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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Por quê? - parte III

Às 14:30h a bolsa rompeu, estávamos eu e meu marido tirando um cochilo após o almoço. Eu o acordei e avisei que a bolsa havia rompido. Nos levantamos e enquanto ele se arrumava e terminava a mala da Ísis eu fui tomar um banho, pois não pretendia ir tão rapidamente para o hospital. Havia lido que quanto mais cedo chegamos, maiores as chances de cesariana desnecessária.

Tomei um banho demorado e ali mesmo senti as contrações ficarem mais fortes e mais frequêntes. Tive várias contrações, algumas mais longas, outras mais curtas e outras ainda que pareciam juntar-se, sem que a onda tivesse realmente passado. Resolvi acelerar o banho.

Eu estava muito tranquila, até eu me admirei com a minha calma e serenidade. Sempre havia ficado apreensiva de na hora das contrações ter tanto medo ou dor e apavorar, sabem? Mas não foi isso que aconteceu, uma calma enorme tomou conta de mim.

Chegamos ao hospital da Unimed às 15:30h, avisei na recepção que minha bolsa havia estourado, fui para a triagem ainda na recepção: pressão normal. Depois me ofereceram a cadeira de rodas, que eu recusei. Durante o tempo de espera tive mais algumas contrações, não conseguia ficar sentada e andava de um lado para o outro como um bicho acuado.

Fomos, eu e marido, para a maternidade acompanhados de uma enfermeira. No elevador mais uma contração, dessa vez mais forte. Segurei com força o braço do marido, alguém fez um comentário sobre a dor e eu disse que era uma dor boa, uma dor bem vinda, afinal era sinal de que minha filha estava nascendo. Essa frase foi o tom de todo o meu trabalho de parto até a analgesia. Eu me mantive muito concentrada o tempo todo e acho que esse é o maior dos segredos de um parto tranquilo: a preparação mental.

Depois que iniciei as minhas leituras, uma colega de trabalho me presenteou com um livro sobre a dor do parto e eu me interessava muito sobre isso, obviamente. Em todos os textos a explicação de que as dores das contrações se assemelhavam a cólicas menstruais, que surgiam e desapareciam em ondas e que nos intervalos entre elas não se sentia nada.

Eu sofri muito com cólicas menstruais na adolescência e no início da idade adulta. As minhas cólicas eram terríveis me fazendo até mesmo desmaiar de dor. Mas elas não me davam tréguas, não vinham em ondas, não desapareciam por completo por longos minutos. Foi então que eu achei que eu enfrentaria bem essa parte.

Quando chegamos à maternidade eu fui para a triagem e meu marido foi encaminhado para realizar a internação. A enfermeira me mandou deitar na maca. Deitar, ficar deitada, juntamente com os exames de toque (que foram vááários) foram das piores coisas durante o TP, muito pior que as contrações que sentia.

Enquanto estive deitada a enfermeira fez o exame: 4 cm. Ligou para minha GO, falou sobre a dilatação e como a minha médica estaria de plantão ali a partir das 19:00h disse que eu poderia já ficar internada. Nesses minutos eu tive algumas contrações, com pouquíssimo intervalo entre elas, queria me levantar, mas a enfermeira logo chegou com o enema. É meio desconfortável, mas nada de horrível, eu pensei na hora. Poucos minutos depois eu somava às contrações as cólicas intestinais e aí ficou bem ruim!

Fiquei longos minutos no banheiro e esses foram de longe os piores! Duas dores diferentes e uma diarréia...nada agradável. Depois eu tomei um banho (o chuveiro é realmente uma bênção!) e as contrações continuavam. Quando saí do banheiro a enfermeira não estava e eu fiquei curvada sobre a cama rebolando com o quadril, instintivamente, pois era muito relaxante durante uma contração. Instintivamente eu também comecei a gemer com a boca aberta e isso aliviava demais a tensão durante a contração! Não sei onde tiraram que as mulheres não podem gemer, gritar, o que for!

Quando a enfermeira retornou a cena era uma parturiente pelada (aquela camisola horrorosa já tinha caído) curvada sobre a cama, rebolando e gemendo...num hospital com mais de 90% de cesarianas isso devia ser um espetáculo! Escutei ela ligando para o anestesista. Fui encaminhada ao quarto de trabalho de parto e parto.

Ali a enfermeira fez mais um toque: 6-7 cm. E eu tive que ficar deitada! Um horror! A melhor posição era de lado. Algum tempo depois meu marido finalmente chegou e viu minha primeira contração com gemido e tudo! Há! No intervalo disse a ele que estava tudo bem, que doía mesmo, mas era suportável e que logo o anestesista chegaria.

Mais algum tempo, várias contrações depois, novo toque (8cm) e chega o anestesista. Esse foi o segundo momento ruim: ficar imóvel para que ele realizasse o procedimento! Quase quebrei os dedos da enfermeira, coitada!

A anestesia pegou, eu fui lentamente deixando de sentir as contrações até que não senti mais nada. Segui conversando com meu marido (que ficou visivelmente mais tranquilo quando percebeu que eu não sentia mais dor), liguei para minha mãe, minha sogra.

Eu me lembro de ter pensado que, sim as contrações eram doloridas, muito mais doloridas na posição deitada e quando eu não gemia com a boca aberta (quando a enfermeira entrava na sala eu me controlava, afinal já havia ouvido histórias terríveis sobre "frases" ditas por elas nesses momentos), mas elas eram suportáveis, elas vinham e iam e no intervalo eu até conseguia rir!

Eu estava mais receosa era com a fase II do parto: o expulsivo. Como seria? Nos relatos essa era sempre a parte mais nebulosa da história (depois eu entendi o motivo) e eu não havia conseguido um conceito sobre ele, se doía muito ou não...eu e o meu medo da dor...

Mais um tempo e eu comecei a sentir uma pressão diferente. Falei com a enfermeira e com o último toque ela constatou a dilatação total. "Posso empurrar?" perguntei. Ela me disse que "não, pelo amor de Deus que a tua médica ainda não chegou!" Ela ligou para a médica que avisou que já estava chegando e pediu que me transferissem para sala onde são feitas as cesarianas.

Chegando lá, outro clima! Olhei para o relógio: 19:00h. Havia perdido totalmente a noção do tempo. Colocaram a ocitocina e eu não questionei. Era para ajudar a aumentar as contrações, a enfermeira me disse. Eu abstraí, que fosse!

Cinco minutos depois minha médica chega paramentada e sou autorizada a fazer força. Obaaa! Fiquei numa escada encostada na cama e quando a vontade vinha eu ficava meio acocorada segurando numa barra lateral, empurrando, empurrando, empurrando. Empurrando totalmente sem noção, hoje eu sei, mas resolveu, porque 1 hora depois eu senti uma pressão muito grande na minha vagina e me assustei! Eu não estava preparada para aquilo, mas sabia o que estava acontecendo: a Ísis havia descido e já estava à postos!

Dali para frente eu perdi totalmente a noção de tudo, de tempo, de pessoas. Eu lembro das coisas em flashs somente e depois fiz meu marido contar os detalhes que minha consciência havia perdido.

A médica examinou e passou a me orientar nas forças, mas eu tive que me deitar na cama. Horrível! À cada contração eu instintivamente queria me levantar, mas um enfermeira me segurava pelo peito e mandava ficar sobre os cotovelos e empurrar com foooooorçaaaaa. Meu marido ali, me ajudando, mas eu perdi a noção, tratei de mei concentrar e empurraaaaaar!

Mas é óbvio que naquela posição eu não fazia uma força muito efetiva e a médica me avisou que "teria que fazer a episiotomia porque a cabeça dela está acinclítica e eu vou ter que mexer um pouco". Eu me lembro de acenar com a cabeça, ela aplicou a anestesia local. Senti ela mexendo um pouco.

Mais um tempo e chega um outro médico pedindo para acelerar a coisa que ele tinha uma cesariana para fazer! Afe! Eu lembro que quis xingá-lo! E não sei como uma enfermeira montou na minha barriga! E apertava, apertava e eu tentava tirar ela dali de cima, loucura total! Cadê a serenidade? A tranquilidade? O hospital amigo do parto normal?

E de repente eu sinto minha filha escorregando suavemente. É uma sensação indescritível e que me emociona até hoje! Sentir a Ísis nascendo de dentro de mim é uma das melhores coisas que viverei na vida, tenho certeza!

Depois da aspiração (lembro dos barulhos e ruídos até hoje),  e durante a pesagem e medição ela chorou à plenos pulmões! Eu me levantei na cama, mas não consegui vê-la. Meu marido foi para perto dela e dali alguns minutos me trouxe a Ísis (ela parou de chorar assim que o pai a pegou no colo). Ela deitou no meu peito e eu me apaixonei por ela naquele instante. Ficamos longos minutos nos olhando, falei algumas coisas e ela ficava levantando o pescoço e me olhando. Eu estava em êxtase! Numa felicidade sem tamanho! Eu não conseguia tirar os olhos dela e estava tão bem e eufórica que poderia me levantar e dançar ali mesmo!

Mas...a placenta foi extraída, períneo teve que ser costurado. Essa parte foi bem chata, levei muitos pontos. Quando a médica terminou disse que "ia conferir se estava tudo certinho" e enfiou o dedo lá! Ali eu tive certeza que meu corte havia sido gigantesco! Se os profissionais fosse mais bem preparados, eu poderia ter tido um parto sem sofrer episio. Mas...

Fui levada para a observação, enquanto o marido acompanhava nossa filha no banho, troca de roupa. Lá, depois eu soube, eles aplicaram vitamina K, colírio, lavaram a Ísis numa torneira e colocaram a roupinha dela. Eu fiquei deitada, me sentindo extremamente realizada por ter conseguido, por ter tido um trabalho de parto rápido, tranquilo.

Lembro que eu era a única de que havia feito parto normal naquela noite. Uma senhora que devia estar acompanhando a filha veio me perguntar se eu era a moça do parto normal, repondi que sim, e ela "tadinha, não deu tempo de fazer cesariana?" e eu respondi "Deus me livre, eu escolhi ter parto normal". Depois disso, ela saiu e ninguém mais me aporrinhou. Comi sopa e pude ficar com minha filha durante todo o tempo, por ter feito parto normal, as outras, com cesariana, não podiam estar com seus bebês, que foram deixados no berçário. Agradeci pelo parto por isso.

Naquela noite, depois que já estava no quarto, eu agradeci mais algumas vezes por ter tido um parto. As outras com quem dividi o quarto estavam meio chapadas, com dores, mal conseguiam se sentar na cama, quanto mais cuidar de seus bebês recém nascidos (o alojamento era conjunto mãe e bebê). Enquanto eu podeia me levantar livremente, ainda que sentisse alguma dor com os pontos da episio, nada me impedia de ninar minha filha, amamentá-la, trocar suas fraldas, tomar banho. As outras ficavam na cama, precisavam sempre do auxílio das enfermeiras e não conseguiam acudir seus filhos quando estes choravam. Eu me lembro que na segunda noite (como a Ísis nasceu a noite eu passei mais uma no hospital), dividi o quarto com uma moça e sua filhinha chorava demais no bercinho e a moça chorava na cama por não conseguir pegá-la, um horror. Eu me levantei, e como a Ísis estava dormindo, fiquei com a filha dela alguns minutos no colo, até ela se acalmar. A moça me agradeceu e eu agradeci novamente pelo parto que tive.

Não há como explicar em palavras as sensações, a experiência de nascimento, eu só posso relatar que, apesar das intervenções sofridas (eu estava preparada para elas) viver o nascimento de um filho da forma normal, fisiológica é de uma magia, de uma beleza!

Se me perguntam se dói o parto normal, eu respondo que sim, que dói, mas é uma dor suportável e até mesmo boa. A cesariana também dói e muitas vezes não dói apenas no corpo, mas na alma. A dor no parto é algo tão diferente de uma dor ruim, que ela é o que menos importa! Se me disserem: "ah, mas você usou analgesia!", sim eu usei porque tinha pavor da dor de parto, afinal, ela conhecida como a pior dor que existe! Mas depois de passar por ela eu percebi que não é o fim do mundo e não deveria ser usada como única justificativa para se optar por uma cirurgia. E você sempre poderá recorrer à analgesia!

Existem centenas de relatos de parto na internet, e todos eles me emocionam, ainda mais depois que passei por um. Você sentir o seu corpo trabalhando para que seu filho nasça é de uma beleza sem tamanho! Quantas mulheres que optaram pelo parto normal ou natural se arrependeram depois? Eu não conheço nenhuma...

...

No prósimo texto quero falar um pouco sobre um aspecto do nascimento que eu não havia pensado da primeira vez: e o bebê? Como ele fica nisso tudo? Por quê desta vez eu desejo um parto domiciliar?



10 comentários:

  1. Voltei apra ver se já tinha a continuação. Achei o relato lindo. Deve ter sido uma sensação maravilhosa!!!

    beijos

    Pati

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  2. Nine !!!! muito legal partilhar destes detalhes, e o mais incrivel é que mesmo agente contando e recontando sempre haverá algo a se contar né !!!

    A Isis esta bem ??? e este bebezinho esta se comportando direitinho ??

    beijoss

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  3. eu daria um murro na enfermeira que subisse naminha barriga! cotovelada, nem pensou na hora? hehehe

    e esse medico cretino que tinha uma cesarea depois? tinha q dizer pra ele: vai, pode ir que ngm precisa de ti aqui, hahahaha

    depois de xingar todo mundo joga a culpa nos hormonios hahaha

    to falando isso agora sei que na hr a gnt nem pensa, né?

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  4. Fechou com chave de ouro Nine! Emocionante teu relato. E é bem o que dizem sobre a cascata de intervenções né... uma coisa puxa a outra. Que bom que deu tudo certo - e que demais vc ajudando a outra mãe no quarto...
    bjos!
    Sarah
    http://maedobento.blogspot.com/

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  5. Pati, obrigada! A sensação foi das melhores que já senti na vida! Beijos!

    Oi Simone! Sempre que penso nesse dia eu descubro mais um detalhe, mas uma nuance. Ísis está bem, sapeca, cheia de novidades. E o BB também, crescendo! Beijos!

    Ai Tchella, na hora nem pensei, só tentava tirar ela de cima de mim, sem sucesso! Beijos!

    Obrigada Sarah! Beijos!

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  6. Nine, você é pessoal e estatísticamente falando, uma vitoriosa em ter conseguido parir na rede privada. Parabéns!

    Mas olha, fico com tanta raiva quando leio relatos cheios de intervenções desnecessárias. Essa manobra de subir na barriga então! Uma conhecida minha conseguiu derrubar a enfermeira de cima dela, meu marido virou fã dela quando soube da história. rs

    A sensação de parir é maravilhosa. Estou aqui vibrando muito para que você tenha um parto humanizado maravilhoso! Daí a gente volta a conversar.

    Sobre o final do seu texto, o gancho do próximo, olha, é duro. Pior é que eu vejo pai e mãe vendo o filho que acabou de chegar ao mundo esgoelar, super angustiante, e achando lindo. Que raiva! Sim, sei que eles pensam que é assim que deve ser, mas meu, duro demais!!!

    Beijos!

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  7. Quando a enfermeira retornou a cena era uma parturiente pelada (aquela camisola horrorosa já tinha caído) curvada sobre a cama, rebolando e gemendo. kkkkkkkkk entre tudo no seus textos, que eu li os três hj, essa foi a parte mais engraçada! ... porém me emocionei muito com a parte do nascimento... sem dúvida eu quero um parto normal! beijos!

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  8. Dani, obrigada! Realmente meu parto foi cheio de intervenções desnecessárias, algumas delas escolhidas por mim, ainda ignorante de uma série de coisas. Ainda bem que o tempo passa, eu me informei melhor e nessa segunda gravidez estou mais forte para buscar um parto digno para mim e um nascimento sem traumas para meu segubdo filho. Beijos!

    Oi @paulississima! Obrigada! Espero que você consiga um parto normal muito melhor do que o meu primeiro, que já foi maravilhoso! Beijos!

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  9. Olá querida!!!

    Esta rolando um sorteio de 01 livro infantil em nosso blog. Se puder, participe e quem sabe você não ganha para sua filha!!!!!

    Endereço:

    http://vitrinedepromocoes.blogspot.com/2011/07/resenha-7-sorteio-na-vitrine-de.html


    Se puder também divulgar para suas amigas, ficaremos muito gratas!!!


    Beijos!!

    Vivian Pereira / Irene Moreira

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  10. Muito bom ver a tua história! No ano que vem estou pensando em engravidar e quero muito um parto normal, o mais normal possível. Bom ouvir o que tu passou e ver o quão bom é fazer parto normal e melhor ainda humanizado! Tu me empolgou mais a ter parto normal! Vou continuar acompanhando o teu blog. Teu relato foi lindo!
    Beijos

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