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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Estações pela janela

Imagem: arquivo pessoal

Filho,

Hoje, como todos os dias antes de retornar ao trabalho após o almoço, seu pai foi arrumar sua irmã para a escola e nós dois fomos para o seu quarto, para o nosso momento de aconchego, de carinho, de amamentação.

Nós moramos numa casa de madeira, com varanda, dessas que parecem casinhas de boneca; e a nossa casa é toda branquinha por dentro, com janelas brancas antigas. De onde eu sento com você nos braços eu vejo a janela e lá fora, no terreno do nosso vizinho uruguaio, há uma árvore majestosa, que muda de forma, de cor e de som juntamente com a passagem das estações.

Durante todo o verão, época em que você nasceu, a árvore estava majestosa, com folhas enormes e verdes de variados tons. Os passarinhos cantavam por ali. O contraste de cores entre a janela branca, o céu azul e a árvore verde era um bálsamo para os olhos. Era vida pulsante e eu, com você ao peito, me sentia parte da natureza.

Veio o outono e com ele as folhas em tons castanhos e alaranjados. Uma a uma eu vi cairem as folhas daquela árvore, o vento frio castigava aqueles galhos já quase desnudos. Os pássaros sempre tão vibrantes quase não apareciam mais.

No inverno eu só via os galhos acizentados, quase prateados. O vento castigava-os, envergava-os. Não havia pássaros. O céu permanecia em tons de cinza quase todos os dias e o ar gelado, que conseguia entrar pelas frestas da janela, castigava as minhas costas.

De mansinho veio chegando a sua primeira primavera, com ela voltaram os passarinhos. O som da brisa a balançar as folhas que retomam seu lugar nos galhos chama a sua atenção. Um pássaro canta ali, escondido entre o verdejante cenário terrestre e o quadro celestial pontuado por nuvens brancas de algodão. Você vira o rosto, ouve com mais atenção e sorri.

Eu ainda vejo seu olhar maroto e sorridente antes de eu mesma fechar os olhos para gravar com mais intensidade aquele instante. Uma brisa fresca sopra meus cabelos, meus ouvidos estão serenos com a orquestra divertida dos pássaros e seus gritinhos de felicidade.

E eu descubro que há imobilidade no movimento, há silêncio no som.

4 comentários:

  1. Nine, que coisa linda! Que texto delicioso de ler... passou uma tranqulidade, uma vontade de sentar aí na varanda com vcs e ficar vendo as árvores e passarinhos... ô delícia!
    bjao

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  2. Que lindo nine, as vezes quando paramos pra observar a nossa rotina, vemos que muita coisa muda devagarzinho e a gente nem percebe né! Queria estar aí sentadinha nesse ventinho com vocês... Beijos para todos, com saudades :)

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