Imagem: arquivo pessoal
Filho,
Hoje, como todos os dias antes de retornar ao trabalho após o almoço, seu pai foi arrumar sua irmã para a escola e nós dois fomos para o seu quarto, para o nosso momento de aconchego, de carinho, de amamentação.
Nós moramos numa casa de madeira, com varanda, dessas que parecem casinhas de boneca; e a nossa casa é toda branquinha por dentro, com janelas brancas antigas. De onde eu sento com você nos braços eu vejo a janela e lá fora, no terreno do nosso vizinho uruguaio, há uma árvore majestosa, que muda de forma, de cor e de som juntamente com a passagem das estações.
Durante todo o verão, época em que você nasceu, a árvore estava majestosa, com folhas enormes e verdes de variados tons. Os passarinhos cantavam por ali. O contraste de cores entre a janela branca, o céu azul e a árvore verde era um bálsamo para os olhos. Era vida pulsante e eu, com você ao peito, me sentia parte da natureza.
Veio o outono e com ele as folhas em tons castanhos e alaranjados. Uma a uma eu vi cairem as folhas daquela árvore, o vento frio castigava aqueles galhos já quase desnudos. Os pássaros sempre tão vibrantes quase não apareciam mais.
No inverno eu só via os galhos acizentados, quase prateados. O vento castigava-os, envergava-os. Não havia pássaros. O céu permanecia em tons de cinza quase todos os dias e o ar gelado, que conseguia entrar pelas frestas da janela, castigava as minhas costas.
De mansinho veio chegando a sua primeira primavera, com ela voltaram os passarinhos. O som da brisa a balançar as folhas que retomam seu lugar nos galhos chama a sua atenção. Um pássaro canta ali, escondido entre o verdejante cenário terrestre e o quadro celestial pontuado por nuvens brancas de algodão. Você vira o rosto, ouve com mais atenção e sorri.
Eu ainda vejo seu olhar maroto e sorridente antes de eu mesma fechar os olhos para gravar com mais intensidade aquele instante. Uma brisa fresca sopra meus cabelos, meus ouvidos estão serenos com a orquestra divertida dos pássaros e seus gritinhos de felicidade.
E eu descubro que há imobilidade no movimento, há silêncio no som.
Que lindo, Nine! Poesia. bjo
ResponderExcluirNine, que lindo!
ResponderExcluirSem palavras...
Beijos
Nine, que coisa linda! Que texto delicioso de ler... passou uma tranqulidade, uma vontade de sentar aí na varanda com vcs e ficar vendo as árvores e passarinhos... ô delícia!
ResponderExcluirbjao
Que lindo nine, as vezes quando paramos pra observar a nossa rotina, vemos que muita coisa muda devagarzinho e a gente nem percebe né! Queria estar aí sentadinha nesse ventinho com vocês... Beijos para todos, com saudades :)
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