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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

AMARmentar

Hoje você deixou de mamar.

Pela manhã, depois que você acordou, peguei-a nos braços e sentamos na nossa poltrona de amamentação, como fazemos todos os dias em que estamos na nossa casa. Você deitou e pegou o seio, como sempre, mas depois de algumas sugadas, afastou-o como se dissesse: “não quero mais isso mamãe”. Você já havia feito isso na noite anterior, mas a mamãe achou que era por causa do cansaço, apenas.

Ah, a mamãe sentiu um aperto no coração, filha. Talvez você não entenda o que a mamãe sentiu quando você escolheu deixar de mamar. Por alguns segundos eu te olhei e relembrei todos os momentos maravilhosos que tivemos enquanto você mamava, desde a primeira vez, lá no hospital, apenas alguns minutinhos depois de você nascer, até hoje.

Esses momentos são tão especiais, minha filha! Eles são daqueles raros, capazes de nos fazer sorrir num dia ruim. Agora eles ficarão para sempre guardados no cantinho do coração da mamãe reservado para esses momentos mais preciosos da vida. A mamãe é muito grata por ter conseguido vivenciar essa ligação amorosa e nutritiva com você.

Um dia, quando você tiver os seus filhos, eu quero poder te orientar, te encorajar e te falar do quão maravilhosa a amamentação pode ser! Você vai sentir que o tempo pára, que nada mais existe ao redor, só você e seu filho. Amamentar é amor, filha! É amor em forma de alimento.

No começo não foi muito fácil, nós ainda estávamos nos conhecendo, e você, apesar de sentir muita vontade de mamar desde o começo, ainda precisava aprender como fazer isso. Ainda no hospital nós duas fizemos um curso intensivo com as enfermeiras, e depois, em casa, contamos com a ajuda das vovós e do papai para que você pegasse corretamente o seio para se alimentar.

A mamãe ficou com os seios machucados, mas mesmo assim não desistiu de amamentar você. Acho que eu nunca desistirei de nada que seja importante para você, Ísis!

Depois de alguns dias, nós duas já estávamos mestras na arte da amamentação. Você esfregava as mãozinhas ao ver o seio cheio de leite, como se dissesse: “hum, agora vou mamar na mamãe, que delícia!”.

Esses momentos, Ísis, eram nossos! Só eu e você! A gente se olhava, a mamãe fazia carinho em você, você fazia carinho na mamãe (ainda que muitas vezes mais parecesse um tapinha) e assim ficávamos os quinze minutos que normalmente duravam as suas mamadas.

Então vinha sempre o mesmo ritual. Fazer arrotar. As vezes era o papai que pegava você no colo e saía pela casa, batendo nas suas costas até você soltar um arrotinho; mas na maioria das vezes você ficava no colo da mamãe, na posição que a mamãe e o papai chamavam de “coalinha”, pois você parecia um ursinho coala abraçada na mamãe ou no papai. Com o passar do tempo você foi firmando as perninhas e se interessando mais pelos objetos ao redor, até que por volta dos dois meses você começou a “conversar” e descobrir a sua voz.

Você sempre foi tão curiosa! Desde que nasceu, quando a colocávamos na posição coalinha você logo queria levantar o pescoço! Imagina, você mal abria os olhos, mas já estava super antenada com tudo o que se passava em volta.

Chegamos a pensar que você pudesse ter refluxo, mas que nada! Esse foi um dos primeiros sinais da sua personalidade curiosa, que começava a aparecer!

Por volta dos seis meses você começou a se interessar pela mantinha de crochê que a tia Negra (tia da mamãe e sua tia-avó) fez para você. Essa mantinha, e uma outra que você ganhou de uma amiga da mamãe (a Ana),  ficava na nossa poltrona para nos proteger do frio durante o inverno e para evitar que a mamãe ficasse grudada no couro da poltrona durante o verão, por causa do calor.

Era só a mamãe colocar você de coalinha que você logo esticava as mãozinhas para pegar a mantinha e levar até a boca.

Hoje você cresceu mais um pouquinho, meu anjo. Você decidiu dar um passo importante no seu crescimento, e isso dói um pouco na mamãe sim; mas não aquela dor ruim, por algo negativo que tenha acontecido. É mais uma dorzinha de saudade daqueles momentos bons que a gente teve e que não vão mais voltar, filha. Eles agora vão ficar guardados para sempre na memória da mamãe. No cantinho reservado a tudo que é raro. No cantinho do amor, Ísis.

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