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terça-feira, 20 de março de 2012

A real

O texto anterior foi para descontrair... O assunto é sério para mim e eu percebo que ele - a adaptação do irmão mais velho às mudanças causadas pela chegada do irmão mais novo não é visto com muita seriedade. Normalmente se ri das "cenas de ciúme" ou das tentativas de "chamar a atenção" que acontecem nesse período. Não se trata o sofrimento da criança com o espeito necessário, porque sim, há sofrimento em toda alteração de rotina, ainda mais de uma rotina que era boa e passa a ser não tão boa assim.

Esse assunto me toca profundamente, talvez porque eu seja a irmã mais velha. Eu não me lembro como foi minha adaptação à chegada da minha irmã, mas deve ter sido emocionalmente difícil até chegarmos naquele nivel de envolvimento entre irmãos onde já existe carinho, amizade e todos estão adaptados.

Eu achava que estava preparada para essa fase inicial. Eu tinha noção de que seria difícil conciliar os dois filhos no início, eu sabia que haveria mudança de comportamento da minha primogênita (a famosa regressão), mas eu pensava tudo isso numa escala muito menor do que realmente foi.

Hoje eu sinto que estamos saindo do olho do furacão, temos muito mais dias bons que ruins, construímos uma rotina nova e eu parei de chorar a cada momento ruim para me resignar e recitar o mantra da maternidade "vai passar".

Mas não foi fácil, porque eu estava preparada para peraltices mil, teimosia em excesso, regressão de comportamento, até uns safanões carinhosos da mais velha no mais novo - e tudo isso aconteceu -, mas eu não estava preparada para a tristeza da Ísis. Ver que ela estava profundamente mexida com a chegada do irmão, perceber que o sorriso dela, antes tão fácil, passou a ser raro me deixou profundamente triste também, morrendo de saudades de estar com a Ísis, da nossa rotininha tão gostosamente construída nesses quase 3 anos de vida dela.

E se para mim estava sendo difícil essa adaptação, se eu, que era a mãe, a adulta, que havia desejado a vinda do Pedro, estava preparada para ela, estava sofrendo de saudades da minha filhotinha, triste por não poder mais dispensar a mesma atenção, estar presente nas brincadeiras, na hora do sono, da comida, dar banho, fazer massagem...imaginem como deve ter sido  - e estar sendo - difícil para a minha pequena.

Teve noites em que depois de dar de mamar ao Pedro eu me deitava ao lado da Ísis na caminha dela, só para apaziguar minhas saudades, sentir o cheirinho dela e dizer do quanto a amava. Teve dias em que dei de mamar com o Pedro num dos braços e a Ísis no outro.

Mas o pior dia de todos foi numa tarde em que ela estava estremamente sensível, a babá já havia ido embora, o pai ainda não havia chegado e ela queria ficar no meu colo, sem o Pedro. Ele estava mamando, não dava, expliquei e ela chorou sentidamente, um choro que nunca havia visto, um choro de perda, de consciência de que realmente as coisas seriam diferentes e que eu não poderia fazer tudo o que fazia antes. Eu, totalmente sem saber o que fazer, chorei também e ela se agarrou ao meu braço livre. Assim abraçadas choramos um bom tempo - e o Pedro mamando, minha gente, que esse não perde tempo! - para em seguida, quando tudo se calmou, termos uma conversa quase adulta, onde eu expliquei o que estava acontecendo, falei do quanto a amava e do quanto sentia falta dela também. E eu finalizei dizendo que sempre que ela estivesse triste eu estaria também, e que sempre que ela estivesse feliz, assim eu me sentiria. E eu queria ficar feliz! E então ela me disse que ela também queria ficar feliz. E assim fizemos. Sorrimos, um sorriso raso, ainda com resquícios da tristeza anterior, mas sorrimos. Depois disso ela nunca mais chorou daquela maneira dolorida, que me fez desejar tê-la nos braços, novamente pequetita, aconchegada, segura, longe desses sentimentos tão adultos!

E o que eu fiz? Eu me desdobrei como nunca antes pensei conseguir. Eu me desdobro ainda, sacrifico qualquer 15 minutos de descanso para estar com ela. Eu prefiro assim. Prefiro o cansaço ao descanso culpado.

Tivemos regressões? Sim...ela passou a não se alimentar direito, passou a não comer coisas que antes ela adorava e isso ainda é um problema. Ela só quer mamadeira e suco, comer com prazer como antes é raro.

Tivemos cenas...ela chora como o irmão quando quer atenção, ela grita muito quando contrariada e ela ficou agressiva comigo, coisa antes inimaginável!

E tivemos a perda do soninho da tarde... ela deixou de dormir a tarde desde que o Pedro nasceu. Por vezes capota de exaustão, mas não dorme um sono tranquilo de 2 horas como antes. E por vezes chora a noite e me chama dormindo. Para melhorar isso adotamos a cama compartilhada, e desde então ela está mais calma, não chora a noite.

Mas tivemos conquistas! O desfralde segue de vento em popa! Hoje ela já passa o dia todo sem fraldas e faz xixi e coco no penico. Temos escapadelas de xixi, claro, mas o saldo é positivo para o penico!

E nos momentos em que ela brinca com o Pedro, "cuida" dele, conversa explicando isso ou aquilo e contando do que vai ensiná-lo a fazer quando ele crescer, ou quando ela o beija espontaneamente e pede para que ele fique do seu ladinho, meu coração se derrete, pois não há felicidade maior para mim do que vê-los juntos!

17 comentários:

  1. Nine sua danada! Vc me fez chorar. Ai que angústia essa de ver a filha tristinha, gente... Mas achei que você fez o que tinha mesmo que fazer. Diálogo pra mim é o mais importante e sem essa de achar que criança não entende as "coisas de adultos" pois entendem sim, é só falar com o coração.

    Bjs, bjs e bjs em todos aí.

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  2. Ué, eu postei e não apareceu. Esse é um teste, vamos ver...

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  3. Sabe Nine, os primeiros meses do André em casa e a adaptação do Victor com o maninho foi a fase mais difícil da minha vida. Fiquei tão alterada emocionamente que meu leite secou. Meu coração também ficava partido ao sentir a dor da perda que o primogênito sente. Mas, Graças a Deus, sempre há um mas...tudo passa e hoje acredito que as coisas estão mais calmas...iniciei terapia para trabalhar essas questões e poder não passar minhas angustias para as crianças. Está sendo muito positivo, mas a culpa sempre me ronda...agora já consigo deixar o André um pouquinho com o papai para dar um banho caprichado no Victor e contar uma historinha antes de ele dormir. Tenho consciência que a vida mudou, nem sempre a mudança, o diferente é ruim...logo logo vamos conseguir estabelecer uma nova rotina saudável e feliz... uma rotina, agora, em família com irmãos! Beijos, força!

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  4. Ai Nine... estou meio sem palavras, mas vou tentar.. rs
    No outro post eu senti um pouco dessa tristeza, nas gracinhas que vc tentou retratar da Ísis e, de verdade, nem imagino a confusão de sentimento que isso deve causar em vc.
    Esse é um dos meu maiores medos em relação a um segundinho. Essa coisa de dividir/multiplicar amor, atenção, tempo, cuidado.. em fim!!!
    Sei que não é impossível e, mais, que passa - se não ninguém teria mais que um filho (rsrs).
    Mas me deu um nó na garganta imaginar vcs abraçadas chorando. Não consigo dimensionar o tamanho do amor que sinto por Laís... e imaginar vê-la triste (de verdade) ai.. corta o coração!!!
    Sinta-se abraçada por isso... e conforte-se na conclusão de que vai passar.. como vc disse: o olho do furacão já foi! Logo vcs quatro vão estar adaptados e essa multiplicação de amor só vai causar felicidades!
    Um grande beijo em vcs!!!

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  5. Eu sempre digo que o criança maior necessita de muitos cuidados e atenção, que vai passar, vai ser difícil, e o amor da mãe, especialmente que vai fazer com que passe mais rápido, que fique mais suave,
    bjs

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  6. chorei lendo seu post. imaginei a dor e sempre pensei no sentimento de perda q o filho mais velho deve sentir com o mais novo chegando. força pra vc e pra ísis.. e pro pedro que deve tar beeem tranquilão e nem deve tah percebendo nada disso.

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  7. Eu tive que vir aqui uma, duas, três... Não sei quantas vezes... Li, reli, li novamente. Só que me faltam palavras pra comentar.
    O meu medo por um segundo filho se baseia basicamente nessas questões que vc mesma está vivendo.
    Só posso te desejar sucesso. Dia após dia nessa nova e linda jornada que vc tem pela frente. Fiquei aqui só imaginando a cena da Ísis triste e vc´s abraçadinhas como amigas, como companheiras... enfim, como mãe e filha. É triste eu sei, mas chega a ser lindo. Acho que nunca um post seu me fez parar pra pensar tanto quanto esse.
    Só tenho a agradecer por compartilhar experiência tão única de vc´s conosco.

    Felicidades sempre!

    Bjs

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  8. Fase difícil essa heim!
    Eu sofri muito quando meu irmão nasceu isso que eu tinha quase 6 anos. Minha mãe não soube lidar bem com a situação, me tirou a mamadeira pq eu já era uma moça e não mais o bebê da casa (claro que estava grande para mamar, mas dessa maneira só me fez sofrer), e deu o meu cobertor de bebê que eu amava para meu irmãozinho.
    Senti muito ciumes, teve épocas que lembra de sentir ódio do meu irmão.
    Claro que depois tudo passou e amo ele de paixão.
    Boa sorte!

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  9. Sempre leio o blog mas nunca havia comentado. Tenho um menino de 5 anos e estou grávida de 3 meses, chorei lendo seu post. Principalmente porque meu filho tem amado a chegada do bebê, tem recebido bem a situação até aqui. Sei que problemas virão com a chegada efetiva do(a) irmão(ã), mas ele é muito agarrado comigo e ter que se dividir entre dois filhos não deve ser nada fácil. Escolher qual precisa mais de você em determinados momentos não é para coração de mãe, rsrsrs. Mas com o tempo tudo se ajeita, Deus dá forças e logo nossos pequenos serão inseparáveis.

    Aline
    Gov. Valadares/MG

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  10. A Nine, eu também acho esse momento muito delicado, e merece ser tratado com todo cuidado possível!
    Eu, me derreti quando vi meu irmãozinho mais novo triste porque eu estava com a Lara. Ela era novinha, nem 1 mês e eu estava no espelho parada com ela, olhando, corujando. Quando olhei para o lado, o pequeno, na época com recentes 3 anos, estava triste, olhando pra nós duas, e desviou o olhar. Na mesma hora eu deixei a Lara no berço e fiquei ali, deitada no sofá com ele, abraçadinha, dizendo o quanto eu amava ele e que eu ia tentar brincar mais com ele!

    Isso porque é meu irmão, imagino quando eu tiver um segundinho!!!

    Espero que isso passe logo, porque eu sei que foi péssimo ver meu tuquinho tão triste, se fosse filho então, e se a Lara estivesse mamando na hora, acho que teria chorado que nem você!


    Desejo toda a sorte do mundo para que a Ísis passe logo por isso, e vocês possam sorrir, os 3 juntos, em breve!

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  11. falei no post anterior que meu coraçao já aperta de pensar nisso, neam? e lendo esse post agora chorei, chorei por imaginar perder a relaçao comn meu luquinhas de hoje, ele é tao meu e eu tao dele...

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  12. Oi amiga, sou nova por aqui e gostaria que vc visitasse o meu blog.
    www.gustavoegaby.blogspot.com. estou te seguindo.
    Bjinhos

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  13. Oiiii NIneee..pois é menina...depois de tanto tempo consegui dar um stop em tudo e voltei a blogar!!Espero n parar mais e vamos nos ver sempre por aqui!!Beijaaao em vcs!! Otima semana!!
    :)

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  14. que coisa mais triste e bela!
    falar a verdade é sempre a escolha mais sábia. acho que ela sistematizou tudo com a conversa e a sua sinceridade. dica que funcionou: procure ter um tempo só seu e dela sempre que der. fazer juntas uma coisa que faziam antes valorizando muito este momento. deixe pedro que alguém, ordenhe e saia tranquila. será bom para ísis e bom para quem ficar com pedro.
    pense que na dor também crescemos e ficamos mais fortes. um alento!
    beijoca

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  15. Ai Meu Deus!Estou aqui me acabando de chorar e olha que estou no trabalho!Fico pensando nisso, como vai ser daqui a uns 4 meses quando o Enzo chegar...como será a reação do Levi...lendo esse post me coloquei no seu lugar e só de imaginar meu Levi triste meu coração ficou massacrado...Mas tudo dá certo no final...

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  16. Só vi esse post agora Nine, e meu coração ficou apertado! Que sensibilidade a sua em conversar com a Ísis, em acalentá-la e acolhê-la. Não tenho experiência com mais de um filhote pra compartilhar, mas gostei muito da forma como vc está lidando com as novidades, tanto pra vc como pra pequena!
    bjo grande!

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  17. Muito tocante teu texto, Nine. Adoro a sua sensibilidade para lidar com os sentimentos da Ísis, sempre com muita empatia e respeito. A Ísis e o Pedro têm muita sorte por terem uma mãe como você. Muitos beijos, querida!

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