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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Como deixar momentos vividos, ou Carta aos Avós



Hoje eu quero falar de presentes. Não daqueles comprados nas lojas, alguns muito modernos e que prometem mil e um resultados, outros mais simples, prometendo a volta do lúdico à infância. Eu os considero importantes, mas não mais importantes que o melhor dos presentes: histórias para contar.

Eu acho muito legal quando vejo meu caçula brincando com a moto que monta e desmonta que ganhou dos avós. Acho lindo e o considero o bebezico mais inteligente da face da terra, como só toda mãe e todo pai são capazes de pensar.

Eu também acho fofo quando minha primogênita brinca alucinada com o jogo de canetinhas que saem na água (obrigada tecnologia!) ou com as bonecas que ganhou, também, dos avós. Acho lindas as garatujas que brotam coloridas no papel branco e quero emoldurar cada uma delas para decorar meu hall de entrada.

Os meus filhos ganham muitos presentes, muitos mais do que eu costumava ganhar quando era criança e, com certeza, muito, muito mais do que os meus pais e os pais do marido costumavam ganhar na infância.

Lembrando do contexto de cada vivência não é difícil compreender o motivo pelo qual @s av@s e ti@s adoram presentear nossos filhos. Mesmo quando pedimos encarecidamente a eles que não o façam, pois não temos mais onde guardar tantos brinquedos. Eles estão dando aos nossos filhos aquilo que não puderam dar aos seus próprios filhos e, muito mais, aquilo que não puderam ter. É uma realização no outro. E todas as propagandas estão aí para nos dizerem que o presente é uma demonstração de amor. E ainda deixa as crianças mais inteligentes.

E hoje, comprar um carrinho ou uma boneca, uma bola ou um jogo está tão mais barato! E as crianças ficam tão felizes quando ganham presentes! Como não dar? Como resistir?

Bem, eu vou contar uma historinha...

Era uma vez o Seu Maneca, pai de muitos filhos, avô de tantos netos. Acordava cedo, antes do sol raiar. Saía a trabalhar. Na saída já avisava aos netos que estavam passando férias em casa que os levaria à praia, para dar um mergulho. A promessa era sempre cumprida. 

Seu maneca ensinava a nadar, a pular ondas, a caçar tatuíra e marisco na areia. Ensinava também a assoviar e a colher bergamota e goiaba. Ah! E sempre avisava que não era bom comer o umbigo da laranja. Era amargo!

Seu maneca buscava xis salada na beira da praia para a janta. Mas não sempre, porque fazia mal. Comprava milho verde quentinho, com manteiga e sal.

Depois de um dia de trabalho, brincava de baralho. E valendo dinheiro! Ah...esse seu Maneca. Tinha uma lata de biscoito cheio de moedas dos tantos planos cruzeiro, cruzado, cruzado novo...nem ele sabia mais. E dizia que eram moedas de "mi réis".

E a VÓ? Ah...a VÓ. Era ela quem fazia a melhor canja de galinha, os melhores sanduíches de presunto e queijo do café da manhã. E seu beijo tinha gosto de café.

No fundo do armário ela escondia bombom, que distribuía assim: um só. Porque doçura demais faz mal.

Tinha bolinho de chuva, tinha rosquinha de polvilho. Tinha conversa fora no sofá da sala, entre uma reclamada e outra para que o pé ficasse no chão.

E ela fazia piadas. Tirava uma com a cara da gente. E quando ria, ria. Chorava de tanto rir, os olhos pequenos, brilhando.

Tinha banho para tirar o encardido. Banho rápido, que não se pode gastar muita luz!

Eu não lembro de nenhum presente que eu tenha recebido dos meus avós. Nenhum. Eu sei que eles existiram. Mas eu não lembro. Não foram importantes para mim.

Importantes foram os momentos construídos. Esses sim ficaram bem guardadinhos e vez ou outra esses momentos viram histórias para contar.

Brinquedos não viram histórias para contar.

Momentos vividos, sim.






2 comentários:

  1. Excelente post, até me emocionei!!!
    Realmente o que ficam são os momentos, e é isso que tento passar para minha filha... espero que as lembranças dela sejam das nossas tardes fazendo bolo e brincando com tinta na varanda...
    Os brinquedos fazem parte da infância sim, e é uma delícia ver a carinha de felicidade dos pequenos ganhando algo que queriam, mas definitivamente as lembranças valem muito mais!!
    Beijos,
    Dani www.maedaloly.blogspot.com.br

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    Respostas
    1. Obrigada, Dani! Sigamos presenteando lembranças! Bjos!

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