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Esse texto vai ser sobre parto, desculpem, mas esse é um assunto que está na minha mente desde que engravidei novamente e até um pouco antes, bem antes, quando estava grávida da Ísis. Se vocês não querem mais ler sobre isso, voltem daqui um tempo, tá?
Ísis está linda, bem, serelepe, falante e cheia de habils. Eu estou melhor, os enjoos estão diminuindo. Primeiro segundo filho está bem.
Pronto, agora vamos ao assunto: parto/parir/dar à luz. Para quem vai, obrigada pela visita, para quem fica, vamos refletir comigo...considerem uma sessão de terapia virtual :)
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Desde aquela pergunta do obstetra humanizado (OH), e diante da insatisfação dele com minha resposta racional e decorada demais (quis parto normal porque era o melhor para mim e meu bebê) eu fiquei a pensar com meus botões. Eu nunca havia refletido sobre isso, de verdade, as coisas foram acontecendo na primeira gravidez.
Durante a viagem para SVP, mais de 6 horas dentro do carro, com chuva que desaguava, eu me pus a pensar sobre todo o processo durante a gravidez da Ísis. E cheguei a algumas conclusões "históricas", se posso dizer assim. Desde já peço desculpas a minha mãe, minha irmã e minha sogra, porque terei que citá-las aqui, bem como suas histórias de parto, que me ajudaram a contruir o meu primeiro parto.
Primeiro é importante dizer que minha mãe é Rh negativo e havia sofrido uma transfusão de sangue errônia quando mais nova, desencadeando os tais anticorpos anti-Rh. Meu pai era Rh positivo e a mais de 30 anos atrás ela teve que ser internada em Porto Alegre, longe de sua cidade, de sua família, com 8 meses de gestação (mãe, me corrija se eu falar algo errado, por favor) para acompanhamento e exames, pois se eu fosse Rh positivo...poderia haver problemas sérios. Mas eu nasci com RH negativo.
Então a minha jovem mãe ficou mais de um mês internada num hospital, sendo constantemente examinada, remexida, num ambiente totalmente não acolhedor, com o temor de que algo pudesse acontecer comigo. Segundo ela, eu não nascia...já havia passado da hora e eu ainda estava lá, quietinha dentro do ventre (imagino que já havia passado da semana 40).
Ela deve ter iniciado o trabalho de parto com algumas contrações, que estacionaram em 2 dedos de dilatação. Sobe, desce escada, anda e...nada. O trabalho de parto não evoluía e os médicos salvadores de plantão indicaram o uso da ocitocina, afinal, eu já estava atrasada! Quem já leu sobre TP sabe que as contrações da ocitocina são completamente diferentes das contrações do corpo, dóem mais e vem com mais força, cansando (e apavorando, imagino) a parturiente. E hoje sabemos que TP tem uma fase latente (que provavelmemnte era a fase em que minha mãe estava), e que...pode demorar várias horas.
Depois de horas em TP, dilatação completa, minha mãe, provavelmente deitada de costas numa cama e as pernas erguidas (a pior posição para nascimento) cansada não tinha mais forças para a expulsão. Resultado: episiotomia e fórceps de alívio. E eu nasci! Vivaaa! Ao que parece, também exausta do longo TP, pois não quis nem mamar.
Naquela época (!) os bebês eram separados da mãe após o nascimento, ficavam nos berçários e com certeza eram alimentados com água glicosada e/ou fórmula, o que dificultou muito o processo de amamentação. Não me lembro, mas não devo ter mamado nem 1 mês.
Ao falar sobre o meu nascimento, sobre o parto que ela, minha jovem mãe tivera lá nos idos de 1979, era perceptível que a experiência havia sido traumática para ela (com toda a razão, se fosse eu a passar por tudo isso também ficaria traumatizada!). Isso, esse trauma, ficou registrado em mim.
Minha mãe engravidou mais duas vezes: um parto normal hospitalar, creio que nos mesmos moldes do meu, apenas sem o uso de fórceps, e o último de cesariana eletiva, apenas esperando o início de TP. E na cesariana minha mãe se encontrou (né, mãe??).
E eis que o tempo passa e minha irmã engravida e chega a época provável do parto (40 semanas) e...meu sobrinho não dá indícios de querer nascer. Mesma história familiar se repetindo. Mas desta vez minha irmã não precisaria passar por TP induzido e doloroso, ela podia marcar uma cesariana! E assim foi feito!
Após o nascimento do meu sobrinho, como curiosa, perguntei a ela e então, como é? como foi?
E a resposta dela foi: não foi legal, amarrada, sozinha (o médico não permitiu um acompanhante alegando risco de contaminação, vejam só!), mal havia visto o filho após o nascimento. Mal estares na volta da anestesia e...os pontos. Que dóem! Eu me lembro dela após o parto: andava curvada, não conseguia ficar com o filho, cuidar dele, amamentar doía, tudo doía. Ficava na cama.
E eu fiquei com essas duas realidades na minha cabeça por um bom tempo. Nenhuma delas me agradava, mas eu não pretendia ter filhos tão cedo, não precisava pensar nisso!
Mas eis que o tempo passa novamente e eu me vejo grávida no ano seguinte. Quando os mal estares do primeiro trimestre finalmente passaram e eu passei a viver novamente, o parto passou a rondar minha cabeça. E eu me lembrava dos meus pensamentos de antes, muito antes de estar grávida e da experiência de ter estagiado e trabalhado em hospitais.
O sempre recomendado parto normal era um pouco cruel. Os profissionais eram mal preparados para esse momento, o médico tomava conta do espaço, a parturiente ficava desamparada, por vezes sendo constantemente constrangida pela equipe. Não pode gritar, tem que ficar deitada, para fazer não doeu, o de sempre! E, claro as intervenções e a posição ingrata na hora do nascimento! Não era bom.
A cesariana surge como um alento e como mais um bem de consumo para a classe média, que podia pagar a cirurgia ou possuía um plano de saúde. Nada de gritaria, nada de humilhações. Você e a equipe médica. Ah, e um acompanhante, porque agora pode! Nada de horas intermináveis sofrendo. Agora você não sentia nada, com a bênção da anestesia, e o nascimento aconteceria em 1 hora.
Eu me lembro dos papos que batia com algumas amigas: cesariana, claro! Não quero sofrer para o meu filho nascer!
Então, a cesariana eletiva rondou minha mente por um bom pedaço de tempo, mas quando perguntada eu dizia que iria tentar o parto normal, claro...sem aquela convicção, sabe?
A GO não falava no assunto. Muito cedo para pensar no parto, ela dizia, e eu confiava, fui ensinada a confiar nos médicos, mas minha experiência nos hospitais havia me valido de alguma coisa e eu ficava com uma pulga atrás da orelha, então ia perguntando aqui e ali.
Um dia perguntei para uma amiga que havia tido um parto normal da primeira filha e uma cesariana do segundo, porque ela queria aproveitar a cirurgia para ligar as trompas: o que você preferiu? A resposta veio rápida: o parto normal sem dúvidas! Eu choquei na hora. Estava esperando outra resposta! E ali a sementinha da dúvida cresceu.
Depois veio a minha sogra com cinco partos normais, todos descritos com tranquilidade. E...ela estava ali, viva, bem, não havia morrido, né? Então...
Quem terminou de plantar a sementinha foi a minha cabeleireira e amiga I. Ela havia me falado sobre o parto de uma forma tão bonita, tão emocionada que eu balancei. Eu queria isso para mim, eu queria esse sentimento. Como conseguir? Por que ela tinha essa lembrança tão linda do nascimento do filho e tinha achado lindo seu parto normal? Como assim?
E aí eu questionei outra conhecida: mesma coisa. Parto normal, lindo, maravilhoso, sem traumas. E outra ainda: parto normal, me falou um pouco das vantagens, da maravilha que era a analgesia e que eu não tivesse medo, que o parto normal era legal e era melhor!
Foi então que eu resolvi, já com 33 semanas de gestação, me informar sobre o parto normal, que até então, por ser normal, era um total desconhecido para mim.
...
Paro por aqui. Essa é minha relação histórica com o parto. No próximo texto as minhas buscas, as minhas descobertas, as minhas decepções, o meu abandono pela minha GO com 38 semanas de gestação.
São as nossas histórias e experiências, nossos exemplos de vida, que fazem sermos quem somos e norteiam nossas escolhas. Foi você mesma que escreveu isso hoje para mim.
ResponderExcluirVocê está olhando para dentro de si, para então desabrochar, processo arrebatador nesse caminho de escolha pelo parto.
E quer saber, tenho certeza que você terá uma experiência arrebatadora de parto.
Beijos!
Nine querida!
ResponderExcluirSaudades suas!
A escolha do parto é tão importante como a escolha do nome, e os médicos não dão muito valor!
Eu sempre quis ter parto normal, por acreditar ser o melhor para mim e para o Antonio,mas o médico nunca quis conversar sobre nenhum tipo de parto, e dizia que era cedo!Cheguei as 40 semanas, e não conversamos sobre a cesárea,bolsa rota, sem dilatação, 2 circulares de cordão no pescoço do guri, e aí ele quer fazer uma cesária!E eu confiei, neh,mesmo sem saber o que aconteceria, confesso que traumatizei, e tive uma deprê pós parto, e relaciono com o parto tb!
Enfim, sobrevivi, estou aqui firme e forte!
Queres saber se pretendo ter mais filhos?Com certeza, e qual parto?
Parto normal com certeza, e lutarei por esse direito com tdas as forças!
Beijos amiga
Dani, obrigada, de coração! Realmente, estou num processo de busca, de re-descobrimento e torço para que sim, que eu tenha uma experiência transformadora; mais uma das tantas que a maternidade já me proporcionou! Beijos!
ResponderExcluirOi Angi! Sim, também vejo como vc, a escolha do parto é muito importante e realmente os médicos tradicionais não falam muito a respeito. Nós, as grávidas também não buscamos muito informação, pois estamos sempre mais ocuoadas com outras coisas. Hj me arrependo de não ter buscado essas informações mais cedo, mas olho para frente, sempre! Beijos!
Nine super bom dia !!! meu assunto preferido desde que engravidei eram os partos (as doulas que conheci brincavam que eu poderia fazer sozinha o meu parto) .... e eis que contrariando a quase todos (menos o maridão que foi exemplar neste assunto) a minha piquena veio ao mundo quase exatamente da maneira que sempre sonhei .... e hoje 1 ano depois do ocorrido e eu continuo amando este assunto ....
ResponderExcluirestou feliz por vc e desejo que sua mãe não esteja aflita com a sua decisão ....
bom eu li tanto sobre o assunto que depois de uma imensa reviravolta (briga com a GO, estreptococus, e um bebe que decidiu que não queria sair da barriga da mamãe, muita piadinha sobre o bebe nascer com dentes) eis que paguei pelo meu tão sonhado parto normal (médico totalmente a favor de cesarea) não conseguiu e nem tentou me enrolar, ficou facinado pela minha busca do parto normal mesmo nos dias de hoje e fez o melhor parto normal que eu poderia ter .... rapido, sem dor (ta bom teve dor), magico e do jeitinho que eu mereci .... no mesmo dia tomei um banho esperto, e no outro ja estava em casa andando de um lado para o outro e ai sim SEM DOR !!!!
Beijosss e uma mordidinha na Isis !!!
Obrigada Simone! Na primeira vez lutei bastante para garantir um mínimo, vamos ver agora que minhas exigências são bem maiores! Beijos!
ResponderExcluirOi Nine! Vi que vc tinha postado essa série sobre parto, mas só agora estou conseguindo ler. Vou ler todos, mas já quero comentar esse!
ResponderExcluirQue bom que vc se informou e conversou com outras pessoas antes do parto. Mesmo tendo mudado de médica no final, a pulga atrás da orelha te ajudou a não aceitar o que antes de parecia "mais fácil".
Minha mãe fez 3 PNs e uma cesárea (que foi justo na minha vez). Na quarta filha ela já estava com 40 anos e eu sentada. Naquela época, era a opção mais recomendada. E eu me lembro exatamente da fisionomia dela quando entrei em trabalho de parto e o médico falou da cesárea (Bento estava transverso). Ficou visivelmente chateada, falou um monte da recuperação da cesárea (que era o que ela conhecia, a recuperação de anos atrás, com semanas de resguardo e tal). Minha recuperação foi boa, mas eu lembro nitidamente da solidão que senti na sala de cirurgia esperando para subir para o quarto. Ainda bem que, ao menos, Bento não ficou no berçário, só foi para a observação inicial por ter nascido de 36 semanas.
Ufa, vou ler as outras partes!
bjos
Sarah
http://maedobento.blogspot.com/
Oi Sarah! É isso mesmo, a cesariana não é vilã, de maneira nenhuma, ela está aí para ser usada com sabedoria naqueles casos em que um PN seria mais arriscado para mãe/bebê. Beijos!
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