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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Desaprendendo na escola...

Imagem: arquivo pessoal


Enquanto pego a mochila da Ísis, a professora (que aqui é chamada ridiculamente de prô) me chama a um canto e conta animada:
- Ai, hoje tive que rir da Ísis!
Eu, disfarçando o mal estar que a frase me causou, pergunto: por quê?
- Eu apelidei ela de Ísis Valverde (pode isso, Arnaldo, apelidar os alunos?), né, a menina piriguete da novela.
(Céus, eu penso, não bastasse agora todas as Adrianas serem "esteves", todas as Reginas serem "duarte", todas as Déboras serem "seco" ou "falabella", agora tenho que ouvir o adjetivo piriguete vindo de uma professora, pasmem, de escola particular que segue o sistema Positivo de ensino. Morro e não ouço tudo).
Diante da minha expressão pasma, ela continuou:
- Então, eu comecei a chamar ela de Ísis Valverde e ela se revoltou comigo, me disse braba que não era verde, era branca e que ela não tinha pasta verde na garganta! kakakaka.
Minha reação?
?????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????
Seguida de um sorriso prá lá de amarelo e uma vontade louca de sentar com aquela prô para conversarmossobre educação, bulim, apelidos, etc...

...

Dia desses ela chega em casa toda chorosa perguntando pelo presente dela. Eu fico sem entender nada, pois presentes aqui em casa não tem muita importância e nunca dizemos que vamos dar, comprar presente para alguém. Quando queremos nos presentear, nos presenteamos e às crianças. Mas ela continuava chorosa e me perguntando pelo presente dela.
- Que presente, Ísis?
- O meu presente, hoje é dia de ganhar presente!
- Quem te disse isso, minha filha?
- Hoje é dia de ganhar presente, a prô disse que no natal a gente ganha presente, que o papai noel traz!
Ah...
Entendi.
Nem saímos de outubro e ela já está sendo bombardeada pelas histórias de natal, presentes, papai noel. Mais presentes, que outra coisa, pelo visto. Respiro. Conto e largo:
- Filha, olha só, presente não tem dia para se ganhar. Presente é algo que a gente dá quando quer, quando tem vontade. Não precisa ter um dia para ganhar presente, mas realmente é tradição se presentear as pessoas no dia de natal. Não é uma obrigação. O natal está longe ainda, não se preocupe com presentes. Você não ganha presente da mamãe, do papai sem ser dia de natal?
- Uhum.
- Então...(aqui ia enveredar por uma ladainha sobre consumismo, há, mas achei que já estava bem complexo para ela e emendei um agora vai lá aproveitar o sol e brincar).
Ela sai porta afora e percebo que neste ano o enfoque do natal será diferente aqui em casa...

...

Percebo que há dias o lanche dela volta intacto. Converso com a professora na saída da escola. Ela me conta que os colegas se convidam para seus lanches e que a Ísis se alimenta bem, come o lanche dos coleguinhas.
Há.
E que lanche trazem os coleguinhas?
Aham...isso mesmo: chips, bolacha recheada, cereal cheio de açúcar e chocolate, quando não balas, chocolates e afins.
Não são todos, claro, mas uma grande parte deles. E ela, que é uma formigona, vai direto nos doces alheios e recusa seu sanduiche, seu bolo caseiro, seus sucos naturais e frutas.
Falo que ela não deveria lanchar esses alimentos todos os dias e que teríamos que estudar uma forma das crianças se alimentarem de maneira mais saudável na escola. Ela, a professora, me diz que somente na sexta feira é que os pais poderiam levar lanche livre (= menos saudável). Mas essa não é a realidade.
O grande problema para mim é que o consumo de alimentos muito industriais e cheios de açúcar faz com que o paladar da Ísis fique muito alterado e ela deixa de comer as frutas, os legumes, os sucos naturais, que possuem sabor mais suave e não tão doce.
Já passamos por isso com o nascimento do Pedro, quando entre inúmeras novidades, perdemos a mão com a alimentação dela. O resultado foi que pouco tempo depois percebemos que ela já não queria comer os alimentos mais naturais, apenas os industriais! Cheios de açúcar e corantes!
De lá para cá, voltamos com a alimentação mais natural para ela também e quando ela foi para a escola já havia normalizado. Porém, com esses lanches coletivos, a coisa tá saindo dos eixos novamente.
O que fazer?

...

Quando fiz a matrícula da Ísis na escola dela percebi que estava sendo instalada uma cozinha na cantina, onde as crianças aprenderiam a preparar alimentos saudáveis (assim me enfatizou a diretora), aprenderiam sobre os alimentos e os utilizariam como subsídio para aprendizados mais experimentativos.
Eu, claro, adorei a ideia!
Mas a realidade é sempre muito diferente da teoria e em dois meses de cozinha experimental a única coisa que as crianças aprenderam a fazer foi bolinha de brigadeiro comprado de pote no supermercado (ainda se fosse o natural, ao menos poderiam perceber a transformação daqueles ingredientes em algo novo e tirarem algum aprendizado daí) e mini pizza. Ou seja: teoria 10 X prática 00.

10 comentários:

  1. Fiquei indignada com esse post... não por vc mamãe (não achei seu nome em canto nenhum do blog!) mas pela postura dessa professora e dessa escola!
    Sou professora de profissão e trabalhei em escolas de educação infantil, em creches, cada uma do seu jeito, cada uma com suas regras. Uma coisa que creio que deveria acontecer no geral era se manter o respeito com os alunos. Sempre fui instruída a não apelidar crianças, mesmo de apelidos carinhosos pois os pais poderiam não gostar, poderia gerar constrangimento ou etc... Aí vem uma pseudo professora e apelida sua filha de Ísis Valverde? Ainda ressalta: uma periguete? Não sei se eu deixaria barato... Se partisse de outra criança já seria lamentável.
    Sobre o presente de Natal, é triste mas é fato que as escolas incentivam esse comportamento, trabalhei em uma que inclusive nós, professoras, redigíamos a "carta para o papai noel" que era entregue aos pais com a obrigação de cumprir tais pedidos. Aí é reforçar a educação em casa e reafirmar seus valores!
    Sobre o lanche já trabalhei em escolas em que o lanche era único, ofertado pela escola, e outras com o sistema de lancheira de casa e infelizmente quando o lanche vem de casa é quase impossível controlar que as crianças não dividam, não se interessem pelo dos outros. Acho que cabe você negociar com a Ísis o que vai colocar na lancheira dela de forma a tornar mais interessante.
    Desculpe o comentário enorme, mas precisei me expressar depois de ler o seu post e creio que principalmente com relação aos apelidos vale a pena "causar" um pouco e conversar seriamente com a direção da escola!

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  2. Ah Nine! Sabe que este assunto está me preocupando ultimamente: a escola, a alimentação e as abobrinhas que são faladas lá. Primeiro, me escrevem Luísa com Z, um absurdo para uma escola que está alfabetizando as crianças. Acho que depois de quase um ano que minha filha está lá, já deveriam ter aprendido, né? A alimentação é a mais cômoda possível, e inclui nuggets de frango, salsicha com macarrão...absuuuuuuuuuuuuurdo também! O que fazer não??

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  3. Ai, Nine, como são difíceis essa desaprendizados na escola, viu?

    Pior é que muitas vezes não temos nem a opção de mudar de escola, nos restando apenas conversar um pouco pra amenizar essas situações. As vezes, cansados, nos calamos.

    Porque é um processo complicadíssimo. Como você mesma falou, pegando a questão da alimentação como exemplo, a maioria das crianças leva um lanche não muito saudável pra escola. Isso é o retrato do que é consumido na família, que ainda não questionou a qualidade do que comem.

    Na escola das crianças, ao conversar com os pais, noto que sou um peixe fora d'água, nado contra a corrente. Enquanto eu tô me estribuxando por uma abordagem que entendo equivocada, o pessoal não vê mal algum.

    Aí não tem como a escola ouvir nossos anseios mesmo...

    Às vezes me pergunto: porque raios fui inventar de sair da Matrix? rss

    beijos

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  4. Lamentável quando a falta de postura vem justamente de onde não se deve (pq dos avós por ex. este tipo de coisa agente até entende) ENFIM acho que vc vai ter que dar um pulo na escola e papiar com a coordenação não vai ter jeito !

    beijos

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  5. Nine, que chato! Eu tb já tive problemas nas escolas onde Caio estudou (ele já está na terceira). A merenda SEMPRE foi problema. Até hoje, mando merenda de casa. Mas, adivinha só (!), todos os amigos compram na cantina. Ele, claro, fica revoltado comigo. Procuro sempre explicar que é melhor pra ele e bla, bla, bla, mas é difícil.
    Sobre colocar apelidos, que professora sem noção! Acho que vc poderia conversar com ela. Sei lá...
    E que coisa ela ficar incentivando o consumismo... Gente, tô bege! Tsc, tsc, tsc.
    De uma forma geral, a formação de professores da Ed. Infantil é muito ruim.

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  6. aii gente! que absurdo mesmo! eu tbm não vou querer que chamem a minha Ísis de valverde! affffe!
    tbm trabalho em escola, uma EMEI, que vulgarmente é chamada de creche... mas é publica, a qualidade é ótima na minha cidade, e a alimentação então... pra lá de saudavel!
    eu acho que vc deveria conversar com a direção mesmo, pq além de tudo vc paga pela qualidade do ensino da sua filha! isso te dá mais do que direitos!
    beijossssss
    coisasdegravidas.blogspot.com

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  7. Oi, queridos !Passei por qui para matar as saudades e me deparo com este post...preocupante...Olha , desculpe-me "desencantá-la", mas uma coisa é o blá,blá, blá na hora de apresentar a escola , seus espaços, projetos e ideia maravilhosos. Sou fono e pedagoga, participei da fundação de uma escola, e isso não garante que a escolha da escola seja satisfatória...Um problema seríssimo é o "sistema objetivo,positivo, anglo e etc..." são aulas prontas, planejamentos prontos onde os professores são meros aplicadores de...páginas de atividades, exercícios etc...o princípio ( se é que podemos chamá-lo assim ) é a massificação- é a padronização, e a vulgarização pedagógica educativa que reina neste nosso país...por isso as "pro" nem se apercebem que ter a iniciativa de apelidar uma criança é no mínimo um absurdo; que estimular a "comidinha -lixo" é outro...Sei o que está passando e sentido. Qdo mudei meu filho de uma escola natureba( waldorf) para uma escola "normal" tive o mesmo problema/choque ! E o pior é que me sentia louca, maluca, desvairada, diferente, ET...o processo oferecido é inicialmente de deseducação dos sentidos ( começando pelo paladar, olfato, tato, etc..) - e isso faz parte da formação do ser humano( leia Rubem Alves, Edgard Morin, Fritjof Capra e outros bambas),e da inversão de sentido/valores das coisas que para nós tem um tremendo SENTIDO, mas para eles...nenhum( o consumismo, por exemplo).Foi assim que perambulamos por 7 escolas ( não quero desanimá-la...desculpe-me), mas aqui em Sampa tem MUITA pseudo ESCOLA...o difícil é encontrar uma que no mínimo não "desande" o que já fizemos em termos de educação e de instrução...por estas e outras sou totalmente a favor do homeschooling
    ( faço até parte do grupo que luta para que esta proposta se concretize aqui no Brasil). E o mais triste é pensar que pagamos 2 x pela DES- Educação de nossos filhos- impostos pela escola pública que nem ousamos pensar em colocá-los e na particular que a cada dia nos surpreende...
    Desculpe-me o desabafo...mas ..FALEI !
    Espero que consiga resolver este desafio da melhor forma possível, e rapidamente !
    Bjs carinhosos, Betty

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  8. Como professora, fico indignado com alguns colegas de trabalho que têm atitudes como essas que você listou! Tudo um absurdo!!!
    O pior é que parece que hoje em dia esses professores (os que têm essas atitudes) são maioria. Que horror!!!

    Viu amiga, tem Prêmio Dardos para você lá no blog. Corre conferir!!!

    Beijos!

    Lívia.

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  9. Oi, PEQUENA ISIS, quando posso venho ler seu blog. Minha Paula tem 1 ano e sete meses e vai a creche/escola. Sei que é díficil falar com as pro ou com as tias,porque sinto como se o mundo estivesse invertido: se colocamos algo em dúvida elas se ofendem! Mas mesmo assim, nesse caso não pode passar assim, mas não devias falar com ela direto e sim com a supervisora. O que acontecer depois vai te dizer quem está do seu lado. Li o coments da Betty e fico cada vez mais preocupada com o futuro. Nessa creche, que é particular, num colégio de 1º e 2º grau, todo faz de conta, pego cada erro e as tias a darem explicações que tá tudo em ordem. Um absurdo. A única coisa que me segura um pouco é ela estar feliz e tranquila. Mas o tempo está contado, porque a partir de 3 anos está em jogo o intelecto dela. Já vamos ter problemas mesmo com a influência dos amigos entã a escola deve ao menos ser de alta cultura, e não cansar em casa de dizer o que é certo para essa família.
    Parabéns pelo blog.

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  10. Nossa! Achei um absurdo o que passou! Imagino que constrangedor... Minha filha tem 1 ano e 10 meses e tb está na creche, eu tb estou desapontada... Acho que sou a mãe mais chata do mundo, pois todos os dias escrevo um bilhete na agenda. E o que mais me incomoda é o lanche! Todos os dias eles colocam: "lanchou bem" e eu me questiono "o que é lanchar bem???" Suco todo? sanduíche todo? Será que que quero demais? Minha filha chega em casa bebendo "toda a água do mundo!" e eu questiono: Esta criança bebeu água durante o dia??? Não sei como reagiria no seu lugar... As vezes penso 2 ou 3 vezes antes de reclamar, afinal ela estará diretamente com a minha filha, e eu não quero que "deem o troco nela", mas é muito complicado... O fato é que algumas coisas não podemos deixar passar! Trata de educação, formação e isso é obrigação deles! Espero que tudo seja resolvido da melhor forma para vcs.

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