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terça-feira, 12 de novembro de 2013

Escolha, consciente, vida, ativa.

 Crepúsculo, Praia do Forte, Floripa-SC


Eu já acompanhei muitos blogs desde 2009, quando a Ísis nasceu e eu entrei, sem querer, no blog da Mari, do Pequeno Guia. De lá para cá, é clichê e real dizer que muitas coisas mudaram. Em mim e na blogosfera materna.

A grande maioria dos blogs maternos da época em que eu comecei já não estão mais ativos. Ou estão fechados, ou estão em stand by.

A grande maioria das mães que eu acompanho (ava) desde 2009, já tem filhos da idade da Ísis, algumas tem filhos um pouco mais velhos, muitas tiveram um segundo filho. Raras tiveram mais de 2 filhos. E eu percebi nelas o que vem acontecendo em mim: os textos rareiam na proporção em que os filhos crescem.

Há muitas explicações para isso, eu tenho as minhas próprias justificativas para escrever bem menos por aqui. Não há um único motivo, mas hoje eu sinto na pele o que já era discutido nos posts das mães dos pequenos lá em 2009: a privacidade.

Eu descobri que uma coisa é você compartilhar textos fofos, que falam sobre o desenvolvimento dos filhos enquanto estes são bem pequenos. Por mais complexo que isso fosse para mim quando eu era mãe apenas da Ísis, nem se compara às questões de hoje em dia, quando tenho uma meninota de 4 anos e um menininho que já já faz 2 anos.

Falar abertamente sobre as noites em claro, sobre a chupeta, a mamadeira, a amamentação, o parto, a alimentação, as gracinhas, as escatologias, enfim, tudo que se refere ao dia a dia com bebês é muito mais fácil e leve do que falar abertamente sobre a maternidade depois dos 2 anos de vida dos filhos. Falar da maternidade com foco apenas na criança é muito mais leve que falar com foco na mãe, no pai, na vida profissional, na sociedade.

Quando os filhos são ainda bem pequenos e quase sempre seguem um rito meio linear de passagem dos meses rumo aos 2, 3 anos, é tudo muito similar na minha, na sua casa e na de tantos outros.

E depois...bem, e depois você descobre que existe um mundo lá fora que precisa urgentemente de pessoas mais generosas vivendo nele. Para falar apenas uma palavra. E pior...você descobre que as teorias todas, das melhores às piores, são só isso mesmo: teorias. Funcionam hoje e podem (e provavelmente não vão) funcionar amanhã. E finalmente, a junção de palavras como: escolha, consciente, maternidade, ativa, finalmente faz sentido. E você precisa atravessar a linha que separa a linda teoria da prática. Das duas uma: ou você se mantém no campo das teorias, que é ótimo e eu adoro porque não exige muito esforço; ou você atravessa a linha imaginária rumo à prática. É aí que o gigante adormecido (hoho) acorda em você.

Não é que haja uma teorização lá atrás e uma prática aqui na frente. Não. Mas o exato momento em que eu decidi bancar minhas escolhas fez com que uma avalanche de acontecimentos, sentimentos, vivências, eclodisse na minha vidinha pacata de mulher, mãe, esposa, profissional.

Não é fácil bancar escolhas. A gente sai do lugar comum, sai da zona de conforto e, sem querer, confronta muitas pessoas, muitas organizações sociais, relações de trabalho. Sem querer. Apenas porque agora a escolha é consciente, e nem sempre vai ao encontro - na maioria das vezes vai de encontro - ao que reza o senso comum.

E se aqui na blogosfera é fácil encontrar listas de famílias que se pautam pelos mesmos conceitos que eu trago comigo, na vida real é bem difícil. Ainda mais quando a forma como você vê o mundo vai de encontro ao mundo que você habita.

O que fazer então? Mudar de mundo?

Tudo isso para dizer que eu sumi por razões bem pessoais. Sumi pela necessidade de privacidade, já que, infelizmente, muito do que eu escrevo não atinge apenas positivamente as pessoas. Quando essas pessoas estão distantes, é uma coisa, mas quando elas estão ali do lado, bem, fica muito difícil escrever livremente.

O que me faz lembrar do hábito que algumas pessoas adquiriram de escrever um texto e colocar logo abaixo a interpretação do texto, no melhor estilo "aqui neste texto você leu que:"; "aqui neste texto não está escrito que:". Pode ser uma alternativa, mas ficaria muito cansativo e menos poético. Tenho uma leve tendência a poetizar boa parte dos meus textos.

O que me faz lembrar do motivo pelo qual eu desisti de jornalismo no vestibular de 1996 e encarei a nutrição: eu gosto de me sentir livre, não tolero subordinação e servilismo. Não me considero melhor do que ninguém. De verdade. Mas, importante lembrar, que também não me considero pior. Não toleraria ter que escrever sobre coisas que nada significam para mim, ou escrever sem alma. Ou escrever com medo.

"A minha alma tá armada e apontada para a cara do sossego, pois paz sem voz, não é paz, é medo".

Aqui também há rosa para meninas e azul para meninos. Mas isso não é uma regra.




20 comentários:

  1. Um bálsamo este texto.....

    Tenho pensado muito nisso e me encontrado em blogs que pensam, mais ou menos, como eu ou que, de alguma forma eu me identifique neste lugar maluco chamado internet, vida virtual....

    Claro que os assuntos de mães de bebês são tão pertinentes quanto os assuntos de mães de crianças mais velhas (e ainda bebês no nosso coração), mas eu gosto mesmo é de sair da caixinha, de pensar diferente, de encontrar textos assim, que mexam comigo.

    Ah, Nine, como eu gostaria de mudar tudo na minha vida, já falamos sobre isso antes, não é?
    Seria fantástico....

    Por enquanto, torço para que as outras mães que conheço consigam conquistar seus sonhos tb!

    Um grande beijo!

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    1. Oi, Dani! Obrigada! Vc é sempre muito carinhosa comigo! Todos os assuntos ligados à maternidade são pertinentes, não há dúvida! O que quis dizer com o texto é que agora, com os filhos mais crescidos, questões antes do campo da teoria, ps os filhos eram bem pequenos e não se precisava pensar nisso ainda, colocar em prática, vem à tona. E essas questões estão mais ligadas a nossa vida como um todo, nossos outros papéis na sociedade, para além da mamãe. Agora é a mulher, a profissional, a cidadã, que começa e exigir um espaço. E nessa mudança de foco é preciso - eu pelo menos acho - ser coerente com aquilo que se acredita. Bem sei das nossas vontades de mudar tudo, mas é um passo de cada vez. Eu dei o meu...o tempo dirá. Beijos!

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  2. Adorei a citação do Rappa! Amo essa música! Puxa, que texto ótimo. Me identifiquei muito com essa coisa de descobrir que, na vida "real" tem muito menos gente pensando como a gente. Aqui,no mundo dos bytes, como diz a Mari Sá, a gente se encontra, se acolhe, troca, aprende, se fortalece. Só que "lá fora" somos a minoria da minoria da minoria da minoria da minoria da minoria {looping no repeat, deu pra entender, né? ;)}. Posso mandar ver num palavrão? É phoda! Estou num momento bem teórico ainda, mas tão tão intenso que ando bem sem energia pra escrever. E, pensando bem, num momento prático também, mudando pequenas atitudes, ajeitando pequenas coisas, comprando pequenas brigas (com gente próxima, com gente nem tão próxima). Me sentindo sozinha, bem sozinha. E em dúvida. E confusa. E comprando briga comigo mesma. Porque muitas dessas coisas que a gente aprende não são naturais pra gente. Então em muitos momentos a "escola" dentro de você reage com força contra os questionamentos todos. E aí você acorda de mau humor, como eu acordei hoje...

    Quero dizer que senti falta de você por aqui. E que,bem, se um acolhimento e uma troca de ideias virtuais for capaz de te ajudar a enfrentar o mundo dos átomos aí, estou por aqui, disposta (você tem meu e-mail. escreva quando quiser). Outra coisinha: já leu Humberto Maturana? Eu li, por enquanto, apenas um capítulo de um dos livros (aliás, tenho PDF, se quiser). Mas, putz, tão energizante, tão esclarecedor, tantas fichas caindo. E, sabe?, ele aborda basicamente isso que você diz, num sentido mais geral: o embate daquilo que é natural (da nossa natureza humana) com esse mundo artificial e desigual que o patriarcado nos "deu de presente".

    Segundo ele, nós (mulheres) ainda vivemos, sempre que dá, pois faz parte da nossa psiquê, no que ele chama de cultura matrística. Eu concordo muito com isso e identifico, nessa rede que criamos virtualmente com outras mães, mesmo com aquelas que pensam um pouco ou muito diferente da gente, a materialização daquela cultura horizontalidade, sistêmica, respeitosa, de apoio e conexão.

    Em outras palavras: conte com meu apoio, minha torcida e minha ajuda no que eu puder.

    bjos

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    1. Natalie! Obrigada! Estava com saudades de escrever também, mas precisava dar um tempo para ajeitar algumas coisas na vida dos átomos, hehe. Menina, eu comprei o livro do Maturana, A Árvore do Conhecimento, não sei se é esse que vc diz, se for outro, manda o PDF, quero sim. De tanto a Ana Thomaz falar nele, comprei, mas ainda não li. Quero ler já, ainda mais com vc lendo tb, assim podemos trocar figurinhas! Sabe que eu tb acho que as mulheres tem um mundo de conexão, de apoio, ao contrário do que gostam de pintar por aí! Beijos!

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    2. Vou te mandar o PDF, Nine. É outro. É o "Amar e Brincar: Fundamentos esquecidos do humano". Mas vamos ler juntas os dois! Te mando esse PDF (que é só o primeiro capítulo) por e-mail e depois compro esse que você está lendo! Aí a gente troca! bjos

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    3. Que bom, vou esperar! Esse que estou lendo é bem técnico, guria, é legal, mas é biologia pura! Tem que gostar - como eu - para ler! Obrigada! Beijos!

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  3. Nine, Querida, tudo bem?
    Enfim nossos bb´s estão crescendo... a Valentina agora dia 1/11 completou o seu 2º aninho, e bem por conta dessas teorias, do trabalho, da mágica que temos que fazer todos os dias pra conciliar um de 2 e outro de 4 anos, fez eu parar de escrever lá no Chá com Bolinhos, aos poucos nesses últimos 5 anos de nossas vidas aqui de casa tivemos que fazer algumas opções, aquelas escolhas...continuamos viajando, ainda sem os pequenos, e lá no Viajar é Tudibom as nossas andanças continuam ativas.
    Bjos no coração, tudibom!
    Ana

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    1. Ana! Sempre acompanho suas andanças! Vou seguir essa do Chile, uhuuu! Beijos!

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  4. Ainnnn Nine... como entendo e como consigo ler as entrelinhas de suas palavras.. como compartilho dos seus sentimentos e da vontade de sair da caixinha.. e o trabalho que isso dá...

    Aqui, meio que, somos iguais. Aprendi na Blogsfera, que estamos "perto" de quem nos identificamos. Que acompanhamos quem fala a mesma lingua. Mas essas somos nós... as ativas na blogsfera. E por isso nos sentimos (ou sentíamos) tão livres em falar abertamente sobre o que a gente sente e quer para nossa vida, nosso presente, nosso futuro.

    Mas a internet é livre e, a não ser que vc tenha um blog privado - que para mim, perde um pouco o sentido, muitos outros números de acesos aparecem. E não tem como controlar quem são e o que farão com aquelas informações.

    Lembro de um época em que muitas não maldavam o poder da internet e colocavam dados e fotos pessoais... e sempre alertávamos para a questão da segurança.

    Ok! Colocar marca d'agua nas fotos, não dizer nomes de escola, trabalho, rotina.. todas sabemos isso meio que de cor...

    Mas quando não podemos expressar o que é de pessoal, intimo, que martela a cabeça, que ajuda o outro a pensar... quando aquele numero no acesso pode ser o vizinho, o ex-amigo, o "colega" do lado.. que aponta o dedo e critica o que fazemos em busca da NOSSA felicidade...

    Daí a vontade de escrever se junta ao tempo, que é escaço!!!!

    Sempre que voltar, eu estarei (com tantas outras) aqui para compartilhar e sair do lugar comum!!!

    Ah.. aqui as tentativas oficias começaram!!! To doida para entrar nesse outro time!!!!

    Bj grande em vcs!!!

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    1. Martha! Vais entrar para o time das mães de 2!! Que boa notícia! Obrigada mesmo pelas palavras, vc pegou direitinho as entrelinhas! Beijos!

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  5. faz uns dias que eu ando consumindo você, por um outro motivo. Eu estava pesquisando sobre Mendoza. Disse para o Pedro uma hora "no blog da Nine, aquela que é parecida comigo"... a gente nem imagina as conexões humanas que estamos fazendo, mesmo que com recursos virtuais. Pois eu (acho) que o "você leu" e "você não leu" é bastante salutar. Porque não basta bons conteúdos, precisamos de bons leitores: e os temos!! É para eles que eu escrevo. Me irrito três por dois, penso em acabar com tudo. Mas não. Não porque tem algo de muito precioso nisso tudo, querida! Mudar de mundo? Mudar o mundo. E eu ando descobrindo que é muito mas fácil do que eu pensava, porque não se trata de "ativismo'. Se trata, como diz seu texto de atividade. De ativa mesmo. Eu crio minha realidade. Uma parte dela está nessas escritas internéticas, e o poder dessas palavras e dessas conexões, de transformar uma coisa em outra. Somos produtores de realidade, é isso que somos. Minha vida mudou. A sua vida mudou. A vida da fulana mudou (mesmo que ela tenha nos xingado e odiado o que escrevemos em um primeiro momento)... pois então eu sigo. Especialmente porque - na parte da consciência - sei que faço para mim, por mim. Não existe ilusão de "mudar o outro". Mas existe a certeza de que me conhecendo - e usando essas relações humanas, ainda que internéticas - eu mudo o meu mundo. Adoro oq vc escreve!

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    1. Anne! Minha "ídola" dizendo que é parecida comigo! Vc sabe que me identifico muito com vc e seus textos. Vc coloca em palavras sentimentos meus. E me (nos) brinda com esse comentário maravilhoso! Obrigada! Vc tem razão, e digo que as conexões humanas feitas através do blog é o que me motiva a continuar escrevendo e expondo meus pontos de vista. Essa troca maravilhosa faz bem, nos faz pensar e evoluir. Transmutar, para usar uma palavra da Ana Thomaz. Sim, ser produtora da minha própria realidade, é disse que trata a vida ativa. É neste caminho que estou trilhando. Ah! E em Mendoza vá de vinho Malbec e azeitonas argentinas! É o que há! Muitos beijos!

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  6. Oi Nine, fazia tempo que eu não aparecia e adorei voltar! Bom te ler, bom te ver, adorei a foto do sapatos, fofa, me passa paz, filho feliz, brincando do jeito que gosta.

    beijos

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    1. Oi, Pat! Que bom que vc voltou! Eu sempre acompanho suas andanças com a família pelo mundão! Adoro! Vc me encoraja a continuar viajando com as crias, mesmo com toda trabalheira que dá! A foto dos sapatos foi tirada num dia de praia, de sol, muita brincadeira e pés da areia! Beijos!

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  7. o rappa me fez chorar!
    adoro tudo que vc escreve, me inspiro demais aqui.

    vamos em frente, assumindo nossas escolhas!

    beijo mto enorme em vcs

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    1. Carol! Essa música tá rolando na minha cabeça, e ela nunca fez tanto sentido para mim! Vc se inspira aqui e eu aí! É disso que se trata a vida virtual maravilhosa que construímos com os blogs! E acho que o Pedro e o Lucas são parecidos, hehe, fisicamente mesmo, kkk. Beijos!

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  8. Gostei muito do seu texto. E arrisco a dizer que a melhor "arma" contra o medo e a paralisia que ele provoca é o amor.
    Beijos!

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