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quarta-feira, 17 de julho de 2013

Eu vejo flores em você


Uma das imagens mais lindas na minha cabeça é a de um pessegueiro passando pelas quatro estações. Depois do inverno, quando os galhos ficam secos e esbranquiçados, surgem as primeiras flores, tão delicadas, tão inapropriadas naqueles galhos estéreis que é como se elas não devessem estar ali. Mas elas estão. 

Cada um age conforme suas vontades, mais ou menos controladas pelas vontades do outro.

Quando me casei, o primeiro ano, ainda muito antes de assinar a papelada, foi incrivelmente difícil. As discussões eram quase diárias. Os mal entendidos eram comuns. Os namorados de outrora agoram tinham que aprender a ser marido e mulher, companheiros no mais alto grau de intimidade. A parte que não aparece nas comédias românticas. E aparece esculachado nas comédias de costumes, que eu adoro.

Quase pensamos em desistir. Não daria certo! Nem um ano morando juntos e já estávamos nos desentendendo feio. Mas o amor estava ali. Muitas conversas, regras, ideias...fomos nos entendendo, respeitando, nos apagando um pouco como indivíduos para florescer o casal.

Quando me tornei mãe, foi muito mais difícil, porque, ainda que como esposa eu já houvesse mudado um pouco, revisto algumas coisas, exigido e cedido, como mãe a alteração na maneira de viver, conviver e até pensar seria ainda maior. E foi. Mas poderia não ter sido.

Quando falamos sobre maneiras de maternar é discussão na certa. Gosto da teoria da maternidade ativa e consciente, da criação com apego. Meu coração me diz que é o melhor para meus filhos. Melhor para mim? Nem sempre. Melhor para meu marido ou para nossa relação conjugal? Não, nem sempre. E é aí, nesse nem sempre, que pode virar quase nunca, que mora a fatídica escolha com consciência. É onde mora o sacrifício.

Convenhamos: ser mãe e pai é difícil. Na boa, é a coisa mais difícil que eu já fiz na vida. E a recompensa não é imediata, a espera pelo resultado é longa. Nem sempre virá como esperamos.

Quando minha filha era bebezica (e isso na minha mente foi ontem :)) ela sempre esteve no topo da minha lista. Ela estava acima de tudo, de todos. Entre ela e qualquer outra coisa, pessoa, situação, era ela com certeza. É óbvio que ela precisava de mim. Ainda precisa, não tenho dúvidas.

Então eu parei com tudo e estabeleci regras. Trabalharia minhas 8 horas diárias, viria em casa para almoçar na metade do dia, ainda que isso significasse não raras vezes engolir rapidamente a comida fria depois de brincar com ela a maior parte do tempo. Depois do trabalho e aos finais de semana, sair só com ela. Babá era usada somente quando eu estava trabalhando.

Marido reclamou algumas vezes, é verdade. Por que não deixar com a babá uma noite por semana? Não, eu respondia, ainda não. Ainda não é hora. Um passeio em que ela não poderia ir, não íamos. Um evento estressante demais para ela, não íamos.

Agora, é forçoso dizer que era assim, esse grude todo, porque vivemos longe da família. Com certeza seria mais tranquilo se vivêssemos perto dos tios e avós. Ela conviveria com eles e deixá-la na casa da avó algumas horas na semana, não seria má ideia. Seria muito bom para mim e meu marido. Mas não dava. Com avó, tia, sim. Com babá, não. Minha casa, minha regra.

Enfim, o tempo passou e quando as coisas começaram a dar uma acalmada encomendamos o Pedro. Tudo novo novamente. Todas aquelas situações de mega doação vividas novamente. E eu e marido sabíamos que com o segundo filho seriam pelo menos mais 2 anos dessa dedicação exclusivérrima a ele e à irmã. Foi uma decisão bem pensada com a vantagem de que na segunda vez sabíamos onde estávamos nos metendo (ao contrário da primeira vez). 

E agora eu não tenho mais só a Ísis no topo da minha lista. Eu tenho Ísis e Pedro. O casal continua firme e forte, e porque há muito amor e companheirismo sabemos que estamos no caminho certo para nossa família. Ainda que haja dias em que nós dois desejamos que os filhotes durmam mega cedo, ainda que haja dias em que pensamos como seria bom despachá-los por uma semana para a casa dos avós, ainda que haja dias em que nos peguemos imaginando nossa vida sem os filhos. É normal, é natural. São momentos de fuga que vem associados ao cansaço da rotina automática do dia a dia. Mas são só isso: momentos de fuga. Porque a nossa vida mesmo, aquela que queremos viver todos os dias, aquela que nos faz acordar empolgados mesmo num dia de chuva, é a vida a quatro vidas. É a vida com filhos.

11 comentários:

  1. É Nine, é isso...
    Esse texto é um "vale-reflexão", sabe? Um minuto no cantinho do pensamento??? É isso.

    Eu sei lá... ando meio pra lá e pra cá com essa história de casamento pós-filhos, mas nada me tira da cabeça que o meu marido é o meu melhor amigo, meu melhor companheiro de vida. Só não estamos nos entendendo muito bem.
    Sou bem mais prática do que ele, que é beeeem mais rígido do que eu. Brigamos já hoje cedo, pasme! Laura não parava a gritaria, o choro, esperneava querendo assistir TV antes de ir para a escola (enquanto o pai colocava o uniforme, penteava cabelo, dava café da manhã) e não gostamos de TV ligada em casa, muito menos de manhã, imagina!!! Só que ela acordou assim HOJE, ela nunca pede para assistir a casa do mickey às 7h da matina. Eu, prática, me arrumando para sair para o trabalho e sem querer deixá-la aos berros com o pai, dei o celular na mão dela, liguei no Youtube e pus o raio da casa do mickey para ela. Eu o estava ajudando!! Ela nunca ia parar de chorar, de gritar, de se debater... Eu estava para mandar tudo à merda às 7:30 da manhã, pois ela gritava, chorava, não queria colocar o uniforme, ele, por sua vez, ficando nervoso e irritado com a birra dela e eu lá, tentando achar a paz matinal. Na hora que dei o cel com o youtube ligado, a casa virou uma paz, ela ficou colaborativa, ajudava em tudo, ria...
    Precisa ser cabeça dura assim???
    Precisa seguir as regras de forma rígida e inflexível????

    Ficou puto pq eu liguei o youtube, falou que eu "abro as pernas" para tudo o que ela faz, que eu sou mole, que deixo ela mandar em mim, que basta ela chorar para eu fazer tudo o que ela quer... o que ele não entende é que EU queria fazer aquilo por MIM e não por ela. Por MIM! Pela minha paz de espírito matinal. Pelo silêncio da casa, pela alegria, harmonia... por tudo o que envolve começar bem o dia e não começar gritando, dando bronca, essas coisas.

    Enfim... desculpe o mega desabafo, desculpe.

    Dias ruins.

    Mas concordo em tudo o que vc disse.

    Beijos grandes!!!

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    1. Ai, Dani, aqui não é diferente, dias ruins acontecem sempre, em todas as famílias. Essa de fazer as vontades dos filhos eu sempre ouço, que sou mole, essas coisas. Eu acho que sou flexível e, como disse a Anne certa vez, "uma mente a frente do meu tempo!, rsrsrs. Beijos!

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  2. Gente... Um post atrás do outro que só me fazem pensar e pensar e pensar!!

    Aqui em casa eu marido sempre, mais tipo sempre mesmo fomos muito tranquilos. Costumo dizer que vivíamos num verdadeiro contos de fadas, não brigávamos, não discutíamos... Vivíamos assim lindamente. Discordávamos em alguns pontos, claro, mas briga mesmo. Muito raro.! Uma delícia de se viver.
    E daí veio a Sô com muito planejamento, e com ela veio um mundo novo caindo na minha cabeça... Família perto nem sempre é bom, digo por experiência própria, principalmente pq minha filha foi aquela primeira neta tão desejada por todos. E nesse turbilhão que vem com o nascimento de um filho, veio briguinhas constantes e muita chateação entre a gente. Hoje a gente olha pra trás, e ver que poderíamos sim, passar por aquela fase de modo mais leve, mais fomos nos "embolando" no meio do caos. Entende? Parece que depois do nascimento dela tomamos aquele choque de realidade sabe? inclusive no nosso casamento.
    Hoje estamos com os ânimos mais brandos, e com a nossa convivência melhor. Apesar dos momentos de fuga, como vc citou que sentimos. É normal do ser humano. Tem momentos ainda que não nos encontramos, mas eles tbm fazem parte de uma construção diária da vida em família.
    Por enquanto ainda não fazemos planos de outro filho, mas quando esse momento chegar, tenho certeza que estaremos mais preparados.

    Por aqui seguimos tbm firme e forte, no amor e na família que formamos!

    Beijos

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    1. Oi, Manu! O início da família com filhos nem sempre é fácil, né, com eles vem tantas situações diferentes, tantos sentimentos fortes e conflitantes! Que a gente continue firme e forte no amor, que esse é o sentimento mais duradouro! Beijos! Nine

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  3. Nine, sabe, esse texto poderia ter sido escrito por mim... exceto pela parte da "família longe", porque tenho minha mãe por perto e ela me ajuda muito com minhas filhas. Só que ela me ajuda durante a semana, enquanto eu estou no trabalho, e não dá para pedir para ficar com elas para eu sair com marido à noite, entende? meu marido muitas vezes fica triste, diz que quer um tempo só nós dois. aliás, a sociedade cobra muito isso hoje em dia... é um saco! cansei de escutar que porque não tenho babá estou fadada a ter um mau casamento. Aqui em SP na classe média quase todo mundo tem babá, folguista e etc e quem não tem é visto como maluco.
    Eu fico dividida.
    Minha mais velha está com 6 anos e a pequena com 3. Marido me pede para ter uma baby sister uma vez por semana. Eu já até peguei o telefone de uma, que foi estagiária na escola delas, mas não consigo...
    Eu acho o seguinte: há tempo para tudo. Nessa primeira infância, o contato com os pais é preciso. Se já trabalhamos tanto, já ficamos tanto tempo longe, porque não priorizar o contato??? Enfim, não é fácil...
    Desculpe o comentário gigante.
    bjo!

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    1. Lilian, penso como vc. Babá aqui em casa só quando estamos trabalhando, no mais, os filhos estão com a gente. Não sei até quando, mas por enquanto sinto que deve ser assim. E o motivo é o mesmo do seu: trabalhamos fora o dia todo...sinto que o tempo com eles é pouco...o tempo de qualidade pra mim, apesar de ser válido, não me reconforta, não é suficiente. Ah, e adoro comentários gigantes! Beijos! Nine

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  4. Já comecei a comentar duas vezes e parei na metade as duas vezes... Mas vamos, né?! Não desisto!!!

    Sabe, tbm tive um começo muito dificil, muito! Que resistiu pelo amor, eu acho!! Daí agente acha que com o passar do tempo, da intimidade e do conhecer o outro a coisa vai melhorando... mas os dois lados resolvem amadurecer em tempos diferentes.. aí o bicho pega!!!

    Eu até tento rir, mas por aqui já passamos por mil e uma crises. Crise da casa da mãe. Crise dois 2/5/7 anos. Crise por causa de trabalho, por causa da maternidade... Passamos e continuamos juntos. Acho que o aprendizado disso tudo foi o mais importante que levamos sempre.

    Sabe que uma das coisas que me dão medo no segundo filho é a relação ter outro baque de ter que viver tudo de novo e marido não estar pronto para minhas cobranças, pq sou do tipo que cobra... e eu não estar pronta para ceder e entender que eles vivem isso diferente de nós!!! E quem sabe chegar a essa compreensão da vida em família!!!

    Rende papo!!! rsrsrs

    Bj grande!!!

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    1. Ah...o segundo filho...tantas outras questões desafiantes e maravilhosas...sim, ele traz mudanças, assim como o primeiro, assim como o casamento...Rende papo demais Martha! Beijos!

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  5. Nine, fato é que os filhos mudam e muito a vida do casal, e surgem divergências onde a gente nem imaginava que existiam... Aqui em casa não é diferente, e o nascimento da nossa primeira filha foi como um vendaval no nosso relacionamento, pois além da chegada dela, um terceiro elemento, a minha vida mudou muito - por minha própria opção, diga-se. Também moramos longe da família, também sinto falta de poder respirar um pouco tendo a opção de deixar as crianças com os avós ou com as tias. Mas somos bem liberais no sentido de desgrudar um pouco: minha filha desde os 2 anos passa alguns dias com os avós paternos, longe da gente. Ela fica super bem, vai feliz da vida, e por isso fico muito tranquila. Já passou também vários dias com as minhas irmãs, também feliz da vida. E contamos que com nosso pequeno será assim também, garantindo um pouquinho de tempo só para nós como casal. Essa é a nossa dinâmica, não digo que funciona com todo mundo, funciona com a gente. E com a chegada do nosso caçula posso dizer que foi tudo muito mais tranquilo, já que nossas prioridades já estavam devidamente estabelecidas.
    Um excelente post, que dá margem à muita reflexão...

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    1. Cris, que delícia poder contar com a família assim, né! Aqui a distância atrapalha um pouco, mas agora que moramos mais perto a convivência ficou mais próxima! O contato com os avós, tios e primos é uma delícia, tive isso na minha infância e quero que meus filhos tb tenham! Beijos!

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  6. Pois é ...no início você é você e ele é ele...depois passamos para o "nós"...aí começam os desafios...precisa amor, coragem, tolerância, paciência com ele e conosco !!! Aí a coisa começa a ficar legal...de repente nem eu e você , nem nós...passamos para o ele(s)/ela(s) !!! Você tinha até nome e passa a ser "a mãe de fulano(a)...!!!" E Isso não acaba mais !!! Graças a Deus !!! passamos a ser "nos todos "!!!E daí pra frente é pura generosidade, ceder, abrir mão...ainda que eles cresçam...e qdo eles voam para fora do ninho...nosso coração aperta e logo teremos um ninho maior com os netos !!! É filho é como diamante...é para sempre !!!( e tem brilho próprio !!!)Bjs ! Adorei o post !

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