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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O Pedro pode, mamãe?

Imagem: arquivo pessoal

Essa tem sido a pergunta da vez em diversos momentos. Em outros tantos ela me diz que o Pedro não pode isso ou aquilo porque meninos não podem. 

Alerta ligado. De onde vem isso? De mim e do pai é que não, ainda, mas ela pode ouvir de nossas funcionárias e na escola. 

Ela acha que rosa é cor de meninas (por quê será?) e se recusa veementemente a usar um casaco de tricô laranja, bege e marrom porque ela disse que é de menino! 

Ô mundinho besta esse! É muito fácil o mundo lá fora desconstruir em segundos o que você levou pouco mais de 3 anos para construir. Mas eu sigo firme porque sei que na vida adulta será o que ela vivenciou na própria família o que ela levará como exemplo de vida. Bom ou ruim.

...

Mas também temos aqueles dias em que a pergunta é assim, desprovida de julgamento de gênero, mas eu não compreendo, o que me leva sempre a pensar e repensar que as crianças são tão mais simples, tão mais puras, tão mais encantadas!

- Mamãe, o Pedro pode usar? ela me pergunta apontando para o seu boné todo trabalhado nas flores rosa e lilás. Eu não perco a chance e respondo que, sim, o Pedro pode usar, já me achando a revolucionária por dizer que o meu filho macho sangue bom pode usar boné de flores rosa e lilás!

Ela me olha e coloca o boné na cabeça do irmão. Fica enorme, ele fica agoniado com aquilo, eu tiro. Ela retruca:

- Mas mamãe, você disse que o Pedro podia usar!  

Ah, tá...a pergunta dela não estava inoculada de conceitos machistas, sexistas, do pode não pode dos gêneros. Ela só queria saber se o Pedro podia usar aquele boné, ponto; não aquele boné rosa e lilás que a sociedade ensina que foi feito para meninas!


Menos, Janine, menos... :)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Sou masculino e feminino?

Imagem: arquivo pessoal


O que é ser mulher?
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O que é feminino?
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O que é da fêmea humana, mamífera, ser natural e pertencente à biosfera?
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...

O que é ser homem?
.
.
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O que é masculino?
.
.
.
O que é do macho humano, mamífero, ser natural e pertencente à biosfera?

...

Minha cabeça está dando voltas e mais voltas. Ao ter filhos de sexos diferentes eu pensei que meu maior desafio seria não cair na armadilha do machismo social e da falocracia; mas o desafio é bem maior que esse. Passar valores, ajudar na definição de conceitos, valorizar o masculino e o feminino em meus filhos parece ser uma tarefa hercúlea.

Vencer minha própria hiprocrisia. Libertar meu espírito das convenções. Dialogar e exemplificar.

Como? Se mal consigo responder às questões acima sem cair na falácia dos discursos pré concebidos onde valorizo o feminino e a inserção da mulher no mundo masculino, mas rechaço o contrário, salvo quando me convém, quando o masculino invade as atividades domésticas e o cuidado com os filhos?

...

A Ísis joga futebol com o pai. Usa camisa do timão. Eu sempre a incentivei a isso, o pai também. Ela não escolheu chutar a bola com os pés. Fui eu quem disse a primeira "chuta a bolinha, é gol!" Sempre digo que ela pode fazer tudo que quiser. Alguém discorda?

...

O Pedro, ainda é pequeno, mas já me deparei com situações em que coloquei à prova minha maneira de pensar. E o resultado não foi bom.

Eu o incentivarei a dançar? E quando ele balangar o bumbum, movimento prá lá de natural nas crianças (e nada vulgar nessa idade), eu vou me sentir desconfortável? Se ele quiser colocar algo no cabelo, como a irmã, eu vou achar ruim?

Eu deixarei que ele saia de casa usando tic tacs no cabelo ou saia, se ele assim desejar? Ou eu irei repetir o discurso do "menino não pode"?

Se menino não pode tantas coisas, como ele reagirá ao perceber que a irmã se insere nas atividades dele, mas ele não poderá inserir-se nas dela?

...

Por quê a barreira entre os gêneros parece estar ruindo apenas para a inserção das mulheres no mundo masculino, mas não o contrário? Temos um problema aqui...

...

E eu volto às perguntas acima:

O que é ser mulher?
O que é feminino?
O que é ser fêmea humana, mamífera, natural, pertencente à biosfera?
O que é ser homem?
O que é masculino?
O que é ser macho humano, mamífero, natural, pertencente à biosfera?

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Desaprendendo na escola...

Imagem: arquivo pessoal


Enquanto pego a mochila da Ísis, a professora (que aqui é chamada ridiculamente de prô) me chama a um canto e conta animada:
- Ai, hoje tive que rir da Ísis!
Eu, disfarçando o mal estar que a frase me causou, pergunto: por quê?
- Eu apelidei ela de Ísis Valverde (pode isso, Arnaldo, apelidar os alunos?), né, a menina piriguete da novela.
(Céus, eu penso, não bastasse agora todas as Adrianas serem "esteves", todas as Reginas serem "duarte", todas as Déboras serem "seco" ou "falabella", agora tenho que ouvir o adjetivo piriguete vindo de uma professora, pasmem, de escola particular que segue o sistema Positivo de ensino. Morro e não ouço tudo).
Diante da minha expressão pasma, ela continuou:
- Então, eu comecei a chamar ela de Ísis Valverde e ela se revoltou comigo, me disse braba que não era verde, era branca e que ela não tinha pasta verde na garganta! kakakaka.
Minha reação?
?????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????
Seguida de um sorriso prá lá de amarelo e uma vontade louca de sentar com aquela prô para conversarmossobre educação, bulim, apelidos, etc...

...

Dia desses ela chega em casa toda chorosa perguntando pelo presente dela. Eu fico sem entender nada, pois presentes aqui em casa não tem muita importância e nunca dizemos que vamos dar, comprar presente para alguém. Quando queremos nos presentear, nos presenteamos e às crianças. Mas ela continuava chorosa e me perguntando pelo presente dela.
- Que presente, Ísis?
- O meu presente, hoje é dia de ganhar presente!
- Quem te disse isso, minha filha?
- Hoje é dia de ganhar presente, a prô disse que no natal a gente ganha presente, que o papai noel traz!
Ah...
Entendi.
Nem saímos de outubro e ela já está sendo bombardeada pelas histórias de natal, presentes, papai noel. Mais presentes, que outra coisa, pelo visto. Respiro. Conto e largo:
- Filha, olha só, presente não tem dia para se ganhar. Presente é algo que a gente dá quando quer, quando tem vontade. Não precisa ter um dia para ganhar presente, mas realmente é tradição se presentear as pessoas no dia de natal. Não é uma obrigação. O natal está longe ainda, não se preocupe com presentes. Você não ganha presente da mamãe, do papai sem ser dia de natal?
- Uhum.
- Então...(aqui ia enveredar por uma ladainha sobre consumismo, há, mas achei que já estava bem complexo para ela e emendei um agora vai lá aproveitar o sol e brincar).
Ela sai porta afora e percebo que neste ano o enfoque do natal será diferente aqui em casa...

...

Percebo que há dias o lanche dela volta intacto. Converso com a professora na saída da escola. Ela me conta que os colegas se convidam para seus lanches e que a Ísis se alimenta bem, come o lanche dos coleguinhas.
Há.
E que lanche trazem os coleguinhas?
Aham...isso mesmo: chips, bolacha recheada, cereal cheio de açúcar e chocolate, quando não balas, chocolates e afins.
Não são todos, claro, mas uma grande parte deles. E ela, que é uma formigona, vai direto nos doces alheios e recusa seu sanduiche, seu bolo caseiro, seus sucos naturais e frutas.
Falo que ela não deveria lanchar esses alimentos todos os dias e que teríamos que estudar uma forma das crianças se alimentarem de maneira mais saudável na escola. Ela, a professora, me diz que somente na sexta feira é que os pais poderiam levar lanche livre (= menos saudável). Mas essa não é a realidade.
O grande problema para mim é que o consumo de alimentos muito industriais e cheios de açúcar faz com que o paladar da Ísis fique muito alterado e ela deixa de comer as frutas, os legumes, os sucos naturais, que possuem sabor mais suave e não tão doce.
Já passamos por isso com o nascimento do Pedro, quando entre inúmeras novidades, perdemos a mão com a alimentação dela. O resultado foi que pouco tempo depois percebemos que ela já não queria comer os alimentos mais naturais, apenas os industriais! Cheios de açúcar e corantes!
De lá para cá, voltamos com a alimentação mais natural para ela também e quando ela foi para a escola já havia normalizado. Porém, com esses lanches coletivos, a coisa tá saindo dos eixos novamente.
O que fazer?

...

Quando fiz a matrícula da Ísis na escola dela percebi que estava sendo instalada uma cozinha na cantina, onde as crianças aprenderiam a preparar alimentos saudáveis (assim me enfatizou a diretora), aprenderiam sobre os alimentos e os utilizariam como subsídio para aprendizados mais experimentativos.
Eu, claro, adorei a ideia!
Mas a realidade é sempre muito diferente da teoria e em dois meses de cozinha experimental a única coisa que as crianças aprenderam a fazer foi bolinha de brigadeiro comprado de pote no supermercado (ainda se fosse o natural, ao menos poderiam perceber a transformação daqueles ingredientes em algo novo e tirarem algum aprendizado daí) e mini pizza. Ou seja: teoria 10 X prática 00.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O Despertar II

Imagem: arquivo pessoal

Estou sonhando. Acho que estou na praia, lagarteando ao sol. Escuto apenas o barulho das ondas e o marulhar da brisa. Algo começa a me encomodar, parece uma tosse! Alguém está gripado aqui perto, coitado! A tosse não para, vai ficando meio nervosa, parece...parece o Pedro! 

Abro os olhos, pego o celular embaixo do travesseiro: 06:30 da matina. O sol, nesse sul do sul, ainda nem apareceu e o menino já acordou! Levanto cambaleante, coloco meu melhor sorriso matinal no rosto e dou um bom dia, meu gotoso! Ele sorri e agita os bracinhos. Sempre acorda de bom humor, todo sorridente! Eu abro as janelas para em seguida pegá-lo no colo. Sentamos na poltrona e iniciamos o dia com a amamentação.

Depois de mamar ele começa seu falatório matutino, dá gritinhos, pula no meu colo. Vamos trocar a fralda. Ele fica numa brincadeira de levantar e baixar as pernas roliças. Quer pegar pomada, fralda, lencinho da minha mão.

Vamos todos tomar café da manhã. Coloco-o no cadeirão e dou alguma coisa para ele comer. Não coloco no prato, mas sim na bandeja do cadeirão: frutas cortadas, biscoito, pão, bolo caseiro. O que estiver disponível. Ele come tudo!

Depois do café vou me arrumar para o trabalho, ele fica na minha cama. Ora me chama, resmunga, ora se distrai com alguma coisa. Pego no colo um pouco entre uma peça e outra; devolvo na cama. Escovo os dentes com ele no colo, e o danado quer pegar a minha escova!

Quando estou quase pronta ele reclama mais. Acho que já sabe que vamos sair para trabalhar. O pai tem que deixá-lo com a babá para a saída ser menos ruim. Um cheirinho no pescoço, ele me olha meio choroso, o pai o leva para a babá. Ainda escuto uma resmungada, um gritinho reclamão quando cruzo a porta em direção ao carro. Mais um dia que começa...


Fiquei encantada com a seleção deste texto para o TOP FIVE do Recanto das Mamães Blogueiras! Obrigada, queridonas!

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O Despertar


Imagem: arquivo pessoal

Ouço o grito do despertador. Ao invés dos tradicionais bléim-bléim, prim-prim ou a música escolhida no celular, o meu toca assim: mamãããeeee, quero tetiiinhooooo! Invariavelmente às 07:00 horas da matina, mesmo aos sábados, domingos e feriados. Mesmo nas férias. 

O chamado só para quando eu levanto da cama E vou até o quarto - nem pensar em levantar e ir direto preparar o tétinho, o chamado não para -, dou um beijo de bom dia, um cheirinho no pescoço, que exala cheiro de travesseiro e suor e aviso que já vou preparar o tétinho. Na maioria dos dias não recebo um bom dia de volta. Mau humor matinal. Não posso reclamar, eu só viro gente depois do café da manhã. Mas tem aqueles raros dias em que eu recebo um feliz e sorridente bom dia, mamãe. É a glória!

Tétinho pronto, levo. Sempre o mesmo pedido: você fica aqui 3 minutinhos, tá bem? Nem sempre eu fico e quando eu não fico a pergunta que não quer calar é: não poderia mesmo ter ficado? Minha vida ficaria tão mais atrapalhada se eu ficasse mais 3 minutinhos ali? Se fico, fico. Se não fico, aviso que preciso preparar o café da manhã ou qualquer outra coisa do cronograma de afazeres diários.

Café pronto. Tétinho devorado. Vamos todos para a mesa. Ela não come. Já desisti de insistir. A fome dela virá mais tarde. Mas se ela não come, fica tentando roubar requeijão, doce de leite, manteiga e queijo. E como temos um canto alemão, ela fica pulando, dançando, subindo e descendo das costas do pai. O café da manhã fica entrecortado por pedidos e avisos de não pode, não coloque a mão, não, isso é para comer com pão, cuidado que você pode cair, saia das costas do seu pai. Há aqueles dias em que desisto, volto a ser criança e finjo que não vi o dedinho indicador furando o pote de doce de leite, ou a mãozinha que dá aquela beliscada na pontinha do queijo muçarela. Ignoro os perigos da queda. Do chão não passa.

Depois, a parte chata, cansativa. Trocar de roupa, pentear os cabelos e escovar os dentes. Ô luta diária! Ela quer escolher a roupa, mas se deixar usa sempre a mesma. Tem as preferidas dela que mal voltam da lavanderia e já vão para o corpo. Não posso culpá-la. Quando me casei aos 25 anos ainda usava a mesma camisola de algodão que havia ganhado da minha madrinha aos 15 anos. Foi comigo para a noite de núpcias e lua de mel.Um dia ela havia sido azul. Quando me desfiz dela, não havia como identificar se aquilo era uma vestimenta ou um pano de chão.

Pentear os cabelos. Tão lisos! E fazem um emaranhado na nuca difícil de desfazer. Por mais cuidado que eu tenha, ela sempre reclama, mia e foge. Fica parada, eu digo, se você sai correndo é pior! Mas não adianta, ela diz que dói e que não vai escovar os cabelos. Deixa assim, mamãe! Ela briga, a danada.

Escovar os dentes. Houve um tempo em que ela adorava, agora foge da escova de dentes como o diabo foge da cruz. Dificulta, não abre a boca, coloca a língua para fora. Fica escorregando, pulando, se virando. Não para quieta um segundo. Perco a paciência, digo para ficar quieta, abrir a boca, facilitar, se comportar. O dente vai ficar podre, como aqueles que você viu na foto, é isso que você quer? Aham, ela me responde, com o seu inconfundível arzinho blasé. Ai!

Quando saio para trabalhar, ela me dá tchau, mas eu tenho que pedir o beijo. Beijo na mamãe! E ela faz com a boca, de longe, estalando os lábios: muack, muack. Acena com a mão. Bom trabalho! ela me diz.



quarta-feira, 17 de outubro de 2012

MMqD

Hoje estou aqui!

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Um dia de vídeos

Imagem: arquivo pessoal

A solidão é o maior perigo para um mamífero.

Costumamos subestimar o desafio que implica comprometer-se com as crianças.

Ninguém pede o que não precisa. Simplesmente o tempo dos bebês (e das crianças) é diferente do tempo dos adultos.

A avó é muito importante. É lindíssimo ser avó, mas antes disso foste mãe. Então, que sigas sendo mãe e materne a essa mãe, sua filha, que está maternando.

Frases extraídas e livremente traduzidas com meu parco espanhol de vídeos de Laura Gutman, no youtube.

As mães tem medo de que se deixarem os filhos escolherem livremente o que comer, eles só escolherão comer aquilo de que gostarem. Alguém come o que não gosta? 

O interessante é que os bebês levam tudo à boca. Menos a comida. Os bebês levam papéis, terra e uma série de cacas à boca. Mas a comida não. Na comida que comem eles não podem tocar com as mãos.

(o que me fez lembrar agora que o Pedro tem uma predileção por papel, quando pega um fica lá chupando até soltar um pouco e se eu tiro da boca dele faz um choro magoado por se ver sem a iguaria!)

Se deixarmos o bebê livre para escolher o que comer, dentro do que come saudavelmente a família, ele vai aprendendo a decidir, a tomar decisões, pois começou a fazê-lo já com sua própria comida.

Frases extraídas e livremente traduzidas com meu parco espanhol de vídeos de Carloz Gonzalez, no youtube.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Quem é a parteira?

Achei lá no blog Parto no Brasil.
Lindo.
Saudade desse dia tão especial!


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Do que se perdeu...

Meu celular já era, morreu, dançou, quebrou, se foi. Disse o cara que foi a placa...

E o que mais me dói é a perda de um vídeo do Pedro, o vídeo mais lindo de todos, dando gargalhadas enquanto brincava de esconder com o pai usando um paninho...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Rosa para meninos


Quando estava grávida do Infante teorizei um pouco sobre o uso e desuso do rosa  - entre outras coisas - para meninos. Passada a teoria, cheguei na parte prática e pouco atrativa de tudo que é másculo para bebês. 

Nas lojas de roupas, roupas de cama, acessórios, os meninos também sofrem com a monotonia do azul e verde. Sorte do Pedro que ele herdou alguns itens rosa da mana.

1 - Altaneira sobre a pilha de mantas azul e cinza, a manta quadriculada em tons de rosa deixa tudo mais feliz e combina deveras com bochechas rosadas e pés de chulé:



2 - Mas não é menino? É sim, mas a ovelhinha de sua janela vai ter cachecol rosa com poás. Adornam perfeitamente com os bichos da selva...em azul e verde, tão comuns (mas não menos lindos) que acabaram ficando sem registro.

3 - E o que dizer daquele body "love", todo trabalhado no ombré rosa? Mais que usado pela mana. Presente de uma amiga querida, cidadã do mundo, que hoje vive em terras curitibanas. E ele fica todo amoreco, todo sorvetinho de morango (caseiro!). Só não posso conjugar duas peças rosa no mesmo modelito...papai não gosta...


4 - E os acessórios, claro, todo bebê que se preze tem os seus mordedores e afins. E o primeiro segundo filho tem os herdados da irmã. Muito lilás e rosa para quebrar a hegemonia do azul e verde.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Amamentação: o que eu ainda não te disse



Como em quase todos os dias desde que nasceu, o Infante acordou plácido em seu berço e não chorou. Em vez disso começou um bate papo com as cobertas. Em um minuto, uma tossezinha nervosa me avisa que está na hora de levantar e começar o dia alimentando meu bebê.

Já se vai longe na memória aqueles primeiros dias nervosos de amamentação de um recém nascido. Não adianta, por mais filhos que se tenha, cada experiência é única.

Passados os primeiros trinta dias, ultrapasso o marco da sensibilidade dos bicos dos peitos, mas ultrapasso também aquela boa vontade de levantar madrugada à dentro. Por mais lindo e necessário que seja, eu só queria ficar quentinha e quietinha na minha cama.

Sessenta dias de amamentação. Chego na marca brasileira do desmame. O desmame por aqui está longe, muito longe. Mas temos um novo problema (?). O Bicho agora quer mamar. Ela sempre teve uma afeição pelos meus peitos, mesmo depois de parar de mamar, mesmo depois de "grande". Ver o irmão mamando, sendo acalentado e acarinhado, despertou nela uma vontadezinha. Não de leite, mas de aconchego. Aquele colo já não é mais apenas seu. Aquele olhar, já não é mais apenas para ela.

Um dia ela me pediu para mamar. Eu deixei. Triste foi verificar que ela havia esquecido como fazer para retirar o leite do peito. Ela me olhou meio frustrada, meio triste. Mas não sai leitinho, ela me disse. Você precisa sugar, como na mamadeira, eu expliquei. Nada. Não tem problena, ela me disse, com aquele errinho de fonema que eu acho tão bonitinho. Não filha, não tem, você já mama na mamadeira, eu acrescento, como se aquilo fosse algum mérito, uma evolução da arte de mamar.

Então o amamentar virou um momento de carinho para ela. Não de mim para ela, mas de mim para o irmão. E ela se sentiu excluída daquele momento. Pediu para que eu não desse de mamar, que o papai desse então! Mas o papai não tem leite!

Difícil. Se o Infante não mamasse, eu passaria mais tempo com o Bicho, porque a mamadeira qualquer um poderia dar. Meu peito não. Meu peito e meu leite eram meu presente para meu caçula. Impossível não filosofar sobre o papel da amamentação no vínculo com o bebê. Até crianças pequenas, muito pequenas mesmo, ao ponto de não conseguirem falar a palavra problema sem erro de fonema, são capazes de perceber que dar de mamar não é apenas alimentar.

Penso em divisão e passo a não gostar mais dessa palavra. Não quando sou o objeto da divisão. Não dá. Não posso me dividir, não consigo. Então vamos compartilhar. Mãe não se divide, se compartilha.


Noventa dias. Estamos no final da exterogestação. Minha vida com meu bebê é um eterno ciclo de mamadas, trocadas, slingadas, cochiladas. E a noite fria do inverno sulista me desanima. Difícil sair da cama aquecida para colocar os peitos para fora às três da manhã. Amamentar não é fácil nesse inverno do cão, eu penso.

Um dia, depois do banho, o Bicho me pede para mamar novamente. Como sempre, eu deixo que ela abocanhe o meu peito. Ela me olha e eu tenho um vislumbre de nossos primeiros momentos juntas. Saudade. O peito estava cheio e começa a pingar. Olha mamãe, tá saindo leitinho. Pode mamar, eu digo. Ela põe na boca e acha estranho. Estranho. Pode? Esse tétinho é natural, eu explico, não tem chocolate. Eu me sinto falando ao contrário, como aqueles antigos LPs quando girados na contramão. Contramão.

Cento e vinte dias. Vamos evoluindo, assim como o inverno. Agora já é difícil deixar os peitos descobertos de dia. Santa lareira! A cada mamada eu arrepio só de pensar no toque gélido da boca e das mãozinhas do meu bebê. A primeira no seio, que está quente e farto. A segunda nas costas. Ele fica lá arranhando minhas costas com aquelas unhas de gatinho. Por fim nós dois nos aquecemos um no outro. O bebê cochila com as bochechas rosadas.

Cento e oitenta dias e o início da ordenha. Começo difícil, como todo começo. Sinto falta do meu bebê quando o leite sai. Sinto frio, um frio imenso depois de ordenhar meu leite. Não era para ele sair assim, sozinho, isolado, retirado com o barulho do motor da máquina. Morro de frio. Só o meu bebê me aquece.

Por outro lado sinto uma certa satisfação ao encher um bom pote daquele líquido branco e ralo. Ralo. Há!

O Bicho finalmente parece melhorar sua relação com a amamentação do Infante. Tantas conversas. Tantas! Tantos carinhos, tantas fotos e descrições de quando ela mesma era um bebê. Agora ela só pede que eu o amamente ali, ao lado dela. Com a mão livre eu lhe faço um carinho, ou impeço que ela se jogue sobre a cabeça do irmão. Nem sempre consigo.

Seis meses. Completos! Chegamos na marca. Mas e agora? Meu leite venceu, deixou de ser alimento importante para o meu bebê, assim, só porque atingimos essa marca? Começo a introdução de alimentos com muita cautela, assim, meio enciumada daquele mamão amassadinho que ele abocanha com curiosidade. Não somente eu, mas eles, os peitos, ficam ressentidos da falta que o bebê faz. Dóem e gotejam o leite desperdiçado. Ele já não mama mais como antes. Agora ele come. Sua gengiva mastiga tudo que lhe oferecem. Com gosto. E eu gosto.

Mas as madrugadas...ah, nelas os peitos ainda imperam! Com uma chupeta aqui e ali, quando é o pai quem vai atendê-lo. Ele, o Infante, pode querer mastigar de tudo durante o dia, mas à noite é a sucção que o faz ninar. No peito, quase sempre. Ainda.

Oito meses. Minha marca fatídica. Foi aqui que o Bicho desmamou, e naquela época eu achei normal. Tolinha. Caí na emboscada. O Infante começa a dar os primeiros sinais, aqueles sinais de não querer mais ficar ali, olhando meus peitos, quando existe um mundo tão colorido em volta. Ah, mas desta vez eu estou preparada! Não vou me preocupar. Vou apenas seguir o caminho, dar tempo ao tempo. Deixá-lo livre para demandar.

E ela já está tranquila com a amamentação do irmão. Faz meses que não me pede para mamar. Agora ela quer experimentar as comidas que o irmão come. Tudo que ele come ou toma, menos o leite do peito. Esse ela tomou, um copinho de 50ml de uma ordenha. Achou docinho o tétinho natural do mano, mas o dela tem chocolate! Vai seguir assim.

Espertinha. Sabe que o mano fica tranquilo quando está mamando, de maneira que, quando ele está conversador, gritador, peraltiando em volta, atrapalhando a brincadeira ou o desenho favorito dela, logo escuto a frase: dá de mamar prá ele mamãe, ele tá com fome! Agora enquanto ele mama, ela faz carinho na cabecinha dele, beija as bochechas rosadas. E ele para de mamar para sorrir para ela.

Não há cheiro que me dê mais saudades do que o cheiro da amamentação exclusiva. Aquele azedinho de leite materno, mas meio adocicado, suave. Pele, leite, calor. Proteção. 
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