Quando eu era mais nova achava que não se poderia sofrer tanto por algo que mal chegou a existir. Eu não entendia então do amor que se sente ao ver o resultado positivo no exame. Eu não sabia que em muitas das vezes a gente pressente a chegada do filho muito antes dele estar devidamente instalado em nosso ventre. Eu era nova, imatura, inexperiente.
Depois, mais adulta, eu tive amigas que abortaram ao tentarem engravidar. Mas eu ainda não compreendia o que elas poderiam sentir, porque na minha cabeça era algo assim: não foi dessa vez, vamos tentar de novo! Simples, fácil e totalmente desprovido de sentimento. Eu já não era tão imatura, mas desconhecia o amor que se sente por algo minúsculo que passa a existir dentro da gente. Porque quando a gente sabe que algo está surgindo ali, esse algo toma formas, proporções, criamos histórias, construimos nossos castelos, um sonho, e a perda de um sonho tão bonito dói. Mas eu não sabia.
Foi depois que eu engravidei e tive que fazer repouso devido ao risco de eu perder minha filha que eu comecei a entender o quanto se poderia sofrer ao abortar. Não era apenas uma célula, um feto, um algo que sairia de mim. Seria o meu filho. O filho que já não teria. E isso é dolorido, sim.
Nós mulheres temos que aprender a falar sobre isso, a entender os motivos que levam ao aborto natural, ou não, e aprendermos com tudo, ensinarmos quem passa por situação semelhante.
Esse assunto não deve ser um tabu, nem tão pouco as mulheres e os homens que passam por isso devem ser marginalizados, ou se sentirem incapazes, menores. E nós que estamos próximos de quem passa por uma situação tão delicada como essa temos que saber como agir, temos que dar nosso apoio, nosso abraço, nossa solidariedade. E isso não significa que sentimos pena, mas sim que nos importamos.
Eu só posso te dizer que desejo que você logo se recupere, externalize seus pensamentos, sentimentos, e assim que estiver pronta, tente novamente! Tem um filho esperando por vc!
Beijos!
Nine