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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Escola

Eu não queria que a Ísis iniciasse sua vida escolar ainda. Por minha vontade ela iria apenas aos 5 anos, como eu mesma fui. Infelizmente não foi possível concretizar esta vontade por uma série de fatores e cá me encontrei com uma decisão não muito bem aceita por mim mesma. Já escrevi sobre isso aqui.

E só pensava na adaptação, respirava adaptação, adaptação, adaptação. E foi difícil, não nos primeiros dias, quando tudo ainda era novidade e ela, a minha pequena, que hoje ouso chamar de minha mais velha, achava que a escola era um lugar legal para ir, se divertir, brincar no parque, dançar com os amiguinhos, recortar, colar, enfim...uma extensão de nossa própria rotina em casa, só que mais legal, pois que incluía outras crianças.

Quando ela se deu conta de que a escola seria o lugar onde ela estaria sem mim, porque eu retornaria ao trabalho, o mundo caiu. Choros nervosos, raiva, frustração. Na tentativa de enganar a vida ela me dizia para ficar "só mais 3 minutinhos" na sala com ela. E esses 3 minutinhos viravam 6, 9, 12... Teve um dia que ela saiu correndo tão desesperada de dentro da sala, quando me viu saindo depois do "tchau, a mamãe vai trabalhar", que bateu na porta, caiu no chão, na frente de uma turminha do quinto ano, que, claro, riram. E ela chorava, e eu segurava as lágrimas.

E conversei com a pedagoga, uma, duas, três vezes. O que eu ouvi? Ladainha. Na boca da pedagoga a Ísis me testava e eu não podia ceder, porque se eu cedesse, ah...ela venceria e aí, adeus escola. A escola foi apresentada como um mundo de perfeição, onde as crianças eram "estimuladas" (estimular é o novo preto) e por isso seriam mais desenvolvidas. Melhor que ficar o dia todo em frente à televisão, ela me disse. Só que a Ísis nunca ficou o dia todo em frente à televisão.

E eu fiquei com raiva, frustrada, porque não estava segura daquela decisão, ou melhor, eu sabia que não queria aquela decisão. Havia outra forma? Não, nenhuma que me satisfizesse. A escola era dos males o menor.

O que acontece é que eu tinha uma babá muito boa, gosto muito dela, mas a menina tinha um problema de saúde que a fazia faltar todos os meses de 3 a 5 dias seguidos para realizar consultas médicas, que acontecem em Porto Alegre, já que aqui na fronteira a rede médica é praticamente nula. Quando só tinha a Ísis, tudo bem, eu dava um jeitinho aqui, outro ali; mas agora com os dois ficaria inviável esta situação. Como não entramos num acordo, tive que dispensá-la à contragosto. Foi aí que a escola entrou, porque nao consegui outra babá no mesmo nivel dela e se fosse para ter alguém que a deixaria o dia todo em frente à televisão, sim, melhor ir para a escola.
Então vamos erguer a cabeça, deixar o ideal de lado e trabalhar com o possível no momento. Vieram conversas, explicações, pedidos reiterados na escola para que, ao menos neste momento, ela tivesse uma atenção especial, que facilitasse a separação. Um belo dia marido, que estava cansado de me ver chorar depois de deixá-la na sala de aula, resolveu deixá-la ele mesmo. E eu me lembrei de Laura Gutman. Os pais tem esse papel importante, de separador, de motivador da ampliação do círculo de segurança de nossos filhos. Porque a mãe, a mãe não separa, ela fusiona (na maoria das vezes).

E nosso esquema agora funciona assim: o papai leva para a escola e a mamãe busca. Teve choro? Teve. Ela grudou nas pernas do pai um dia. Ele ficou nervoso, nunca que ela havia feito isso. Ficou preocupado, me pediu para ficar por ali olhando. Cena de filme de comédia, mas não era engraçado. Mas o tempo, ah, esse amigo, ele soluciona tudo para nós, porque como já diz o ditado "quando não há remédio, remediado está". Meu bebê velho, como ela passou a se chamar, entendeu bem que não havia mais nada a fazer e a escola era necessária neste momento.

Então a adaptação é um "não há mais nada que eu possa fazer, a realizade é essa, vamos em frente". Crescer dói, mas é necessário. Separar dói, mas faz parte da vida como um todo.

Depois disso ela se abriu, se permitiu conhecer, brincar, relaxar. E eu me conformei. Ainda tem choro? Tem, e a mantinha levada todos os dias ameniza os momentos de saudade de casa. E ela se apegou em uma professora, então, em comum acordo com a escola, esta professora está sempre lá na sala de aula para recebê-la. Não sei até quando, mas por enquanto está sendo assim.

Na vida dela, de bom, o que mudou foi a hora do sono. Ela dorme mais cedo. Mas de resto, ou não mudou nada, ou piorou, como o estresse, por exemplo. Quando ela chega da escola no final da tarde, é o caos. Ela está cansada, saudosa, com fome. Estamos todos. Ainda não conseguimos arrumar este momento.

E vou te falar, viu? É um tal de levar potinho, folhinha, fotinho, recortes, tarefas (!), que não acaba mais! Fora os dias de...esta semana tem o dia dos avós! Um evento! Daí a minha, que vê os avós uma vez por ano, não vai para a escola porque não posso permitir que ela fique lá, largada às traças sem os avós, né? E toma arrumar daqui, esticar dali.

Dia desses fui reclamar com a pedagoga sobre as tarefas dela. Sério...tem necessidade de crianças de 3 anos terem tarefas para fazer em casa? O que essas escolas estão pensando? Falei que não havia condição de receber a tarefa no final da segunda e entregar na terça! A que horas nós faríamos se eu trabalho o dia todo? E se não é para nós, os pais, fazermos com ela, então prá quê a tarefa?

Enfim, completamos o primeiro mês de aula. E eu já sou a mãe chata do grupo III. (:



12 comentários:

  1. OI! Eu estou em Jaguarão, e vejo Santa Vitória quando vamos à Lagoa Mirim! Se um dia for para o teu lado, vou te falar! Sou a mãe chata do tipo I ao extremo! Estou sempre na escola olhando, vigiando, falando com a professora e direção, pegando o contato das mães e criando grupos da escola no face. Ou seja marcação cerrada! Questiono tudo, dou mil e um palpites... a final é a vida do meu filho! Não vai ter ninguém que se importe mais do que eu!
    para o meu marido as crianças só iriam pra escola depois dos 18, até lá só em casa recebendo estímulos positivos! Mas daí teria uma mulher louca em casa, né!
    Eu acho que criança precisa de outras crianças para brincar. É legal ir pra escola, escola ideal não há. Minha mãe me falou que no meu tempo de criança , ela escolheu a escola, me largou lá as 8 da amanhã e só buscou as 5 da tarde. Não havia isso de adaptação. e não me criou traumas, pq eu AMO estudar e adoro ler e fazer coisas de arte. Então não te preocupe tanto (pq se preocupar a gente vai de qualquer jeito).
    Bjos, gi
    e kids

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  2. Ai Meu Deus!

    Mãe chata nada, gente. Mãe cuidadosa, preocupada com o tempo da filha e seu próprio.

    Não é fácil mesmo, mas tenho certeza que você vai dar jeito. Aliás, vai precisar dar esse jeito de uma forma ou de outra, né?

    Tô torcendo aqui.

    Bjs!!!

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  3. Menina, eu sou como vc. Aqui, já levo a pecha de "annoying mother". Como assim tarefas de casa para crianças de 3 anos? Não concordo. Se houvesse, qe fosse na sexta para entregar na segunda. Assim, dá para fazer com os pais.
    Minha ciça entrou na escolinha aos 18 meses, eu também não estava segura da decisão, mas tive de dispensar a babá boa (porque ela estava reivindicando uma autonomia que as babás do bairro tinha, mas eu não queria dar a ela, porque as outras babás eram mães das crianças, levavam ao pediatra, ao zoológico, saíam sozinhas com as crianças pela cidade - de SP - afora, de táxi, de motorista, para onde lhes desse na telha, imagine - e meu marido tinha sido chamado num concurso. Foi difícil para mim. Ela até se adaptou bem, mas a escola tinha tanta coisa bizarra que não consigo ter muito boas lembranças...
    Enfim, questione, sim, as annoying mothers sofrem mais, mas são necessárias. Eu já consegui muita reflexão e mudanças positivas por ter questionado procedimentos.
    Beijos

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  4. As atividades do meu filho (que agora diz que é rapaz e faz 4 anos em novembro) chegam sempre nas sextas-feiras, pelo menos por enquanto. Acho que ano que vem vai mudar e eu vou chiar porque chego em casa tarde e vai ser complicado pra gente...
    Ano passado foi um inferno, mas este ano coloquei ele no período da tarde e tudo se resolveu. Parou de chorar, fazer escândalo, enfim... Melhorou tudo.
    Bjs e boa sorte.

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  5. Nine sei bem como é essa situação.
    Vende-se muito que crianças que frequentam escolas são mais espertas e coisa e tal.
    Mesmo meu filho frequentando uma desde um ano não concordo.
    Mas tive que optar por ela por não encontrar uma boa babá.
    Depois de muitas doencinhas estou a procura de alguem para ficar com ele em casa.
    Beijos

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  6. A adaptação escolar é mesmo punk e não só pela separação mas também por todo aprendizado que vem a rebote (positivos e negativos).
    Meu JOão Victor se adaptou bem mas eu é que ainda não me acostumei com este novo espaçosocial. Isso porque na escola, a criança passa a ter acesso a coisas, linguagens, alimentos, que antes você não permitia e pior... isso é natural. Enfim, colocar na redoma não ajuda. Penso que o importante é de fato acompanhar com proximidade e se isso nos render títulos... que seja de mãe zelosa...rsrsrsrs

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  7. Oi Nine, obrigada pela visita e pelo recadinho lá no WMN. Esse lance de escola é muito delicado mesmo. Aqui demorei para encontrar uma que estivesse mais próxima do ideal. Tive uma experiência ruim com a primeira tentativa, mas a segunda fluiu. Acho que vcs estão indo no melhor caminho, de ter firmeza e ao mesmo tempo dar acolhimento para ela. Mas, essa história de milhões de atividades e dia disso e daquilo é o ÓOOOO. To fora de escola assim! Eu acho que coloca uma pressão desnecessária nas criança e na família, justamente nesse período delicado que é a adaptação e a transição da primeira infância para a socialização. Mas, a verdade é que aqui no Brasil estamos muito mal servidas de escolas infantis... E temos que buscar, dentro do possível, o que for melhor pra todos.

    Beijos e boa sorte!

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  8. Se te serve de consolo esta fase "ruim" vai passar eu confio que vai chegar o dia que a sua pequena estara feliz em ir para a escolinha e estara feliz o dia que não tiver que ir (aqui pelo menos chegamos a este ponto e nem preciso dizer que o que sinto é alivio né)

    quanto a ser a mãe chata eu não acho que é o caso, concordo que tem pais que ficam distante dos filhos (não acho que seja o seu caso) e a escola usa este tipo de metodo para unir a familia (por aqui tb tem projetos deste tipo mas acredito que para tudo tem que ter coerencia ....)

    na torcida por dias melhores

    beijos

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  9. Oi Nine! Que saudades daqui!
    Ah, a escola... Realmente a adaptação é mais difícil para algumas crianças. Bento esse ano entrou em escola nova, e eu gosto muito da atual. É a segunda escola dele, a primeira foi o berçário, que precisei apelar por trabalhar em período integral na época. Depois ficou comigo em casa uns meses e esse ano coloquei em meio-período para que eu pudesse traballhar. Se tivesse opção na época não teria colocado ele tão cedo, mas agora aos 3 anos sim. Eu acho uma idade boa, já não tão suscetíveis a doencinhas. Bento adora a escola, fez vários amiguinhos. Tenho certeza que logo a Ísis vai adorar!
    Bem legal o pai ter entrado como separador emocional, é importante mesmo. Por aqui não foi necessário para a entrada na escola, mas provavelmente será para dormir sem mim (confesso que sou eu a que mais reluto, adoro dormir com ele).
    Ah, achei bem esquisita essa das tarefas!! Bento tem tarefa, mas é sempre algo bem simples, como pintar um (e somente um) desenho. E sempre a tarefa vem na quinta-feira para entregarmos na segunda, ou seja, bastante tempo para fazer. Acho que vale uma conversa na escola sobre isso.
    Por fim, sobre ser mãe chata... bem-vinda ao clube, rs!!
    bjos

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  10. Oi Nineee!! Saudades... imagino muito toda essa situação, mas vai passar e o bicho saboroso vai ficar bem como sempre :)Ri muito na parte do Dani, mas acho que foi uma boa idéia por ele passar menos insegurança né..

    Aqui está tudo bem, a greve acabou mas teremos aula em fevereiro... Estou muito empolgada com o laboratório e com as pesquisas! Vim passar o feriado em casa e aqui está um calor de matar! Todos na praia, praticamente não tivermos inverno esse ano.

    Recebeu minha mensagem? Te mandei uma mensagem de feliz dia dos irmãos mas caso não tenha recebido FELIZ DIA DOS IRMÃOS TE AMO MUITO E ESTOU COM MUITAS MUITAS MUITAS SAUDADEESSS!!! Beijinhos no pedroca e no bixo! E outro pro jangoooo

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  11. Querida não é facil ne...
    Sobre as tarefinhas, se ela esta em uma creche que passa o dia todo, é desnecessario, não ha tempo de se fazer...
    Davi esta em uma escola mesmo onde so passa meio periodo, e as tarefas são fundamentais pelo aprendizado das cores, letras e tudo mais...
    Mas ainda bem que a adaptação melhorou e imagino o quanto vc sofreu...
    Ficar o periodo integral é cansativo, mas quando não tem jeito temos que deixar...
    Espero que ela começe a gostar mesmo e vc tem que se meter, reclamar, dar palpites!!!
    Bjs

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  12. Viva os chatos Nine!
    É impressionante o quanto você é lúcida!
    Eu não consegui me adaptar à escola. Por outro lado, Joaquim parecia ótimo.
    Não é fácil, acho que não é para ser fácil.

    Eu sempre tenho receio em comentar em postagens como essa, se não te conhecesse minimamente não comentaria. Porque eu concordo com vc, da dificuldade que é essa separação e quanto a sociedade é injusta com mães e filhos, quando a única opção é: escola mal preparada.

    É para isso, dizem os livros, que servem as mães chatas! :)

    Força na peruca, e um grande viva para o papai, que deu uma força e tanto!
    bjo bjo

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