Faz um tempo, em um post da Sueli do Blog do Desabafo de Mãe, fiz um comentário lá que foi salvo na minha caixa de rascunhos para uma reflexão posterior. Na semana passada foi a vez da Ceila, também no Blog do Desabafo me chamar, ainda que involuntariamente, a pensar sobre o assunto. Afinal, Ísis, você está crescendo e racismo/preconceito com certeza será um assunto ainda corriqueiro quando o significado das palavras te chamar a atenção. Então vamos a ele!
Eu me lembro que meu primeiro contato com o preconceito de raça foi na escola, na segunda série, por volta dos meus nove anos. Numa brincadeira de roda ninguém quis dar a mão para um menina negra. Lembro de ter achado aquilo tão estranho! Eu me lembro de ter largado as mãos das minhas duas colegas e ter ido até lá segurar a mão daquela menina. E eu me lembro de ter comentado o fato com a minha mãe e me lembro que a primeira pergunta que ela me fez foi o que eu havia feito e a resposta dela satisfeita com a minha atitude. Eu, que desconhecia o preconceito de raça até então, gravei que aquele era um bom comportamento, era o que minha mãe esperava que eu fizesse muito antes de pesadas reflexões sobre o assunto.
Mais tarde, com uns doze ou treze anos, durante as férias de verão na casa de minha avó, eu fiz amizade com um menino negro de nome S., filho da empregada doméstica de uma das famílias que mantinham apartamento no edifício onde ela (minha avó) era zeladora. Eu me lembro de perceber o olhar torto da minha avó cada vez que o S. vinha me chamar para brincar, sendo que ao fim de uma semana ela me chamou para uma "conversa" sobre a conveniência das minhas brincadeiras com um guri preto. Eu me lembro de ter ficado chocada com tal atitude daquela a quem amava tanto! De tão chocada contei para minha mãe, perguntando naquele tom inquisitivo que só os adolescentes cheios de razão sabem ter, se ela, a minha mãe, concordava com o pensamento da minha avó, se achava certo ela não querer mais me deixar brincar com S. só porque ele era preto! Ainda hoje eu me lembro da resposta: não, ela não concordava, ela também não achava certo, mas me pediu para respeitar a opinião da minha avó, vinda de uma outra realidade, um outro tempo. E assim fiz.
Num outro momento da vida, com as descobertas da ciência, principalmente da genética, eu descobri que, na verdade, não existem "raças", mas sim uma única raça mãe, a HUMANA, que por sua especificidade faz com que seus indivíduos desenvolvam suas características mais marcantes de acordo com o local onde habitam, por pura seleção da natureza, visando a manutenção da espécie. Como eu disse naquele comentário lá no texto da Sueli raça só existe a HUMANA, o resto é apenas capa, vestimenta, e como habitamos lugares diferentes no mundo, desenvolvemos habilidades diferentes, entre elas o tom de pele, dado pela quantidade de melanina produzida e que tem como uma das finalidades nos proteger do sol excessivo.
Negros, brancos, amarelos e vermelhos não constituem raças diferentes, são apenas "tipos" de uma mesma raça, conforme o tom de pele de cada um. É esse o tom da conversa que eu pretendo ter com minha filha quando chegar o momento. Na minha casa não falaremos de racismo, porque negro não é raça. Na minha casa falaremos de preconceito em relação às diferenças e do quão importante é o desenvolvimento da tolerância em relação a tudo aquilo que nos é diferente, seja tom de pele, seja religião, time de futebol ou maneira de educar os filhos.
Acho que quando criamos muitas designações para a mesma coisa ajudamos e muito para o aumento do preconceito. Lá no comentário que deixei no post da Sueli afirmei que não sou favorável a "terminologias" do tipo afrodescendente ou afrobrasileiro como designação para pessoas de pele negra, pois acho sim que isso é uma maneira de diferenciar. Lá no comentário explico o motivo: assim como os brasileiros descentes de alemães não são designados como euro-brasileiros, os de japoneses não são oriento-brasileiros, os de índios não são indio-brasileiros ou qualquer coisa do tipo, penso que não poderiam se designar também os tais afrobrasileiros, pois isso nada mais é do que mais um tipo disfarçado de separação, pois existiriam os brasileiros e os afro-brasileiros ou algo do tipo. Logicamente, quando citamos comunidades inteiras usamos este tipo de denominação, lógico, pois quando eu digo: que a comunidade lusobrasileira da Praia de Santo de Antonio de Lisboa em Florianópolis ainda cultiva suas tradições, trazidas lá de além mar, não uso um tom condescendente ou preconceituoso.
Aliás, sobre terminologias, passei por uma dessas situações esquisitas quando cheguei aqui no sul do sul. Eu precisava encontrar, numa reunião de trabalho com dezenas de pessoas que eu nunca havia visto, uma moça chamada L. Perguntei as características físicas dela para ficar mais fácil de localizar "morena, cabelo alisado no ombro, com dentes da frente um pouco separados". Interpelei todas as moças brancas de cabelos escuros da sala e que por ventura pareciam ter os dentes da frente separados. Ninguém era L. Um colega me ouvindo reclamar que não achava L. explicou que ela era "morena, morena". Aí entendi que a morena em questão era na verdade negra, e aí, com essa característica física só havia uma na sala.
Sou contra não poder usar a palavra negra/negro para designar cor de pele quando essa é uma característica física importante e que precisa ser dita para diferenciar uma pessoa em questão das demais. Assim como digo que uma pessoa é loira, alta, branca, ruiva...para mim ser negro é uma característica física e eu não tenho medo ou preconceito desta palavra, assim como os negros também não deveriam ter.
Essa é apenas uma nuance sobre um assunto tão controverso, polêmico e que precisa ser conversado com os filhos.
Se você quer participar desta blogagem, seja bem vindo! E se quiser mande o link para divulgação do seu texto aqui!
Outras nuances do mesmo assunto:
Blog do Desabafo de Mãe:
Sueli
Ceila Ceila
Rede Mulher e Mãe
Bia Mello
Sylvia - mamãe da Grabrielly
Um espaço para chamar de meu
Viciados em Colo: - texto 1 - texto 2 -texto 3
Mãe é tudo igual
Roteiro Baby
Mãe de duas
Coisa de mãe, da Ivana
Eu sou sua mãe, da Raquel
Mon Maternité
De casa nova, da Telma
Maternidade Lésbica
Peripecias de Cecília e Fofices de Clarice
What Mommy Needs
Aprendiz de Mãe, da Thaís
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Absolutamente perfeito seu post...concordo c vc em todas as linhas..não suporto nenhum tipo de preconceito,seja por raça,cor, religião,sexo,ou seja qual for..e a gente como mãe tem que passar isso aos nosso pequenos..o Enzo nunca demonstrou nenhum tipo,ainda bem..e espero que seja assim..
ResponderExcluirLindo e verdadeiro seu post..e a nos cabe continuarmos passando bons valores aos nosso filhos!!!
beijos e otima semana,Nine!!
;-)
Que texto perteito!
ResponderExcluirTodo tipo de preconceito me irrita.
Inclusive quanto a classe social.
Não suporto ver as pessoas tratando mal funcionários, atendentes, pelo simples fato de ter mais dinheiro, ou um cargo superior.
Ninguém é melhor, ou superior a ninguém.
Beijos!
Q belo post... Concordo contigo e esse assunto deve ser sempre discutido com os pequenos qdo for o momento.
ResponderExcluirEu ja vi muitos casos de preconceitos, inclusive dos proprios negros. É um assunto polemico, mas vale a pena continuar batendo na mesma tecla sempre contra o preconceito.
Um Beijo e bom dia pra vc!
oi nine querida!
ResponderExcluirPRECONCEITO NÃO TÁ COM NADA!
todo tipo de preconceito é feio, e inaceitável!e acho que os pais tem que dar o exemplo, e falar com os filhos abertamente sobre qualquer tipo de preconceito!
aqui em casa preconceito não tem vez!!
bjão
Nossa... Minha priemira vez nesse blog... Eu, que ainda estou grávida, fiquei a refletir de como é díficil educar os filhos. A gente educa pra não ter preconceito, mas vem a sociedade, os coleguinhas, os amigos e que muitas vezes são preconceituosos e acabam perpetuando isso na criança. É claro que a opinião que a criança mais leva em conta é o dos pais. Eu desejo do fundo do meu coração que meu filho possa ser desprovido de qualquer atitude nojenta como o preconceito. Que ele, assim como eu, tenha lindos e verdadeiros amigos negros e brancos, ambos solidários, companheiros, leais. Amém!
ResponderExcluirObrigado pelo comentário la no blog. Realmente uma pena as crianças ficarem doentinhas logo no carnaval. Adorei esse post sobre preconceito e com certeza me inspirou...logo logo escreverei tb sobre o assunto.
ResponderExcluirbeijão
Nine, lindo post, muito bom! A gente tem de levantar essa bandeira contra o racismo a todo o tempo, pois infelizmente ainda assistimos a muitas atrocidades por aí.
ResponderExcluirBjos querida!
Seu post está muito bom!
ResponderExcluirTEnho aprendido muito com essa blogagem coletiva!
Adorei ter participado. Espero que vc goste do meu texto também...
Meninas!
ResponderExcluirObrigada por comentarem e por participarem desta discussão. Ainda há muito mais para ser pensado, resolvido e espalhado e a leitura dos posts de outras pessoas me fez pensar em quantas maneiras diferentes há por aí de preconceito e do quanto ainda se pensa que há mais de uma raça no planeta terra, o que reforça a idéia do racismo.
Um grande beijo a todas!
Nine
Olá Nine, como já escreveu sobre o assunto, volto aqui para convidá-la a participar dessa nova blogagem sobre direitos da infância, no sentido de entender como podemos garantir esses direitos dentro de casa, se isso realmente faz parte do nosso dia-a-dia ... olha aqui o link http://blogdodesabafodemae.blogspot.com/search/label/Direitos%20da%20Inf%C3%A2ncia
ResponderExcluirobrigada e abs
Sueli