Filha, é sabido que as mães sempre se deparam com a triste realidade de que seus filhos crescem rápido demais. Nesse momento sempre pensamos em "nossa, como o tempo passa". Essa é uma frase muito comum, seguida também de "ainda ontem mal se sentava e agora já corre pela calçada!", ou algo do tipo. Sua mãe não é diferente. Eu percebo saltos no tempo quando olho para você.
Semana passada cheguei em casa do trabalho e você estava sentadinha numa banqueta, papel em branco sobre a mesa, giz de cera nos dedinhos gordinhos. Não fiz barulho quando entrei e fiquei te olhando. Você desenhava um pouquinho, levantava os olhos para a televisão, que estava ligada no Discovery Kids, baixava a cabeça e desenhava mais um pouquinho. E não sei por quê essa cena me emocionou. Eu percebi um salto no tempo e foi como se eu te olhasse bem bebezica no meu colo, recém saída do meu ventre e num piscar de olhos você já estivesse ali, sentadinha na banqueta que o papai te deu. Giz de cera em punho. Olhos atentos ao que passava na televisão.
E então, eu comecei a pensar no passar do tempo desde que você nasceu e percebi como realmente o genioso Einstein tinha razão: o Tempo é relativo.
Em muitos momentos eu pensei que ele não passaria nunca, como quando eu vomitava horrores nos primeiros meses da gravidez. E de repente: puf! Passou! Mais um salto! E depois, nas últimas semanas antes de você nascer eu pensei que o calendário tinha esquecido de passar as páginas, os dias não andavam até a data provável para o parto...queria te ver logo! Relógio parado. Ao mesmo tempo, quando me deitava no sofá para ver um filme e me dava conta de que logo, logo você chegaria, eu me assustava, sentia um frio na barriga e pensava que eu gostaria de mais alguns dias, meses, anos para me preparar para ser mãe. Dualidades da vida, filha.
Enquanto você desenhava, por uma fração de segundos, meu olhar cruzou com o do seu pai e nós rimos, um sorriso mudo, para que você não se distraísse. Queríamos contemplar por mais um tempinho a parada do relógio naquele momento mágico, o momento antes do salto que você já havia dado em direção ao futuro.