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sexta-feira, 25 de junho de 2010

Papo sério: entre mãe e filha

Eu tenho algumas coisas para te contar, para te explicar, para te pedir e para te comunicar. É, é um papo cabeça, papo sério, desses que terei com você daqui muitos anos (ou nem tantos), mas que a urgência dos meus pensamentos atuais não me permite esperar tanto tempo para falar com você. A vantagem é que você não responde, não retruca, não emite opinião contrária, não me culpa. E a desvantagem é justamente tudo isso junto, porque daí não é conversa, mas sim monólogo. E monólogo é conveniente, mas é chato!

Desde que entrei para o o time das mamãs eu tenho me visto e me revisto sob vários aspectos. Tenho lido muito sobre o assunto. Tenho pensando muito sobre a maternidade. Mas não fique toda garbosa morrendo de orgulho da sua mamãe, filha. Neste quesito sou apenas mais uma mãe de primeira viagem desesperada por um pouco de rumo, de conforto, de certeza, como quase todas as mães que você vai conhecer um dia.

De tudo o que tenho lido, tem muita coisa que gosto, aceito, venero, penso sobre e coloco em prática assim que consigo. Foi assim com o nascimento deste blog, com a decisão pela amamentação exclusiva até os seis meses, com a escolha do tipo de parto, com a escolha de colocá-la para dormir no seu berço desde o primeiro mês de nascimento, de não gostar de cama compartilhada, mas colocar você para dormir no nosso quarto no colchão no chão nos dias de muito calor, de não dar chá ou água quando desnecessário, de dar antitérmico ao primeiro sinal de febre acima dos 38 graus, de torcer para você pegar a chupeta e ficar feliz quando depois de 6 meses isso finalmente aconteceu, de escolher uma ótima fralda para você, ainda que isso me custasse algumas dicussões orçamentárias com o seu pai, de furar suas orelhas com você ainda recém nascida e não esperar até você ter idade para poder decidir, de não fazer com que as visitas desinfetassem as mãos para te pegar no colo, de não desinfetar a sua chupeta cada vez que ela cai no chão, de deixar você comer as migalhas de pão espalhadas no chão da cozinha entre uma engatinhada ou outra, de deixar você mexer livremente em tudo aquilo que não vá trazer riscos muito graves a sua saúde, de tomar banho junto com você, ainda que ele fique mais demorado e eu sinta bem mais frio só para poder sentir o prazer de ter o seu corpinho quentinho e cheiroso abraçado no meu, de não te dar banho de balde, porque achei bem esquisita essa história de banho de balde, apesar de até achar bem bonitinhas as fotos dos bebezicos entrouxadinhos naquilo, mas pensar que não seria nada prático te lavar dentro daquele negócio me fez disistir de tentar, de não ter comprado um sling quando você nasceu, mas ter tanta vontade de te levar em um desses bem bonitos, bem práticos, que comprei um lindão depois que você fez 1 ano, de não te encher de brinquedos denecessários, mas te encher de roupinhas lindas, fofas e de qualidade, ainda que elas durem menos de 3 meses e ainda que fazer isso também me custe algumas discussões orçamentárias com o seu pai (não, ele não é assim tão carcamano, mas é homem e não entende da necessidade de usar fralda soft touch para armazenar xixi e cocô e usar roupinhas de criança lindérrimas mas que custam mais que as dele), de ter escolhido colocar você numa escolinha e não ter contratado uma babá e agora ter mudado completamente de idéia, de te pegar no colo cada vez que você estica os bracinhos mesmo morrendo de dores nas costas, de não deixar você chorar se posso fazer qualquer coisa para que você não chore, de comprar algumas mamadeiras extras só porque você não conseguiu tomar suquinho na primeira mamadeira no primeiro dia, de deixar você mexer na comida enquanto estou te dando a sopinha/papinha/frutinha mesmo que isso faça muita sujeira e que possa fazer com que você pense que comida é brincadeira, mas quer saber? desde que você raspe o prato eu não ligo, de correr com você para a emergência do hospital/clínica/posto de saúde se você está agindo de forma levemente diferente daquele com a qual eu estou acostumada, de ficar tensa cada vez que preciso sair com você de casa, seja para ir até a esquina, ao mercado, à casa de um amigo, ou à pracinha, mas mesmo assim sair toda feliz e posando de confiante para quem quiser acreditar...

São tantas as coisas filha, são tantos os pensamentos diários, são tantas as tomadas de decisões e são tantas as mudanças de opiniões, que, sim, fica as vezes bem difícil ser mãe. Eu quero que um dia você possa entender as minhas escolhas e que consiga me entender um pouco mais por causa delas.

Eu não sou do tipo que levanta bandeiras, que luta desesperadamente por uma causa. Mas eu gosto sim de uma pequena discussãozinha, daquelas saudáveis, que nos fazem pensar e eu gosto de falar aquilo que eu penso, ainda que eu possa mudar de opinião depois.

E o que eu penso filha é que temos bandeiras demais para erguer na maternidade, temos nichos maternos demais, temos opiniões demais e muitas vezes não olhamos para nós mesmos para perceber que tipo de mãe somos, que tipo de maternidade queremos. E quando fazemos isso, seja se escolhemos A ou se escolhemos B  temos de lidar com o desconforto de todos os outros que escolheram diferente. Para mim não importam os outros; para mim só importa você e o que você vai dizer de todas as minhas escolhas daqui algum tempo.

Neste ano de 2010 eu me vi diante de algumas discussões que podem estar super fora de moda quando você crescer, mas que fazem listas e mais listas de discussões...

Sobre o PARTO eu tenho que te dizer que sempre morri de medo. Tinha pavor. Rezava para ter algum problema básico para ser mandada para a faca sem direito de escolha. Sério. Mas falava que queria o parto normal, sem saber ao certo o que queria até a 30a. semana. Daí eu quis muito o parto normal, com analgesia, lógico, que sua mãe corre da dor como o diabo da cruz. E aí ele veio e eu vi que talvez nem precisasse da tal analgesia, que a limpeza intestinal não é assim o ó como dizem e que ruim mesmo é a tal episiotomia que me deixou com bem mais dores do que as contrações e que se na próxima gravidez eu ficar ainda mais empolgada como fiquei na sua é bem capaz de eu tentar um parto natureba. Mas quer saber? No final das contas, para a mãe, o que importa é que o bebê nasceu. Eu não julgo ninguém sob este aspecto e é realmente muita pena que bebês não falem e não digam nada a respeito porque dessa forma tudo seria bem mais fácil e a gente não ficaria aqui se engalfinhando sobre isso.

Sobre a AMAMENTAÇÃO eu tinha muitas dúvidas, tinha vergonha de dar o peito em qualquer lugar, eu pensava que achava feio um bebê grande sendo amamentado, mas depois de algum tempo e principalmente depois de ver a minha irmã mais nova, sua tia Ari amamentando seu priminho Vini com tanta vontade e prazer, mesmo com os bicos dos seios cheios de fissuras, com muita dor, eu pensei: "eu também posso, eu também quero isso" e foi pensando muito na sua tia que eu persisti naquelas duas primeiras semanas de amamentação, quando eu também fiquei com os bicos dos meus seios em carne viva e cada vez que você abria a boquinha para mamar todo o meu corpo ficava tenso e eu sentia calafrios de dor, mas eu não ligava, eu queria amamentá-la e fiz, e persisti e usei uma pomada milagrosa que me permitiu amamentá-la muito. Mas eu ainda tinha meus pudores e tinha vergonha de amamentar na frente dos outros, ainda que tentasse não sentir vergonha disso. E a vergonha não era de amamentar, mas de mostrar os seios, que convenhamos, não é algo que mulheres direitas façam assim a toda hora, em qualquer lugar. E isso me impediu de fazer muitas coisas e curtir muitos lugares com você bem pequenininha. Mas hoje não ligo e se tiver outro filho que se dane, vou amamentar em qualquer lugar e quem se encomodar que nem olhe. E eu dizia que queria te amamentar até 1 ano, porque achava suficiente e achava esquisito criança grande mamando nos peitos, mas a verdade é que depois que você parou de mamar aos 8 meses eu me culpei um pouco por não ter feito as coisas direito; e verdade maior ainda é que eu te amamentaria até meus peitos irem parar no pé sem problemas porque a amamentação é muito importante para os mamíferos e se somos humanos não deveríamos tomar leite da vaca, mas sim de nós mesmos.

Sobre a CHUPETA eu li tantas coisas divergentes que fiquei muito tempo sem opinião a respeito, como ainda hoje não tenho. Você era uma bebê que precisava sugar o tempo todo e se não estava sugando não estava feliz e por isso eu queria que você pegasse a chupeta, para ficar mais calma sem precisar se entupir de litros e litros de leite materno para ficar mais tranquila, quando o que você queria era apenas uma chupetinha e não um seio cheio de leite. Mas você só foi olhar para a chupeta com bons olhos depois dos seis meses e eu vi o quanto a chupeta te deixou mais calma, assim como a mantinha, que você adora e o colinho da mamãe. Eu não sei a que pé estará esta discussão daqui alguns anos, filha, mas eu te dei chupeta porque achei que era o melhor para você, porque por mais que me digam que basta dar colo e peito que tudo fica bem para o bebê isso não se aplicou a você! Bebês são diferentes e precisam de atitudes diferentes e eu não vejo a chupeta como algo ruim, mas também não a venero e nem te deixo largada às traças com uma chupeta na boca. Não acho que ela vá te fazer mal e foi por isso que te dei e fiquei feliz quando você finalmente gostou da amiga chupeta. E não se preocupe que não vou te obrigar a deixar dela, você vai deixá-la de lado quando estiver preparada para isso, sem estresse, sem pressão, sem traumas. E se não quiser deixar...bem...aí será com você, né? Prometo que não conto para seu futuro namorado que você ainda chipra chupeta aos 15, 18, 20 anos se assim você quiser. Melhor chupeta que cigarro, bebida, droga, virar emo, gostar de funk, entre outros (mas se você fizer tudo isso e mais um pouco não tem problema, vou te amar e te respeitar do mesmo jeito e aceitar suas escolhas, assim como espero que você um dia aceite as que eu fiz em seu nome).

Sobre o COLO eu desde sempre achei que lugar de bebê era no colo, porque sentia uma empatia muito grande pelos bebezicos pequetitos e desprotegidos nos carrinhos, nos berços, perdidos entre cobertores e pensava que "nossa, ele deve estar perdido, sem saber onde está, o que fazer", então não queria que você se sentisse assim e pegava você no colo até minhas forças falharem e eu ter que pedir ajuda do papi durante a noite quando eu já estava sem rumo de tão cansada. Também é certo que se eu tivesse um sling minha vida na licença maternidade teria sido bem mais fácil... Você ganhou e ganha tanto colo quanto eu posso te dar. Não posso afirmar que te dou tanto colo quanto você precisa ou quer, porque infelizmente não tenho braços para isso, mas te digo, minha filha, que se eu pudesse e conseguisse e se assim você quisesse, te carregaria sempre comigo, no meu colo, bem juntinho, para qualquer lugar onde eu fosse.

Sobre BARULHOS/ROTINAS DA CASA/HORA DO SONO eu tive mil pensamentos diferentes e tive mil pitacos de várias pessoas até formar a minha opinião. E ela segue a linha de que os bebês não tem que dormir em qualquer lugar, de qualquer jeito, com qualquer luz e que, sim, quando um bebê está dormindo não devemos falar alto, nem ligar o som ou fazer baderna porque assim era a rotina da casa antes dele nascer, porque sinceramente acho isso uma tremenda falta de respeito com o pobre ser que precisa dormir para aprender a conviver neste mundo. Eu não gosto de barulho quando estou cansada, nem de claridade estrema, nem de lugar desconfortável, então eu penso "por que a minha filha iria gostar?" e aí sempre fiquei muito brava quando te acordavam, mesmo disfarçando ao máximo a minha irritação, quando tinha que ouvir que você tinha que se acostumar aos barulhos/cheiros/luz porque se não iria encomodar sempre e eu e o seu pai não poderíamos fazer nada nunca. Discordo total e sempre que posso evito estresse enquanto você dorme, porque se você dorme gostoso acorda feliz eu fico tranquila e feliz por tabela. E sim, depois que se tem filhos a vida muda, a rotina muda e não, não podemos fazer exatamente as mesmas coisas que fazíamos antes de termos filhos, e isso, para mim, é o normal. Te digo que tenho saudades sim do tempo em que podia dormir até tarde, sair noite a fora, tomar umas cervejinhas com os amigos sem me preocupar com a hora ou com a tonturinha que dá, ler até ficar vesga, assistir filmes inteiros legendados (e não dublados) até doer o traseiro, sair sem eira nem beira nem destino certo, só sair. Tenho saudades disso sim, mas não troco a minha vida hoje por tudo isso que vivi antes, porque eu tenho uma certeza aqui bem no meu coração filha: eu vivi todos estes anos e eu passei todas as experiências pelas quais passei para aprender a valorizar a maternidade, a família e foi dó depois que eu conheci o seu pai e tive você que eu finalmente me senti completa.

6 comentários:

  1. Oi Nine, vim aqui para agradecer o carinho la no blog e encontrei este texto lindo! De repente fui transportada para outro tempo e outro espaço onde só existem coisas boas.

    Amei seu texto! :)
    Bom fim de semana!

    beijo
    Pati

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  2. Que lindo...lindo NIne..
    Verdadeiro,sincero...viajei no tempo e me vi com Enzo novinho ns braços..me emocionei de verdade...
    Bjao,otima semana,bjs,bjs..
    ;-)

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  3. oie flor abrigada pela visita estarei aqui sempre tá ja te linkei e vou te seguir...

    bjs

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  4. Oi Nine! em relação ao Bazar, por enquanto troquei as cortinas e substitui por persiana, daí comentei com amigos próximos e familiares e não deu tempo! hehe
    assim que começar na sala, vou vender estofados, tapete, mesa de centro, aparador, estante, almofadas... tipo limpeza geral! Quero deixar uma sala ampla e clean tudo em função do Pedro Augusto que não dá folga! rs apenas um sofá, rack e tv!

    Bjokas e qdo vai se mudar?

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  5. Lindo post! Papo sério emocionante!

    Parabéns!

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