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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Des-desmamar

Parque Ramiro H., Blumenau-SC


Desmamar dá a ideia de que a criança é ser passivo no processo lento e gradual de abandono da via de alimentação materna para as vias alheias ao leite materno. Um processo que corre lento e gradual desde o momento em que o bebê coloca a primeira comida na boca.

Por aqui estamos nos aproximando dos 24 meses de amamentação. E o processo de desmame já está bem visível, bem paupável. Mas eu não tenho nada a ver com isso. O Pedro, penso, vai se autodesmamar. Vai cumprir o seu tempo - assim como o fez para nascer - ao seio e vai deixá-lo quando estiver pronto.

De minha parte fico mega feliz por estar ultrapassando em muito a marca da irmã mais velha, que não chegou nem aos 12 meses de amamentação, meta modesta que eu tinha lá nos idos de 2009. Durante alguma tempo eu acreditei que o demérito pela marca da Ísis era todo meu. Hoje eu sei que não é bem assim. O mérito de eu ter conservado a ilusão de que a amamentação dela foi no tempo dela, quando ela não quis mais, é dela, afinal, ela ainda não falava, já usava chupeta, tinha colo e mantinha para o aconchego e leite de vaca na mamadeira. Ela se adaptou muito rápido e isso fez com que eu vivesse na ilusão de que era o tempo dela. E a linha de pensamento sobre amamentação nos tempos da mamadeira que corre hoje também é merecedor de medalha na minha doce ilusão.

Hoje, liberta desse véu, eu sei que não foi. Mas não posso mudar o que já passou, só melhorar o que está por vir. Neste sentido, tive que trabalhar em mim a minha própria visão do aleitamento artificial dela. E vou te dizer: sou dependente da mamadeira dela. Tenho num processo muito enraizado na minha mente que só conseguirei desmamá-la da mamadeira quando desmamar o Pedro. Não faz sentido, eu sei, já que os dois tem 2a9m de diferença. O normal seria que ela desmamasse primeiro.

Mas eu já dei um passo. Mudamos o leite de vaca para leite vegetal, e como dá trabalho e é caro, ela agora só toma pela manhã. À noite é suco. Mas, na mamadeira. Tenho planos mais recentes de tentar desmamar da mamadeira - já não tanto do leite - ano que vem. Veremos. Preciso trabalhar melhor esta questão em mim.

Pode ser que o fato de eu ter amado amamentá-la, mas não ter tido forças, coragem, informação, empoderamento suficientes para bancar essa amamentação pelo tempo mínimo desejado na época - 1 ano - tenha feito com que eu me sinta muito mal por tirar dela aquilo que eu mesma lhe impus em detrimento do meu próprio peito: a mamadeira. Muito mais que o leite em si. A minha mente sacana pode estar me mandando a mensagem de que eu recusei o meu peito a ela quando ela ainda não tinha voz para dizer o que queria, então, agora que ela me diz que quer o tétinho, não posso simplesmente não dar. Difícil, né?

Claro que eu sei que a culpa não é minha somente. Eu sei e entendo todo o poder da indústria, do capitalismo selvagem, da mecanização da vida, do esquecimento de vivências de processos tão antigos e naturais como amamentar os próprios filhos. Eu sei. 

Nas minhas sessões de autoterapia - ou maternoterapia, hoho - eu estou melhorando, um dia de cada vez. Chegarei lá com ela, eu sei.

Voltando ao Pedro, bem, ele já iniciou seu processo de desmame, lá atrás, quando começou a ter curiosidade sobre os alimentos sólidos. Porque o desmame começa assim: quando a criança-bebê começa a se alimentar com outras fontes de alimento que não mais somente o leite materno.

O leite materno continua como fonte principal da alimentação por muitos meses ainda, depois passa a ser complementar - fase em que estamos agora - para somente depois, bem depois, deixar de ser necessário.

E quem diz quando não é mais necessário o aleitamento? A OMS diz que por 2 anos OU MAIS a criança poderá ser amamentada. Todos os dias são descobertos novos fatores nutricionais no leite que são excelentes para a criança mais velha - e que uma empresa já artificializou em lata! Então, se o leite continua ótimo mesmo muito depois dos 2 anos, ao contrário do que reza o senso comum, quando seria a época certa para desmamar a criança?

Para MIM a resposta foi óbvia: é a criança quem decide o momento em que está pronta para desmamar totalmente. É ela quem ultrapassa a linha da maturidade necessária, seja emocional, seja fisiológica,  para dar adeus, obrigada pela força aê, a gente se vê numa outra vida irmão, ao seio materno.

Eu passei a acreditar depois de muito ler e meditar que, obviamente para MIM, assim como é o bebê quem deve decidir o momento certo para o seu nascimento, é a criança quem decidirá o momento certo para o seu desaleitamento. É ela, pequeno serzinho criador de realidade, quem decide. Não sou eu nem ninguém, ainda que eu possa dar umas incentivadas aqui e ali, como no desfralde.

Hoje o Pedro quase não solicita o peito. Creio que em dias normais - entenda-se na rotina de casa e sem doenças paralelas - ele peça para mamar umas 2 vezes no dia. Eu ofereço o dobro disso, e ele recusa educadamente, ainda incorretamente do ponto de vista da língua portuguesa: "não, bigada". Sinal de que não há o famoso vício de peito, afinal quem é viciado em alguma coisa, não a recusa tantas e tantas vezes seguidas.

Eu seguirei oferecendo, mesmo sem ele pedir. Já pensei nisso também. Oferecer, ou não? Daí um dia eu me dei conta de que ofereço várias vezes várias coisas, mesmo que ele recuse. Água, por exemplo. Eu ofereço, ele recusa, mas sigo oferecendo porque sei que é importante para ele. E estabeleci um prazo para meu oferecimento: os dois anos. Ou mais.

De qualquer maneira, a certeza que eu tenho é que não importa muito o que eu vou fazer. A escolha sobre o desmame completo será do ator principal desta história de amamentação e que atende pelo nome e alcunha de Pedro, o Infante.

"Pedro, o Infante: nascendo e mamando a seu tempo."

8 comentários:

  1. Nine, eu sou fã ao quadrado do aleitamento materno em livre demanda, mas me preocupa apenas um ponto em uma amamentação prolongada: a criança come bem? almoça, janta, come de tudo? Sim? Excelente, então não me preocupo mais.
    O único óbice que eu colocaria em uma amamentação de crianças (2 anos up) seria o fato dele não comer, como acontece com algumas que conheço. A mãe oferece o peito ad infinitum e a criança não come, não dorme, não brinca, não faz nada. Isso eu não concordo. Mas não sei dizer se é a mãe quem causa esta situação ou a mãe apenas reage a uma super necessidade de carinho de uma criança de 36 meses, por exemplo.
    Não sei mesmo.

    A partir do momento que o Infante Pedro, do alto dos 24 meses, brinca, corre, come bem, dorme relativamente bem (pq nada é uma regra neste momento, não é?), então, bora continua amamentando até ele querer. Concordo integralmente.

    Não posso opinar sobre amamentação, visto que é o meu único trauma e arrependimento em relação ao pós-parto da Laura. Não tive maturidade para resolver os conflitos do baby blues e conseguir lidar com a amamentação, fui ao pediatra, que recomendou o NAN na hora.... dei. E nunca mais amamentei direito..........

    Da próxima vez, amamento até o futuro filho se casar.

    Beijos grandes!!!

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  2. Oi, Dani! Gostei muito do seu comentário. Ele trouxe um mito em relação à amamentação prolongada e que eu até comento no texto: o vício no peito, que impede a criança de fazer outras coisas. Eu sei e entendo que existam casos raros deste que vc falou, a criança só fica mamando e não come, não faz nada sem o peito da mãe. Mas isso não é um problema da amamentação prolongada. Se a criança não mamasse ela poderia ser dependente da mamadeira artificial (conheço mais casos destes onde a criança só quer leite com achocolatado na mamadeira e não come nada), ou só comeria pão, ou só bolacha, sei lá, essas coisas, esses comportamentos que saem da curva e que, com certeza, possuem uma causa que, mais uma vez com certeza, não é a amamentação em si. 36 meses amamentando é muito normal do ponto de vista fisiológico dos mamíferos, mas se a criança só mama, como vc diz, com certeza há algo mais aí que precisa ser investigado. A solução seria achar a causa, mas não culpar a amamentação, que nada tem a ver com isso, entende? E sobre sua vivência de amamentação com a Laura, penso que a sua foi como a minha. O importante é sempre revermos aquilo que nos atrapalha a vida, né? Por aqui está dando certo desta segunda vez! Beijos, lindona!

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    1. Nine, incrível como nossos pensamentos são muito semelhantes... eu também acho que a criança que não come, não brinca, não faz nada para ficar no peito pode substituir o peito por outra coisa que, não necessariamente, o problema é a amamentação. Mas não tenho certeza e, no caso de ter um filho que só mama com 3 anos, eu abriria mão de amamentar para que ele comesse melhor.
      Não sei.
      A prima do meu marido amamentou uma filha até os 3 anos, quando ela engravidou e parou de amamentar numa boa, pq quis mesmo. Foi apedrejada, essa menina.... todo mundo criticou horrores pq ela dormia com a filha, pq a filha mamava com 3 anos, pq era errado, pq ela é doida.... daí ela teve um menino que mamou até 1 ano, já que todo mundo criticou tanto a primeira que no segundo já fizeram lavagem nela para amamentar até 6 meses.... ela insistiu e foi até 1 ano, mas parou especialmnete pq o bebê não comia MAIS NADA. sem brincadeira. Só que ele não comia mais nada e mamava o dia inteiro..... então ela parou de dar o peito para ele comer e ainda foi tratada como uma doente mental "viu como ele não come nada???? vc só dá esse peito!"... tadinha... fiquei com tanta dó.

      Beijos, querida!

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    2. Putz, que situação da sua prima. De verdade, não é nada fácil bancar a opinião de todos ao nosso redor. Fica difícil manter uma amamentação saudável com a maioria das pessoas que a gente ama nos boicotando, né? Mas só para enriquecer o papo, veja só, as crianças são diferentes e um bebê de um ano só mamar pode ser bem natural. Os meus dois filhos foram muito diferentes na alimentação. A Ísis com 9 meses não estava preparada para uma alimentação mais sólida, ela nem tinha dentes e só a partir de 9 meses que ela passou a ter interesse por comida. Só que eu iniciei a alimentação dela com 5 meses! E ela passava o dia na creche...ela bebia muito suco, chá e mamadeira de leite na creche, mas vai saber se ela não mamaria o dia todo se estivesse comigo? Já o Pedro ama comida desde os 5 meses e desde os 4 tem dentes e senta. Ele introduziu a alimentação sólida muito bem. Não quero especular, mas é importante verificar bem a situação antes de pensar que a culpa pela má alimentação de um bebè é da amamentação. Cada um tem seu ritmo. Muitos beijos!

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  3. Nine, como vc, eu tb não superei a não amamentação de Caio. Ele "mamou" até 5 meses. Entre aspas porque ele teve acesso à chupeta e à mamadeira e, hoje, eu sei que o desmame começa aí, quando vc começa a oferecer bicos artificiais. Naquela época, eu era uma menina de 20 anos sem informação, com boa vontade, mas nada empoderada.
    Com Artur, tô fazendo tudo diferente. Apesar de ter vivenciado um baby blues brabo, consegui lidar e Artur mama LM em LD.

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    1. Pois é, Dany, a imensa maioria das mulheres que caíram no LA (eu inclusa) tem muito boa vontade, mas quase nada de informação e empoderamento. Concordo muito com vc, o desmame começa quando introduzimos qualquer coisa que não o peito na boca do BB antes da hora. Claro que há exceções, tb conhecemos muitas histórias assim...mas elas são isso mesmo, exceções. Muito bom poder rever decisões com o segundo filho, né? Que bom que vc tem conseguido lidar com o tal baby blues, força aí! Precisando, estou aqui! Beijos!

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  4. Xi... Mandei o comentário incompleto e pior que nem lembro onde parei...hahahaha
    Artur acordou, fui lá, voltei e cliquei em publicar. Ai, ai, ai...rs

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