressão comumente usada) aquelas mulheres que optaram pela cesariana, conscientemente ou não.

É importante destacar também que, ao contrário do que acontece na vida virtual, na vida real somos nós, as mulheres que optam por partos vaginais normais/naturais/humanizados, quem sofremos preconceitos de todo tipo e pressão para que mudemos de idéia. E temos toda uma sociedade avalizando a escolha pela cesariana, e todo um corpo de médicos ávidos para que a gente diga que a quer.

Mais do que qualquer outra coisa, eu falo pelo direito de escolha, que hoje não existe para quem deseja um parto vaginal, com menos intervenções. Dizer que a grande maioria das mulheres opta pela cesariana, e que elas estariam então exercendo seu direito de escolha, é tapar o sol com a peneira. Só podemos realmente exercer nosso direito de escolha quando estamos de posse de todas as informações necessárias, o que, infelizmente, não ocorre.

Recentemente, na verdade um mês antes de eu mesma engravidar, uma amiga muito querida me contou a boa nova de que estava esperando seu primeiro filho. Pouco tempo depois ela me disse que estava cogitando uma cesariana eletiva, devido à DPP dela ser na semana entre natal e ano novo - o que a deixou preocupada com o fato da GO escolhida não poder atendê-la no parto.

Como amiga que sou e por ter vivido uma experiência maravilhosa eu gostaria que essa minha amiga tivesse a chance de viver esse momento, assim como eu tive, e assim começamos uma conversa sobre parto, passei uns links, sempre que leio algo interessante mando para ela. Caso ela escolha a cesariana ela não será menos para mim, mas eu lamentarei o fato dela não viver de forma mais plena e bonita esse momento sublime que é o nascimento de um filho. 

É com esse tom, de alguém que deseja aos outros a mesma experiência linda, que eu sigo nesta conversa. Sou esperta o suficiente para saber que nem tudo o que é/foi bom para mim será bom para os outros. Somos seres distintos, temos livre arbítreo. Apesar de no assunto parto ele quase nunca ser respeitado. Mesmo quando inocentemente acreditamos que esteja.

...

Um dia digitando no google parto normal x cesarea eu me deparei com o site Amigas do Parto. Dei uma lida, salvei nos favoritos. Dali passei ao site Parto do Princípio, salvei nos favoritos. Com o passar dos dias fui lendo os depoimentos das mães que fizeram parto normal hospitalar, depois parto domiciliar e li sobre algumas cesarianas. Ali, naqueles depoimentos eu fui conhecendo algumas expressões totalmente estranhas para mim, já com mais de 33 semanas de gestação: enema, tricotomia, episiotomia, analgesia, doula, parto natural, parto natural humanizado, desnecesárea.

Li muito superficialmente as vantagens do parto normal para a mãe e para o bebê, nada muito profundo ou fisiológico, apenas o conhecido: menor risco de morte mãe/bebê, recuperação mais rápida, bebê sabendo que está nascendo, proteção ao sistema respiratório do bebê, menor risco de hemorragia pós parto, facilitação da amamentação, etc.

Soube o que era um plano de parto e resolvi falar com minha GO sobre isso: aceitaria enema, porque tinha muito medo de fazer coco quando estivesse fazendo a tal força, eu me depilaria em casa, não queria episio, pois havia lido que ela não era necessária e que era muito maior do que uma possível laceração, queria analgesia porque ainda morria de medo da dor, queria escolher a posição de nascimento, deambular, queria a presença do meu marido, não queria ocitocina sintética (eu não sabia então que com o uso da analgesia a ocitocina é quase obrigatória).

A resposta dela foi muito evasiva...disse que nós mulheres ocidentais não tínhamos o estilo de vida necessário para parir sem episiotomia e que deitada na mesa eu estaria mais segura e confortável e só me preocuparia em fazer força. Além disso, ela tinha que ajudar o bebê a nascer, e essa posição facilitava as coisas. Em nenhum momento ela me esclareceu que se eu usasse analgesia eu usaria obrigatoriamente ocitocina. Ela esperaria até 40 semanas, depois induziria o parto e se tudo corresse bem e o bebê não entrasse em sofrimento, eu teria o meu parto normal, caso contrário, cesariana.

Tudo correr bem significava um TP de no máximo 12 horas, principalmente se eu estivesse com bolsa rota. Hum...mas eu havia lido que primigestas podem ter um TP ainda mais demorado!

Aí uma luz de alerta acendeu em mim. Eu já havia lido depoimentos de parto suficientes para saber que aquelas respostas indicavam uma médica cesarista. Mas, ela era minha ginecologista há anos! E havia feito os dois partos de uma colega e trabalho (os dois com indução). Fui ficando... Na época eu ainda não conhecia os blogs maternos e não havia ninguém do meu circulo de convívio que pudesse me ajudar naquilo.

Nessa altura eu já queria parto normal, mais porque eu gostaria de facilitar a amamentação e devido à recuperação ser mais rápida. Tinha pavor de ficar de cama, sem poder cuidar da minha filha. Foi muito mais por mim mesma que eu escolhi o parto normal. Pouco me informei sobre os procedimentos com o bebê.

Visitei o hospital da Unimed, conheci a maternidade. A equipe foi apresentada como muito humanizada e a maternidade foi apresentada como amiga do parto normal. Quando perguntei na visita qual a taxa de cesarianas a enfermeira me respondeu que era de 95% a 98%. Eu fiquei mais preocupada. Como assim amiga do parto normal? Estava mais para amig da cesariana... Mas novamente, sem ter com quem torcar idéias sobre o assunto fui me deixando levar...

Cheguei na semana 38 e fui para minha consulta de rotina. Voltei a falar sobre o parto e a GO me disse que a Ísis já estava encaixada e tudo se encaminhava para o parto normal. Fiquei feliz!

Depois de me passar o encaminhamento para analgesia e mais alguns exames ela me diz que não sabe se estará na cidade, pois viajaria para a Europa por 15 dias, coincidindo com minha DPP. Meu chão desmoronou! Como assim viagem para a Europa por 15 dias? Fiquei muito brava! Ela me encaminhou para outro médico e eu saí chorando do consultório. Agora sim minhas chances de parto normal haviam ruído!

Depois de 1 dia me lamentando, chorando, maldizendo a médica, fui atrás do prejuízo e saí em busca de outro médico que pudesse acompanhar meu parto. Com 38 semanas, ninguém queria assumir, todos muito reticentes, me deixaram ainda mais insegura. Cheguei a brigar com um de tão bossal que era!

No final daquela semana consegui o telefone da médica que havia feito o parto normal de uma das minhas amigas, marquei consulta e ela me aceitou. Falamos de cara sobre o parto e ela me disse que não fazia episio de rotina - só quando necessário. Mas não abria mão da posição deitada. Mal sabia eu na época que posição deitada e episio são irmãs siamesas!

Fui para casa um pouco frustrada e depois de uma noite inteira pensando resolvi brigar pelo direito de ter um parto vaginal apenas, aceitaria as intervenções que viessem. Estava cansada daquilo tudo! Recebia pouco apoio, a maioria me dizia para fazer cesariana logo...

Com 39 semanas mais uma consulta. Tudo certo comigo e com a Ísis, que permanecia encaixada e eu estava com 2 cm de dilatação. Fiquei eufórica!

Com quase 40 semanas, mais uma consulta, 3 cm de dilatação, eu sem dores e desconfortos. A GO me disse que faria um toque um pouco mais dolorido para acelerar um pouco o trabalho de parto. Eu disse tudo bem, não sabia nada sobre isso. Senti um pouco de cólica na hora e fiquei um pouco desconfortável depois, mas nada desagradável. A GO me disse que provavelmente nos veríamos antes do final de semana!

Era uma manhã, terça feira ensolarada, dia 28 de abril de 2009.

Fomos para casa, eu e o marido, almoçamos e eu estava com um pouco de dor nas costas, então fui me deitar logo depois. Às 14:30 acordei com um "poc" e senti que a bolsa das águas havia se rompido. Estava começando! 

...

No próximo texto o meu TP e parto nu e cru e as mudanças pelas quais passei após o nacimento da Ísis, que me fazem hoje lutar por um parto natural com profissionais humanizados.

Aqui uma versão mais light daquele dia.



sexta-feira, 22 de julho de 2011

Por quê? - parte I

Google Imagens


Esse texto vai ser sobre parto, desculpem, mas esse é um assunto que está na minha mente desde que engravidei novamente e até um pouco antes, bem antes, quando estava grávida da Ísis. Se vocês não querem mais ler sobre isso, voltem daqui um tempo, tá?

Ísis está linda, bem, serelepe, falante e cheia de habils. Eu estou melhor, os enjoos estão diminuindo. Primeiro segundo filho está bem.

Pronto, agora vamos ao assunto: parto/parir/dar à luz. Para quem vai, obrigada pela visita, para quem fica, vamos refletir comigo...considerem uma sessão de terapia virtual :)

...

Desde aquela pergunta do obstetra humanizado (OH), e diante da insatisfação dele com minha resposta racional e decorada demais (quis parto normal porque era o melhor para mim e meu bebê) eu fiquei a pensar com meus botões. Eu nunca havia refletido sobre isso, de verdade, as coisas foram acontecendo na primeira gravidez.

Durante a viagem para SVP, mais de 6 horas dentro do carro, com chuva que desaguava, eu me pus a pensar sobre todo o processo durante a gravidez da Ísis. E cheguei a algumas conclusões "históricas", se posso dizer assim. Desde já peço desculpas a minha mãe, minha irmã e minha sogra, porque terei que citá-las aqui, bem como suas histórias de parto, que me ajudaram a contruir o meu primeiro parto.

Primeiro é importante dizer que minha mãe é Rh negativo e havia sofrido uma transfusão de sangue errônia quando mais nova, desencadeando os tais anticorpos anti-Rh. Meu pai era Rh positivo e a mais de 30 anos atrás ela teve que ser internada em Porto Alegre, longe de sua cidade, de sua família, com 8 meses de gestação (mãe, me corrija se eu falar algo errado, por favor) para acompanhamento e exames, pois se eu fosse Rh positivo...poderia haver problemas sérios. Mas eu nasci com RH negativo.

Então a minha jovem mãe ficou mais de um mês internada num hospital, sendo constantemente examinada, remexida, num ambiente totalmente não acolhedor, com o temor de que algo pudesse acontecer comigo. Segundo ela, eu não nascia...já havia passado da hora e eu ainda estava lá, quietinha dentro do ventre (imagino que já havia passado da semana 40).

Ela deve ter iniciado o trabalho de parto com algumas contrações, que estacionaram em 2 dedos de dilatação. Sobe, desce escada, anda e...nada. O trabalho de parto não evoluía e os médicos salvadores de plantão indicaram o uso da ocitocina, afinal, eu já estava atrasada! Quem já leu sobre TP sabe que as contrações da ocitocina são completamente diferentes das contrações do corpo, dóem mais e vem com mais força, cansando (e apavorando, imagino) a parturiente. E hoje sabemos que TP tem uma fase latente (que provavelmemnte era a fase em que minha mãe estava), e que...pode demorar várias horas.

Depois de horas em TP, dilatação completa, minha mãe, provavelmente deitada de costas numa cama e as pernas erguidas (a pior posição para nascimento) cansada não tinha mais forças para a expulsão. Resultado: episiotomia e fórceps de alívio. E eu nasci! Vivaaa! Ao que parece, também exausta do longo TP, pois não quis nem mamar.

Naquela época (!) os bebês eram separados da mãe após o nascimento, ficavam nos berçários e com certeza eram alimentados com água glicosada e/ou fórmula, o que dificultou muito o processo de amamentação. Não me lembro, mas não devo ter mamado nem 1 mês.

Ao falar sobre o meu nascimento, sobre o parto que ela, minha jovem mãe tivera lá nos idos de 1979, era perceptível que a experiência havia sido traumática para ela (com toda a razão, se fosse eu a passar por tudo isso também ficaria traumatizada!). Isso, esse trauma, ficou registrado em mim.

Minha mãe engravidou mais duas vezes: um parto normal hospitalar, creio que nos mesmos moldes do meu, apenas sem o uso de fórceps, e o último de cesariana eletiva, apenas esperando o início de TP. E na cesariana minha mãe se encontrou (né, mãe??).

E eis que o tempo passa e minha irmã engravida e chega a época provável do parto (40 semanas) e...meu sobrinho não dá indícios de querer nascer. Mesma história familiar se repetindo. Mas desta vez minha irmã não precisaria passar por TP induzido e doloroso, ela podia marcar uma cesariana! E assim foi feito!

Após o nascimento do meu sobrinho, como curiosa, perguntei a ela e então, como é? como foi?

E a resposta dela foi: não foi legal, amarrada, sozinha (o médico não permitiu um acompanhante alegando risco de contaminação, vejam só!), mal havia visto o filho após o nascimento. Mal estares na volta da anestesia e...os pontos. Que dóem! Eu me lembro dela após o parto: andava curvada, não conseguia ficar com o filho, cuidar dele, amamentar doía, tudo doía. Ficava na cama.

E eu fiquei com essas duas realidades na minha cabeça por um bom tempo. Nenhuma delas me agradava, mas eu não pretendia ter filhos tão cedo, não precisava pensar nisso!

Mas eis que o tempo passa novamente e eu me vejo grávida no ano seguinte. Quando os mal estares do primeiro trimestre finalmente passaram e eu passei a viver novamente, o parto passou a rondar minha cabeça. E eu me lembrava dos meus pensamentos de antes, muito antes de estar grávida e da experiência de ter estagiado e trabalhado em hospitais.

O sempre recomendado parto normal era um pouco cruel. Os profissionais eram mal preparados para esse momento, o médico tomava conta do espaço, a parturiente ficava desamparada, por vezes sendo constantemente constrangida pela equipe. Não pode gritar, tem que ficar deitada, para fazer não doeu, o de sempre! E, claro as intervenções e a posição ingrata na hora do nascimento! Não era bom.

A cesariana surge como um alento e como mais um bem de consumo para a classe média, que podia pagar a cirurgia ou possuía um plano de saúde. Nada de gritaria, nada de humilhações. Você e a equipe médica. Ah, e um acompanhante, porque agora pode! Nada de horas intermináveis sofrendo. Agora você não sentia nada, com a bênção da anestesia, e o nascimento aconteceria em 1 hora.

Eu me lembro dos papos que batia com algumas amigas: cesariana, claro! Não quero sofrer para o meu filho nascer!

Então, a cesariana eletiva rondou minha mente por um bom pedaço de tempo, mas quando perguntada eu dizia que iria tentar o parto normal, claro...sem aquela convicção, sabe?

A GO não falava no assunto. Muito cedo para pensar no parto, ela dizia, e eu confiava, fui ensinada a confiar nos médicos, mas minha experiência nos hospitais havia me valido de alguma coisa e eu ficava com uma pulga atrás da orelha, então ia perguntando aqui e ali.

Um dia perguntei para uma amiga que havia tido um parto normal da primeira filha e uma cesariana do segundo, porque ela queria aproveitar a cirurgia para ligar as trompas: o que você preferiu? A resposta veio rápida: o parto normal sem dúvidas! Eu choquei na hora. Estava esperando outra resposta! E ali a sementinha da dúvida cresceu.

Depois veio a minha sogra com cinco partos normais, todos descritos com tranquilidade. E...ela estava ali, viva, bem, não havia morrido, né? Então...

Quem terminou de plantar a sementinha foi a minha cabeleireira e amiga I. Ela havia me falado sobre o parto de uma forma tão bonita, tão emocionada que eu balancei. Eu queria isso para mim, eu queria esse sentimento. Como conseguir? Por que ela tinha essa lembrança tão linda do nascimento do filho e tinha achado lindo seu parto normal? Como assim?

E aí eu questionei outra conhecida: mesma coisa. Parto normal, lindo, maravilhoso, sem traumas. E outra ainda: parto normal, me falou um pouco das vantagens, da maravilha que era a analgesia e que eu não tivesse medo, que o parto normal era legal e era melhor!

Foi então que eu resolvi, já com 33 semanas de gestação, me informar sobre o parto normal, que até então, por ser normal, era um total desconhecido para mim.

...

Paro por aqui. Essa é minha relação histórica com o parto. No próximo texto as minhas buscas, as minhas descobertas, as minhas decepções, o meu abandono pela minha GO com 38 semanas de gestação. 

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Frases



Imagem da internet

"Você é uma mulher que tinha 95% de chances de fazer uma cesariana, eletiva ou não. Como você saiu dessa situação e passou a fazer parte da minoria?"

"Você teve um parto ou fez cesariana?"

"Somos mais ou menos 15 profissionais no Brasil engajados na luta pela humanização do parto. Ter dois deles no Rio Grande do Sul é uma maravilha!"

"Eu posso garantir que você vai ter suas vontades respeitadas durante o trabalho de parto, mesmo que ele seja hospitalar, pois o Hospital já sabe que quando a parturiente está conosco não acontecerão procedimentos desnecessários. Mas eu não posso garantir o mesmo para o seu bebê. No Brasil todo são apenas 5 pediatras humanizados, e nenhum deles atende no Rio Grande do Sul."

"Não faz parte da minha rotina solicitar transnucência nucal, salvo se a paciente fizer questão. Por quê? Porque caso o exame da transnucência indique alguma anormalidade nós só poderíamos confirmar o diagnóstico com uma amniocentese, que só pode ser feita após 15 semanas de gestação. A chance de você ter um exame positivo para trissomia do 21 é infinitamente menor do que a chance de você perder a gravidez com uma amniocentese, que é de 1/200. E prá quê? Se o filho que você está esperando tiver a trissomia do 21 não há nada que você possa fazer. Abortar? Nenhum aborteiro de POA tira um bebê com mais de 12 semanas."

"Eu recebo pacientes de várias cidades do RS que precisam se deslocar, muitas vezes em trabalho de parto por horas dentro de um carro, porque essas mulheres não conseguiriam ter um parto normal em suas cidades. Isso é um absurdo! Teve uma família que se deslocou de Santa Maria num dia chuvoso, com a esposa em trabalho de parto. Eles me ligaram transtornados porque não conseguiriam um parto normal por lá. Quando eles chegaram ao hospital a equipe já estava à postos e o bebê nasceu poucos minutos depois, naturalmente como eles queriam. Isso não deveria acontecer."

"Uma paciente minha veio de Lageado com o marido e o filho de 2 anos no banco de traz. Quando ela chegou estava visivelmente cansada, com dois olhos arregalados. Ela veio se controlando durante 5 horas para não assustar o marido, que estava dirigindo, e o filho pequeno. Só deu tempo de levá-la para o quarto, apagar as luzes e o bebê nasceu. Eu fiquei até sem jeito de cobrar pelo parto, que seria particular, mas a família estava tão agradecida, eles me disseram que tinha valido a pena, pois tudo que eles queriam era alguém que fizesse o parto normal."

"Então você deseja um parto domiciliar sem ter um domicílio em Porto Alegre?"

"Mesmo que o parto extra hospitalar não seja possível, eu posso te garantir que você terá uma experiência muito diferente da do primeiro parto em Joinville."

"A episio não é necessária, o problema é que a mulher fica deitada numa maca, com as pernas para cima, sem apoio, sem força para expulsar o bebê. Numa posição mais verticalizada são raras as lacerações, e quando acontece, na maioria das vezes são superficiais, nem levam pontos."

"Menos de 10% das parturientes em parto domiciliar precisam ser transferidas ao hospital."

"Em 22 anos de obstetrícia eu precisei fazer poucas cesarianas de emergência após início do trabalho de parto."

"No seu primeiro parto a cabeça da sua filha estava acinclítica. A obstetra não fez grande coisa ao corrigir isso, isso não é grave, é até comum, mas eu entendo que você fique agradecida por ela não ter te encaminhado para uma cesariana de emergência, como o médico da sua amiga."

"Essas histórias são revoltantes. Você estava lá na sala de parto para cesariana, mesmo estando num parto normal, fazendo força, com uma mulher montada sobre sua barriga (manobra de Kristeller), uma baita episio, gente gritando e um obstetra pedindo para acelerar o parto que ele tinha uma cesariana para fazer."

"Seu sangue é O negativo? É mais um complicador para o parto extra hospitalar, pois se o seu bebê tiver Rh positivo você precisa receber a vacina em até 72 horas após o parto e essa vacina só existe nos hospitais. É raro as clínicas de vacina terem ali para vender. Se for mesmo um parto extra hospitalar, nós teremos que conseguir essa vacina de alguma maneira."

"Tá, você me explicou de maneira racional o que te fez sair de uma cesariana eletiva no começo da gravidez para um parto normal, mas eu não acredito que seja só isso. Você tem menos de 10% de chance de ter um parto normal no Brasil, natural então é menos ainda. Se eu te encontrasse com um bebê no colo eu apostaria que você fez uma cesariana. Por quê? Porque você é da classe média, tem formação, acesso a plano de saúde. Você não tem histórico de partos naturais na família, suas amigas ganharam os filhos em cesarianas eletivas ou na maioria desnecessárias...por isso eu te pergunto: o que te motivou a primeiro escolher o parto normal e agora um parto natural, ainda mais extra hospitalar?"

Essa foi a pergunta que ficou na minha cabeça desde a consulta. Como eu, nascida de um parto frank hospitalar com todas as intervenções, de fórceps, que me quebrou a clavícula no nascimento, ouvindo minha mãe contar de forma traumatizada sobre seus partos normais e bendizer a cesariana do nascimento da minha irmã mais nova, cujas amigas e conhecidas marcam as cesarianas às segundas feiras pela manhã para que o marido possa gozar de 5 dias úteis de licença paternidade, escolhi e lutei por um parto normal na primeira gravidez e agora luto por um parto natural humanizado?

Essas frases foram ditas durante as duas consultas com os dois profissionais humanizados do RS e com a doula que eu escolhi para acompanhar meu parto. Ambas as consultas foram pela UNIMED, duraram uma hora. A doula não cobrou a hora que ficamos conversando. Os partos hospitalares serão cobertos pelo convênio. Se for extra hospitalar (não domiciliar, porque eu ainda não tenho um domicílio em POA) eu pagarei pela equipe (obstetra, parteira e doula).

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Saudades e brincadeiras

Uma noite dessas eu acordei por volta das 04:00h e não consegui mais dormir. Motivo: eu estava com saudades suas. Parece brincadeira, mas a verdade é que já não passamos mais tanto tempo juntas como antes e todos os meus mal estares desse início de gravidez fazem com que eu desmaie de tanto cansaço antes das 20:00h: eu não brinco mais com você, eu não leio mais historinhas antes de dormir, eu não te levo para o bercinho. Essas, agora, são atividades exclusivas do papai.

E essa saudade me apertou de tal jeito que eu me levantei e fui até seu quarto para te ver dormir. Eu adoro te ver dormir, pois me faz lembrar dos seus primeiros dias de vida, principalmente a primeira noite no hospital, quando eu simplesmente não consegui colocar você no bercinho ao lado da minha cama. Parecia que aquele lugar era frio e inóspito demais e eu me reclinei na cama e adormeci com você nos meus braços. Antes de adormecer completamente eu me lembro de ficar te admirando: os olhinhos puxados herdados do seu pai, o nariz batatinha mais lindo que eu já vi, as bochechas fofas e rosadas e a boca, tão formadinha, parecia um coração. E sempre que você adormece você volta a parecer aquele bebê recém nascido.

Eu aguentei uns 5 minutos ao lado do seu berço antes de ter que sair correndo dele, completamente enjoada. Ao me deitar, eu chorei filha. É que eu sou noltálgica, fazer o quê. Aos poucos vai me caindo a ficha de que nossas vidas, como vividas nesses últimos dois anos, não será mais a mesma. Vamos mudar ao receber outro membro de nossa família. E eu tenho que te confessar que sou péssima com mudanças, pois apesar de desejá-las, elas sempre me deixam saudosa do tempo que foi, ainda mais quando esse tempo foi tão bom!

...

Nós (eu e seu pai) não somos muito de pedir as coisas falando "por favor". Não sei, acho que a intimidade nos faz ficar na informalidade de um pedido feito com carinho, mas sem a famosa palavrinha mágica.

Mas pensando que você precisa aprender a pedir as coisas assim, afinal faz parte do guia da boa educação para crianças, começamos a te ensinar a dizer o "por favor" quando você nos pede alguma coisa, mas sem pressão, sem estresse. Se você quer dizer, diz, se não quer não diz.

Uma manhã dessas você acorda antes de nós sairmos para trabalhar e me chama assim assim:

Mamãe! Mamãe! Faz tetinho pui favoi!

Há! Garota esperta!

...

Eu nunca gostei muito da sessão de brinquedos para meninas. Acho tudo um saco de tão rosa/lilás. Como se não bastasse isso, parece que todos os brinquedos das meninas são voltados para serviços domésticos, é um festival de máquina de lavar louça, roupa, ferro de passar, pia e fogão que me dava um nervoso só de ver. Tudo rosa e lilás ainda por cima.

Quando não são os utensílios domésticos, são aqueles bebês que choram, fazem xixi e coco, pedem mamadeira e chupeta e tantas outras coisas que me cansava só de imaginar você numa atividade dessas. Não, você ainda terá muito tempo para aprender sobre isso, e apesar de saber e reconhecer a importância de brincar de bonecas, não acho que essas bonecas tenham que ser uma cópia de um bebê de verdade, que você saberá um dia, dá um trabalho danado! Por essas e outras nunca te dei um bebê de presente.

E, claro, ainda temos os brinquedos sessão belezinha: cosméticos, secadores de cabelo, chapinhas (!), bobs...não, nunca dei isso também.

Eu me lembro de que quando estava grávida e já sabendo que você seria menina, eu passei a me revoltar ainda mais com essas sessões de brinquedos. Por quê, eu me perguntava, os brinquedos dos meninos eram apenas para brincar (carrinhos, pistinhas de corrida, dinossauros, jogos, bolas) e a sessão das meninas sempre relacionada à trabalho ou à vaidade?

Eu acredito que os brinquedos hoje em dia tenham que ser unissex, afinal, as mulheres e homens do amanhã devem crescer sabendo que não existem serviços apenas para homens e outros apenas para mulheres.

E tudo, tudo isso só para justificar que eu comprei um joguinho de chá para você este final de semana e você amou! Passou longos minutos fazendo pizza, bolinho e dando chá e café, além de tetinhos mil para  a Panterinha, o gato rosa mimoso, a Upa e a Rosinha.

Mas que fique bem claro: se você fosse um menino e demonstrasse gostar de brincar de comidinha, eu daria um jogo de chá também, assim como tenho na minha lista de presentinhos um jogo de ferramentas para você, que adora arrumar e consertar as coisas!

E que venha o futuro!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Maternidade pós blog

As vezes eu fico pensando e me perguntando que tipo de mãe eu seria se não tivesse o blog.

Criado no início apenas para registrar pequenos momentos, pensamentos meus, palavras minhas para a Ísis. Depois virou meio de informação sobre tantos assuntos sobre os quais nunca tinha ouvido falar. Mais recentemente como meio de troca dessas mesmas informações e experiências sobre a maternidade e toda a complexa simplicidade que a envolve.

Através de outras mães eu descobri e me identifiquei com tantas formas de pensar. Discordei de muitas, como ainda faço até hoje, mas sem embates, sempre com o pensamento de que na verdade cada família é uma família e por melhor que eu considere a maneira que eu escolhi para maternar, não posso impor esta mesma maneira a outras pessoas, pois a minha maneira não é a melhor para elas. Também eu não sou influenciada a agir diferentemente do que acredito e posso em cada momento.

De tudo, o que mais me motiva é a sensação de pertencer. Na vida real não posso falar e ouvir sobre esses assuntos com as pessoas reais com as quais eu convivo. Apesar de conversar sobre maternidade com amigos e familiares, o mundo real é tão, mas tão diferente do virtual, que por vezes cansa. Aqui aprofundamos conhecimento, debatemos teorias, as colocamos em prática, informamos nossos resultados, rejeitamos o lugar comum sem causas reais.

Eu lembro de mim quando a Ísis nasceu. Eu nunca me senti tão só na vida. Eu não conseguia explicar a ninguém o que eu estava sentindo. Eu não era mais a mesma de sempre e ao mesmo tempo eu não conseguia me espelhar nas pessoas próximas a mim. Eu me senti só numa ilha, com um bebê recém nascido nos braços e um turbilhão de sentimentos desconhecidos.

Eu me lembro que cheguei a pensar que estava em depressão. Mas recusei a idéia. Eu não me sentia deprimida, eu apenas não conseguia me encontrar mais. Eu estava pendurada num precipício, cansada, e não tinha ninguém para me dar a mão e me ajudar a subir.

No mundo dos blogs eu encontrei essas mãos. A cada texto lido eu passei a me sentir parte de um grupo e com este grupo de pessoas que eu nunca vi pessoalmente, com muitas inclusive nem troco idéias, eu me senti pertencendo novamente.

Eu não estou mais cansada, pendurada, prestes a desabar. Agora eu piso terra firme, eu ando vigorosamente pela estrada.

A todas essas famílias que se expõem na internet e que expõem nos blogs suas experiência reais, seus anseios, suas dúvidas, suas soluções, o meu agradecimento sincero.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Cheia de habils!

Obrigada a todos que passaram por aqui nesses dias em que estive fora. É muito bom receber carinho e dicas sempre! Aos poucos vou retomando as visitas e me atualizando de tudo.

Márcia! Fiquei muito feliz em saber que a família de vocês aumentou! Você não deixou email, se puder me manda, tá?

Esses dias de introspecção trouxeram algumas descobertas maravilhosas do desenvolvimento da minha filha primogênita (céus!).

Você descobriu o encontro consonantal "br" e "pr", e fala de maneira muito engraçada: sombra é sombara, abri é abiri, prato é parato e açúcar, que não tem nada a ver com isso, mas só para rimar, é açucara!

...

E você está adentrando o seu próprio mundo criativo, já fica uns bons minutos brincando e falando sozinha ou com seus bonecos. Inventa falas para a Panterinha, a Rosinha e a Upa, e quando sai do berço pela manhã se despede da mergulhadora, da baleia, do siri, dos peixinhos e do cavalo marinho. Acho uma graça!

Também fico obervando que você repete com seus bonecos as nossas conversas com você e os nossos cuidados também. É muito bonitinho!

Mas não são só os bonecos que ganham vida e falas. Parece que você herdou a vocação da tia Mari de dar nomes e personalidade a objetos. Dia desses você pegou uma bisnaga de patê e ficou longos minutos conversando e dando comidinha para ela, tirou a roupa (etiqueta) e disse que ela estava pilada, depois disse que ela estava com frio e colocou a etiqueta novamente. E ainda fingiu que era uma flauta! Eu e o seu pai ficamos só observando e entrando na sua historinha.

...

Agora quando você nos pede alguma coisa e a gente te dá além de agradecer, você ainda acrescenta oblrigada por ter feito! Não é uma fofura? Morri da primeira vez que ouvi.

Neste final de semana eu comprei uma joguinho de chá para você brincar. Depois que abrimos a caixa e você brincou um pouquinho, veio em minha direção e disse oblrigada por ter feito brinquedinhos e me deu um beijo! Assim, espontaneamente. Fofa demais da conta!

...

Na semana em que fiquei em casa de repouso você ficou chateada uns 3 dias comigo porque queria brincar como sempre fizemos e a mamãe não conseguia levantar e ficar conversando, dançando, pulando. E você ficava chateada e chorava, chorava. Depois passou a entender que a mamãe só poderia brincar paradinha e aí passou a ficar ao meu lado no sofá, com seus brinquedos ou assistindo DVDs. A energia você guardava para o seu pai, quando ele chegava do trabalho! Aí parecia que queria tirar o atraso do dia e saía a brincar com ele de pular, dançar, esconder...Foi bom perceber que você já é capaz de compreender essas situações.

...

Quando eu era criança eu me divertia muito brincando com minhas mãos! Ficava horas brincando com elas como se fossem bonecos. Ontem enquanto você estava deitada ao meu lado tomando suco você começou a brincar com suas mãos! Tive que me conter para não te esmagar, mas consegui e fiquei uns bons minutos te vendo descobrir as formas que a sua mãozinha de lontra consegue fazer e como isso pode ser divertido.

...

Seu entendimento sobre o irmãozinho está melhorando. Dia desses eu estava trocando sua fralda e você começou a balançar as pernas, me chutando de leve na barriga. Eu te expliquei que não podia fazer assim, porque machucava a mamãe e que agora a mamãe estava com um neném dentro da barriga, que ele também ficaria machucado. Na mesma hora você parou e disse o irmãozinho da Ísis e começou a fazer carinho com os pés.

...

E você também passou a inventar suas próprias musiquinhas! Você canta coisas que vai fazer ou está fazendo e me fez lembrar de mim mesma quando você nasceu! Tudo que eu fazia eu cantava numas musiquinhas muito ordinárias! Mas que te acalmavam e me ajudavam a não me sentir tão só, afinal quem canta seus males espanta!
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