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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Os momentos bons!



Um dia desses, após o almoço, eu e o pai pegamos frutas para sobremesa: eu peguei um kiwii, o pai uma bergamota (tangerina). Fazia dias que eu oferecia o kiwii, ela aceitava uma fatia, colocava na boca e cuspia.
- Quer comer um kiwii com a mamãe, filha?
Ela fica me olhando meio sem graça, e espicha o olho para a bergamota do pai.
- Eu num gotei de kiii, mamãe! A beguinha é bem ostosa!
Claro que o pai perdeu a bergamota!
...
Eu estava pesquisando documentários sobre parto natural na internet. Ela queria ficar no meu colo. Tive a idéia de mostrar alguns vídeos de parto natural para ela, afinal, a depender do horário do nascimento ela poderá estar presente.
Peguei um em preto e branco que já rodou a internet de uma moça numa banheira transparente que pariu sozinha. O ângulo do nascimento era perfeito! Tirei o som e fiquei falando que aquela moça ia ganhar um bebê, que estava na barriga dela, assim como nasceria o Pedro e ela mesma já havia nascido. Ela ficou vidrada no video, às vezes exclamava "olha o nenenzinho" ou "o nenenzinho tá nascendo da barriga da mamãe dele".
Terminado o vídeo ela disse que o neném tinha nascido da "pepeca" e em seguida:
- Coloca o Pingu no cutador, mamãe?
Assim, sem traumas. Oba!
...
Após o almoço deitamos na minha cama e ficamos olhando as nuvens. Pela primeira vez ela começou a falar do irmão, sem que incentivássemos:
- Olha quanta nuvem no céu, Ísis!
- O Pedlo tá na barriga da mamãe!
- Ahã, o Pedro está na barriga da mamãe e a Ísis está aqui do ladinho.
- O Pledo é o irmãozinho da Ísis!
- É, ele é o irmãozinho da Ísis.
- Ele vai chorar!
- Sim, ele vai chorar porque não sabe falar. Ele chora porque tá com fome, com frio, porque quer colo, porque tá com xixi ou coco...você vai ajudar a mamãe a cuidar do irmãozinho?
- Vamos cunveiçá com os dedinhos??
Pedir para ela ajudar acho que foi muito! Mas já avançamos um pouco...
...
Agora ela voltou a gostar de ler livrinhos antes de dormir. Toda noite há mais de uma semana ela pede os mesmos livrinhos, deitamos na minha cama e nos revesamos: hora eu conto a história, hora ela.
Antes eu apenas comentava a história em cima das gravuras, agora eu já consigo ler algumas partes.
Na história do Patinho Feio eu tentei explicar para ela que na verdade ele era um cisne, por isso ele era diferente dos outros patinhos, mas ela não se convenceu...
- Viu, filha? Por isso que o Patinho era branco enquanto os irmãozinhos dele eram amarelos! É que ele não era um Patinho, ele era um cisne!
- Não, ele não é um cisne, não! Ele é patinho, sim! Num é cisne!
Tudo isso dito numa entonação de voz daquelas que te avisa que é melhor não contrariar. E o dedinho indicador em negativa frenética...
...
Numa manhã difícil de eu conseguir sair para o trabalho:
- Filha, vai com a L. tirar a armadura (pijama) para vocês irem brincar no parquinho!
- Não! Num qué tirá amadura, não!
- Mas Ísis, dão dá para ir brincar no parquinho de armadura...ninguém sai de casa de armadura. Armadura é para dormir!
- Nããão, mamãe! Amadura é pra brincar!
- Não, filha, não é. Se você não tirar a armadura, não vai no parquinho, você escolhe...
"Convencida", ela vai tirar o pijama e eu saio para o trabalho, já atrasada. No almoço a L. me conta que ao chegar no parquinho e ver as outras crianças ela constata:
- Num tem quiança de amadura!
Ufa, ainda bem, caso contrário meu argumento cairia por terra. Agora preciso dar um jeito no meu péssimo hábito de não tirar o pijama, aiai. Ser o exemplo não é fácil!
...
Faz tempo que brincamos com aqueles quadradinhos de borracha que possuem letras e números no meio. A Ísis já identifica várias letras, o que, claro, deixa a mamãe toda orgulhosa! Ela adora achar o I do nome dela em tudo que está escrito e quando pegamos os quadrados de borracha ela já sai perguntando "onde tá o I de Ísis?".
Outra letra que ela adora é o X de xixi (eu falo assim, sempre relaciono a letra com alguma palavra do cotidiano dela). Uma tarde dessas, nós duas brincando com as letras, ela me solta essa:
- Cadê o X de xixi?
- Não sei, filha, vamos procurar?
- Achei! O X de xixi tem que tocá a faldinha! Tá cheia de xixi!
Há!
...
Ísis na sua eterna luta para não trocar as fraldas, o pai negociando e ela negando:
- Não, papai! Não qué tocá a faldinha, nããão!
- Tem que trocar, Ísis! O bumbum tá cheio de bactérias, elas vão comer o bumbum da Ísis, já pensou? (psicologia extrema, há).
- Nãããoooo! Eu não góto de tocá a faldinhaaaaa!
- Eu também não! Eu preferia mil vezes que você fosse auto limpante!
Seria ou não seria bom, em?

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Um tapa na bunda...

Escrevi o texto anterior numa semana difícil, poucos dias após o fato ter ocorrido. Foi uma semana de muito choro, de muita sensação de impotência, de isolamento, de sentir-se só em meio à multidão. Vocês já se sentiram assim? Pois é.

Então, todos os comentários que recebi foram muito bem vindos, foram sopros de alento no meu coração, porque mais uma vez o blog e as mamães que o acompanham me ajudam nessa sensação maravilhosa de pertencer, de não estar sozinha.

E houve também os emails recebidos, de amigas reais, que ao lerem o blog mandaram mensagens carinhosas. Incrível como podemos mesmo receber carinhos em bits de 0 e 1. Meu eterno agradecimento aos nerds de todo o planeta!
...
Eu não costumo escrever muito sobre momentos como esses, eu não gosto de valorizá-los demais, e também não gosto muito da idéia de expor minha filha: uma coisa é eu expor as gracinhas dela, a parte fofa, linda e maravilhosa da maternidade; outra bem diferente é eu expor momentos ruins, fraquezas nossas que podem cair no computador de pessoas não tão compreensivas e não tão amorosas assim.

E por quê eu o fiz, então? Porque a causa do não ao tapa na bunda foi mais uma que eu resolvi abraçar depois do nascimento da Ísis. E foi depois do nascimento mesmo, porque antes, mesmo na gravidez, eu ainda achava normal os pais recorrerem a um tapinha no bumbum - que está recheado de fraldas mesmo, a criança nem sente nada, né? - como medida corretiva a desobediências recorrentes.

Depois de segurar minha filha nos braços e me desconstruir inteira como pessoa durante os intensos meses de licença maternidade eu percebi o quanto eu estava errada! Mas perceber isso não é suficiente, na realidade é até fácil ter esta percepção e essa ideologia quando estamos diante de um bebezico de poucos meses, que mal se sustenta na própria coluna e que tudo que faz é chorar, mamar, dormir, transbordar as fraldas...

O difícil começa a acontecer quando aquele serzinho diminuto, do nada, irradia vontades, valores, opiniões. O seu bichinho, antes tão cordato, agora te responde que não vai fazer tal coisa, que não quer ir para tal lugar, que não está com sono, que não quer trocar as fraldas. Não vai comer, nem tomar banho. Recusa o jantar, quer amendoim. Não quer colocar as calças porque gosta de ficar pelada; mesmo no frio tira as meias sempre que você as coloca, não adianta, e você que se vire depois com as crises de bronquite!

Antes, o seu filhote ficava bastante tempo no seu colo, é verdade, mas dormia bastante também, por mais que você pensasse que não! Agora, uma soneca após o almoço e as baterias já estão carregadas! E haja energia e disposição para brincar, correr, pular, jogar bola, conversar com os dedinhos, fazer bichinhos de massa de modelar; nos intervalos, a alimentação, a troca caótica de fraldas. Antes ela chorava, agora ela argumenta, e sai correndo!
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Eu e meu marido divergimos um pouco no assunto sobre o tapa na bunda. Apesar de conversarmos bastante, eu percebo que ele não consegue perceber as nuances que eu percebo, os detalhes que eu pesquiso. Isso tem uma causa: nós dois vivemos infâncias diferentes, temos experiências de vida, de vivências familiares totalmente díspares, apesar de termos parecidos os mesmos valores.

A experiência prévia, essa força que vem do passado, da minha própria infância e adolescência, foi o grande motivador, além do imenso amor que tenho pela minha filha, em querer mudar, fazer diferente. Nessa fase, das primeiras convicções quebradas, eu não conhecia bons autores que viessem de encontro aos meus anseios, mas que tivessem embasamento, sabe? Não aquela coisa do achismo nosso de todo dia.

Com os blogs eu redescobri Janusz Korczak, o livro Como Amar uma Criança ainda está na minha cabeceira, é uma espécie de conselheiro nos momentos difíceis. Descobri Carloz Gonzalez, Laura Gutman. Eles me ajudam a realinhar minha órbita quando esmoreço.
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Pode parecer dramático demais tudo isso. Tanta polêmica por causa de um tapa na bunda! Mas eu digo e afirmo que o tapa na bunda é só o começo do fim, que já começou no grito. E que mesmo ele, esse tapinha, pode ser tão prejudicial quanto as piores surras.

Se há alguns anos eu fui aquela que apanhou e que reverberou esse comportamento violento na irmã mais nova, hoje eu luto contra essa vontade quando minha filha surge como um desafio à minha capacidade de educar. E eu não preciso apenas lutar contra mim mesma, apesar dessa luta sempre ser a mais difícil; eu preciso lutar contra toda uma sociedade acostumada a enxergar os filhos como propriedade, a enxergar os pequenos como seres vazios de sentimentos e vontades, como inimigos até!

Eu sei as marcas que as surras que eu levei me deixaram, e quando eu digo surra não importa se foi um tapa na bunca, na boca, um beliscão no braço, uma cintada nas pernas. Todas deixam marcas, não físicas, essas vão embora. Eu não quero essas marcas nos meus filhos.

Se eu continuo firme no propósito de não bater, o mesmo não posso dizer quanto a não gritar. Esse é o próximo passo.
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Por tudo isso eu decidi falar desse dia difícil, desse sábado que já passou, mas que já se repetiu algumas vezes nos últimos meses. Eu resolvi vencer o medo de expor a minha filha e a mim mesma por um bem maior: falarmos sobre educação sem violência, seja ela física, seja ela verbal, ou emocional.

Um dia minha filha vai ser mãe, e não vai ser mais fácil ou mais difícil do que está sendo para mim. No tempo dela, haverá nuances diferenciadas. Mas eu quero que ela saiba que, se um dia ela puder afirmar que a mãe dela sempre a tratou com respeito, que nunca bateu nela, nem a agrediu verbal ou emocionalmente, esse caminho não foi um caminho florido, mas que foi sim uma estrada árdua, escolhida voluntariamente, em nome do muito amor que eu sinto.
...

Adendo: ontem, conversando com minha massagista, ela me contou de uma cena que presenciou em frente à escola do sobrinho: um pai batendo no filho na saída da escola. Não foi uma surra, ela disse, foi um tapa. A opinião geral entre os ali presentes é que esse pai estava certíssimo em agir assim, afinal, o menino em questão (que não devia ter 6 anos) já havia batido em outros coleguinhas, as mães e pais das crianças agredidas não sabiam mais o que fazer! Ao que parece, todos gostaram da demonstração de violência. A massagista também aprovou, afinal, agora, o menino saberia quem manda, teria limites e aprenderia a respeitar os outros! Com os meus botões eu só consegui pensar que estava tudo errado! Ninguém sabia da realidade familiar do menino...e ainda que ele tivesse índole violenta mesmo, sem que a família nada tivesse que ver com isso, eles pretendem ensinar o respeito ao próximo batendo, humilhando a criança na frente de todos? "O mundo está ao contrário e ninguém reparou?"

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Rupturas


Era sábado. Eu estava muito cansada depois de uma semana sem conseguir dormir bem. Naquele dia, eu acordei com uma dor de cabeça chata, estava com uma azia que não passava, dores lombares e no púbis, sempre que me levantava. A minha única vontade era deitar na penumbra e só acordar no ano seguinte.

Mas ela estava elétrica, como sempre, acordou cheia de disposição para brincar e me queria ao lado dela e com ela a todo momento. Consequência de uma semana corrida e cheia de indisposições de minha parte. Para chamar minha atenção fazia tudo o que eu sempre peço para não fazer, fazia coisas que normalmente não me irritam, mas que naquele dia estavam me tirando do sério...pulou em mim, pulou na barriga, subiu nas minhas costas, puxou meus cabelos, agarrou minhas bochechas, mordeu-as. Derrubou suco no chão, cuspiu cascas de uva no sofá, molhou-se toda com água do regador de plantas. E a cada troca de fraldas, o caos!

Claro que entre uma coisa e outra houve momentos de brincadeiras, DVD...

Lá pelas tantas, durante uma troca de fraldas, eu surtei! Gritei, dedo em riste, ela gritou de volta e me apontou o dedo, eu gritei mais, falei que estava triste, que estava cansada, que ela parasse com aquilo, ela gritou de volta repetindo as minhas palavras. Numa fração de segundos eu pensei em bater na mão dela e no tempo que durou esse pensamento ela lavantou a mão para mim e me bateu.

O que dizer? O que fazer? Tantas cenas me passaram pela cabeça, tanta fúria, tanto desespero desembocaram na certeza de que eu não poderia seguir com aquilo. Então eu chorei, a peguei no colo, ela ainda gritando, esperneando, tentando me bater. Eu a beijei, pedi desculpas pelos meus gritos e ficamos as duas, ela quietinha aconchegada no meu colo, eu chorando a minha incapacidade de lidar com aquela situação. E a minha fraqueza.

Ainda hoje eu choro quando me lembro daquele dia. Porque é muito difícil romper com comportamentos enraizados na nossa memória, é muito difícil se manter calma e paciente a todo instante, é muito difícil escolher enxergar a sua filha de 2 anos como alguém que é exatamente como você, cheia de bons e maus momentos, com suas necessidades, sua incapacidade de expressar sentimentos, sua carência, enfim, escolher olhá-la como alguém complexo e não um bichinho (apesar de eu carionhosamente a chamar assim) que precisa de adestramento.

É difícil romper com a idéia de educar com o tapa na bunda, o beliscão, o castigo, e passar a ensinar com base no diálogo, no exemplo. É uma luta constante contra você mesma, que carrega a força do que viveu na infância e até mesmo contra as pessoas a seu redor, que pensam que você não está educando, não está dando limites.

Eu continuo firme, tenho meus maus momentos, que me envergonham sempre, mas eu retomo de onde parei, reforço em mim mesma as minhas convicções e conto com pessoas que pensam como eu e que, felizmente, escrevem sobre o assunto.

E sempre que eu caio, me levanto. E sempre que erro, eu peço deculpas.


terça-feira, 25 de outubro de 2011

A roda do engenho

Eu recebi esses dias um email muito carinhoso de uma amiga real - que por força da distância tem sido uma amiga virtual nos últimos meses - muito especial. Ela está grávida de seu primeiro filho e é uma das únicas (se não a única) pessoas da minha vida real com quem consigo conversar abertamente sobre as minhas escolhas em relação ao nascimento do Pedro.

Eu me lembro da primeira vez que tocamos no assunto, por mensagem instantânea, e ela me contou que estava pensando em agendar uma cesárea, pois sua DPP não era muito favorável (semana entre natal e ano novo) e sua até então obstetra já havia sinalizado a possibilidade de não estar presente.

Eu, que ainda não estava grávida do Pedro, mas já pensando em engravidar novamente, e, principalmente, já totalmente inserida nesse mundo dos partos com amor, senti uma vontade imensa de gritar nãããão, não faça isso! Eu não sei bem o que eu disse, não fui assim tão enfática, pois nunca fui do tipo militante, mas eu devo ter comentado alguma coisa sobre o parto, acho que fiquei insistindo com ela que não ficasse preocupada com a DPP, porque poderia atrasar e o filhote nascer apenas em janeiro, quando a médica já estaria de volta.

Acho que ficamos nessa por algumas mensagens ainda, ela me perguntou sobre como havia sido meu primeiro parto, eu contei como havia sido emocionante, lindo mesmo, nada falei sobre minhas atuais reflexões, mas de tanto falarmos no assunto, acabamos enveredando para o parto natural, depois o domiciliar, assim, naturalmente :)

Ela escreveu um dia numa mensagem que "depois de estudar o parto não poderia escolher voluntariamente uma cesariana, a escolha pelo parto normal/natural seria a escolha mais lógica". E como ela é uma moça letrada em lógica, esse foi o caminho escolhido. Dali para o parto domiciliar também deve ter sido uma escolha lógica, baseada em leituras e evidências, livre de preconceitos, de visões deturpadas e terrorismos que em nada nos ajudam.

Eu sempre enfatizei que a apoiaria na decisão que tomasse, como boa amiga que sou, mas que ela era uma mulher de sorte por estar em Santa Catarina, onde existem bons profissionais da área, onde partos domiciliares ganham até um Instituto e onde doulas e suas doulandas escrevem abertamente sobre o assunto.

Ao contrário dela, eu não havia sido apresentada a esse mundo quando ainda morava lá, e agora teria que mover mundos e fundos para conseguir o básico num Estado que é primordialmente cesarista, apesar de abrigar um dos profissionais humanizados mais reconhecidos do país. Isso sem contar as distâncias e o descaso com a saúde em minha atual cidade. Para quem assistiu aos telejornais ontem, Santa Vitória do Palmar é onde resido atualmente.

Mas eis que essa minha amiga foi a uma palestra com a autora do livro Parto com Amor. Imagino que a palestra deva ter sido muito boa, pois suas palavras dirigidas a mim e a minha suposta coragem e determinação de oportunizar uma experiência de nascimento para mim e Pedro diferente me emocionaram profundamente.

Na minha emoção eu só conseguia enxergar uma menininha linda e sorridente, a verdadeira heroína desta história, a roda que move o engenho da minha maternidade, que aceitou o encargo de vir ao mundo primeiro e caminhar comigo esses primeiros anos de aprendizado, de desconstrução de pensamentos enraizados por repetição, de muita dúvida, de muitos erros, de muitos choros e dualidades de sua inexperiente mãe.

Amor. Só essa palavra é capaz de explicar tudo. É ele que me invade e que me faz agir assim.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Primeira Gravidez X Segunda Gravidez

Uhuuuu! Completados os primeiros seis meses e já caminhando na primeira semaninha do sétimo mês é hora de fazer uma avaliação (sabe avaliação semestral?) sobre as nuances da primeira gravidez e desta segunda. Vamos lá?

0 a 6 semanas

ÍSIS
Nós não planejamos a primeira gravidez (sim, gravidezes surpresas ainda acontecem no século XXI), mas eu havia parado de tomar meu anticoncepcional injetável dois anos antes, impulsionada por uma greve da Anvisa, que deixou minha dose mensal de esterilidade presa na alfândega (valeu, Dona Anvisa!) seguida de uma libido aumentada sem a dose de hormônios e uma vontade louca de "desintoxicar" meu organismo, deixar ele trabalhando sozinho. A solução encontrada por mim e marido foi aquela tabelinha meia boca, sabe? Camisinha nos dias férteis, tudo liberado antes e depois. O que a gente não previa é que a natureza tem caminhos escusos para garantir a procriação da espécie e naquele mês de agosto de 2008 eu ovulei duas vezes...E aconteceu uma coisa muito legal: sabe aquelas cenas de filmes em que a mulher chora após transar com o parceiro dizendo "amor, nosso filho foi concebido hoje?". Pois é, aconteceu comigo. Marido não acreditou, afinal não estávamos no período fértil, mas...Ísis está aí para não me deixar mentir. Fiz um exame de urina com uma semana de atraso que deu tão, mas tão positivo que nem precisei confirmar com o de sangue. Era um domingo pela manhã, estávamos em Balneário Camboriu/SC e nossos sentimentos foram de surpresa (mentira, eu já sabia!), felicidade, emoção e medo. Tiramos uma foto do resultado do exame e eu coloquei a foto no meu finado orkut. O exame real está guardado dentro do álbum de fotos dela.

PEDRO
Sempre disse que engravidaria novamente, a depender da experiência com o primeiro filho, que logicamente foi muito boa; e gostaria de engravidar 2 anos após o nascimento do primeiro, então, ao contrário da Ísis, a gravidez do Pedro foi muito planejada. Ísis completou 2 anos em abril e nós engravidamos em maio. Mais uma vez eu soube que havia engravidado antes mesmo de fazer o exame, de urina novamente, com 4 dias de atraso. Era uma segunda feira, estávamos em casa no nosso intervalo de almoço e nossos sentimentos foram de felicidade, fertilidade, emoção e medo. Tirei uma foto do resultado do exame e publiquei aqui no blog. O exame real ainda está dentro da minha bolsa...

7 - 16 semanas

ÍSIS
Aqui começou meu inferno astral. Um mal estar inicial que foi gradualmente sendo substituído por um enjoo comparável apenas a minha pior ressaca de vinho, mas era uma ressaca 24x7, intolerável. E um gosto na boca que...credo, enjoo só de lembrar. Paladar alterado também aconteceu muito...ao colocar o alimento na boca aquilo parecia tudo, menos o que eu estava comendo. Um horror!

O que é isso? Vou morrer? O bebê está fazendo isso? Ele vai morrer? Isso não pode ser normal...O quê? Não tem remédio que dê jeito nesse enjoo? E o que eu faço? E os vômitos? Vomitar 6 vezes ao dia é normal? Como assim? Eu vou morrer? Essa placenta demora muito para se formar? O quê? Tenho 10 semanas ainda nesse inferno? Nunca mais quero engravidar na vida...O quê? Tem grávida que passa mal os 9 meses? Nunca mais quero engravidar na vida...

Sério, eu detestei esse início. Eu parecia um zumbi, eu tirei férias para vomitar, ao faltei ao trabalho para vomitar, e cheguei atrasada para poder vomitar em paz em casa. E tive enjoos de várias coisas insanas como: propagandas de TV (eu sentia ânsia só de ver uma de uma atriz, Lavínia não sei o quê, grávida), sites da internet (eu sempre gostei de ver blogs de tricô, mas só de ver uma lã e uma agulha corria para o banheiro), cidades (incrivelmente eu passei a sentir ânsia sempre que pensava em Balneário Camboriu), cheiros antes amados (eu amava lavanda, tinha um desses odorizadores em casa e hoje ainda não posso sentir esse cheiro), comidas e bebidas antes amadas (passei a detestar peixe, feijão, café, doces, ensopados, lazanhas).

Passava as horas vagas, entre uma vomitada e outra, deitada, conversando com o BB e explicando que aquilo tudo de ruim que eu estava pensando, falando, não tinha nada a ver com ele, mas sim com essa natureza ingrata que ainda não havia evoluído o suficiente para que eu pudesse engravidar sem passar mal.

O resultado foram 3 quilos a menos.

Tive infecção urinária.

PEDRO
Copiar e colar tudo o que eu descrevi acima, com algumas diferenças: eu sentia que comendo, mastigando algo, ficava mais fácil tolerar os enjoos; e que quando ficava de estômago vazio, a coisa toda ficava insana. Eu enjoei do cheiro da minha cozinha, eu enjoei dos livros, do tricô, feijão, ensopados, café, doces, pão, queijos, sucos, frutas (salvo maçã) e saladas cruas. Não enjoei de cheiros, salvo lavanda.

Por conta das mastigadas constantes eu vomitei menos, mas a sensação era de que eu passava mais tempo no auge do enjoo. Apesar disso, psicologicamente, eu me senti melhor, porque já não era novidade para mim e havia sido um risco calculado na fase de preparação para a segunda gravidez. Eu engravidei sabendo o que poderia passar nos meses iniciais.

O resultado foram 3 quilos a mais.

Tive infecção urinária.

17 a 24 semanas

ÍSIS
Nas primeiras semanas fui deixando de vomitar, passando a um leve enjoo, depois mais 15 dias de azia forte, para em seguida...nada! Passei a curtir, enfim, a gravidez, a barriga começou a aparecer bem redonda, alta. Comecei a fazer hidroginástica para gestantes, drenagem linfática, pensar na decoração do quarto, que queria que estivesse pronto até o sétimo mês, comprar as roupinhas, acessórios. Marido e cunhados pintaram o quartinho de lilás e decoramos com o tema "fundo do mar", baseados num quebra cabeças da Grow, que eu e marido montamos especialmente para o quarto dela.

Não tive grandes alterações de humor e descansava bastante. As dores na lombar que começaram a aparecer por volta do quinto mês, foram embora com a hidro. Não tive grandes desejos alimentares, salvo frango à passarinho!

O nome foi escolhido no dia do ultrassom em que saberíamos o sexo. Até aquele dia eu pensava que a Ísis era um menino, mas, incrivelmente, não conseguia chamar o bebê de Pedro, nome escolhido desde sempre. Ísis nunca foi um nome previamente pensado por nós como possibilidade para filhas meninas, mas marido sonhou com esse nome, me contou naquela manhã e eu senti que era Ísis o nome da nossa pequena assim que ouvi.

Ganhei 9 quilos desde o início da gestação (3 perdidos no início + 6 quilos).

PEDRO
Eu já não vomitava muito, então a transição não foi bem sentida nessa segunda gravidez. Com 18 semanas eu ainda enjoava, mas já não tinha tanta necessidade de mastigar para ficar melhor. Passei a aceitar os alimentos antes recusados, principalmente as frutas cítricas (teve uma tarde que comi 3 laranjas seguidas!) e as saladas. Leite e queijo ainda são um probleminha, mas eu como todos os dias, assim como o feijão e os doces. Ainda sinto muita azia, sofro horrores com gases, não tolero muito líquido e, devido ao frio que faz aqui e a necessidade de usar muitas roupas e sapatos fechados, sofro mais com inchaços.

Não consigo me exercitar regularmente, tento caminhar de vez em quando, fazer alguns exercicios de yoga para gestantes, mas só consigo manter a drenagem, desta vez 2 vezes por semana. É o que me salva. A consequência são muitas dores nas costas.

Eu tenho mais alterações de humor. Passo da euforia à raiva, desta à tristeza profunda para dali a pouco ficar eufórica novamente. Tive - e ainda tenho - vários desejos alimentares não saciados. Será que o Pedro vai nascer com cara de supermercado? O-O

A barriga veio crescendo diferente, mais para frente, mais baixa, num formato totalmente diferente da primeira...será que é verdade isso de que barriga de menina é redonda e barriga de menino é pontuda? Não sei se tem fundamento, mas minhas barrigas foram diferentes...

Eu sinto muito mal estar após as refeições e muito mais fome que no mesmo período da primeira gravidez. Incrivelmente, o resultado até o momento foram 6 quilos a mais, talvez porque eu não tenha perdido nada nas primeiras semanas.

Eu não descanso como deveria/gostaria, não passo hidratante no corpo e barriga com a mesma regularidade, não tenho tempo de ficar horas filosofando com a barriga debaixo do chuveiro, não tiro sonecas.

Não conseguia me decidir por nomes de meninas, antes de saber o sexo, mas já pensava firmemente em Pedro desde o início. Desta vez não tive palpites ou intuições furadas...salvo a incompetência por me decidir por um nome feminino, o descobrimento do sexo do nosso segundo filho foi realmente uma surpresa.

O quartinho dele ainda não está pronto, salvo os móveis que eram da Ísis, e que serão dele agora. Ele ainda não ganhou roupinhas, acessórios, decoração. Já bolei tudo na minha cabeça, mas já não tenho mais o mesmo tempo disponível da primeira gravidez para arrumar tudo. Espero conseguir deixar o quarto pronto antes do nascimento!

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