Eu já conhecia Mercedes Sosa assim, de ouvir falar, de escutar algumas canções na minha infância. Violeta Parra era um nome que me lembrava algo, mas não fazia ideia de quem fora. E então eu fui com minha família para a fronteira com o Uruguai, onde a cultura gaúcha é rica, onde os campos são verdes e o céu azul. Onde o vento sopra forte e o sol é celebrado diariamente como o milagre que é.
Nas últimas semanas, com inúmeros acontecimentos chatos no dia a dia, inclusive a doença dos filhos, eu senti saudades das músicas da Mercedes Sosa. Dentre elas, esta que trago abaixo me é especialmente cara, daquela lista que me faz verter lágrimas de emoção só de ouvir, principalmente a frase do título.
Porque na adversidade, seja ela qual for, podemos escolher o caminho da revolta e lá permanecer, ou podemos trilhar o caminho do aprendizado e da mudança. Mudar o olhar sobre fatos, depois que saímos de um turbilhão, pode ser enriquecedor enquanto amadurecimento, ou pode servir para constatar o óbvio: falta sentimento nas relações humanas, falta generosidade nas ações e palavras. E não falo somente dos outros. Falo de mim.
Agradeço, agradeço sempre a possibilidade de rever, revolver sentimentos e conceitos. E agradeço mais ainda quando saio de um período ruim ainda mais fortalecida na ideia de transformar o mundo. O meu.
Fazem dez anos que deixei um emprego numa multinacional, onde, nutricionista recém formada, fui responsável por uma unidade de produção de refeições pequena. Onde chefiava diretamente algumas mulheres. Algumas mães. Ah, se eu pudesse voltar no tempo! Minhas ações e palavras seriam diferentes. Tenho consciência da minha pequenez e falta de generosidade.
Nunca mais revi aquelas mulheres, mas me arrependo todos os dias, desde que me tornei mãe, das vezes em que não fui solidária diante das adversidades que elas passavam para cuidarem de suas famílias, seus filhos pequenos. Na minha ânsia de ser uma "boa funcionária", ganhar quem sabe até uma promoção, esqueci o elemento humano, esqueci que estava deixando de lado a essência do que nos move: amor.
Não posso fazer nada sobre o que já passou, só pelo que está por vir. E ainda bem que o novo sempre vem, e que cada vez mais, devido à família que tenho, vou me aproximando de mim mesma, da minha essência, que foi feita para o amor, para o carinho, para a generosidade.
Deixar as amarras dos conceitos egoístas que vamos atando aos nossos braços ao longo dos anos é, de fato, libertador. Meu olhar sobre fatos dos dias vai deixando de lado o linguajar felino, salvo quando minha família e aquilo que acredito ser o melhor para ela é atacado. Viro bicho, ou melhor, sou bicho. Humano.
Então, nesta véspera de feriado, deixo esse vídeo da Mercedita e sua voz capaz de me suscitar os melhores sentimentos nesta canção: Volver a los diecisiete. Poema de Violeta Parra.